Estava sentado no telhado de um edifício qualquer no centro da grande cidade. A Lua, cheia, brilhava mesmo em meio ao ar poluído, num lembrete cruel daqueles cabelos que não vejo há dois anos.

“Rei Imortal”... Rei Imbecil, é isso o que ele é. Foi um ato nobre, mas não o torna menos idiota.

Tão idiota quanto eu.

Nunca me esquecerei do dia em que lhe jurei lealdade... A mão em meu peito tremia enquanto eu ajoelhava diante de você, meu coração parecia tentar fugir de meu peito e o mundo além de nós dois, com suas batalhas, simplesmente desapareceu. Você me disse que éramos amigos, e me estendeu a mão.

Eu deveria ter percebido a verdade antes.

No tempo que convivi com você, Meu Rei, acabei me acostumando a sua presença, suas idiotices... O sorriso bobo que você sempre manteve no rosto, mesmo enquanto eu tentava te matar. Lembro-me também das lágrimas que você derramou naquele dia de chuva, quando estávamos no campo e recusei-me a matá-lo...

Abro seu guarda-chuva enquanto uma lágrima rebelde escapa, descendo por meu rosto. Olho para meu colo, um pouco preocupado, mas Neko esta dormindo como uma pedra. Ela também espera por você, talvez com mais esperanças do que eu... Não quero ter esperanças que me façam sofrer ainda mais.

Só entendi o que realmente sentia por você pouco antes daquela última luta. Quando estava indo parar aquele bando de arruaceiros que lutavam, resolvi ouvir mais um dos poemas de meu Mestre, afinal, ele sempre tinha a coisa certa a me dizer, a resposta para meus pensamentos.

“Seu coração é um rio. Se quiser ver o mar, apenas siga-o.”

Eu estava pensando em você, Shiro...

A Lua ainda brilha sobre essa cidade, fazendo outra lágrima fugir ao meu controle. Não posso perdoar-me. Agora que te perdi, percebo realmente o que sentia por você...

Algum tempo depois, Neko levanta-se de meu colo, dizendo que irá procurar algo picante para comer com as meninas de sua antiga escola. Lá continua sendo nosso lar, e os truques da garota-gata são bem úteis para isso.

Deito-me sobre o telhado, fechando novamente o guarda-chuva, e olho para a lua por alguns instantes antes de fechar os olhos. Sinto um vento morno passando suavemente sobre mim, e solto um suspiro.

–Nee... Shiro... A escuridão da terra jamais alcançará a Lua, não é mesmo... – Sussurro eu para a noite. – Droga... Por que fui te amar?

Tenho como resposta um riso doce e suave, que à muito tempo não ouvia, e imagino que minha mente já esta me pregando peças, mas então sinto uma presença atrás de mim, realmente muito próxima, e abro os olhos assustado, sentindo todo o meu sangue congelar nas veias.

– Mas sabe, Kuroh-kun, A Lua sempre vai chegar ao horizonte, e então não haverá nada separando a escuridão da luz.

O vejo sobre mim, agachado próximo a minha cabeça. Os seus cabelos brancos, brilhando como se prendessem o luar em seus fios. A mesma pele clara como a neve. Naqueles lábios com os quais tanto sonhei, o mesmo sorriso bobo e doce de sempre. Os mesmos olhos, que me olhavam fixamente e me deixavam sem reação alguma.

Aquele vento, eu soube, fora ele chegando. Ele ouviu tudo o que eu disse. Tudo. O que me fazia não saber como reagir. Eu poderia tentar a sorte de ele não ter ouvido e agir normalmente, mas não consegui.

– S-Shi...ro.... E-eu... – Ele riu novamente, achando graça em meu constrangimento.

– Tudo bem, Kuroh-kun. Eu também te amo.- Sorte que não estava muito claro, portanto, ele não poderia reparar na cor vermelha de meu rosto. Shiro apoiou as mãos no chão a meu lado, abaixando-se lentamente e tocando meus lábios com os seus, num beijo lento e carinhoso, que pareceu durar anos, o que é bem menos do que eu gostaria que tivesse sido.

– Desculpe a demora... Estou em casa. – Falou ele, sorrindo como sempre, tomando o guarda-chuva de minha mão e o abrindo, apenas para coloca-lo sobre o ombro dessa forma.

Suspirei fechando os olhos. Era realmente Meu Rei, meu Shiro, eu podia ter certeza através do laço que me ligava a ele, do juramento que lhe fiz quando tornei-me parte de seu clã. Um sorriso, meu primeiro nos dois últimos anos, se formou em meu rosto antes que eu finalmente pudesse dizer:

– Bem vindo de volta, Meu Rei...