Kyle sentava-se no chão após embalar a última caixa de papelão. Agora ele olhava para o seu quarto completamente vazio, exceto por enormes caixas pelos cantos, demorou tanto para embalar aquelas tralhas, ainda mais contra a sua vontade.

-Querido, terminou de empacotar tudo? –Perguntava Sheila ao pé da escada. Ele olhou uma última vez para o seu quarto vazio com um olhar solitário.

-Sim, mamãe, acho que foi tudo. –A mulher agora subia as escadas e ia até a porta do quarto do seu filho.

-Ótimo. Seu pai e eu estamos indo buscar o caminhão de mudança, tome conta do Ike, ele também já deve estar quase acabando.

-Está bem, mãe. –O jovem ruivo desviou o olhar do rosto da sua mãe, chateado.

-Olha, Kyle, eu sei que você não queria mudar-se, mas seu pai recebeu uma ótima proposta de emprego para deixar passar. –Sheila explicou passando a mão nos cabelos do filho, que continha uma lágrima.

-Eu sei, mãe. –Ainda sem olhar no rosto de sua mãe, Kyle pegou uma caneta e marcou o seu nome na última calça. A mãe do jovem suspirou decepcionada e virou-se, saindo do quarto, seus passos sumiram pelos corredores, agora totalmente vazio.

Kyle se levantou, batendo em seu jeans para tirar a poeira. Ele encostou-se às paredes verdes e ficou notando como é estranho seu quarto sem as fotos e os pôsteres que ele vinha juntando, lotando as paredes do seu quarto. Ele se irritou quando ouviu passos, vindo em direção ao seu quarto, sabendo que sua mãe viria vê-lo de cinco em cinco minutos.

-Mãe, eu já falei que eu já terminei. –Disse o menino impaciente, mas ele apenas ouviu uma risada masculina.

-Isso é bom, mas eu não sou a sua mãe. –A voz de Eric preencheu o vazio do quarto e Kyle abriu os olhos, surpreso.

-Cartman! –Kyle congelou por um instante, mas logo andou em direção ao seu amigo de infância, agora bem mais alto que ele.

-Ei! –Exclamou o garoto obeso, sorrindo ao ver o judeu com a camisa que ele deu de presente em seu último aniversário.

-O que você está fazendo aqui? –Kyle perguntou meio desconfortável, não contendo as borboletas imaginárias que voavam em seu estômago.

-Eu não poderia dar o meu adeus com os outros perto. –O moreno piscou, enquanto andava pelo labirinto de caixas, Kyle sentiu seu rosto ficar um pouco vermelho e abaixou o olhar para disfarçar.

-O que quer dizer? –O ruivo sussurrou mordendo o lábio inferior, Cartman riu, ele achava as ações do menino menor muito fofa, o moreno então se aproximou de Kyle e segurou levemente em seu queixo, levantando sua cabeça para este encará-lo.

-Você sabe o que eu quero dizer, Kahl. –Disse Eric levando suas mãos para se encontrarem com as do ruivo. Suas mãos eram ásperas, grandes e acolhedoras e as de Kyle eram menores, suaves e frescas, definitivamente acalmava seus nervos. –Por favor, Kyle... Se este vai ser o nosso último encontro, quero que seja especial. –Eric pediu apertando levemente as mãos de Kyle, ele olhava diretamente para os olhos verdes-esmeralda de Kyle.

-Eu vou me mudar, Cartman, não morrer. –Kyle deu um riso para disfarçar aquele clima tenso daquele quarto, embora não adiantasse muito, pois até mesmo seu riso saiu fraco e sem vida, mostrando sua tristeza de sair daquela cidade onde ele cresceu, sair de perto daquele que amava. –Meus pais prometeram me trazer nas férias. –Kyle assegurava.

-Eu sei disso, mas... Até o verão é muito tempo ainda. –Eric apontou, puxando Kyle e o apertando contra o seu peito, em um abraço aconchegante. Kyle envolveu seus braços em torno do moreno o quanto pode, se aconchegando naquele corpo gostoso.

-Eu vou sentir a sua falta. –A voz de Kyle quebrou de emoção, enquanto as lágrimas novamente brotavam no canto de seus olhos.

-Kahl, não chora, você sabe que eu não resisto quando você chora. –Eric tentou acalmar o judeu, apertando-o mais contra o seu peito.

-Sim, eu sei, você é meu bebêzão. –Kyle levantou o rosto um pouco para olhar o maior, as lágrimas finalmente abandonaram seus olhos e escorriam pelas suas bochechas.

-Claro, de quem mais eu queria ser? –Kyle soltou um fraco riso e arrancou um sorriso do jovem obeso, ele sempre se derretia pelo sorriso perfeito de Kyle.

-Kyle... Porra, eu te amo. –Eric deixou escapar, após manter meses engarrafado na sua garganta. O rosto de Kyle ficou vermelho e ele olhou para baixo, deixando um sorriso brilhante se espalhar pelo seu rosto.

-Eu também te amo. –Kyle retribuiu e afastou-se do abraço por um momento apenas para beijar Eric amorosamente. O moreno retribuiu prontamente o beijo, mantendo o domínio nos lábios vermelhos de Kyle, o ruivo por sua vez corou quando sentiu a língua quente de Eric invadir a sua boca, causando um espasmo de calor em seu corpo.

Movendo a sua mão, Eric deslizou-a para os bolsos traseiros do jeans do Kyle.

-Ei! –Kyle sussurrou em brincadeira ao sentir a mão boba de Eric apertar suas nádegas perfeitas.

-Sinto muito. –Eric sorriu diabolicamente nada arrependido de seus atos, pois sabia que o judeu gostava.

O moreno então envolveu suas mãos entorno da cintura de Kyle e sentou-se no chão, puxando o judeu para o seu colo, o ruivo riu com o susto do puxão e abraçou o pescoço do namorado. Kyle então passou seus dedos finos no gorro de Eric, tirando-o e revelando seus fios castanhos rebeldes, que pareciam que nem sabia o que era pente.

Eric suspirou e puxou Kyle mais para ele e os dois se beijaram um pouco diferente do que antes, agora era um beijo ardente de dois adolescentes com os hormônios à flor da pele, mas sem tirar o encanto do amor entre os dois. Seus corações estavam tão acelerados que um podia ouvir os batimentos do outro. Eric parou o beijo ao sentir pingos quentes contra as suas bochechas.

Abrindo os olhos ele ver as lágrimas que caem do rosto de Kyle. –Amor. –Eric sussurrou usando seu polegar para limpar as lágrimas que marcavam o rosto branquinho de Kyle. –Não chore, por favor. –Completou o moreno, depositando leves beijos sobre o rosto do judeu.

-Sinto muito. –Kyle fungou, levando a mão para os pulsos de Eric, enquanto este acariciava seu rosto. O jovem obeso puxou Kyle para mais um beijo delicado.

-Eu vou te ver no verão... Mas até lá podemos mandar mensagens, tem o facebook, Skype, podemos nos ver sempre.

-Eu não quero te ver através de uma tela de computador, Cartman. –O ruivo tentava parar de chorar, mas ele não conseguia, tamanha era a dor de ter que deixar aquela cidade. –Eu quero te ver de carne e osso, quero poder te sentir.

Naquele momento, Eric também sentiu vontade de chorar, mas ele nunca iria admitir aquilo, nem mesmo para o seu namorado, ele apenas suspirou fundo. –Olha, eu vou te buscar, está bem? É uma promessa. –Disse da forma mais doce que conseguia, dando um abraço apertado no adolescente.

Kyle sentiu a esperança acender dentro dele e abriu o melhor sorriso que conseguia, que desapareceu ao ouvir o som do caminhão de mudança chegando.

-Tenha uma boa viagem. –Disse Eric dando um último beijo em Kyle. –Eu te amo e vou te buscar, ok?

-Eu também te amo, Eric. –Assegurou, abraçando o namorado mais uma vez e se levantou, ajudando o rapaz a se levantar, logo ele saiu pela janela do quarto, deixando Kyle novamente sozinho.

~*~

Sentado no banco de trás do carro, ele olhava para a estrada com seus fones de ouvido. Kyle encostou a cabeça no vidro da janela, enquanto sua mão acariciava os cabelos de Ike, que estava dormindo com a cabeça em seu colo. Ele sentiu frio nas mãos, mas quando foi coloca-las nos bolsos, ele teve uma surpresa ao sentir um papel. Averiguando que seus pais estavam entretidos com a música Country que tocava no carro, o ruivo abriu o papel depressa, sorrindo ao identificar a letra de Eric.

“P.S.: Eu te amo.”

Fim