Eu esperei por este dia... Por muito tempo, oque eu sempre quis fora pular em seus braços num forte e confortante abraço... E assim nossos olhos se encontrariam e então o contato entre lábios seria finalmente um fato que não e passara pela minha cabeça um milhão de vezes. É isso que se chama "se apaixonar?"

Com aquela flor em mãos eu estaria pronta para lhe dizer oque sinto... Estava mesmo? Minhas mãos suavam assim como todo meu corpo, meulongo casaco de inverno branco grandes botões azuis estava bem arrumado, a saia de pregas preta estava um pouco acima dos joelhos, nem um lado maior que o outro, nenhuma parte do corpo exageradamente exposta, eu não era uma vadia para sair me exibindo, com uma meia calça preta e botas felpudas marrom,o tecido leve e confortável  fazia-me sentir-me leve e segura, meus cabelos loiros amarrados para o lado, e a flor azul em mãos para entregar como prova de um amor... Que poderia ser vivido, pelo menos não mais na minha imaginação.

O barulho ao meu redor da virada de ano não era algo muito ruim, era uma mostra de quanto todos estavam animados com o novo ano, incluindo eu.

Cada passo meu coração disparava, minha respiração tornava-se pesada e rápida, sentia borboletas no estômago, meu nervosismo estava prestes a sair pela boca, mas eu não desistiria, não agora que estava tão perto.

-Lucy!- Ouvi uma voz me chamar me tirando de meus devaneios, virei-me para ver quem me chamava.

-Natsu!- disse e nos cumprimentamos com um forte abraço.

-Quanto tempo, não esperava te ver por aqui.

-Bem, toda cidade esta aqui então... Por que não eu também? Mas eu é que te pergunto, oque faz aqui? Pensei que estaria já do outro lado do mundo!- exclamei com minha surpresa de vê-lo por aqui nos arredores desta minúscula cidade.

-Bem...Digamos que minhas chances de trabalho não foram tão boas assim.- deu uma risadinha tímida, mas podia ver o quão decepcionado estava.- Mas isso não é assunto para agora, afinal é a virada do ano! 

-Pois é... Pena que não tenha dado certo mas quero saber de tudo depois viu?- disse piscando para ele que sorriu.

-Claro... E pra onde pensa que vai toda arrumada deste jeito? Se declarar pra alguém? Deixe Erza ficar sabendo disso.- riu e senti meu rosto ruborizar dando a resposta, maldito seja essa reação que não controlo...

A expressão de Natsu fechou-se se tornando severa.

-Se esse rapaz te fizer chorar eu vou tirar satisfação com ele.

-Eu acho que não sera necessário.- sorri recuperando minha confiança.

-Se me permite vou procura-lo.- disse balançando de leve a flor azul.

-Boa sorte, qualquer coisa me procure.

Sorrimos um para o outro e cada um seguiu um caminho diferente.

"Espero que tudo se acerte para Natsu... Sempre foi um rapaz esforçado"... Balancei  a cabeça espantando pensamentos negativos e voltei ao meu objetivo principal.

Encontra-lo.

Caminhei por entre as pessoas e crianças que corriam com comidas e brinquedinhos na mão seguido por pais e mães correndo desesperados para impedir seus filhos de irem longe deles.

Num canto um rapaz cuspia chamas enquanto outros faziam acrobacias e outros dançando valsa em pernas de pau em outro canto, música e gritos eram-se ouvidos por toda parte, a alegria e emoção e euforia do começo de um ano novo era a melhor.

No Japão ao invés de fazer a contagem regressiva a meia noite, a fazemos no amanhecer, quando o sol sobe e ilumina a vida de cada um de nós trazendo alegria para um novo começo de ano, um renascer.

Caminhei mais um pouco e quando meus olhos focaram-se numa figura alta, loira e muito, muito bonita, meu coração só faltou sair pela boca.

Senti-me exitar por um segundo e então fui me aproximando com sutileza torcendo para que ele me notasse, e então seus olhos encontraram-se com os meus.

Tive vontade de correr e pular em seu pescoço e beijar-lhe, ou apenas abraça-lo toca-lo, apenas o fato de nossos olhos terem se encontrado já fora o melhor presente de fim de ano...

Ele sorriu, seus dentes brancos e perfeitamente retos, ele sorriu, sorriu para mim e eu senti que iria desmaiar, mas ao voltar meu olhar para aquele sorriso... Percebi que não era o sorriso que pensei que ele daria...

Ele sorria de forma sádica e irônica, e então puxou uma garota qualquer e beijou-a com toda a intensidade, e a mesma contribuiu da mesma maneira.

Senti como se tivesse levado um soco no queixo e depois um chute na boca do estômago.

Meu coração fora esmagado sobre pés de alguém que nem ao menos percebeu que isso importava.

Senti-me vazia, sem vida, sem vontade de fazer mais nada, puxaram meu tapete e agora eu cai numa escuridão sem fim...É mesmo possível isso? Ele ter parecido tão perfeito e então de um momento para outro tornar-se tão repulsivo?

Ele largou a garota e voltou-se para mim e deu uma piscadela, e com o dedão limpou o canto da boca e mandou-me um beijinho. 

Eu não choraria para ele não daria este gostinho para ele, não com certeza não, ele não merecia minhas lágrimas, meu esforço, nada de mim merecia um miserável como aquele.

Mas acontece que eu o amava mais que a mim mesma... E então quando vi que ele nem ao menos se importara com isso... Foi como se eu tentasse me matar mas não conseguisse morrer.

Com raiva joguei a flor no chão e corri, corri para o mais longe, trombava com algumas pessoas que reclamavam mas voltavam a fazer oque faziam.

Tropeçava em meus próprios pés, sentia como se corresse e meus pés estivessem presos e afundavam na terra.

A raiva que fervia em meu sangue era tanta que chegava a doer e cair em lágrimas que embaçavam minha visão.

Parei numa ponte que dava vista para a entrada da praça onde estava o maior movimento.

Olhei no meu relógio de pulso que marcava 4:18, muito tempo até o amanhecer... Nem vontade tinha para o amanhecer... Minhas expectativas foram quebradas, pisoteadas e cuspiram em cima dela.

Sting... Maldito... Não acredito que me apaixonei pelo pior... Ser humano da terra... Queria tanto sumir dali, ir embora pra muito, muito longe sem me preocupar com este tipo de decepção, um lugar inabitado, ou quase isso... Talvez nas montanhas da Escócia, viver onde a neve é presente sempre, ou onde haja probabilidades de se apaixonar seja  mínima.  

As lágrimas salgadas passeavam em minha face, oque eu menos queria era chorar... Mas era impossível evitar.

Suspirei e então sentei-me na ponte com as pernas pendendo para o lado de fora das grades, encostei a testa na grade da lado e fiquei fitando o nada, balançando as pernas tentando não pensar nada, queria extinguir minha mente de pensamentos,de tudo, queria ficar "fora do ar" para todo sempre ou morrer de hipotermia por pular num lago quase congelado.

Pequenos flocos de neve caiam molhando minhas roupas, a respiração pesada e escassa devido a gripe que normalmente vem no frio.

Se estivesse num livro de romance alguém apareceria magicamente sentando-se ao meu lado e iria me consolar, me abraçar e então nos apaixonaríamos um pelo outro por que é assim que deveria ser num romance comum... Mas na realidade a única coisa que tive foi uma visita de um bêbado que teria caído no lago se não fosse por mim.

Ajudei-o ou melhor o carreguei até o abrigo de sem-tetos que era próximo onde fora abrigado.

Cheirei minhas mangas e cheiravam a suor e bebida.

Sem ter oque fazer tomei o rumo de meu apartamento, não tinha mais vontade de ver o amanhecer... O ano novo, de ver mais ninguém, nem a mim mesma... Queria fugir da melancolia que me rodeava, da tristeza que me consumira... Queria seguir em frente, voltar a praça e fazer festa com os outros, mas ao mesmo tempo queria ficar me lamentando e comer até virar uma porca gorda.

Mas nada disso era possível, nem mesmo ter de volta aquilo que perdi quando corri daquele parque jurando nunca mais me apaixonar.