Lost Scenes escrita por Quaeso


Capítulo 6
Eu te amo


Notas iniciais do capítulo

Tenho que agradecer a todos que estão lendo... Muito obrigada! Sério gente... Nesses últimos tempos minha história está ganhando muiiiiiitos acessos. Obrigado por me darem esse prazer imenso, como escritora!
Boa leitura! ♥♥



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As visões estranhas finalmente haviam parado, mas em compensação eu estava afundando cada vez mais. Cada visão que tive me deixou inconsciente, e por consequência não tentei nadar para sair dali. Devia ter passado muito tempo desacordada, pois assim que abri meus olhos, tive que piscar algumas vezes para acostumar os olhos a escuridão intensa. Os únicos membros do corpo que conseguia mover eram os olhos, ainda assim muito devagar. Na conseguia movimentar um milímetro sequer do resto que estava completamente dormente. Aos poucos comecei a entender. Era como se fosse uma troca, enquanto via imagens do futuro “sem morte” (sem a morte do Gus), acabei de certa forma me sacrificando a troco disso. Não sabia se isso havia me ajudado, ou me fez sentir culpada pela morte dele. Saber o que teria acontecido se ele não tivesse morrido não foi algo promissor. Ao contrário, saber o que o futuro reservava para nós foi terrível... Teríamos nos casado. Mesmo com a paralisação no corpo consegui esboçar um simples sorriso. Na verdade pensar no Gus, me fazia extremamente feliz. Mesmo naquele momento em que tudo ao redor me fazia acreditar que nada valia a pena, a imagem dele na minha cabeça acendia uma pontinha de felicidade numa vela sem pavio. Não era tão ruim assim morrer pensando nele. A escuridão ao meu redor era estranha, e o mais esquisito era que parecia que estava em câmera lenta. Um pensamento assustador passou pela minha cabeça: Se eu continuasse caindo, será que encontraria o fundo? Parecia exatamente contrário. Uma sensação de perturbação vinha lá de baixo. Não exatamente perturbação, na verdade era uma calma tão grande, que chegava a ser perturbador. Mas não era desconfortável. Apenas senti que não deveria estar lá, não era o momento. Mesmo caindo “deitada” e não vendo o que estava baixo de mim, pude sentir uma certa luz aquecedora vindo de lá. Era ela que atraía o meu corpo para baixo. O provérbio: “O que vem de baixo não me atinge” não se aplicava a aquela ocasião bizarra. E para complicar ainda mais, um filete de luz bem pequeno vinha de cima. Era completamente diferente do outro, como se essa luz viesse de fora daquela escuridão inerte. Mesmo muito distante para enxergar, pude ver que aquilo era algo que estava caindo da superfície e cortando a escuridão mundo a fora, lançando uma fraca luz, mesmo naquela profundidade assustadora. O que estava caindo? Não importava, mas a cada vez que piscava lentamente, a “coisa” parecia se aproximar numa velocidade alucinante.

Meus olhos já marejados pelas lágrimas me recordavam do momento em que estava naquele hospital. Dos meus pais dizendo: N-ó-s­­ t-e a-m-a-m-o-s, e daquela horrível cena de despedida. Porque sentia que não estava morta? Não tinha como saber disso, mas sentia que se chegasse ao improvável fundo daquele lugar, aí sim ficaria morta. Como seria possível morrer duas vezes consecutivamente? O objeto disforme se aproximava muito mais rápido do que eu descia. E a cada vez que chegava mais perto, um pensamento um tanto quanto assustador assolava minha mente. Se aquela “coisa” que não deveria ser um objeto fosse o que eu estava pensando... Será que...? Porque ele...? Fiquei me perguntando se seria apenas uma ilusão da minha mente, até que ele se aproximou o suficiente para eu ter certeza: Era o Gus.

Diferente de mim que caia em câmera lenta sem fazer nenhum movimento, ele nadava desesperadamente em minha direção. E para quem só jogava basquete, ele era um ótimo nadador. O Gus não parecia sonolento e nem com uma cara de drogado, ao contrário de mim, que sentia os efeitos de uma droga que nem havia fumado. Era como se ele ainda se mantivesse acordado, e não tivesse tido nenhuma visão, ao inverso de mim. Como isso foi possível? Assim que eu havia entrado naquela “água” que não parecia água, não demorou muito para ter visões logo após de ter respirado... O pensamento acabou por aí, e uma possibilidade surgiu. Será que o Gus não tinha respirado aquilo? Então quer dizer que eu estava possivelmente morrendo de novo, por causa de ter respirado aquela droga de O2 que não parecia O2. Porque o Gus tinha aparecido, logo quando eu estava contentada em morrer pensando nele? Contudo quando vi claramente o rosto dele, senti que o que eu estava pensando era apenas uma ilusão criada por aquele lugar. Afinal como eu poderia aceitar morrer novamente? Minha cota de mortes por dia, já havia se esgotado.

600... 500... 400... 300... 200... 100...

Em metros era o que estava nos separando. Incrível em como o mundo gostava de nos separar de diferentes maneiras.

50... 10... E pronto. Lá estava o homem da minha vida me abraçando, de uma forma tão protetora. Assim que sua pele tocou a minha toda a dormência em meu corpo foi deixada para trás, e pude abraçar ele de volta. Senti vontade de falar, mas o som não se reproduzia naquele lugar... Aquilo poderia ser o vácuo? Assim que ele sentiu que já havia me abraçado o suficiente, pegou meu rosto entre suas mãos e encostou nossas testas. Ele havia fechado os olhos mais pude ver uma expressão de cansaço em sua fisionomia. Mesmo sem poder fazer nenhum som, falei mexendo a boca para ele entender.

— Gus? —­­­­­­­ perguntei.

Ele apenas me olhou de volta, o olhar ainda mais cansado que o resto do corpo.

— Hazel até que enfim encontrei você ­­­­­­­­­— disse me imitando, falando sem pronunciar som. — Pensei que nunca iria poder te ver de novo.

­— Eu também... ­­­­— Quase sem aviso prévio comecei a chorar, e carinhosamente ele enxugou as lágrimas.

­­­­­­­­­— Não chore... Não temos muito tempo ­­­­— Respondeu sorrindo

­­­­— O quê? ­­­­— Perguntei assustada.

­­­­— Eu disse para não chorar. ­­­­­— Falou, como se eu não tivesse entendido, mas eu havia entendido muito bem.

­­­­— Não é isso... Porque não temos tempo? ­­­­— Toda a felicidade que havia sentido segundos antes se esvaíram.

Ele apenas sorriu novamente, fugindo do assunto.

­­­­— Não se preocupe... É só que chegou o momento para eu ir...

­­­­— Não você não precisa ir para lugar algum. ­­­­— Me exaltei.

­­­­— Hazel eu... já estou morto.

­­­­— Mas eu também estou morta.

­­­­— Não você não está.

­­­­— Como? ­­­­— O pensamento maluco que havia passado pela minha cabeça finalmente ganhou vida, se mostrando muito inconveniente. ­­­­— É lógico que estou morta.

­­­­— Hazel... Se estivesse morta não teria visões como eu sei que teve.

­­­­— Mas...

­­­­— Hazel escute... Eu sei que você está assustada, mas pelo o que eu entendi o seu corpo na terra ainda está ligado com a sua alma. Ou seja, você ainda pode viver.

­­­­— Mas eu quero morrer para... ­­­­— Antes que terminasse a frase ele tampou minha boca, me impossibilitando de continuar a falar.

­­­­— Não fale isso nem de brincadeira. ­­­­— Não parecia zangado, mas me olhava com olhos que sempre queriam mais. ­­­­— Eu também quero ficar com você, mas agora não é o momento.

­­­­— Gus... ­­­­— Comecei a chorar de novo ­­­­— Você queria ser reconhecido pelo mundo todo não é?

­­­­— Para quê pensar nisso agora?

­­­­— Só queria te dizer que não precisa se preocupar com isso, já que eu vou me lembrar de você pelo resto da minha vida. ­­­­— Sorri. Mesmo entre lágrimas consegui entender o que ele estava falando.

­­­­— Ah... Verdade... Já que você é o meu mundo todo. ­­­­— Riu. ­­­­— Então eu não preciso me preocupar, né?

­­­­— Não mesmo... ­­­­— Ri de volta. ­­­­— Pode morrer em paz.

­­­­— Isso é muito estranho para se dizer para o seu namorado. ­­­­— Sorriu.

­­­­— Mesmo que eu não queira isso... ­­­­— Solucei ­­­­— Você precisa ir, né?

­­­­— Sim...

Uma despedida entre a vida e a morte é simplesmente... Estranha. Senão muito difícil. Ficamos nos encarando, sem saber exatamente o que dizer. E quando se está numa situação assim, você faz a primeira coisa que passa pela sua cabeça. Aproximei-me suavemente colocando seu rosto em minhas mãos, e tasquei um beijo nele. Ele apenas respondeu de volta meu beijo. Se fosse para descrevê-lo, eu diria que seria algo que poderia muito bem ser chamado de: Beijo de despedida. Começou voraz e apaixonante, como se tudo na minha vida dependesse daquele beijo. E logo após foi ficando calmo e delicado como se estivesse tomando cuidado para uma rosa não murchar. Ainda chorava e por isso o beijo teve um gosto salgado. Tantos sentimentos misturados, e mútuos, ficaram completamente expostos. Nosso amor foi correspondido na medida certa. Aquilo sim foi uma despedida.

­­­­— Acho que a pessoa que criou o provérbio: “Um beijo vale mais que mil palavras”, passou pelo mesmo que nós. ­­­­­— Falei separando nossos lábios por um instante, mas logo em seguida desejando colá-los novamente.

­­­­— Eu realmente preciso ir agora Hazel...

­­­­— Mas já? ­­­­— Esperava ter um pouco mais de tempo com ele.

­­­Dando um curto selinho ele se separou de mim, indo em direção a luz que eu havia sentido abaixo de mim. Tomou distância o suficiente entre nós. E ainda olhando em meus olhos, falou às palavras que eu nunca poderia esquecer em toda a minha vida.

­­­­— E-u t-e a-m-o. ­­­­

O mesmo sentimento que havia preenchido o meu coração no momento que os meus pais haviam dito isso me preencheu naquela hora. Aquele sentimento de despedida aterrorizante. Antes de eu poder protestar e ir atrás dele, algo me impulsionou fortemente para cima pondo uma distância incalculavelmente horrível entre nós. E a última coisa que lembro ter tido certeza de saber, era que antes de ser puxada para a superfície respondi de volta: Eu também. E ele havia sorrido. Será que tinha me escutado? Não pude ter certeza, porque logo a mesma escuridão em que estava antes preencheu minha mente, me impossibilitando de pensar em qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

Queria ressaltar uma coisa... A história está se encaminhando para sua reta final! Talvez só mais 3 capítulos. Por favor não fiquem tristes... Lembrem-se que eu só escrevi essa fic porque fiquei inconformada com o final que o John Green deu para o livro. É só um suposto final que uma mera escritora como eu deu ao livro! ♥♥



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