Mistérios de Frost Ville escrita por Isa Holmes


Capítulo 1
Como começar uma guerra de comida!


Notas iniciais do capítulo

Mais uma fanfic...
Boa leitura, galerinha.



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Que maravilha! Primeiro dia de aula e estou atrasado... de novo! Eu nem pude tomar um café da manhã reforçado, precisei jogar minha mochila por sobre o ombro, descer as escadas e atravessar a porta da frente igual a um furacão. Ouviu meu avô, North, perguntar algo enquanto eu passava pela cozinha, mas dei-lhe de ombros. Com certeza ele iria fazer a pergunta de algo que estava óbvio aos seus olhos.

Os corredores mal iluminados da escola estavam vazios, a não ser pelas faxineiras carrancudas que passavam pano no chão, já sujo, pelos alunos. Tentei sorrir para uma delas — a mais baixinha e gordinha — enquanto procurava a minha sala — 1 A —, porém ela me fuzilou com seus olhos negros. Fechei a expressão no mesmo momento, aumentando o passo, fugindo do seu olhar penetrante.

Quando cheguei na porta da minha sala olhei pela janela da mesma. O professor estava escrevendo o seu nome no quadro negro e a matéria na qual explicava.

"Essa é a chance de não ser pego, Frost. Concentre-se!"

Abri a porta cautelosamente e entrei, nem ligando para os alunos com olhos curiosos pousados em mim. Já estava na metade do caminho até a minha mesa, quando alguém chamou-me a atenção. Aquela voz era inconfundível. O seu tom rouco e grosso fazia com que todos se encolhessem. Tanto alunos, quanto professores.

— Atrasado, Sr. Frost.

— Desculpe, Sr. Devalos — sussurrei.

Sem encarar o homem baixinho, carrancudo e calvo, passei rapidamente os olhos pelos alunos, procurando vestígios de rostos novos. Para a minha sorte encontrei vários, sendo que um deles agora se senta na minha frente.

Era uma garota ruiva de cabelos cacheados e rebeldes.

Quando sentei no meu lugar — segunda mesa, da fileira do meio — percebi que toda aquela cabeleira avermelhada impedia o meu campo de visão até a lousa.

"Grandioso! A garota nova que senta na minha frente tem uma juba de leão que me impede de não prestar atenção na aula!"

— Oi ruivinha, será que você poderia prender esse cabelo? Não consigo ver nada — cutuco-a e falo, gentilmente.

— Se eu conseguisse já teria prendido! Compre um óculos, quem sabe passa a ver melhor? — a garota provocou sem me encarar. Ela parecia ter sotaque, pelo que percebi, escocês.

Bufei e cruzei os braços, encostando-me na carteira.

— Sem educação — murmurei.

— Algum problema Sr. Frost? Srta. Dunbroch? — Ouvi a voz do professor novamente.

Eu não havia percebido antes, mas ele estava do nosso lado. Seus olhos pulavam de mim à garota nova, várias vezes. Olhei para os lados e vi que os alunos nos encaravam, novamente, exceto uma garota morena, que, agora, passa a sentar-se do meu lado.

— Não professor... — a ruiva inclinou-se e olhou para a lousa. Parecia procurar o nome homem — Devalos! Ele apenas queria um lápis emprestado. — a garota sorriu para ele e entregou um lápis a mim. O professor acenou com a cabeça, concordando, e voltou para a frente da sala, pigarreando.

— Isso foi para se livrar de um primeiro dia na detenção, ruivinha? — inclinei-me novamente na mesa, caçoando-a.

— Não, isso foi para te livrar de um dia na detenção — Ela virou-se para para mim. Sua expressão não era passiva — se liga, garoto, acha mesmo que iriam acreditar que uma novata estava aprontando!? Ah! E devolva meu lápis! — ela arrancou bruscamente o objeto da minha mão, voltando para o posto de antes.

O silêncio dos alunos domou a sala por um momento, deixando com que apenas o professor se manifestasse. Ele estava explicando o seu merito de dar aula. Decidi apenas abaixar a cabeça na mesa, já que sabia suas rígidas regras decor.

Minutos depois, quando ouvi meu nome, dei um pulo na carteira.

— Sr. Frost, gostaria de dizer aos alunos novos qual a origem do nome de nossa cidade?

— Eu... — comecei a dizer, esfregando os olhos, sentindo todos os alunos, novamente, curiosos. Porém, um garoto, moreno e com uma perna estranha, interrompeu-me.

— Ouvi dizer que a cidade foi batizada de Frost Ville por causa do frio que faz por nove meses. Li também que existem boatos da cidade ter este nome por causa de uma lenda. Ainda não tive a oportunidade de procurar saber tudo, mas tenho séria dúvida entre as duas histórias. É claro que a mais lógica é sobre a temperatura baixa — ele deu pausa, mas continuou: — Antes de mudar-me para Frost Ville, eu morava em uma cidade de temperatura similar. Ela também tem uma história incrível. Chama-se Berk, talvez o senhor não a conheça por ser pequena e não estar nos mapas.

O Sr. Devalos desviou o olhar e encarou o garoto moreno, no qual encolheu-se.

— Obrigado pela resposta, Sr. Hadock, mas, da próxima vez, deixe que o aluno no qual foi dirigida a pergunta responda, sim?

— Cl-Claro, desculpe-me professor. — O "Sr. Hadock" abaixou a cabeça, ficando vermelho.

"Salvo pela Juba de Leão e pelo Perna de lata! Detenção, sentirá minha falta no primeiro dia de aula!"

A primeira aula — história — demorou a se passar. E, já que eu não estava mais com sono, e já que eu não conseguia avistar a lousa por causa da juba de leão, resolvi examinar os rostos novos.

Olhei discretamente para o lado — direito — e observei a garota morena e sem expressão. Ela estava cabisbaixa e tentava desenrolar um fone de ouvido branco com as mãos. Depois de alguns segundos ela seguiu os seus olhos para o lado e encontrou os meus. Tentei sorrir, porém ela desviou no mesmo momento.

Segui então meus olhos para o lado oposto — esquerdo — e encarei o garoto moreno e de perna estranha que me salvou de um cascudo do professor, porém que levou um. Ele segurava um pequeno caderno de capa de couro, enquanto — pelo que percebi — desenhava alguma coisa.

Atrás de mim estava um garoto de topete. Ele parecia estar entediado, seus olhos quase se fechavam de sono, mas quando percebeu que eu o examinava, sorriu. Um sorriso conhecido, algo travesso, que deixou-me curioso. Acenei com a cabeça e pulei os olhos para o alguém que estava atrás dele.

Uma loira de cabelos dourados e compridos; essa é a garota que senta atrás do menino de topete. Ela mantinha um sorriso largo no rosto e seus olhos grandes na direção do professor. Parecia interessada na aula de história do Sr. Devalos.

Quando voltei os olhos para a frente o sinal tocou; um barulho alto e agudo que irritava os ouvidos de qualquer pessoa.

O Sr. Devalos se despediu com um aceno de cabeça aos alunos, pegou sua maleta e atravessou a porta de madeira da sala, checando o seu relógio de pulso. Segundos depois nosso professor de artes — Sandman —, entrou na sala. Ele se apresentou aos alunos, começando a sua adorada aula em seguida.

Vários adolescentes, desta vez, prestavam atenção na explicação de Sand. Porém eu preferi ficar enrolando os cachos ruivos da "Srta. Dunbroch" no meu dedo indicador, diversas vezes. Em um momento, sem querer, puxei um mais forte e ela puxou os cabelos para o lado. Me reencostei na cadeira, entediado novamente, até que tive a impressão de ver a ruiva sorrir e jogar os cachos avermelhados em cima do meu caderno.

Nervoso, levantei a mão, chamando a atenção do professor:

— Sand, com licença, mas eu gostaria de pedir para a garota nova aqui prender o cabelo. Não consigo ver o que está escrito na lousa, e toda essa cabeleira está ocupando metade da minha mesa.

Sandman ergueu uma sobrancelha e sorriu. Ele apoiou a mão no queixo, parecendo pensar, mas logo chegou em uma conclusão:

— Srta. Dunbroch pode trocar de lugar com o Sr. Robinson? E, Frost, por favor, fique onde está.

A ruivinha, nervosa, me empurrou discretamente quando mudava de lugar.

Quando olhei para trás, vi que o garoto de topete juntava seu material, sentando-se em seguida na minha frente. Ele se virou para a minha direção e sorriu; novamente o mesmo sorriso travesso que eu havia visto antes.

Desta vez tentei prestar atenção na aula, mas o sono me comoveu, então, encostei minha cabeça sobre meus braços no caderno e entrei em um sono profundo. Em um momento sonhei que alguém me cutucava com o dedo, era um sonho tão próximo... Até perceber que era real.

Resmunguei baixo, preferindo não abrir os olhos, mas os cutuques continuaram.

— Ele não acorda — a voz de um garoto soou.

— Deixe que eu resolvo isso! — desta vez soou uma voz feminina.

Tentei abrir os olhos, mas estes se recusavam a obedecer. Os cutuques pararam, mas eu senti algo percorrer meu corpo.

Uma cascata de água gelada acordou-me em um pulo.

— Mas o quê?! — sibilei.

Enxuguei meus olhos que ardiam com a água e procurei o culpado.

A garota ruiva tampava uma garrafa térmica de água, verde, que estava em suas mãos. Ela sorriu para mim. Olhei para o meu lado esquerdo e encontrei o garoto de perna estranha, sentado, com uma cara de espanto. Ele tentou sorrir também, mas, em vez de um sorriso, foi uma careta que cobriu seu rosto.

— Prontinho Hadock, seu novo amigo já acordou. Boa sorte com ele! — ela entregou a garrafa térmica para o menino de uma única perna boa, pegou uma pequena sacola de costas que estava pendurada na sua cadeira e saiu marchando e gargalhando.

O garoto bateu o punho na mesa e gritou:

— Soluço! Meu nome é Soluço!

— So-Soluço!? — perguntei, segurando o riso. Não fiquei com dúvidas de ter trocado o meu tom pálido de pele para rosado — Isso não é um nome de verdade!

— O que há de errado com ele? — o garoto defendeu-se.

— Conhece algum outro Soluço?

Ele enrugou o cenho e balançou a cabeça.

— Não.

— Da cidade que você veio usam esses nomes estranhos? Quero dizer, já que é pequena e afastada dos mapas.

— Não, de onde eu vim não — respondeu — Mas de uma família com sangue viking, sim. — Ele arqueou uma sobrancelha — E o seu nome, Frost? Tem alguma coisa a ver com o nome da cidade?

— Na verdade meu nome é Jack, e apenas o sobrenome Frost — olhei para o relógio cinza da parede da sala — E eu não sei se o nome da cidade tem haver com o meu. Mas, se descobrir algo, me avise.

Soluço sorriu, e eu apontei para o relógio, levantando-me.

— Intervalo. Vejo você no refeitório, ainda preciso achar a pessoa na qual me deu um banho antes da hora.

Soluço concordou, e, antes que ele se despedisse, sai em disparada.

Os corredores estavam lotados de alunos e professores que deixavam suas salas, todos em uma única vez. Fiquei na ponta dos pés para poder tentar achar a cabeleira ruiva que tinha me molhado. Por sorte a achei perto dos armários da nossa turma.

— Ei Dunbroch! Por que diabos me molhou? — perguntei, sufocado pelos alunos, mas logo me encostando no armário que ela lutava para destrancar.

— Apenas fiz um favor ao Soluço. — respondeu ela, doce, porém logo fechou a expressão e urrou: — Agora saia de cima do meu armário!

— Primeiro diga o seu nome — cruzei os braços — O meu é Jack.

— Merida — respondeu ela — Agora, saia!

Arqueei uma sobrancelha, demonstrando que não sairia, porém ela me empurrou, fazendo-me cambalear por entre o movimento de pessoas.

No mesmo momento avistei a sacola preta que ela havia pegado antes de sair da sala, ela estava escorregando por sobre o seu ombro. Espiando por cima encontrei a ponta de um arco e várias flechas.

Me aproximei dela novamente, ouvindo-a resmungar um xingamento.

— Para que o arco e as flechas? — perguntei — estudo aqui tempo o suficiente para saber que não ensinam pontaria.

— E não ensinam — ela virou-se para pegar algo na bolsa.

Aproveitei o descuido para apoiar-me novamente no armário.

Quando Merida percebeu meu ato, cerrou os punhos e bateu os pés, falando entre dentes:

— Mas eu costumo usar o meu arco para acertar as cabeças de pessoas que me irritam! Agora saia daí, Jack Frost, senão terei que estrear minhas flechas novas com a sua!

— E se eu não quiser? — encarei-a.

Merida sorriu e segurou a gola do meu moletóm. Agarrado ao braço dela me deixei arrastar, tentando diminuir a agonia de ter o peso do meu corpo inteiro pendendo apenas da minha garganta. Ela me deixou três armários antes do dela, que por coincidência, era o meu.

— Eu obrigo — ela disse triunfante. A ruiva voltou ao seu armário e o abriu. Chutei o meu armário, nervoso, no qual também abriu.

Peguei uma moletom seca, guardei a molhada e me vesti no meio do corredor, não ligando para as pessoas que passavam.

Quando feito, fechei a porta de metal e segui os olhos para o lado. Merida não estava mais fuçando em seu armário, e sim entre os outros alunos, que adentravam apressados a porta dupla do refeitório.

— Ei, Merida! — Chamei-a aos gritos, dando cotoveladas nos outros alunos. A ruiva olhou por sobre o ombro. Percebendo que era eu quem a chamava, aumentou o passo.

Quando, finalmente, consegui entrar no refeitório, passei os olhos por entre os alunos. Soluço parecia estar perdido. Acenei para que ele se aproximasse. O mesmo sorriu, aproximando-se com a bandeja em suas mãos.

— Perdido? — perguntei. Soluço assentiu.

— Você viu a ruivinha?

Novamente o garoto assentiu, apontando desajeitadamente para uma cabeleira avermelhada. Merida estava sozinha, e, na mesa ao lado, a garota nova - morena e magra - estava brincando com o lanche.

— Me erra Jack! — disse a ruiva assim que joguei a minha bandeja na mesa, depois de enfrentar uma fila imensa de adolescentes.

— Se tivesse outra mesa, pensaria no seu caso! — retruquei.

Soluço chegou em passos curtos atrás de mim, fazendo com que a ruivinha ficasse mais irritada.

— Posso sentar com vocês? — perguntou ele.

— Se a mesa não tiver o nome de ninguém, pode — Merida respondeu, irônica.

Soluço sentou e tentou disfarçar as bochechas rosadas, virando o rosto. A ruivinha suspirou e estendeu a mão para ele.

— Merida - apresentou-se depois de sussurrar um "desculpa".

Abaixei a cabeça, começando a brincar com a minha maça, rolando ela de um lado para o outro, quando percebi uma nova bandeja na mesa. Uma não, duas.

— Ora, Ora, se não é Jack Frost, o travesso do colégio — disse uma voz masculina.

Ergui os olhos e encontrei o garoto do topete, sentado ao lado de Merida. Quando olhei para o meu lado encontrei a loirinha sorridente.

— Como sabe o meu nome? — enruguei o cenho, mas depois relaxei — Sou famoso e nem sabia! — sorri — Seus nomes seriam..? — apontei do garoto para a loira, e vice-versa.

— Wilbur Robinson — ele apertou a minha mão —, prazer.

— Rapunzel Corona — disse a loira ao mesmo tempo, porém, em vez de estender a mão em um comprimento formal, ela abaixou a cabeça e enrolou uma mecha de cabelo loiro no dedo indicador.

— Agora, diga-me, o que aprontou para ter toda essa "fama"? — perguntou Wilbur, levando seu garfo até a boca.

— Céus! Me recuso a ouvir isso! — Merida resmungou, saindo da nossa mesa e sentando na do lado, a qual estava a novata morena de fones de ouvido.

Não querendo deixar barato, falei aos outros que a seguissem. Todos pegaram suas bandejas e sentaram na nova mesa, inclusive eu. Porém, antes de me acomodar, algo se chocou contra o meu rosto. Uma coisa molhada e gelatinosa. Limpei meus olhos, deixando a substância se agarrar sob meus dedos. Era geleia.

Nervoso, fuzilei todos que me encaravam, pelo fato de estar "chamativo". Havia apenas um grupo que caçoava e ria de mim, e, no meio dele, estava o meu irmão mais velho.


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Notas finais do capítulo

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