Children Of The Three escrita por victoriamartell


Capítulo 5
Reunião ás escuras




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/415978/chapter/5

Durante a noite, os pesadelos a caçaram novamente. A porcaria da águia fez com que ela acordasse com a testa encharcada, e com o corpo extremamente quente. Removeu os cobertores de cima de seu corpo furiosamente, se sentando e enterrando o rosto nas mãos. Suspirou pesadamente, amaldiçoando Bryan por tê-la achado. Não se importou em trocar de roupa - estava escuro ainda e ela estava de calça - e levantou, andando até sua mochila para pegar algumas roupas e saiu do chalé, se dirigindo aos chuveiros.

Tomou um banho frio e demorado, aproveitando o frescor da água gelada. Aqueles pesadelos estavam tomando uma das horas preferidas do dia dela, e Victoria se encontrava frequentemente imaginando o significado deles. Depois que Bruna lhe dissera sobre cada semideus dos Três ser "alvo" do pai do outro, Victoria se lembrou do símbolo de Zeus. A droga da águia. Fazia sentido. Depois do incidente em 2005, ela não duvidaria que Zeus estivesse tentando matá-la.

Afastou o pensamento o máximo que pôde enquanto terminava de se vestir, ainda admirando a camisa; o desenho era simples, mas era incrível como uma simples blusa tinha a capacidade de fazer com que ela se sentisse em casa. Ainda estava escuro quando saiu dos chuveiros, e, por mais que quisesse, sabia que voltar a dormir era impossível.

Ela era impaciente, e não ia conseguir ficar parada por duas horas até que o Sol nascesse, então resolveu caminhar pelo acampamento. Ficou sentada na areia completamente escurecida pela noite por uns cinco minutos, observando a escuridão que era a água do estreito de Long Island, quando sentiu um frio no estômago.

Não queria estar ali, e sabia disso. Ela já estava em pé, e ia começar a dar o primeiro passo para sair dali, quando sentiu algo ou alguém lhe puxar dali, como se todo o seu corpo estivesse sendo sugado na escuridão. Nunca havia feito isso antes. Sentiu como se cada fibra de seu corpo estivesse se dissolvendo na escuridão, como se estivesse sendo engolida pelas trevas. Que ironia, ela pensou, e fechou os olhos, sentindo o vento bater suavemente em seus cabelos.

Quando os abriu, estava do outro lado do acampamento, completamente exausta, com a sensação do seu estômago se contraindo lentamente se desfazendo.

Não conseguia acreditar naquilo. Victoria tinha se transportado. Se lembrou de ter lido algo sobre viagens em sombras ou algo do gênero em um dos livros de Hades, mas o cansaço foi tão forte e pesado sobre seus olhos que ela caiu na grama fofa, respirando pesada e lentamente, e então, a escuridão a engoliu por uma última vez.

.

– Ei, psiu. - Alguém sussurrou suavemente, e Victoria sentiu algo cutucar seu braço. - Você está viva? - Perguntaram de novo, e ela conseguiu reconhecer a voz de Luiz. Ela só grunhiu em resposta, fazendo uma força surpreendente para abrir os olhos.

– Criatura, acorda, você dormiu na floresta! - A voz inconfundível de Bruna gritou, e Victoria rapidamente abriu os olhos, se sentando na grama, quando uma dor de cabeça insuportável a atingiu como uma bala, mas permaneceu sentada, massageando a própria testa. Olhou para o lado. Luiz estava agachado na grama, e Bruna estava em pé, com as mãos na cintura e batendo o pé no chão, impaciente. - O que você estava pensando? Justamente na noite em que os filhos de Hermes ficam rondando o acampamento! Você quer o que? Acordar com o cabelo vermelho ou algo do gênero?! - Ela gritou.

– Ok, abaixa a voz, eu acabei de acordar, por favor. - Pediu calmamente, franzindo o rosto quando sentiu um gosto amargo na boca.

– O que houve? - Luiz perguntou, franzindo o cenho maliciosamente. - Quando eu saí do treino eu te vi com o filho de Ares. - Ele sorriu de um jeito bobo. - Sério, já?

Bruna emitiu um som de nojo, e o empurrou de perto dela. - Ok, como você veio para aqui? - Ela perguntou enquanto se ajoelhava ao seu lado, colocando uma mecha negra de cabelo atrás da orelha.

Então ela contou. Tudo, exceto a parte dos pesadelos. Sabia que depois daquela profecia, devia contar tudo sobre eles, mas também sabia que isso traria assuntos de que ela fugira por anos. O conflito entre os pais. Não era a primeira vez que se deparara com a fúria de seus "tios". Especialmente Zeus. Ele a caçara por anos, mas nunca tentou matá-la. Victoria sabia que se ele a quisesse morta, ela já estaria junto do pai há muito tempo. Mas não foi ela que sofreu com a ira de um dos Três Grandes. No fim, Zeus acabou causando a morte da pessoa que ele mais amava.

– Ok, - Bruna disse, respirando calmamente, tentando pensar em algo para dizer. - nesse caso, vamos falar com Quíron. É sério. Isso já é coisa séria. Viagem pelas sombras? Isso é um assunto sério. - Ela não queria, mas sabia que Bruna tinha razão, mesmo que ela repetisse a palavra ''sério'' mais de quarenta vezes por dia. Se levantou devagar, ainda sentindo a fraqueza nos joelhos, mas conseguiu ficar em pé sem cair. Ignorou o tremor em suas pernas e limpou a sujeira de seu cabelo, blusa e bermuda.

.

– O que vamos fazer? - Perguntou enquanto andavam até a Casa Grande. - Sobre a missão?

Bruna respirou fundo, e continuou a olhar para frente. - Não sei. Nós nem sabemos o que procurar quando chegarmos lá. Fora que o Mediterrâneo é um lugar perigoso para gente como nós. - Ela disse. - O jeito é esperar algum sinal. O Sr. D deve chegar hoje, ou no máximo, amanhã. - Ela colocou ênfase em "no máximo", como se o deus fosse ouvir suas preces e iria voltar correndo para ajudá-los, com respostas e bênçãos.

– Alguns de vocês já lidaram com coisas assim? - Victoria perguntou um tanto preocupada. Nada disso nunca acontecera com ela antes. Por que agora? Ela tinha tantas perguntas que sua cabeça doía. Bruna encolheu os ombros.

– Cada semideus tem uma habilidade diferente, herdada do pai ou da mãe. - Ela percebeu que Bruna dava voltas no assunto, como se o evitasse. - Eu posso controlar a água, Luiz pode controlar o vento e raios, por exemplo. Mas muitas coisas têm acontecido ultimamente, e ninguém sabe explicar. - Ela abriu as portas lentamente. - É como se nossos "poderes" tivessem decido ficar fora de controle justamente agora.

.

Victoria já estava ficando cansada disso. Pelos dois dias que passou ali, a maior parte deles foi dentro da Casa Grande, conversando com Quíron. Não que ela não gostasse do centauro, mas apesar de ele saber confortá-los e ser bom em ensinar qualquer coisa, ele tinha um pesar ao redor dele, como se ele carregasse uma grande mágoa.

Ele não soube responder suas dúvidas como seu pai talvez responderia, mas ela pôde ver que ele tentou fazê-lo ao máximo. Saiu da Casa Grande decepcionada com si mesma. Não sabia quais eram os seus poderes, muito menos a utilidade deles. Depois, enquanto tomava café, pensou no quanto era legal poder e transportar assim. Viagem pelas sombras, ela disse para si mesma. Mas então, se lembrou do cansaço que sentiu, e toda a história de ser legal e importante desapareceu em um piscar de olhos.

– Não se preocupa, não. - Luiz disse levemente enquanto ajeitava o cabelo. - Eventualmente, isso iria acontecer.

Bruna comprimiu os lábios e confirmou com a cabeça. - Temos que aprender a controlar isso. - Todos concordaram.

– Só temos que achar um lugar. - Victoria falou, um tanto distraída. Todos ficaram em silêncio por alguns segundos.

– Por que não treinamos de madrugada? - Luiz perguntou em um tom um pouco animado. Bruna pareceu negar á princípio, mas depois, pensou no assunto.

– Luiz, você sabe que se formos pegos, estamos completamente ferrados, não é? - Ela perguntou naquele tom já familiar, que soava um pouco com "você está doente?". Luiz fez que sim com a cabeça.

– Não é uma ideia tão ruim. - Victoria disse, encolhendo os ombros. - Quer dizer, qual é a pior coisa que poderia acontecer?

.

Ela não dormiu durante a noite, e por um segundo, pensou que Luiz e Bruna também não tinham. Tudo que Victoria fez durante o dia foi: combinar com os outros dois que horas e onde iriam se encontrar, treinar luta com sua adaga e tentar entender como ela se transformou em uma espada de quase um metro e praticar luta com Dean.

Ela acabou aprendendo que o filho de Ares tinha basicamente os mesmos gostos que ela tinha. Conversaram durante a tarde toda, e depois, lutaram mais um pouco. Ela lhe deu um corte na perna de presente, e ele, lhe deu uma mancha roxa no ombro. Sabe, coisa normal.

Agora, Victoria estava sentada em um dos beliches negros do Chalé 13, contando os minutos para ás três da madrugada. No tempo que tinha durante a noite, preparou a munhequeira, e treinou modos mais rápidos de remover a lâmina do seu pulso. Até que ela ouviu um som do lado de fora do seu chalé, que era o chamado que eles combinaram, então, se dirigiu até a porta, abrindo-a silenciosamente.

Ela respirou fundo, e abraçou o próprio corpo. O inverno estava chegando, e a noite escura e fria só confirmava esse fato. Olhou á sua volta: o acampamento estava silencioso, fora o barulho dos morcegos e das pequenas ondas do estreito de Long Island. Atenta, correu silenciosamente até a margem do Riacho Zéfiro. Seguindo o percurso do rio, ela adentrou na Floresta do Norte, sendo engolida pela escuridão das imensas árvores.

Victoria caminhou pelas árvores por curtos minutos, quase se perdendo algumas vezes, mas sempre se encontrando quando via o riacho novamente. Era seu ponto de referência. Ela não sabia dos perigos de ser encontrada fora do chalé depois do toque de recolher, mas seu pânico só cresceu quando ela ouviu um canto - e não era um canto desconhecido. Era uma águia. Sentiu o suor frio em suas mãos, e se virou para olhar um galho extremamente alto de um dos pinheiros. E lá estava ela.

Ela não podia negar isso, o animal era uma das coisas mais belas que ela já viu na vida. Suas penas refletiam a luz da lua, e seus olhos amarelados encaravam os de Victoria diretamente. O animal piou novamente, e em seguida, bateu as asas e voou dali, deixando um sentimento sufocante no coração da garota.

Logo em seguida, ela encontrou Bruna e Luiz encostados em uma árvore velha. Quando a viram, tiveram reações um tanto diferentes.

– Onde você estava? - Bruna sussurrou com raiva. Mesmo dentro de uma floresta, era claro que ela não queria trair a confiança de Quíron, mesmo com algo tão bobo quanto dar uma saída do chalé.

– Eu já estou aqui, não estou? - Victoria respondeu amargamente, se arrependendo imediatamente quando viu a expressão contraída de Bruna. - Foi mal. - Sussurrou. - Tive um problema no caminho.

Luiz se levantou em um pulo. - Não foi nada. - Ele tinha uma expressão em seu rosto que parecia sempre brincalhona, que ela se lembrava bastante. - Quem quer fazer as honras? - Ele perguntou, e Victoria se perguntou se só ela não sabia o que fazer. Quando nenhuma das duas se manifestou, ele estalou o pescoço. - Faz algumas semanas que eu aprendi isso. É claro que eu só não fiz antes porque eu nunca quis praticar. - Ele colocou ênfase nas últimas palavras, e Bruna girou os olhos, claramente conhecendo a figura.

Ele contraiu o rosto e fechou os olhos, suspirando fundo. Em seguida, Luiz tinha os punhos cerrados com tanta força, que estavam pálidos, e um trovão rugiu pelo acampamento furiosamente, seguido por um raio que iluminou todo o céu que eles podiam ver através dos imensos pinheiros. Victoria sorriu enquanto olhava para cima. Ela sempre amou tempestades, especialmente as mais violentas.

– Luiz! - Bruna disse, estalando os dedos na cara dele. - Não podemos chamar atenção, se controla aí! - Ela o olhava com raiva, e ele fez que sim, tentando não parecer exausto por conta do exercício puxado. Zeus era sempre o líder, e Victoria imaginou se era isso que ele estava querendo ser. O líder, que demonstra confiança e força para todos os seus seguidores. - Mas foi muito bom isso. - A garota sorriu, claramente orgulhosa de seu amigo, que sorriu de volta.

– Quem é o próximo? - Victoria perguntou, tentando evitar o cargo. Então, olhou para Bruna, que percebeu o que ela queria dizer. A pequena garota afirmou com a cabeça e exercitou os ombros, respirando fundo.

– Ok, então. - Ela disse, e andou até e margem do rio. Victoria pôde notar a tensão nos ombros dela, o que só a fez se sentir pior. Por que estamos fazendo isso mesmo? Ela se perguntou nervosamente. Não queria ter que passar por aquilo, mas sabia que era necessário.

Bruna respirou fundo, e levantou os braços firmemente, dobrando os cotovelos um pouco. E, de repente, a água do rio havia se erguido de sua superfície, acompanhando os movimentos dos braços da garota. Então, a água foi subindo, e subindo e subindo á medida que Bruna comandava, até que o rio conseguiu atingir quase cinco metros de altura.

Bruna então abaixou os braços lentamente, e o rio obedeceu a seus comandos, caindo em um ritmo suave, até o seu local de sempre. A garota então se virou, os encarando com um sorriso que tocou seus olhos.

– Eu nunca consegui levitar tanta água assim antes! - Ela falou com uma animação que já era típica dela. Luiz e Victoria sorriram, lhe parabenizando. Por um segundo, Victoria imaginou o quão divertido seria ser filha do deus dos mares, mas se lembrou que tudo relacionado aos deuses tinha um lado ruim. Hades só era um pouco mais aberto em relação ao lado ruim. Bruna levantou o rosto para olhá-la. - Sua vez. - Ela disse calmamente.

Victoria afirmou com a cabeça, que ainda estava turbulenta de tantas dúvidas. Ela não sabia o que fazer exatamente. Ela conseguia sentir o nó em sua garganta.

– É, só tem um problema. - Ela disse, e Luiz a encarou com uma sobrancelha arqueada.

– O que houve? - Ele perguntou.

– Eu não sei exatamente o que fazer. - Victoria admitiu, se irritando quando sentiu suas bochechas se aquecerem.

– Ué, só tenta se lembrar do que você estava pensando, ou sentindo quando você... - Bruna disse, parando por um segundo para pensar na palavra certa pra dizer. - se teletransportou? - Ela disse com um ar questionador, mas Victoria só sorriu suavemente á tentativa dela.

– Eu só não queria estar ali. Como o nome diz, eu viajei pelas sombras, e eu não sei exatamente como fazer de novo.

– Então não queira estar aqui. - Luiz disse, dando de ombros, e Bruna afirmou com a cabeça, concordando.

Ela suspirou. Ela sabia que, realmente, não queria estar ali. Queria estar de volta em Nova Orleans, nas ruas ou em uma casa de luxo, não importava. A luz da lua os iluminava, então ela caminhou até a sombra, sentindo o suor frio em suas mãos. Quando a sensação de seu corpo estar se dissolvendo retornou, o som de um galho se partindo no chão fez com que ela saísse da sombra da árvore em que estava, indo para o lado de Bruna e Luiz.

Victoria segurou o cabo de Corvo sorrateiramente, Luiz botou a mão na espada e Bruna procurou pela faca que trouxe. O som de folhas secas sendo partidas foi ficando mais forte e mais alto á medida que se aproximava. Eles não conseguiam ver nada, mas quando o ser saiu de trás de um grosso pinheiro, a luz foi tão forte que quase os cegou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente, hein? Esse demorou pra sair, mas, aí vai. :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Children Of The Three" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.