Já era tarde e eu olhava pela janela de meu novo aposento no hospital. Era possível ver estrelas e algumas luzes do jardim dos fundos do hospital. Ver as estrelas no céu me deixava contente, fazia-me lembrar de minha infância no campo onde as estrelas podiam ser vistas de longe. Eu, Shunsuke Saito, morava em uma pequena cidade no interior de Tóquio chamada Kowayama junto de meu pai Hanatarou Yamada e de minha mãe Miki Saito fiquei nessa cidade até meus 6 anos, porque logo meus pais se divorciaram e fui junto de minha mãe morar em Saitama. Nós éramos tão felizes como uma família... Então por que se divorciaram? Não entendo.

Agora já se passaram 9 anos desde o divórcio, mamãe arranjou um emprego como editora chefe no setor de literatura de uma editora famosa e meu pai está levando a vida como um escritor de best-sellers respeitado e solteiro. Ainda me lembro muito bem do meu único e melhor amigo de Kowayama, seu nome é se não me falha a memória Satoru Yamada. Foi uma pena mas tive que me distanciar de meu único amigo assim como o divórcio já tem 9 anos, não vejo Satoru há 9 anos também. Me sinto triste, quero tanto vê-lo ...

Em duas semanas terei alta do hospital, mal posso esperar para sair. Quando sair desse hospital minha vida como um estudante do colegial irá começar. Estou morrendo em ansiedade. Como serão os professores? E os alunos... Será que vão me aceitar como amigo? Espero que me aceitem, pois assim minha mãe vai se preocupar menos comigo. Ela se preocupa mais comigo quê com sigo mesma, ela trabalha até tarde da noite para sustentar a nós dois e ainda tem que pagar as contas absurdas do hospital em que eu tenho que ficar de tempos em tempos para cuidar de minha doença cardíaca. Às vezes eu a vejo chorando na sala... Eu realmente queria tentar ajuda-la mas não sabia como então sempre ficava me escondendo atrás da parede que separava a sala da entrada principal... Era doloroso não poder fazer nada e ficar somente escutando minha mãe tentando conter suas lagrimas tendo falhado todas as vezes.

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Enfim passaram-se as duas semanas e daqui a pouco minha mãe virá me buscar e vamos para casa. Passados 15 minutos mamãe chegou ela parecia diferente, o sorriso dela está mais radiante do que nunca. Isso realmente me surpreendeu havia tempos que não via um sorriso como esse vindo de minha mãe. Rapidamente saímos do hospital, fomos até o carro e rumamos até nossa casa que ficava não muito longe do hospital, era uma viagem de menos de 10 minutos.

Assim que chegamos fui correndo para meu quarto arrumar minha mala para ir à escola, no dia seguinte já começavam as aulas e eu tinha de me preparar, a partir de amanhã minha vida vai mudar completamente. Estarei repleto de tarefas a fazer, muitas responsabilidades, o mundo se abrirá para mim, novas amizades, novos horizontes a explorar. Minhas expectativas para esse ano são muitas.

Já estava ficando tarde e novamente olhei pela janela, mas dessa vez era de meu quarto e como sempre lembrei da infância, de Kowayama e de Satoru. No mesmo momento lagrimas escorreram por meu rosto, tenho tanta saudade daqueles tempos... Não sei como explicar de modo coerente, mas quando lembro da infância era como se estivesse sonhando, como se nada tivesse acontecido, era como se fosse tudo uma fútil ilusão de ótica.

Olhei pela janela por um longo tempo. E agora já passava de meia noite, bocejei e me dirigi até minha cama, deitei-me e com muitos pensamentos em minha cabeça sem que percebesse acabei dormindo.

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Logo cedo antes mesmo de meu despertador tocar acordei e sentei-me em minha cama, bocejei e fui me arrumar para o meu primeiro dia como colegial. Tomei banho, café da manhã, escovei os dentes e pus meu novo uniforme escola. E logo saí de casa me despedindo de minha mãe que disse sorrindo:

– Boa sorte na escola nova filho.

–Obrigado mãe, vou me esforçar bastante pra me dar bem com todo mundo. Já vou indo. Disse retribuindo o sorriso.

Já perto da escola encontrei alguns alunos que iam ao mesmo destino que eu, Kirameku Gakuen, uma escola que havia sido aberta há apenas 3 anos, mas já era conhecida por seus alunos exemplares que ganhavam diversos prêmios em competições diversificadas que iam de matemática à música, era muito difícil entrar em uma escola como aquela os testes eram complexos. Quando soube que tinha passado nos testes fiquei muito surpreso, nunca havia pensado que passaria naqueles testes. E agora cá estou entrando na tão desejada Kirameku Gakuen.

Dentro do prédio do colégio ainda na entrada se encontravam grades painéis com listas separando os alunos em suas devidas salas. Fui correndo olhar em que sala estava, parei em frente ao painel do primeiro ano procurei meu nome nas 4 listas e enfim achei, 1°A era minha sala. Curioso passei os olhos no resto da lista querendo saber quem estava na minha sala mesmo que não conhecesse a ninguém, passando os olhos pela lista vi um nome que não me era estranho, então para confirmar olhei novamente, mas dessa vez com mais calma...

Era Satoru Yamada o nome que encontrara na lista de integrantes de minha sala. Parei por um momento e então pensei “Não tem como, é impossível, certo? Com certeza não é ele, devem existir milhares de pessoas com o mesmo nome que o dele.” De repente escutei um grupo de garotos do meu ano conversando no corredor que ficava perto da entrada. Um deles disse:
-Ei, Satoru, o que achou daquele jogo que eu te emprestei outro dia?

Estava tão abismado com o fato de que o nome do meu melhor amigo de infância estava na lista de nomes da minha sala que fui correndo espiar o grupo de pessoas. O garoto que chamavam de Satoru era alto, bonito e parecia ser uma boa pessoa, totalmente o contrário do Satoru que eu conheço, não que ele fosse feio, mas era muito baixinho, nunca me veio à cabeça que ele cresceria. Por isso cheguei à conclusão de que esse “Satoru” não era o Satoru que eu conheço, por isso passei pelo grupo de adolescentes que aproveitavam os minutos antes da aula e entrei na sala ainda vazia e me sentei em uma das primeiras carteiras.

Pouco tempo depois a classe começou a encher e o horário da aula se aproximava o grupo de adolescentes que vira no corredor entrou na sala e o tal “Satoru” sentou-se na carteira vaga que havia a minha direita. Eu senti a necessidade de cumprimentá-lo, pensei que se eu fizesse amizades rapidamente minha mãe ficaria contente. E foi o que fiz olhei para “Satoru” e disse fazendo um sorriso um tanto forçado:

–Oi, sou Shunsuke Saito, espero que a gente se de bem a partir de hoje. Vamos ser amigos, certo?

O moreno parou o que fazia e começou a me encarar como se estivesse me analisando por alguns instantes, logo seus olhos mostraram surpresa e a surpresa tornou-se em um sorriso. Eu não entendia nada o que raios estava acontecendo com aquele garoto?