Mistérios de Frost Ville escrita por Isa Holmes
Notas iniciais do capítulo
E eis aqui, meus detetives, o último capítulo.
Obs: Narração na visão de Merida.
O reflexo das sirenes brilhava na janela e policiais andavam apressados de um lado para o outro. Três telefones tocavam ao mesmo tempo, e o olhar cansado de David me dava pena. Dava pena, mas não ganhava do homem quieto e encaixotado na medonha sala de interrogatório.
Observava Devalos atentamente pelo vidro largo e espelhado. Fazia uma hora que ele estava trancado na sala, com apenas um copinho descartável de café. Parecia uma estátua, não levantava nenhuma vez, apenas olhava pro nada. Não tinha emoção e nem expressão. Não sorria, não espirrava e raramente piscava. Em alguns segundos duvidei que pudesse estar respirando. Bobeira minha.
— Vai mesmo querer fazer isso? — perguntou David, apoiando sua esguia mão no meu ombro — Posso dar conta dele sozinho.
— Quero tentar, detetive. — respondi — Preciso saber de algumas coisas. Quero encerrar isso logo, por um ponto final nesse caso todo.
— Como quiser.
David pediu mais alguns minutos, tomou mais algumas evidências, e então, finalmente, nós entramos na sala. Enquanto eu sentava em uma das cadeiras, David foi ajeitar uma câmera no canto da sala. Assim feito, sentou junto a mim e ao seu suspeito.
— E aí? Vamos ser breves? Conversar não doí — disse o detetive.
Breu o encarou de relance, mas nada disse.
— Sinto muito por Gael — pronunciei-me.
— Sente nada. — disse ele, desdenhoso — Não seja fingida, menininha. Está feliz por eu não ter conseguido. E mentir é feio, sabia? Seus pais não te ensinaram isso?
— Estou falando de antes, senhor. Do assassinato.
Devalos ficou quieto.
— Sobre o sequestro sabemos que é culpado. Mas homicídio não está concreto. Você realmente cometeu o assassinato de Mark Mason? — perguntei.
— Cometi.
— E você realmente matou aqueles homens?
— Matei.
— Por vingança?
— Ó, sim.
— Não teve remorso?
— Não, não.
— Não se sente culpado?
— Nem um pouco.
Silenciei e encarei David.
— Gael era realmente uma bruxa? — continuei.
— A melhor e mais linda que eu já vi.
— Ela realmente colocou fogo nos cortiços e matou todas aquelas pessoas?
— Ah, sim... Aquele sorriso que ela dava quando o fogo começava. Seus olhos brilhavam com a luminosidade alaranjada das chamas...
— Gael não deve ter sorrido quando ela própria foi a vítima, não é mesmo? Ou ela sorriu? Você se lembra?
Breu me encarou com raiva. Deu um forte tapa na mesa e me fez sobressaltar junto do copinho de café.
— Não tem o direito de dizer isso! — ralhou ele a mim.
— E por acaso ela teve o direito de matar todas aquelas pessoas? Não, não teve. Então estamos quites.
— Pare de brincar com o fogo, menininha...
— Que fogo? Você? — provoquei — Não é nada sem o anel, não foi isso que disse?
Remexi no meu bolso e coloquei o objeto em cima da mesa. Breu arregalou os olhos e o encarou.
— Nem pense em pegá-lo... — disse David.
— Pode falar pra mim sobre o anel? — perguntei.
— Falar o quê? Por acaso vai usá-lo? — zombou ele.
— Você não é bruxo de verdade, não é, senhor?
Breu me encarou e sorriu sorrateiro. Erguendo uma das mãos, deu um estalo com os dedos e deles, impressionantemente e como um isqueiro, surgiu fogo.
— Mandei parar de brincar com as chamas, menininha...
— Não. Sou. Menininha! — dei um soco na mesa e peguei o anel.
Com raiva, posicionei o objeto na minha mão e deixei a pedra — ou sei lá o que fosse — para baixo, e, com isso, comecei a roçá-lo contra a mesa. O barulho era agoniante para mim, mas para Devalos, pela a expressão e olhos arregalados, era a sua viciosidade sendo destruída.
— Pare com isso! — ralhou ele — É único!
— Como funciona? — perguntei.
— O Anel?
— Não, os seus dedos... — zombei, irritada — Claro que é o anel!
— Os dedos também têm segredos. Injeto uma substância. Eu mesmo criei. Pura mágica, não? Tenho meus segredos, mas Gael completou minhas habilidades com o anel. Minha querida sempre foi mais forte que eu, sabe? Pena que este é passageiro...
— Como funciona a droga do anel!? — ralhei desta vez.
— Não tenho exatamente o que explicar, garotinha. É a pedra. A magia é a pedra. Ponho o anel em meu dedo, a pedra se estabelece nas minhas veias e no meu sistema e os poderes fluem. Interessante, não é? Quer que eu te mostre como é?
Devalos tocou minha mão, David se aproximou e eu recuei sobressaltada.
— Você tinha outros planos? — perguntei.
— Como é?
— Duvido que você quisesse apenas trazer Gael de volta. Me diz. Você tinha outros planos, não tinha?
Devalos ficou quieto por um tempo. Mas só por um tempo, pois o homem logo me encarou, juntou as duas mãos e se apoiando na mesa, começou:
— Não ia ser eu a decidir isso, minha querida. Ia ser a minha amada. Mas como a conheço como ninguém, tenho certeza que ela iria ter adorado acabar com cada pessoinha medíocre dessa cidade.
Encarei David e ao homem novamente.
— Você se declara culpado por tudo qu...?
Mal terminei de falar e ouvi um código de toques no espelho da sala. David foi até a porta e a abriu, e de lá entrou um homem muito bem vestido, com terno marrom e uma maletinha. Esnobe, ele foi entrando e argumentando que era o advogado do nosso réu.
— Não diga nada para eles, Black. Deixe por minha conta.
— Olha só, Ross, não pode ir invadindo assim, sabia? — rosnou David.
— Não pode ir interrogando o meu cliente assim, sabia? — retrucou o homem — Quando vai entender que tem que esperar? Vamos, Black.
— Temos que resolver isso, Ross! Escute bem, ele vai ser julgado! Acabou de confessar várias coisas.
Ross encarou o detetive e depois a mim.
— Virou babá, David?
Meu amigo murmurou algo nada dócil e chamou-me para um cantinho do caixote. Perguntou se eu tinha tudo o que queria e argumentou que era hora de eu dar no pé.
— Espere um pouco. Ele vai ser julgado pelo o quê? Bruxaria? Isso é meio... ridículo, não acha?
David sorriu.
— Sequestro e assassinato, não se lembra? É por isso que estamos aqui. O caso de bruxaria é historinha nossa. — o detetive olhou para o advogado e seu réu — Mas agora é papo sério, Merida. O palco aqui vai pegar fogo. Você entende, não é? Preciso cuidar disso sozinho.
Assenti com a argumentação de muito bom grado, apenas contrariada por saber que ia perder a minha carona de viatura pra casa.
Despedi-me do meu amigo e do advogado charlatão.
No percurso inteiro para fora do caixote, Devalos me encarava desdenhoso e repugnante. Mas num piscar de olhos, sorriu, gesticulando um “adeusinho, querida”.
Adeusinho, eu quis dizer, Até o tribunal.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E acabamos pessoal (pelo menos por enquanto. Vai que ganho argumentações o suficiente para fazer uma segunda parte?).
Eu quero agradecer a todos — TODOS OS LEITORES MESMO — com o progresso, crescimento, carinho e sucesso dessa história. Sei que teve capítulos demorados, alguns frouxo, mas tentei recompensá-los de todas as maneiras. Meu objetivo é que todos os leitores saiam dessa história satisfeitos, e sinto muito se algum não atingiu esse objetivo.
Pessoal, eu não sei como agradecer e não sou muito boa com despedidas (quero dizer, quem é?). Então eu NÃO vou me despedir como cenas tristes de filmes românticos onde o "Adeus" é uma marca. Vou apenas dizer "Até logo!", pois espero que me sigam pelo resto que vier e que eu escrever.
Agradeço do fundo dos meu coração aos comentários maravilhosos, às opiniões, os elogios, as recomendações, o amor e o carinho que vocês tiveram comigo. Considero meus leitores mais do que leitores ou mais do que amigos, considero-os como uma família (e aprendizes, pois são os meus mini-detetives! rs).
Obrigado mesmo, queridos, por me acompanharem por toda essa jornada! Espero logo estar com vocês novamente.
E, ora, não é porque é o último capítulo que não podem deixar um comentário! Vamos lá, pessoal! haha >.
ATÉ LOGO! :)