Lágrimas De Sangue escrita por Shizuku Mizutani


Capítulo 3
Capítulo 2




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- Keiko! Finalmente! Encontramos! Encontramos um doador. – gritou a senhorita Suzuki ao telefone.

A senhorita Suzuki saiu da sala de internação para conferir mais alguns relatórios sobre a doação que eu receberia. Keiko chegou alguns minutos depois. As lágrimas escorriam dos seus olhos, de pura felicidade. Keiko sentou-se na maca e inclinou-se sobre mim para me abraçar.

- Estou tão feliz, Kimiko. Significa que você pode ir para a escola comigo. – ela disse.

- Ah! A nova escola. Claro! Acho que vou sim. – eu disse sorrindo.

Na hora do transplante, eu estava muito nervosa, mas acho que Keiko estava muito mais. Eu fiquei inconsciente por algumas horas. Pareciam sonhos em flash. Na verdade, estavam mais para pesadelos. Machados e facas desciam como se estivessem me atingindo.

- Kimiko! – eu ouvi uma voz me chamar. – Kimiko! KIMI! Abra seus olhos

Só podia ser Keiko. Apenas Keiko me chama de Kimi. Abri os olhos lentamente. Pisquei algumas vezes até me acostumar com a luz. Levei minha mão ao meu olho direito. O tapa-olho não estava lá e eu podia sentir a textura de um globo ocular debaixo da pálpebra.

- Oh, Kimi! Seu novo olho é lindo! – Keiko parecia surpresa. – É uma cor diferente. Seu novo olho é azul.

Na mesinha ao lado, um espelho estava virado de modo que o vidro estava para cima. Peguei o pequeno espelho. Keiko tinha razão, meu novo olho era azul, mas era um azul especial. Um tom de azul que mesclava entre azul escuro e violeta. Era lindo.

- Você tem razão, Keiko! – eu disse com alegria. – Meu novo olho é lindo.

Eu fiquei tão emocionada que comecei a chorar. E chorei como um bebê. Como uma criança que perdera seu brinquedo favorito. Mas meu choro era de felicidade. A felicidade mais pura do mundo.

- Não, Kimiko. – disse Keiko sem muita urgência. Mas eu não parava de chorar. – Kimiko, pare, por favor. Kimiko! KIMIKO!

O modo como Keiko gritou meu nome não foi nada normal. Ela parecia agitada e tremia. Ela estendeu a mão tremula até minha bochecha direita, onde estava escorrendo uma lágrima saída do meu novo olho. Seu dedo voltou vermelho. Sujo por causa de um líquido vermelho.

Levei a mão ao mesmo local que ela havia tocado. Meu dedo também ficou vermelho. Uma lágrima vinda do meu novo olho escorreu para perto da minha boca. Estiquei minha língua e provei um pouco daquela lágrima. Eu sentia um gosto estranho. Não era salgado, como as lágrimas normais. Tinha gosto de sangue.

Peguei o espelho novamente. No lado esquerdo do meu rosto, lágrimas transparentes escorriam, mas do lado direito, era sangue que estava lá. Eu não pude me conter. Soltei o maior grito que minha garganta aguentou. Esse grito estava seguido por chamados à senhorita Suzuki. Keiko me acompanhava nesse chamado.

A senhorita Suzuki não chegava. Keiko saiu da sala de recuperação e foi procurando Suzuki de porta em porta. Alguns minutos depois, elas estavam na porta. Keiko estava chorando de terror e Suzuki estava aterrorizada. Eu estava quase chorando. Pressionei o pulso no olho azul para impedir as lágrimas.

- Kimiko. Por ora, sugiro que você permaneça em repouso. Pelo menos até que eu descubra por que isso está acontecendo.

Keiko chorou ainda mais. Eu sabia como ela me queria ao seu lado na nova escola. Fiquei muito triste e me segurei ao máximo para não chorar. Quase falhei nessa missão.

- V-Você não vai chorar, Kimiko? – perguntou Keiko com mágoa na voz. Apenas fiz um sinal negativo.

- E-Eu não posso correr esse risco. E-Eu a assustei, Keiko. – eu não queria assustá-la novamente.

- Você não quer me assustar? Ou você acha que chorar é inútil, já que você morrerá, provavelmente? – suas palavras me surpreenderam.

Levantei-me rapidamente da maca e abracei Keiko.

- Não... não diga isso, Keiko. – eu disse, ainda sem chorar. – Como você pôde dizer isso? – eu não consegui mais conter as lágrimas malditas. – COMO VOCÊ PÔDE, KEIKO?

Eu parei de abraçá-la com a mesma rapidez que usei para o abraço.

- Você já pode ir, Keiko. – eu disse friamente. Não ligava para o sangue. – Keiko! Eu disse: você já pode ir.


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