Children Of The Three escrita por victoriamartell


Capítulo 4
Treinamento




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– Peraí... - Luiz disse, olhando para um ponto insignificante na parede, com uma cara de quem estava fazendo muita força para calcular algo em sua cabeça. Então, do nada, ele voltou ao "normal", falando: - É. Não entendi porcaria nenhuma.

– É, explica isso direito. - Bruna disse, colocando as mãos na cintura.

Heron respirou fundo, e fazia alguns gestos com as mãos enquanto começava a explicar. - Eu recebi uma profecia que falava de três filhos dos Três Grandes. - Ele olhou para os três semideuses na sua frente, enquanto Quíron olhava para a parede, com o queixo descansando entre o polegar e o indicador.

– Tá, e daí? - Victoria perguntou, cruzando os braços. - O que tem de mais nisso?

Os olhos do garoto se arregalaram novamente. - Bem, quando eu recebo uma profecia que fala que o destino do Olimpo descansa em duas mãos, eu tenho que ficar pelo menos um pouquinho preocupado! - Ele levantara o tom de voz, e Bruna parecia mais preocupada a cada segundo que passava.

– Heron. - Quíron disse em um aviso baixo, percebendo o estado da garota. - Quais foram as exatas palavras dessa profecia? - Ele perguntou, e o garoto respirou fundo.

No final do amanhecer, o rei começará a ceder, e na ira dos titãs, o mundo irá padecer./ Em duas mãos o destino do Olimpo descansa, para a glória antiga favorecer ou desfazer./Com a união das profundezas, céus e oceanos, a esperança será vista, e em meio á luz e trevas, os deuses serão tudo o que resta. – Ele falou sem dar uma pausa para respirar, ou piscar. Alguns segundos se passaram, e um silêncio mortal inundou todo o ambiente.

Luiz caiu sentado no sofá com um bumpf, e os olhos azuis de Bruna estavam arregalados. Victoria só tentava processar a informação em sua mente. Era coisa demais para um dia só.

– Quando você recebeu isso mesmo? - Bruna falou, com os dedos massageando suas têmporas, ainda tentando superar o choque.

Heron suspirou. - Faz alguns meses. Eu não achei que fosse nada de mais, porque não tinha nenhuma filha de Hades no acampamento, aí... - Erguendo os braços em um movimento rápido, ele apontou para Victoria, que o encarou com certa raiva nos olhos. - Bom, você fechou o quebra-cabeça. - A expressão de preocupação e tristeza no rosto de Heron não fez Victoria ficar mais ''suave'' com ele. Ainda achava esse drama desnecessário.

– Ok, mas, e daí? - Ela perguntou, dizendo tudo que estava em sua cabeça. - O que tem demais nisso? Os deuses sabem se virar sozinhos, não precisam de nós.

Mas uma vez, todos ficaram em silêncio, o que só a deixava mais e mais irritada. A luta na floresta, e todo aquele incidente com a cratera, só serviram para piorar o seu dia. Que já estava muito bom, não é mesmo?

– Bruna, você poderia... - Quíron disse calmamente, enquanto massageava suas têmporas, não encarando os meios-sangues que, aparentemente, seguravam o destino do Olimpo nas mãos.

– Victoria, olha só, - Ela começou a explicar, mas era impossível não notar a preocupação em seus olhos. Ela sabia de algo que os outros não sabiam. - os deuses, meio que precisam que a gente lute por eles. É um pouco complicado, e eu não vou explicar tudo agora, mas eles precisam da gente. Sem heróis, sem deuses.

Victoria confirmou com a cabeça. Os problemas só cresciam, era impressionante.

– Quíron, - Luiz disse, sem nenhuma ponta de brincadeira em sua voz. - você precisa nos dar uma missão. - Por breves segundos, o centauro pareceu pensar no assunto, mas Bruna o cortou de qualquer ideia que fosse.

– Você tá maluco ou coisa do gênero? - Ela perguntou, aumentando o tom de voz, olhando para ele com o típico olhar de "qual é o seu problema?". Quando Luiz pareceu não saber do que ela estava falando, Bruna fechou os olhos, tentando se acalmar. - Mesmo que a gente consiga uma missão, nós nem sabemos para onde ir, ou o que procurar! - Quíron levemente concordou com um simples gesto, apreciando os ensinamentos que dera á garota.

Se lembrou, então, dos sonhos que tivera. Começaram duas semanas antes do Bryan a encontrar nas ruas de Nova Orleans. Começaram com lembranças de sua família, e depois, começaram os pesadelos. Começavam sempre assim: uma praia linda, de água cristalina, e então, uma pequena cidade com várias pessoas deitadas no chão, sangrando, desmaiadas. Às vezes, ela corria por uma floresta, fugindo de uma águia, mas esses eram raros. Sabia que devia falar a verdade - talvez não tudo, mas a parte da praia. Victoria se sentou no sofá, brincando com as próprias mãos, que estavam apoiadas em seu colo.

– Gente, - Ela começou, não tirando os olhos de seu colo. - eu, eu tenho sonhos e, bem, eles se encaixam com a profecia. Pelo menos um pouco. - Bruna se aproximou dela, respirando rapidamente.

– O que você sonhou, exatamente? - Bruna disse calmamente, como se estivesse falando com uma criança.

Então ela contou, Deixou de fora os detalhes da águia e de Nova Orleans, falando somente da praia e da cidade pequena - não falando da voz. Ela não disse muita coisa, Victoria sabia, mas os outros detalhes eram, ou pessoais demais, ou irrelevantes demais.

Bruna se levantou, e você podia ver a turbulência de seus pensamentos. - Como era essa praia? - Ela perguntou novamente.

– Era linda; a areia era branquinha, a água era cristalina e tinha uma... Uma pedra gigante do lado. - Victoria explicou o mais detalhadamente que conseguiu. - Ela seguia desde a areia até o fim da água rasa, meio que cercando a praia. Ah! E tinham várias árvores no topo. Pedra branca com árvores, isso. - Quíron levantou a cabeça e olhou para Bruna, como se estivessem pensando a mesma coisa.

Bruna, então, se levantou e correu para o outro cômodo, como se a vida dela dependesse disso. Depois de alguns segundos, ela voltou correndo com uma foto na mão.

– É essa praia? - Ela perguntou, ofegante, quase esfregando a foto na cara de Victoria. Era a foto da praia dos seus sonhos, mas vazia.

– É, é essa! - Ela disse, afastando a mão de Bruna da sua cara. Realmente, eles sabia de tudo. Conseguiam decifrar qualquer coisa, até mesmo uma localização de um sonho, e isso estava a irritando. Quando notou a repentina palidez de Bruna e do desconforto de Quíron, não conseguiu segurar a raiva. Ela sempre foi impaciente - Ok, o que tem de errado com a droga da praia?! - Perguntou, nervosa.

– Querida...- Quíron disse, como se estivesse reunindo todas as forças de seu corpo para formular uma única frase. - Esta é a Praia de Navagio, nas Ilhas do Mar Jônico. Já mandamos muitos e muitos semideuses para lá em missões, e nenhum voltou. Isso, desde que o acampamento foi aberto. Ou seja, há muito tempo atrás. - Se aquilo foi para assustá-la, não funcionou.

– Mas Quíron, o que é importante agora é: você pode nos conceder essa missão? - Luiz perguntou novamente, e parecia que ele realmente queria sair do acampamento. Quíron pensou por alguns minutos, mas negou.

– Não, eu não posso. Pelo menos, até o Sr. D voltar, o que vai demorar no máximo dois dias. - Ele disse, e os olhos de Bruna se arregalaram.

– M-mas Quíron, nós não podemos adiar uma missão assim. Nós nem sabemos o que ela significa direito, ou o que devemos procurar! Temos que nos preparar logo! - Ela dizia em um tom desesperado, e parecia que Quíron já conhecia aquele discurso.

– Eu sei, pequenina. - Ele se levantou. - Mas não podemos fazer nada até o Sr. D voltar. - Quíron disse, e todos entenderam como um sinal de "já podem ir embora." E assim, os três saíram.

.

– Mas que droga! - Bruna gritava, e continuava e continuava gritando. Victoria e Luiz já estavam ouvindo seu drama todo já fazia mais de dez minutos. Chamava Quíron disso, chamava Quíron daquilo, amaldiçoava o Sr. D por ir para o Olimpo quando precisavam dele pela primeira vez em, o que? Quarenta anos?

Por fim, ela se cansou, e sentou nos degraus do Chalé 13, enterrando o rosto nas mãos. - O que vamos fazer? - Ela perguntou, sem mover um músculo se quer.

Victoria suspirou.

– O jeito é esperar. Um ou dois dias não vão fazer diferença. - Ela deu de ombros. Bruna levantou o rosto e a olhou como se ela fosse completamente maluca.

– Não vão fazer diferença? - Ela gritou, não conseguindo acreditar. - Em uma missão, um minuto pode ser a diferença entre a vida e a morte, tá?

– Pffft! - Luiz disse, sacudindo uma mão no ar. - Nós somos semideuses! - Ele se levantou em um pulo e cerrando os punhos, e os apoiando na cintura, imitando uma pose heroica. - Filhos dos Três Grandes, os mais poderosos, nada pode nos deter. E o Sr. D que se foda. - Ele falou, imitando uma voz de narração de trailer de cinema. Suas "primas" caíram na gargalhada. Ele se sentou no degrau, rindo um pouco.

– Então, o que fazemos durante o resto do dia? - Victoria perguntou enquanto arrumava sua trança.

– Teríamos aula agora, mas sem o Sr. D aqui, é como um feriado. Podemos tirar nossas camisas e passar protetor solar uns nos outros. - Luiz disse enquanto brincava com sua blusa, fazendo caras e bocas.

– Não. - Victoria e Bruna disseram em um unisson, balançando a cabeça negativamente. Luiz só fez biquinho e abaixou a cabeça, fingindo estar triste.

– Bom, podemos te levar pra treinar um pouco. - Bruna disse, olhando para Luiz para pedir apoio. - Já que está confirmado que nós vamos sair em missão, treinar é sempre bom. - O garoto afirmou com a cabeça, e Victoria aceitou. Por que não?, pensou.

.

"Porque não?". Victoria tinha uma mira um tanto ruim, e sabia disso. Treinar arco e flecha não era algo que ela queria fazer em seu tempo livre. Com dardos, ela era razoável. Com facas, melhor ainda, até podia acertar o alvo várias vezes - era um jeito ótimo de roubar bolsas, ou até carteiras. Mas arco e flecha? Uh-uh, nem pensar.

E, para piorar, os filhos de Apolo estavam treinando lá também. Alguns, vendo sua mira terrível, se ofereciam para ajudar. Sabe, deus do Sol, da música, arte, poesia, profecias e arco e flecha. Os outros, só riam.

Depois de inúmeras tentativas inúteis, seu curto temperamento não aguentou mais.

– Ah, quer saber? Foda-se. - Ela disse, entregando o arco na mão de Bruna, que conteve um riso. - Por que não treinamos uma coisa legal, tipo, luta com espadas? - Ela perguntou com um pouco de nervosismo na voz. Bruna sorriu.

– Claro. Não sei se estão treinando lá agora, mas podemos sim. - Victoria suspirou, aliviada. Segurando um 'foda-se' para as filhas de Apolo que cochichavam dando risinhos, foram até a Arena, onde a maioria do treino mais "pesado" acontecia. Não sabia se estava forte o suficiente para um treino assim, devido a anos de má nutrição.

Eles estavam a metros de distância da Arena, mas os três podiam ouvir os gritos e palavrões vindos de dentro do local. Vou gostar daqui, ela pensou. E era verdade. Sua primeira reação foi morder o lábio inferior, e a segunda foi simplesmente gritar por dentro. Ela sempre amou lutas e brigas, e a Arena era inundada por tudo isso misturado. Á medida que eles iam entrando no ''estádio'', podiam ver as pessoas com mais clareza, e Victoria conseguiu reconhecer alguns campistas do jogo da Captura que ela não conseguiu terminar.

– Bem, essa é a Arena. - Bruna disse simplesmente, meio desconfortável com o local. Um grito agudo ecoou pelo acampamento, fazendo só uns três lutadores virarem a cabeça. Depois, a origem do som corria até eles.

– Ah, que droga! Eu não sirvo para essas coisas! - A garota gritou, pulando em cima de Luiz, o abraçando com força. Bruna sorriu maliciosamente para o amigo, que piscou um olho só enquanto entrelaçava seu braço ao redor das costas da garota. Ela ficou pendurada no pescoço de Luiz por uns dois minutos, até que o garoto afastou os braços dela lentamente, a cutucando no ombro quando ela não o soltou.

Quando a garota quebrou o abraço, olhou para o chão, um pouco envergonhada enquanto colocava um cacho atrás da orelha. - Oi Bruna. - Ela disse, como um sussurro.

– Oi Kristen. - Ela respondeu, e a garota sorriu timidamente. Ela era morena, e tinha hipnotizantes olhos azuis. - Ah! Kris, essa é a Victoria. Campista nova. - Kristen lançou um sorriso falso para Victoria, mas não disse nada. Murmurou uns 'tenho que ir' e saiu, ainda olhando para o chão.

– O que foi aquilo? - Victoria perguntou, e Luiz coçou a nuca e olhou para o chão, claramente desconfortável com a situação.

– Nada, é só que a namorada do Luiz não gosta de gente perto dele. - Ela disse em um tom sério falso. Luiz bufou, irritado.

– Ela não é minha namorada. - Ele disse firmemente. - Filhas de Afrodite são possessivas, só isso. - Ele acabou com o assunto, mas segundos depois já estava brincando e rindo. - Vamos pegar as espadas. - Ele disse, caminhando até um pequeno cômodo abaixo da arquibancada. Lá dentro, havia suportes de metal com as palavras "Para treinamento" escrito em letras grandes. Aquele suporte segurava qualquer arma, ou armadura para um combate: espadas, lanças, escudos, martelos do tamanho de sua cabeça e outras coisas. Sabe, armas normais para dar pra crianças.

Luiz caminhou até as espadas, batendo levemente o indicador no queixo, procurando algo como os olhos. Murmurou um leve "ah!" quando pegou três espadas de bronze da prateleira mais alta.

– Esses bebês são as melhores. - Ele examinou a lâmina com o dedo. - Bronze celestial misturado com ouro. Uma belezinha. - Victoria arqueou uma sobrancelha, mas Bruna sussurrou um "deixa pra lá, ele é maluco mesmo." enquanto as duas observavam ele sussurrar coisas para a espada, quase beijando a lâmina.

– Ok, já chega né? - Bruna interviu, tomando duas espadas da mão dele, entregando uma para Victoria. - Vamos lá. - Ela disse, antes de sair do cômodo. Para ela, o dia já estava cheio das maluquices de Luiz.

Treinaram por meia hora, até que Bruna saiu e se sentou no chão, alguns metros de distância. - Não gosto de espadas. - Ela disse enquanto colocava a arma no seu colo, observando os dois treinarem com uma expressão ilegível no rosto. Então, os dois continuaram a treinar.

Ficaram assim por mais de duas horas, e o que mais a impressionou durante todo esse tempo, foi que, mesmo depois de todas essas horas, a Arena ainda estava lotada. Luiz era bom coma espada, mas parecia que ele preferiria usar outra arma para lutar. Victoria não. Espadas eram sua segunda arma preferida, logo depois da adaga que guardava na bainha da calça. Era melhor com ela, podia escondê-la com mais facilidade, e é sempre bom saber que você pode atacar alguém sem que percebam.

Quando foi olhar para Bruna, viu que a garota estava se levantando com um sorriso imenso no rosto, indo falar com um Isaac animado, que segurava uma lata de refrigerante. Era tudo tão óbvio.

– Ok, chega. - Luiz disse, respirando pesadamente pela boca, com o suor escorrendo de sua testa. - Cansei. - Ele se sentou no chão, procurando uma garrafa de água, completamente desesperado quando não conseguiu achar uma. Victoria também estava cansada, mas queria treinar mais. Soltou um curto riso ao estado do garoto, que a encarou de volta com um grande sorriso nos lábios. - Isso, pode sorrir. Mas eu vou para o meu chalé, tomar um banho e comer até não me acabar mais. - Ele disse enquanto se levantava, com uma enorme marca de areia em sua bermuda. Victoria não disse nada, só jogou a cabeça para trás e riu, observando-o sair da Arena rebolando com aquele círculo de sujeira.

– Você não é tão ruim. - Uma voz familiar disse atrás dela, e Victoria se virou rapidamente, virando os olhos quando se deparou com Dean, o filho de Ares da Captura da Bandeira. - Você sabe que deu sorte no jogo, não é? Porque, da maioria dos chalés, eu sou o melhor com as espadas.

– Tendo bons lutadores como você, quem precisa dos ruins? - Ela perguntou sarcasticamente enquanto andava até a espada que Luiz deixou no chão, aparentemente esquecendo o próprio discurso sobe a beleza da arma. Ele semicerrou os olhos, a analisando.

– Você sabe que foi o galho que fez você ganhar aquela luta. - Ele disse, e a frase soou como se ele estivesse tentando convencer mais a ele mesmo do que a ela.

– Claro que podia. - Victoria disse indiferentemente enquanto tirava a areia da lâmina da espada que ela tinha usado.

– Isso é um desafio? - Ele perguntou erguendo as sobrancelhas, com um pequeno sorriso malicioso nos lábios. Victoria o encarou, e sorriu da mesma maneira.

– Pode ser. - Ela disse, jogando a espada para Dean, que a pegou perfeitamente. Ele sinalizou para uma área vazia da Arena com a cabeça, andando até lá. O andar dele era tão cafajeste quanto o sorriso.


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Notas finais do capítulo

Agradeçam aos deuses pelas referências de A Culpa é das Estrelas ;) . Lembrando que esse capítulo foi só uma "ponte" para o quinto.



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