Amiga Morte escrita por Quézia Martins
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
...
— Octávio? - Babi chamou por ele depois de um longo tempo em silêncio.
— Oi amor - ele respondeu se ajeitando na cama. Estavam deitados.
— E se eu me apaixonar? – ela não sabia porque sentia tanto medo disso.
— Eu também me apaixonarei. – respondeu baixo depositando um beijo no topo da cabeça dela.
— E se eu te amar?
— Te amarei em dobro.
— Mas não quero amar você. - confessou enterrando o rosto no peito de Octávio.
— E por que não? – ele sabia a resposta. Ele sabia o quanto ela tinha medo. Ele não era tão ingênuo e sabia que estavam vivendo uma história de amor com os dias contados, mas ele não queria pensar nisso e afastava à todo custo esse pensamento. No entanto, ela não era assim. Ela pensava 24 horas e ele sabia que ela precisava falar sobre as coisas que pensava.
— Porque eu vou morrer. Não quero pensar em viver sem você. - ele a apertou mais contra seu corpo.
— Então não pense.
— Isso é muito injusto, não?
— Calma amor. – pediu quando percebeu que a voz de Bárbara havia saído embargada.
— Você... Como vai ser depois? - ela perguntava, mas na verdade não queria saber.
— Não vamos pensar nisso agora.
— Mas nós teremos que falar sobre isso.
— Mais não agora, Babi.
— Sabe que desisti de todo tratamento né? - ela perguntou. – Dos remédios pra dor, dos exercícios...
— Pensei que lutaria pela sua vida - ele falou com a voz carregada.
— Lutar vai me tomar muito tempo. Preciso realizar muitas coisas ainda.
— Estarei sempre ao seu lado - ele disse depois de um tempo em silêncio. Ela o abraçou.
— Até o fim?
— Bem além disso. - ela sorriu timidamente.
— Obrigada.
— Por?
— Por estar aqui.
— Sempre vou estar. E agora mais ainda. Pedi transferência dos meus cursos para cá, agora, continuarei aqui quando o estágio chegar ao fim.
— Oba! - ela gritou sorridente.
— Babi?
— O que? - ele a olhou. Queria dizer que a amava, mas, hesitou. Talvez aquela não fosse a hora certa.
— Vamos lá com sua mãe? Ela já deve ter terminado os lanches. – falou simplesmente.
— Claro. - e saíram de mãos dadas.
***
— Oi amor.
— Ryan? Chegou cedo. - Clara comentou nem um pouco animada.
— Saí mais cedo. Queria ficar um pouco contigo. – ela deu um breve sorriso e não disse nada. – Me desculpa por ontem? Prometo que vou tentar mudar.
— Estou cheia de promessas.
— Estou falando sério dessa vez.
— Então quero que me mostre. Quero que mude realmente.
— Não é fácil.
— Eu sei que não. Eu estou vendo você tentar todos os dias e nunca chegar a um resultado que agrade nós dois e sabe? Se eu tivesse te conhecido assim, eu não estaria tão chateada, mas tu se tornou isso e eu não gosto nenhum pouco. - falou olhando-o séria.
— Eu te amo Clara e amo nosso bebê.
— Nós também te amamos. - ela disse dando um meio sorriso.
— O que sua amiga tem? - Ryan perguntou servindo-se de suco.
— Câncer.
— Nossa... E como você está lidando com isso?
— Eu? – deu de ombros. – eu não tenho que “lidar” com isso. Eu só tenho que ser forte pra ela e estar aqui porque sei que ela vai precisar. – ela deu um riso fraco – Ela tá se fazendo de forte, mas eu sei que ela não é. E que vai desabar uma hora ou outra.
— Já falou com ela hoje?
— Não. - Clara respondeu tristonha.
— Então liga pra ela. - Ryan disse esticando a mão com o telefone.
— Agora?
— Sim. Vou ir tomar um banho. - Ryan deu um beijo na testa de Clara e saiu. Ela discou o número da casa de Babi.
— Bárbara?
— Oi Clara. Tudo bem? - Babi respondeu reconhecendo a voz da amiga.
— Sim e você?
— Estou ótima.
— Como foi seu dia? - Clara perguntou.
— Está sendo ótimo - Babi respondeu lançando um olhar cúmplice na direção de Octávio, que ria na companhia de Sandra. - E o seu, amiga?
— Muito bom. - Clara mentiu de leve. Na verdade, seu dia estava melhorando. - Vem aqui em casa?
— Agora?
— Sim. Queria falar com você. – percebeu que Babi hesitara. - Está ocupada?
— Acabei de lanchar com minha mãe e Octávio.
— Eu iria aí, mas o Ryan acabou de chegar e não seria legal da minha parte deixá-lo sozinho.
— Então vou aí. - Babi falou decidida.
— Sua mãe gostou do seu novo visual? - Clara perguntou lembrando da mudança de Babi.
— Ela aceitou, pelo menos. - Babi falou rindo. - Vou desligar. Logo estarei aí.
— Ok. - desligou.
— O que ela queria, filha? - Sandra perguntou após se recuperar de uma crise de risos.
— Pedir pra que eu fosse na casa dela.
— E você vai? - Octávio quis saber.
— Vou. Você vai ficar aqui em casa com a minha mãe ou vai pra sua? - Babi perguntou já se preparando pra sair.
— Eu vou com você. - Por essa resposta ela não esperava.
— Sério?
— Sim. - ele falou passando a mão na cintura dela. – Se você não se importar, claro.
— Esse lance tá ficando sério, hein - Sandra comentou toda feliz.
— Mãe! - Babi a repreendeu.
— Até mais, senhora Espinosa. - Octávio se despediu risonho.
— Sandra, meu filho. Chame-me de Sandra.
— Como preferir, sogrinha. - os dois caíram na risada.
— Dois tontos, nunca vi. - Babi falou revirando os olhos. - Vamos logo Tavinho. - ele a deu um beliscão de leve, parando de rir.
— Não gostei. - E depois ele riu todo bobo.
— Tchau mãe.
— Espera aqui um pouco amor, vou pegar a chave do meu carro. - Ele falou entrando no apartamento dele.
***
— Não sabia que você dirigia. - Babi falou colocando o cinto de segurança.
— Tem muita coisa que você não sabe de mim.
— Ainda - ela falou rindo.
— Ainda. – ele concordou passando a mão na perna dela. – É longe?
— Umas quadras daqui.
— Então você me guia.
— Ok.
***
— Que casa grande! - Octávio exclamou subindo os degraus que levavam à varanda da casa de Clara.
— Grande até demais. Eu sempre falo isso pra ela.
— Ela tem filhos?
— Nenhum.
— E pra que uma casa tão grande?
— Clara é exagerada mesmo. E nunca gostou de apartamentos, viu. - Babi disse batendo na porta.
— Amor, aqui tem campainha sabia?
— Eu odeio campainhas. - Octávio riu.
— Já tinha notado. E por que você não gosta?
— Porque o barulho é estridente e chato. - falou batendo outra vez na porta.
— Por isso que no seu apartamento não tem campainha?
— Tem sim. - Ela falou olhando de esguelha pra ele.
— Eu sei. Estava sendo irônico. - ela soltou uma gargalhada.
— Tavinho, você não sabe ser irônico! - ele mostrou língua pra ela e ela fez uma careta.
— Quantos anos a Clara tem? - Octávio perguntou se encostando num pilar ali perto. Babi bateu na porta mais uma vez.
— Vinte e seis.
— Casada?
— Muito mal casada. Mas, não posso dizer nada. Porque não entendo nada do amor.
— Como se fosse possível entender. - Octávio falou se aproximando de Babi quando viu a maçaneta da porta girar.
— Finalmente! - Babi bufou quando Clara apareceu sorrindo na porta.
— Se você usasse a campainha, eu não teria demorado para atender. - falou dando um abraço na amiga.
— Trouxe o Octávio comigo, lembra dele?
— Claro. Seu médico gostosão. Não sabia que ele era guarda-costas também.
— Eu não sou. - ele disse. Clara olhou pra Babi e ambas começaram a rir.
— Vem xoxo. - Babi falou puxando Octávio pela mão. - Cadê o Ryan?
— Vou chamar ele pra fazer campainha pro Octávio.
— Ok. - Clara saiu.
— Você podia me ensinar umas piadas. - Octávio disse.
— Eu estou torcendo pra que tenha dito isto apenas para quebrar o silêncio - ela falou segurando o riso.
— Não. - ele assumiu baixo.
— Outra hora te ensino - ela prometeu rindo um pouco.
Clara voltou com Ryan, que os cumprimentou e depois saiu com Octávio
— Quer ficar aqui mesmo? - Clara perguntou.
— Aqui está bom. - elas se sentaram.
— Vocês estão namorando?
— Não sei. Acho que é só um lance. - Babi falou outra vez.
— Finalmente. - Clara disse de forma jocosa.
— Gosto dele. - admitiu baixo.
— Já percebi isso e... Sabe, ele também gosta de você.
— Eu sei... - concordou baixo.
— E não fica alegre com isso? - Clara a olhou confusa percebendo o olhar distante da amiga.
— Fico mas, até quando?
— Te proíbo de pensar nisso. - Clara falou autoritária.
— Alguma novidade? - Babi falou rindo um pouco da cara de séria que Clara não sabia fazer.
— Estou grávida. - Clara contou de uma vez.
— O que? Sério? Oh Deus! Isso é fantástico, maravilhoso. Estou muito feliz, Clara. Parabéns! Eu... Puxa, nem sei o que dizer. - De repente Clara deixou uma lágrima cair.
— Obrigada. - Babi limpou a lágrima dela que corria pela face pálida.
— O que foi amiga? Não queria engravidar? - indagou confusa, chegando mais perto da amiga.
— Péssima hora pra uma gravidez, não acha?
— Não. Eu realmente não acho. Esse bebê veio na hora certa e estou muito feliz por isso. Eu terei tempo de conhecê-lo. Fique tranquila.
— Você vai morrer, né? - agora Clara chorava. Babi engoliu em seco. Precisava ser forte.
— Sim. Eu vou morrer. Mas todos não vamos? - ela falou abraçando a amiga. – Ei, olha aqui, não pensa nisso. Eu estou aqui agora, tá? É isso que importa.
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~Keel