O tempo passou e o dia já estava indo embora dando espaço para um lindo céu com cores mescladas que me lembravam quadros feitos à base de aquarela. Me lembrei de que iria pela primeira vez sair com colegas de turma para me divertir, imaginei como seria. Vou fazer o possível para me dar bem com todos meus colegas de classe. Daqui alguns minutos o sinal da saída vai tocar, estou ansioso.

O sinal toca e os alunos começam a arrumar seus materiais, a sala que antes era silenciosa se torna agitada. Ainda arrumando meu material, vejo Sacchi na porta da sala, olho pra ele por um tempo, ele me percebe e grita da porta:
–Shun, a gente vai te esperar lá na entrada, ok?!

Levanto-me e movimento a cabeça assentindo, então ele e os outros garotos saem da sala rumo a entrada da escola. Pouco tempo depois minha mala já estava arrumada e fui correndo para entrada. Estavam todos lá, rindo e se divertindo na entrada da escola. Naquele momento pensei que queria fazer parte daquele grupo de pessoas.

Me aproximei e logo senti um braço sob meus ombros, olhei para trás, mas não soube identificar quem era o garoto atrás de mim. Observei-o por alguns instantes, ele era alto e esbelto, seus olhos eram verdes como esmeraldas e seu cabelo era castanho. Nossos olhos se encontraram e eu com vergonha visei fitar o chão. Ele riu e logo afagou minha cabeça com uma de suas mãos.

Quem será esse garoto? Essa pergunta estava rondando por minha cabeça, assim criei um pouco de coragem e perguntei hesitante:

– Q-quem é você?

 –Eee, Shun-chan não se lembra de mim? Que maldade – disse o garoto de jeito manhoso, apontando para seu rosto com o dedo indicador.

Realmente não lembrava, na verdade eu não tenho a menor ideia de quem era aquele ser que se apoiava em meus ombros. Antes que eu falasse algo, o garoto continuou:
–Já que não se lembra não há outro jeito, vou me apresentar de novo. Sou Tanaka Jun e sento na carteira logo atrás da sua. – sorriu

– Sou Shunsuke, prazer. Hm... Me desculpe por antes... – disse um tanto envergonhado. Como posso ter esquecido de um colega de classe?!

– Sem problemas. – sorriu novamente

Agora que todos já estavam reunidos na entrada, já podíamos ir para o karaokê. O caminho a ser percorrido era curto, o karaokê ficava a apenas duas quadras da escola, então em 15 minutos chegamos ao destino. Durante o caminho conversei com Jun, foi divertido nós rimos e conversamos sobre coisas aleatórias.

Já dentro do karaokê nós fomos há uma sala para 10 pessoas sendo que nosso grupo possuía apenas 7 pessoas. Miyamoto (um dos meus colegas de classe) começou a dançar enquanto cantava uma música infantil, todos nós rimos até nossas barrigadas começarem a doer. Nós pedimos aperitivos e algumas bebidas. Passado algum tempo todos já tinham cantado, até mesmo eu, tive vontade de ir ao banheiro e assim o fiz, avisei aos outros e fui rumo ao toalete.

Ao sair do banheiro encontrei Jun do lado de fora encostado na parede do corredor estreito e espelhado que ligava os banheiros até as salas de karaokê. Ele me viu e começou a se aproximar com um sorriso que eu não entendia em seu rosto... Estava diferente. A cada passo que ele dava para se aproximar, eu dava para me afastar, porém chegou a hora em que não havia mais para onde fugir, encostado na parede eu o vi se aproximando mais e mais e então pegou meu braço direito e o prensou contra a parede para que não conseguisse sair, levou a cabeça ao meu ouvido e sussurrou malicioso:

– Você até que é bonitinho, sabia?

Naquele momento vi meu rosto corar no espelho havia nas paredes do corredor. Pouco depois de sussurrar em meu ouvido Jun lambeu minha orelha me causando um calafrio no momento que sem querer me levou a soltar um leve gemido. Via meu rosto se tornar cada vez mais vermelho. Meu Deus, o que está acontecendo nesse corredor? Sem pensar muito arranjei forças para empurrar e chutar Jun o suficiente para sair correndo até a sala onde estavam os outros.

Na porta da sala, parei um tempo para respirar e pensar um pouco sobre o que aconteceu. Não estava entendendo nada, Jun parecia tão legal até aquele momento... Senti meus batimentos ficarem irregular, entrei em pânico, minha visão começou a embaçar. Escutei vozes chamando por mim. Tentei responder mas meu corpo já não me obedecia mais.

––– x –––

Acordei em um lugar desconhecido. Onde estou? Senti um peso sob minhas pernas, quando olhei para ver o que era, vi Sacchi dormindo como uma criança. Esfreguei meus olhos para ter certeza de que estava enxergando corretamente. Mas nada mudou Sacchi ainda estava dormindo apoiado sob minhas pernas.

Tentei sair da cama sem acordar Satoru, mas falhei. Sacchi acordou e me perguntou se estava bem, ele disse que eu tinha desmaiado no karaokê e que todos ficaram desesperados e então me trouxeram para casa de Satoru. Após escutar o que havia acontecido disse cabisbaixo:

– Me desculpe... Fui um incomodo... Perdão.

–N-não se preocupe, está tudo bem. Você melhorou, né? – Sacchi sorriu e eu sorri de volta

–Sacchi, sabe aquele tal de Jun?

– Sim, sei. O que tem ele?

– Ele por acaso é... gay? – no mesmo momento Sacchi começou a rir sem parar

– Hahaha, é claro que não. Não consigo nem imaginar aquele mulherengo sendo gay! Por que a pergunta?

– Ah, nada...

– Vamos diga. Se interessou por ele? Huh? – disse zombando de mim

– E se for? O que você vai fazer? – disse tornando minha expressão séria

Sacchi parou de rir, imagino se disse algo errado... Logo ele olhou para mim e disse:

– Eu não sei...Agora que você disse... – disse num tom mais clamo

– Você ficou preocupado? Sabe que era só uma brincadeira, né? – disse rindo

– E-eu não! É claro que sabia disso! Hahaha... – disse colocando a mão na nuca

– Acho que já vou embora, já é quase meia-noite... Obrigado por cuidar de mim Sacchi. E novamente desculpe-me pelo incomodo que causei. – disse sorrindo.

E então fui embora para casa observando o céu estralado. Como está lindo e radiante. A casa de Satoru ficava bem perto da minha casa, não sei como nunca esbarramos um no outro por ai antes.

Quando chego em casa vejo minha mãe me esperando na sala assistindo à televisão. Ao me avistar na sala ela me chama e diz que no próximo final de semana nós iriamos visitar papai em Kowayama. Vai ser divertido, há anos que não volto naquela cidade... Será que Satoru está lá ainda? Vou esperar ansioso pelo final de semana.