YUME POV

Deitada na cama, olhei para o teto. Suspirei. Faltava pouco tempo para ela chegar. Hajime veio bater a minha porta.

– Yume... Ela ligou avisando que chegará em uma hora.

Respirei fundo e deixei o ar sair pela boca. Levantei da cama e caminhei em direção à janela, abrindo-a. O dia estava ensolarado e quente. Os botões de flores do jardim desabrochavam graciosamente e borboletas passeavam por entre eles. Aproveitei a arvore da minha janela e por ela desci até o jardim, me sentando perto das violetas.

Acabei me deitando na grama, bastante desanimada. Hajime veio me pedir para ir ao mercado comprar algumas coisas, enquanto ele arrumava a casa. Tente não se pressionar muito ele disse...

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Já no mercado, eu peguei todas as coisas que me foram pedidas e fui para a fila. Ao chegar lá me deparei com um garoto loiro e alto, que começou a me olhar. Ignorei-o. Ele se aproximou e puxou assunto. “Dai-me paciência, oh Senhor!”

– Oi gata! Nunca te vi por aqui, qual o seu nome? – Continuei a ignorar, o que infelizmente não adiantou muito. – Ei, o gato comeu sua língua?

Minha resposta? Simples: comecei a cantar a música No Angels (https://www.youtube.com/watch?v=-xfKU31v3Hc#t=55). Ao que me pareceu, ele conseguiu entender a mensagem e foi embora. “Finalmente!”.

Depois de passar no caixa e, obviamente, pagar pelas compras, voltei para casa. Quando estava a alguns metros de casa, alguém me puxou. Minha reação? Ora, simples: dei um belo chute na perna do individuo, que acabou me soltando e me dando liberdade para encará-lo de frente. Dirigi-lhe um soco no meio da cara, o que o fez cair e me sentei em cima dele, prendendo suas mãos acima da cabeça.

–AAAAH SUA LOUCA! – Adivinha quem era?

– H-Hajime...? – Imagine a minha cara. Levantei-me devagar e ajudei-o a fazer o mesmo. – Gomen nii-chan...

– Ai – Hajime massageou a perna. – Você realmente ficou muito forte... Quase me matou!

– G-Gomen... – Nessa altura eu já estava me sentindo uma monstruosidade. – Você está bem?

–Hajimezinhooooooo! – Ouvi uma voz infantil e me virei para ver de quem era. Fiquei surpresa ao me deparar com uma garota de uns 8 anos, com cabelos curtos e escuros e uma franjinha reta, presa em um dos lado com uma presilha. – Hajimezinho, quem é essa menina? Não deixa ela te bater!

– Ah, Catherine... – Hajime parecia meio envergonhado. O que era extremamente compreensível, uma vez que ele levou uma surra e não teve reação.

A garotinha correu e se abraçou as pernas de Hajime escondendo o rosto contra a perna esquerda dele. Depois olhou em minha direção com uma cara bastante irritada e voltou a esconder o rosto.

– Está tudo bem Catherine, ela não fez por querer! – Hajime passou a mão sobre os cabelos da pequena.

– CATHERINEEEEE! SUA PIRRALHA, NÃO CORRA ASSIM! – Identifiquei imediatamente essa voz como sendo a de Castiel e, ao me virar para conferir, confirmei minha suspeita. – CATHERINE EU VOU TE DAR UMAS PORRADAS!

Castiel vinha correndo pela rua com uma expressão enraivecida. Quando finalmente chegou até nós, ele estava tão sem fôlego que teve que se apoiar nos joelhos para conseguir respirar. Confesso que achei muita graça da situação. Uma menininha como aquela tinha conseguida lhe passar a perna... Com toda certeza iria usar isso contra ele mais tarde. Assim que teve seu fôlego recuperado ele puxou a menina pelos ombros.

–VOCÊ ESTÁ LOUCA PIRRALHA? – Sua expressão era um misto de raiva e preocupação.

– A culpa é dessa menina! – Ela disse apontando para mim. – Ela estava batendo no Hajimezinho! Eu não podia deixar ela ficar maltratando o Hajimezinho...

– NÃO ME INTERESSA! NUNCA MAIS SAIA CORRENDO ASSIM! E SE APARECESSE UM CARRO E TE ATROPELASSE? – Castiel sacudia a garota pelos ombros, e essa parecia prestes a chorar.

– Só que o Hajimezinho...

– HAJIME SABE SE CUIDAR, VOCÊ NÃO!

E foi exatamente nesse momento que a menina começou a chorar bem alto. Castiel? Ele ficou D-E-S-E-S-P-E-R-A-D-O! Não sei qual foi a bruxaria, mas ele ficou louco da vida tentando fazer a menina parar de chorar e pedindo desculpas. Gostaria de ter filmado a cena! A menina chorava bastante e tanto eu quanto Hajime ficamos observando sem saber o que fazer.

– É TUDO CULPA SUAAA – Ela apontou pra mim com voz chorosa e saiu correndo até Hajime.

Depois de muito esforço de todos nós para fazer a bendita menina parar de chorar, explicamos para ela que eu era a irmã mais nova de Hajime e que o que ela tinha me visto fazer foi apenas um reflexo. Castiel parecia até mesmo deprimido por ter feito a menininha chorar.

– Por que você nunca me disse que o Hajimezinho tinha uma irmã? – A menina virou para Castiel, curiosa. Os cabelos pretos, em corte Chanel lhe escorriam pelo ombro.

– Por que você não estava aqui pra eu te dizer. E além do mais, quando ele me contou, eu achei que ela tivesse a sua idade pelo jeito que ele descreveu. A ultima coisa que eu iria querer é que a minha irmã pirralha e a dele saíssem por aí apavorando todo mundo. – Castiel respondeu com pouco caso.

– Irmã? – Perguntei um tanto incrédula. – Está me dizendo que essa garota é sua irmã?

– Sim, por quê? – Ele respondeu novamente com pouco caso. De certa forma, fazia algum sentido... O modo como ele ficou preocupado e tudo mais. Só que era muito estranho pensar que ele poderia ser um Hajime da vida. Simplesmente não conseguia pensar nele como um irmão mais velho assim...

– Você está sempre me surpreendendo hein... – Ironizei.

Hajime segurava a garota nos braços e a jogava pra cima. Ela ria e ficava corada. Segurei o riso, só mesmo ele pra não ter percebido... Vi então um carro se aproximando. Prendi a respiração: só podia ser ela.

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Desde que nós havíamos entrado sequer nos falamos. Estávamos agora todos sentando nas poltronas da sala (por todos, eu me refiro também a Castiel e Catherine) olhando um para o outro. Apenas Marjorie permanecia estática olhando para mim. Dizer que me sentia desconfortável seria muito pouco. Por fim, Hajime quebrou o silencio:

– E então mamãe? Como foi sua viagem?

– Como sempre costuma ser... – Ela continuava me encarando. As pernas cruzadas, a postura ereta e elegante, o salto alto que faria qualquer outra mulher fraquejar nos primeiros passos, o olhar impassível, um rosto bonito. Era assim que eu a via na minha frente. A Yume de cinco anos dentro de mim ainda se encantava com os cabelos cacheados dela, confesso. – Vejo que se parece mais com sua mãe a cada dia, não? – Ela agora se dirigia a mim.

– Acha mesmo? – Assim como ela, eu não demonstrava emoção alguma durante a fala. Apenas nos encarávamos. Com certeza nossos sentimentos uma pela outra eram recíprocos.

Castiel também parecia incomodado com a presença da Majo. Ele sequer olhava para ela. Catherine, no entanto parecia muito mais concentrada em olhar para Hajime, que parecia cada vez mais nervoso. Majo pareceu notar o desconforto dele e dirigiu seu olhar em direção a ele.

– Ah, eu me lembro de você! Você é o namorado de Debrah, não? – Confesso que fiquei intrigada. “Quer dizer que existe mesmo uma garota capaz de aturar esse cara?”.

– Nós terminamos já faz tempo. – Ele desviou o olhar.

– Oh, isso é uma pena. Eu realmente achava que você e minha enteada se davam bem. – “PERAÍ! PARA TUDO! ELA SE CASOU DE NOVO? TEM UMA ENTEADA? A ENTEADA NAMORAVA O CASTIEL? COMO ASSIM? PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!”.