Vou começar de uma forma diferente,

Com uma pergunta talvez.

Não apenas contando o que fizeram comigo.

A parte legal fica para depois

É, a parte legal.

Sei que você gosta de ler sobre dor

Eu também gosto.

Me sinto menos mal quando o faço.

Me sinto menos mal por não ser a unica.

Acho entao que primeiro devo explicar como me sinto e como me senti,

Talvez isso demore uns dois capítulos

Mas você não se importa, não é?

Finja que não.

O quanto eu valia afinal?

Eu me perguntava todos os dias, todas as horas.

Pergunta que assombrou minha infância.

Me assombra agora.

Tantas vezes destruida.

Tantas vezes pisoteada.

Tantas vezes odiada.

Tantas vezes... Eu me odiava.

Eu ainda me odeio.

Grito com o espelho toda vez que me olho.

Parecia que todos estavam com suas armas apontadas

Eu era o alvo, eu seria abatida.

A arma em minha mão não passava de um brinquedo

Não quando comparada a que eles tinham

E eles miravam em mim

Algodão contra ferro.

Quem ganharia?

Eles.

Eu ainda sinto as balas ferventes me furando o peito.

E todas atingiriam meu coração.

Atingida com sucesso.

Caio ao chão, ferida, machucada.

Olho em seus olhos e vejo o divertimento.

Porque?

Eles me dão as costas, 

Me dão tempo de me recuperar

Então, eu sou atingida novamente.