Era exatamente 16:45 da tarde. Lily havia chegado ao internato  no carro de seus pais. Ela sabia que não havia outra solução, precisava abrir a porta do carro e encarar a realidade por mais cruel que ela fosse. A garota planejou inúmeras formas de fugir do internato desde o caminho de sua casa até ele, mas nenhuma seria bem sucedida de qualquer forma. Enquanto o carro de seus pais, um porsche preto de modelo antigo, era estacionado, a garota olhava pela janela e analisava sua futura moradia por dois dolorosos anos, o que não era nem um pouco o que a jovem queria.

O internato era imenso. Aliás, a palavra "imenso" era praticamente um eufemismo para falar do tamanho daquele lugar. A primeira coisa que se podia ver era um jardim florido de diversos tipos de flores, o cheiro de lavanda praticamente obstruía as narinas. A arquitetura do lugar era algo fantástico, rústico, podia-se sentir que as paredes daquele local já estavam em pé por bastante tempo, talvez séculos. Tudo estava plenamente silencioso, o que era uma possível mensagem de que o sinal já havia tocado. Aquilo não era muito preocupante para os Conors, afinal ainda era o começo do ano letivo.

Lilith saiu do carro e viu sua mãe acenando de dentro dele. Os pais a deram um mapa do internato que baixaram pela internet e assim ela saberia como se virar nos primeiros dias. Em poucos segundos a visão do carro de seus pais era quase nula, apenas um ponto minúsculo em meio a estrada. Sem pensar duas vezes, a garota abriu o mapa e localizou a entrada principal. Ao entrar no internato ouviu um barulho de vozes e as seguiu até o que pareceu ser o salão principal, onde os alunos estavam sentados de um lado e os funcionários do outro. Lily entrou de fininho e sentou-se na primeira cadeira que viu. Uma senhora alta, de cabelos cinzas, lábios pintados com um batom marrom escuro, fazia um discurso em alto e bom som:

— É um enorme prazer recebê-los para mais um ano de aprendizagem em nossa instituição de ensino. Como vocês devem saber, o internato St. Louis é o mais conceituado e renomado da região. Aqui vocês terão a melhor educação que este país pode oferecer. Em breve vocês serão apresentados aos vossos aposentos e futuros colegas de quarto.

Não foi difícil perceber que aquela era a diretora do internato. Em alguns minutos um rapaz de meia idade que segurava uma lista chamou o nome de Lily e a pediu para que o acompanhasse. O quarto ficava no segundo andar, era espaçoso e tinha uma bela vista para o jardim dos fundos. Para a surpresa da garota, aquele lugar possuía rede Wi-fi e notebooks em todos os quartos. Havia 2 camas no total e uma estava com uma mochila feminina em cima. Lily deitou-se em sua cama, a da ponta, e tentou esquecer por alguns segundos que estava naquele lugar. Poucos minutos depois, uma garota alta e loira saiu do banheiro segurando uma toalha roxa.

— Oi, eu sou a Helen. — Disse a garota enquanto enxugava seus longos cabelos com a toalha.

— Ah, oi... — Respondeu Lily, sem o menor entusiasmo, ainda deitada na cama.

— Nossa, que animação. O que aconteceu? — Disse Helen, sentando-se na beira da cama.

— Eu não deveria estar aqui agora. Era para eu estar com as minhas amigas do East High School, mas meus pais inventaram de me trazer para cá. — Resmungou Lily, se levantando da cama.

— Parece que estamos no mesmo barco, os meus pais também me obrigaram a estudar aqui. Somos imigrantes alemães, minha mãe não quer que eu me misture com as pessoas das escolas públicas. — Disse Helen, enquanto folheava uma revista de moda.

— Eu preciso dar um jeito de sair daqui. Alguma ideia de como posso fazer isso? — Perguntou Lily, esperançosa.

— É praticamente impossível fugir desse lugar, tem câmera em todos os lados. E já viu o tamanho daqueles seguranças do hall principal? Acho que até os lutares de MMA teriam medo deles. — Respondeu Helen, fechando a revista e colocando-a na mesa de cabeceira.

— Que ótimo, estou presa na droga de um colégio interno católico. Não imaginava que isso aconteceria nem nos meus piores pesadelos. — Lily resmungou mais uma vez.