– Nós éramos mesmo amigas?

Ouvir Belle perguntar aquilo, vê-la ali a observando como uma completa estranha era a coisa mais dolorosa para Ruby.

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Para Belle, a amizade que nutria por Ruby era coisa mais importante no momento. Só na presença daquela mulher sua mente ficava tranquila de todos os pensamentos sobre Rumple que a atormentavam, e ao acordar naquela manhã, sabia que esse homem não invadiria seus devaneios por um bom tempo.

Elas podiam gritar, dançar, comer (e muito), assistir todos os tipos de filmes, rir e repetir tudo isso, mas não houve nada mais agradável do que ficar horas e horas apenas deitada, apreciando aqueles olhos azuis maravilhosos que Belle tinha enquanto conversavam. Durante uma dessas conversas, Ruby percebeu quão bom era o coração de Belle, ela expusera várias situações em que uma pessoa normalmente não seria digna de confiança e para sua surpresa, Belle sempre optava pela melhor das escolhas: ajudar; pensava se ela continuaria com esses critérios se soubesse a verdade sobre a amiga...

Belle acordou e percebeu que estava sozinha no quarto, fez suas higienes matinais e foi direto para cozinha, onde encontrou a amiga na bancada preparando alguma coisa.

– Está fazendo chá gelado? Nós tomamos uns 5 copos ontem! – disse Belle surpresa.

– Você não parece estar enjoada. – Ruby sorriu e deu espaço para a amiga a ajudar a preparar o resto do café da manhã (por mais que tenham acordado depois do meio-dia)

– É verdade, essa coisa é mágica! Sem trocadilhos. – As duas riram e continuaram seus afazeres.

O dia não foi tão agitado quanto o anterior, a preguiça dominava, mas nada melhor do que uma boa conversa sobre seus sentimentos por Júlio Verne, sentadas no sofá e praticamente soterradas de cobertas. Como não tinham mais ideia do que fazer inventaram uma brincadeira: cada uma escreveria poucas palavras envolvendo qualquer coisa já criada pelo autor, e assim, criariam a própria história sem limite para acabar. Chegaram a um ponto onde duas mulheres de livros diferentes se apaixonaram, quando Ruby terminou seu trecho, acrescentou no final “O que você faria?”.

– Como assim?

– Quero dizer, você acha que elas estarem apaixonadas é... Errado?

– Não, pra mim o que importa é o amor verdadeiro.

– E o que você diria pra alguém que acha o contrário?

– Por que você vive fazendo essas perguntas tipo “verdade ou consequência? Consequência!”? – Belle disse isso num tom divertido, embora, lá no fundo, alguma coisa se debatia, lutando para finalmente se libertar, o que a fazia sentir pontadas no estômago.

– Porque às vezes o assunto acaba e esse é o único jeito de continuar a conversa.

– Mas... Ok, eu não posso negar que gosto de desafiar meus próprios ideais, então vou responder. – Ela se aproximou um pouco mais de Ruby, buscando calor naquela noite fria (já era noite?). – Eu diria para esta pessoa que não parece certo julgar o amor de duas pessoas pelo que são, se seus sentimentos são verdadeiros. Um homem pode muito bem se apaixonar por outro homem, mesma coisa com duas mulheres, ainda mais se ela souber fazer um ótimo chá gelado.

E a indireta estava lançada.

Ruby não podia acreditar, aquilo não era uma indireta, seria mais discreto se ela falasse “me beija agora”. Mas antes que seus pensamentos se tornassem em ações, ela ouviu o tic tac do relógio e instintivamente o olhou, estava quase na hora.

– Você precisa ir. – Ruby se levantou bruscamente.

– Me desculpe eu não quis dizer... – Belle se amaldiçoava pelo que havia dito.

– Não! Não é isso, é que... É complicado.

– Eu consigo entender coisas complicadas. – disse Belle com impertinência, Ruby sabia que ela não sairia dali tão cedo.

– Eu amo alguém Belle. – E antes que esta pudesse abaixar a cabeça, entendo o significado da frase, acrescentou. – Por isso não posso correr o risco de mata-la.

A expressão de surpresa e confusão no rosto de Belle fariam Ruby se derreter se não fosse à gravidade da situação.

– Belle, eu sou um monstro. Já matei antes e posso fazer isso de novo.

– Não, eu sei que você não é!

– Onze homens saíram para caçar um lobo que rondava a vila uma vez. Todos morreram, eu sobrevivi.

Desde o primeiro momento em que a vira, Ruby sentiu uma necessidade de se aproximar daquela garota obcecada por chá gelado. Mas não sabia que chegaria ao ponto de sentir um frio na barriga no momento em que Belle colocou as mãos nos seus ombros levemente, seu olhar não era de medo, nem pena.

– A diferença é que eu não vou estar te caçando, queira você ou não, ficarei aqui!

– Sim, você vai.

Ruby se aproximou lentamente, não podia acreditar no que estava acontecendo. O coração de Belle nunca batera tão rápido na sua vida. Sentiram os lábios se tocarem com incrível delicadeza, e por mais que fosse o beijo mais doce de suas vidas, as duas sentiram como se um choque mágico passasse por elas, entorpecendo o cérebro e atiçando o sentimento presente. Parecia que o mundo inteiro havia desaparecido, a única coisa que importava era esse único contato que causava tanta bagunça. E então Belle sentiu algo envolta de seu pulso, separou-se da outra e olhou para o local – Ruby a amarrara com o cobertor. Voltou seu rosto para a garota, esta estava com os olhos marejados e era evidente que queria dizer “me desculpe”.

– Eu te amo.

Foi a última coisa que Ruby disse antes de sair correndo.

Entre lágrimas, Belle usou toda sua força para puxar o sofá até a cozinha em busca de uma faca, já que aquele nó era impossível de desatar.

– Ela. Não vai. Me deixar. Aqui!

Belle correu quase a noite toda pela floresta, sabia que Ruby estaria ali, era o único lugar onde ela estaria segura.

De baixo do céu rosa e dourado amanhecendo, o enorme lobo cinza dava seus últimos uivos, mas sem antes, é claro, saborear a última presa. A vítima recuava lentamente, gesticulando e emitindo sons altos, o que só a deixava mais atrativa.

Belle deu mais um passo para trás, uma névoa envolveu sua mente.

Ruby acordou deitada no chão da floresta, a primeira coisa que viu quando abriu os olhos foi Belle com uma expressão confusa, tentando acordá-la.

– Você me seguiu até aqui!? Como conseguiu sobreviver?

– Do que está falando?

– Belle você podia ter morrido!

– Quem é Belle?

O coração de Ruby gelou, Belle atravessara os limites da cidade.

_____ x _____

– Bem... Nós éramos mais que amigas.

Ruby envolveu Belle num beijo, mesmo sabendo que essa ação seria precipitada. Para sua surpresa, a garota a abraçou e intensificou o beijo.

– Você... – Ruby não fazia ideia de como completar a frase, só sabia que estava mais do que feliz de não ter sido rejeitada.

– Chá gelado. – Foi o que Belle respondeu.

– Como?

– Você tem gosto de chá gelado... Ruby.

O sorriso no rosto das duas era de mais pura felicidade. A magia da cidade não era páreo para o beijo de um amor verdadeiro... Com uma pitada de chá gelado.