No Other escrita por Pacheca


Capítulo 8
Capítulo 8 - Far Away


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, sentiram minha falta?
Far Away - Nickelback ^.^
http://www.youtube.com/watch?v=j4y-RzVGrHg
Boa leitura :3



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Os dois primeiros dias da semana foram um inferno. A piranha oxigenada ficava me irritando, pelo ocorrido na festa, Louis e Lólli estavam doentes, Shaun tinha sumido do mapa e só vi Duran na segunda, quando fui devolver o celular.

– Oi. – Estava desconfortável, como se me faltasse ar para falar mais que uma palavra. Tinha vergonha de encarar os olhos azul-safira dele. – Você deixou...

– É, eu... – Ele parecia estar do mesmo jeito. Pegou o celular na minha mão, evitando encostar em mim. – Valeu.

– Então, é... – O primeiro sinal tocou, me deixando extremamente aliviada. Tinha uma desculpa agora. – Até mais.

– Até. – Cada um foi pra sua sala, sem se falar depois disso.

Só na quarta-feira, Louis e Lólli voltaram. Os dois estavam meio gripados, um pouco roucos, mas bem. Minha semana voltou a brilhar.

– Sentiu nossa falta, foi? – Louis roubou uma colherada da minha salada de frutas.

– Ows, ladrão dos infernos. – Ele só riu. – Mais falta da sua irmã do que de você.

– Own, que linda. Ela me ama mais, ridículo. – Ela me abraçou, mostrando a língua pro irmão.

– Pra quê que eu falei mesmo?

– Feiosa. – Ela me apertou mais ainda.

– Ei, que eu mal te pergunte e mudando totalmente de assunto, por que o Duran fica te olhando esquisito? – Louis olhava fixamente um ponto às minhas costas. Me virei, olhando também.

– Ele fica? – Rezei para ser convincente. Eu não falaria daquilo, não para Louis.

– Sim. – Lólli respondeu. – Vi isso no corredor. Aconteceu alguma coisa? Eu achei que vocês estavam meio que amigos.

– Nada aconteceu. Não que eu saiba. – Continuei rezando para ser convincente.

– Bem, estranho. Foda-se então. – Ele pegou a mochila no chão e se levantou. – Eu vou para sala. Vocês vêm?

– Vou esperar Megs acabar a salada de fruta. – Lólli nem se mexeu. Louis deu de ombros e saiu do refeitório. – Pronto, desembucha.

– O que?

– Você e Duran, o que houve? – Ela me encarava, séria.

– N-nada.

– Nada de cu é rola, Megs. Fala logo.

– Já falei, nada! – Eu provavelmente já tinha elevado o tom da minha voz e estava corando.

– Megan Stone, se você não me falar eu vou descobrir. Me contar só evita possíveis desentendimentos.

– Tá gastando hoje, hein? – Ela não mudou a expressão. – A gente...

– Vocês se pegaram?

– Não é como eu ia dizer, mas foi. – Tinha sido um pouco mais, mas não tinha que falar daquilo.

– E...?

– E o que?

– Nada? Vocês ficaram assim por um beijo? – Concordei com a cabeça, lentamente. – Affs, vai falar com ele.

– Nem fudendo.

– Vai logo ou eu vou. – A encarei incrédula, franzindo o cenho. – Duvida?

– Eu vou, eu vou. – Ergui as mãos, como em sinal de paz. Ela sorriu.

– Até sexta, então. – Se levantou e foi embora. O sinal tocou logo depois e eu saí também. Ou eu falava com Duran, ou Lorenna o faria.

Oh, merda!

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A quarta-feira se arrastou infinitamente, mas enfim a quinta-feira chegou. Eu me prometi que falaria com Duran antes que Lólli me fizesse passar vergonha.

– Vai falar com ele ou não? – Lorenna perguntou pela milésima vez no almoço. Apertei o garfinho da torta de frango.

– Já disse que vou! – Saí de perto dela antes que eu a socasse, indo para a sala mais cedo.

Ele estava na frente, na primeira mesa, com um fone no ouvido e com o celular na mão. Ele encarava a janela, com um olhar vidrado. O lugar ao seu lado estava vago, então me sentei. Ele nem se mexeu.

– Duran... – Ele se virou, tirando o fone. – A gente pode conversar?

– Pode, mas, hum...Só pra deixar claro, eu realmente sinto muito. Tipo, eu me senti meio aproveitador. Você estava triste e eu simplesmente te agarrei.

– Não, eu também não devia, sei lá, ter dado a ideia de que...

– Mesmo se tivesse dado, Megs, eu devia ter checado antes.

– Olha, vamos só...esquecer disso. Pode ser? – Estendi a mão para ele, sorrindo fraco.

– Só dançamos antes de eu ir embora, certo? – Ele sorriu, apertando minha mão. Concordei com a cabeça. Peguei um fone e ele deu play no celular. Nickelback.

Por alguma razão, Albert, nosso professor de artes e música, tinha faltado na 1ª semana de aula. Só o reconheci como nosso professor porque o resto da turma se calou quando ele entrou.

Me calei também, mas por outra razão. O cara lá na frente era idêntico a Duran, não fosse pelos cachos loiros. Ele poderia se passar por gêmeo de Duran, sem problemas.

– Ei, ei, ei, galera. Albert, para todos. – Ele colocou a bolsa de carteiro em cima da mesa e se virou, encarando Duran. – Bom, como temos dois horários seguidos hoje, quero que se apresentem. Coisa simples, nome, gosto musical, se gostam de algo...

Ele começou pelo lado oposto da sala. Uma lista de nomes foi se pronunciando. Não ouvi metade deles. Ouvi ao menos umas 8 pessoas dizendo que sabiam tocar alguma coisa: foram 4 violões, 2 pianos e 2 baterias. Enfim, chegou nossa vez. Duran foi primeiro.

– Sou Duran Dobscha, curto rock clássico e toco baixo.

– Megan Stone, rock clássico e grunge principalmente. – E que começasse as piadinhas de costume. Velha seria o melhor de todos. – Toco saxofone.

– Uou, isso é novidade. Vamos desenvolver isso depois. Alguém aqui canta? – Algumas mãos no ar, mas não procurei os donos. Duran rabiscou algo em meu caderno.

Sério? Sax?

Anui, corada. Deus, que coisa, que bullying. Sax é tão lindo, eu não deveria me envergonhar por tocar. Ele escreveu mais alguma coisa.

Me fala que você é fã de Dire Straits e eu caso contigo, agora!

Albert conversava com uma garota ao meu lado. Ninguém conversava. Ao invés de responder, peguei a caneta e rabisquei o caderno de volta.

Melhor economizar pras alianças.

Ele riu, só mexendo os ombros, sem fazer barulho algum. Fiz a mesma coisa. Albert veio até nossa mesa, sorridente. Virei o caderno para ele não ler a conversa.

– Sax, hein? – Concordei. – Já aprendeu muito?

– Nem tanto. E já faz algum tempo que eu não toco, então deve estar catastrófico.

– O que você sabe?

– Love Me Tender, do Elvis, mas é tapada. 9ª de Beethoven, um pedaço. E uma do Dire Straits. – Vi Duran dar um sorriso, encarando a mesa. – Mas não sei o nome.

– Deve ser Your Latest Trick. – Concordei. – De qualquer forma, se esse ano fizermos nossa apresentação na festa de fim de ano, te quero dentro.

– Ok. – Não entendi nada que ele disse, mas concordei.

– Ótimo, galera. Cadernos abertos, agora vai começar de verdade.

O resto do dia passou rápido. O resto da semana também: aulas, almoços com Louis e Lólli, e agora Duran. Antes que eu percebesse, já estávamos fazendo as provas bimestrais.

– E ai? O que achou da de física? – Louis saiu de uma sala e começou a me acompanhar pelo corredor, com sua prova na mão. – Não consegui me concentrar, o desgracento do Jake ficava pedindo cola.

– Que cu, colega. – Abri meu armário. – Mas acho que me fudi nessa também. Aliás, to me fudendo em física no geral. – Suspirei, colocando os livros no armário e fechando a porta. – Mas a de biologia eu acho que fechei. Sério, estava ridícula.

– Também achei. Sério, célula animal com cloroplasto? – Rimos, tentando relaxar. – Acho que só tomei no cu em física e matemática.

– Matemática, Louis? Fala sério, provinha patética aquela.

– Então eu sou mais burro que eu esperava. – Ri, negando com a cabeça. Saí da escola. Ele foi atrás da irmã, em outro prédio.

Enquanto eu dava o play no Ipod, caminhando lentamente pela rua, senti um arrepio correndo por minha coluna. Meu sangue gelou. Ergui o olhar. O cara que tinha tentado me estuprar, parado a poucos metros de mim. E o pior, um amigo dele segurava Shaun, para o grandão bater.

Meu cérebro berrava para que eu desse meia volta e fugisse dali. Mas a imagem de Shaun, de joelhos, preso pelos braços, apanhando sem chance alguma de revidar, me fez andar até eles.

– Você é assim tão patético? Precisa de ajuda pra bater em alguém, seu macaco? – O grandão era feio. O nariz torto no rosto vermelho inchado, um olho menor que o outro. Pensar que aquela coisa quase me tocou me fez ficar tonta.

– Sai da reta se não quiser tomar uma na fuça também, sua piranha. – Ele mais grunhia do que falava.

– Cai dentro então. Ou você precisa me segurar também? – Eu tinha me colocado entre Shaun e ele.

– Eu devia calar sua boca. – Ele me deu um empurrão, que me fez cambalear para o lado, antes de acertar outro murro no rosto de Shaun. – Mas meu problema é com ele.

– Oh, seu merda! – Avancei nele.

Em Minesotta, tínhamos que fazer parte de, ao menos, um grupo de atividades extras. Não sei bem porquê, escolhi Taekwondo. E me serviu pra alguma coisa naquele minuto. Chutei o peito do grandão assim que ele se afastou de Shaun.

Não chegou a machucá-lo, mas foi o suficiente para distrair o cara que segurava os braços de Shaun. Vi o grandão ser atingido duas vezes seguidas no nariz, assim que Shaun se soltou.

O garoto dos olhos violeta pegou a própria mochila no chão e passou a caminhar, me esperando segui-lo. O fiz.

– Posso passar na sua casa? Acho que me machuquei um pouco. E não posso chegar em casa assim.

– Claro, claro. – Ele parecia não querer gritar de dor, mas parecia doer muito. – Cadê seu Impala?

– Revisão de rotina. E o que foi aquele chute seu?

– Taekwondo. É chute de faixa amarela. A segunda. Ou era, nem sei mais o sistema.

– Então suponho que tenha abandonado.

– Parei na azul. Mas foi útil. – Ele deu um risada, junto com um grunhido de dor.

– É. Valeu, a propósito. Por mais que eu odeie assumir, eu só sairia dali morto.

– Tudo bem, eu te devia uma de qualquer jeito.

– Não devia, não. Mas valeu. – Abri a porta da casa e deixei ele entrar antes.

Mostrei para ele onde era o banheiro, ele lavou o rosto, chiando com a dor.

– Ai. – Não foi o melhor comentário, nem um pouco sutil. Mas saiu antes que eu me segurasse. O lábio inferior dele estava cortado, tinha outro corte na testa, e o lado direito do rosto estava inchando. – Mals.

– Tudo bem. Posso me sentar? – Eu indiquei o sofá da sala de estar. Fui até a cozinha e peguei a caixa de primeiros socorros. O corte na testa precisaria de um curativo.

Voltei para a sala. Ele olhava um porta retrato em sua mão, pensativo. Não reconheci o porta retrato, por isso não sabia que foto era. Me sentei na mesinha de centro, ficando um pouco mais baixa que ele.

– Olha pra mim. – Pedi, pegando gaze e esparadrapo na caixa no meu colo. Ele colocou o porta retrato ao meu lado antes.

– É só limpar e passar rifocina, pra não infeccionar.

– Eu sei. – Molhei uma bolinha de algodão num copo d’água que levei comigo. Comecei a limpar o corte, tentando ser delicada.

– Você está bem? Pálida. – Concordei. Era só como eu ficava com sangue. Tensa e pálida. Se eu tivesse sorte de não desmaiar, claro. – Aquela foto é estranha. Diferente.

– Por quê? – Olhei para o porta retrato. Era uma foto minha, com meus pais e os irmãos. Os cinco sorrindo. A família perfeita.

– Você parecia mais feliz, alegre. Mais espontânea.

– Fui espontânea hoje. –Tentei sorrir, mas acho que não funcionou.

– Alguma coisa deve ter acontecido. – Virei o rosto para o colo, tentando não lembrar dos sons da briga.

Mais berros, como sempre. Minha mãe tinha descoberto tudo. Jack tinha sumido já havia horas. Tinha saído de casa para não bater no papai. Elijah só se trancou no quarto, provavelmente fingindo que nada acontecia.

E eu estava sentada nas escadas da entrada. Minhas lágrimas já tinham secado. Pior que a raiva era a decepção. Qualquer um podia ver que a relação deles não era mais a mesma, mas chegar àquele ponto?

Ele saiu da casa, batendo a porta atrás de si. Ele olhou para mim, suspirando. E então se sentou ao meu lado, olhando para a rua.

– Também me odeia? – Ele pôs as mãos no rosto.

– Não, pai. Mas me decepcionei. – Me virei para ele. – Não sei mais se te respeito tanto quanto eu deveria. Só devia acabar logo com isso.

– Eu entendo. Fico até feliz que não tenha sido pior. – Ele baixou o rosto. – Sabe de Jack?

– Deve estar com algum dos outros. – Jared, Liam e Ian. Os outros. – É pra onde ele geralmente foge.

– Eu estraguei tudo. – Ele suspirou de novo, se levantando. – Sabe onde eles moram?

– Jared e Ian moram a duas quadras daqui. Por quê?

– Pode buscá-lo? Preciso falar com vocês, todos.

Concordei e corri até a casa deles. Mas já imaginava o que ele queria nos dizer.

– Eu devia ter ficado quieto. – A voz de Shaun me tirou daquele flashback.

– Não, tudo bem. – Ergui meu rosto, o dele muito próximo. Me afastei um pouco. – Realmente aconteceu algo. Só não sabia que eu mudei tanto.

– Entendi. Acho que também fiquei desse jeito quando minha vó morreu. Seu pai...

– Não, ele vive na Flórida, com minha madrasta. – Coloquei uma mecha de cabelo que ficava caindo no meu rosto atrás da orelha. – Sabe, o divórcio nunca foi o problema. Foi a solução. Meu pai já não estava mais casado.

– Não acha que ela o perdoaria, sua mãe? – Como ele tinha entendido tão rápido? – Foi traição, certo?

– Como ela confiaria nele de novo? Ele nos prometeu ser aquele cara da foto e se provou um grande canalha. Acho que ele entendeu o que disse como um “você devia ir embora”.

– Mandou seu pai embora? – Ele sorriu.

– Mais ou menos. Na época não me pareceu isso.

– Quer saber, deixa que eu me viro com isso. – Ele pegou a caixa no meu colo. – Já abusei demais de você.

– Tudo bem, eu... – Tentei pegara caixa, mas ele a afastou de mim.

– Sério, você tá tipo, muito pálida. Não está nem um pouco bem. – Discutir com Shaun provavelmente não era a melhor ideia do mundo, então concordei.

– Ok, eu vou para a cozinha. Se precisar... – Me levantei.

– Eu me viro, pode deixar. – Fui para a cozinha e tomei um copo d’água. Eu percebi que tremia, mas ignorei. Meu reflexo no vidro do forno mostrava quão pálida eu estava.

Shaun gastou poucos minutos para colocar um pedaço de gaze na testa e me entregar a caixa na cozinha.

– Valeu. – Coloquei o copo numa bancada e guardei a caixa no armário. – Melhorou?

– Já, era só pelo sangue.

– Manjei. Bem, vou vazar, já virei incômodo. Valeu.

– Até amanhã. – Fui com ele até a porta. Corri pro meu quarto, assim que ele sumiu na rua.

Aquela conversa me fez me sentir culpada, pelo tempo que eu não falava com ele. Peguei o computador e comecei a escrever um e-mail.

Oi, pai

Tudo bem?


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam? Deixem suas adoráveis opiniões nos reviews maravilhosos de vocês ^~^
Bjs



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