Children Of The Three escrita por victoriamartell


Capítulo 2
Turning Point




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– Ei. Ei! - Bruna gritou, estalando os dedos, que estavam a dois centímetros do rosto de Victoria, que, após alguns segundos, começara a piscar freneticamente. Quando ela lançou um olhar de dúvida, a garota só rolou os olhos e colocou a mão na cintura, batendo o pé no chão. - Você ficou fora do ar do nada! E por mais de cinco minutos!

Victoria esfregou a mão na testa e suspirou, ora olhando para o chão, ora para o céu limpo. - Ok, isso nunca aconteceu antes. - Agora, o rosto de Bruna tinha se coberto com um véu de preocupação.

– Olha, acho melhor você falar com Quíron. É, é. Vamos lá. - Ela pegou no braço dela, mas Victoria se afastou levemente, ajeitando a pequena mochila que carregava no ombro.

– Não, sério. Foi um blecaute, pode acontecer com qualquer um. - Ela ignorou o repentino tremor em suas mãos.

– Tem certeza? - O garoto disse. Luiz, Victoria repetiu para si mesma, filho de Zeus. Ele a encarava com uma expressão ilegível no rosto, como se ele estivesse esperando que ela dissesse alguma coisa. Ela afirmou com a cabeça, evitando olhar para ele o máximo que conseguisse. O que não passou despercebido por Bruna, que arqueou uma sobrancelha.

– Tá tudo bem aqui? - Ela fez gestos no ar com a mão, - Que clima pesado, que horror! - Victoria não conseguiu conter um sorriso.

– E agora? - Ela perguntou, se virando para a pequena garota. - O que fazemos pelo resto do dia? - Bruna comprimiu os lábios, como se estivesse pensando em algo aleatório para dizer.

– Bom, ainda é cedo. Vamos almoçar em algumas horas, e então jogamos alguns jogos, como a captura da bandeira, por exemplo. - Ela olhou para Victoria, analisando seu estado: os cabelos castanhos ondulados estavam bagunçados, e havia olheiras em baixo de seus olhos castanhos, reflexo de anos com noites mal dormidas. - Você provavelmente fez uma viagem longa, - ela repousou a mão no ombro dela. - por que não dorme um pouco? Eu te chamo quando for hora do almoço.

Victoria concordou, lhe dando um simples gesto com a cabeça. Só a palavra "dorme" já havia feito com que seu corpo ficasse mole, e os pensamentos, mais lentos. Ela não havia percebido o quão cansada estava. Os três caminharam até o chalé 13, a deixando - finalmente - sozinha. Ela entrou bocejando, largando a mochila no chão, não parando por um segundo para reparar na decoração gótica e sombria do chalé. Simplesmente rastejou até o beliche e se jogou na cama, caindo no sono assim que fechara os olhos.

Se seus sonhos fossem assim toda vez que ela dormisse, viveria á base de cafeína. Ela não se lembrava direito do início por conta do cansaço, mas, quando á medida que a imagem ia ficando mais clara, o pânico se espalhava por todo seu corpo. Ela estava correndo dentro de uma floresta, e os pinheiros eram tão altos que pareciam engolir tudo ao seu redor, deixando só a escuridão pairando pelo ambiente. O ar estava espesso, e ela tinha que fazer força para respirar. Suas mãos tremiam, e então, percebeu que estava segurando uma adaga dourada, coberta de suor das suas mãos.

Seus pulmões doíam e seus pés a imploravam para parar, mas ela não conseguia. Não podia. Era involuntário. Então, um som ecoou pela floresta. Era o chamado de uma águia. Victoria olhou para cima, vendo o animal voando no topo das árvores, e então, a imagem mudou.

Não havia árvores dessa vez. Ela estava no centro do que parecia uma cidade minúscula no norte dos Estados Unidos, e havia corpos por toda a cidade. Ela não parou para identificá-los, só seguiu em frente em passos silenciosos, segurando um arco de bronze que apontava para o chão, com uma flecha já pronta. Siga em frente, uma voz dizia em seu ouvido, siga em frente, e não olhe para trás. Era uma voz suave, como aquelas que sua mãe sussurra em seu ouvido quando você sente medo. E ela continuava andando. Quando um clarão piscou em um ponto da cidade, segundos depois, inundando sua visão.

– Victoria! - Uma voz gritava do lado de fora, e socos martelavam a porta com violência. - Ei, criatura, acorda! - Era a voz de Bruna, com socos extras para fechar o pacote. Ela levantou da cama rapidamente, ignorando os protestos de seu corpo ainda cansado. Se dirigiu ao banheiro e escovou os dentes, gritando um "UM SEGUNDO", a cada cinco segundos. Prendeu os cabelos em uma trança bagunçada e improvisada de lado, correndo para a porta, a abrindo com violência.

– Eu disse "um segundo." - Falou, cerrando o maxilar. Bruna só sorriu de volta, feliz. Ela sempre parecia feliz, e parte dessa alegria alheia a aborrecia um pouco. Especialmente agora, tendo acabado de ser acordada por um mini monstro que possuía uma força maior do que Victoria esperava.

– Falta meia hora para o almoço. - Ela disse, lhe entregando um pacote de papel marrom. - Mesmo que você seja só temporária, use uma dessas. Vai se sentir mais... em casa, sabe? - Ela encolheu os ombros, olhando para o pacote.

– Valeu. - Ela respondeu, pegando o pacote e entrando no chalé, deixando a porta aberta para a garota fazer o mesmo. Ela primeiro desamarrou o laço de barbante que circulava o pacote, para depois, rasgá-lo completamente, deixando os papéis no chão. Dentro do pacote, havia duas blusas laranja dobradas perfeitamente. Tinha os dizeres "Acampamento Meio-Sangue" em letras pretas, e embaixo, o desenho de um Pégaso. Ela pegou uma das blusas enquanto caminhava até os beliches, colocando a outra no colchão. - É linda. - Ela disse.

Bruna sorriu. - Não é? Minha primeira reação foi mais ou menos assim, - Ela limpou a garganta, abrindo a boca e fazendo uma careta. - AIMEUJESUSCRISTODEUSÉPAI! - Falou rapidamente, e seu rosto estava vermelho. Victoria soltou uma gargalhada, seguida pela garota.

Ela encarou a blusa e sacudiu os ombros, colocando a blusa for cima da camiseta branca que estava usando. - Vamos? - Ela perguntou, tirando a trança de dentro da blusa e dobrando a bainha de sua calça Capri. Bruna mostrou um pequeno sorriso e afirmou com a cabeça. Ela se dirigiram às portas, fechando-as ao sair.

A quantidade de campistas a assustava um pouco. De cinco em cinco segundos, passava uma criança correndo a vinte centímetros de distância, quase derrubando qualquer um que estivesse no caminho. Enquanto faziam o curto trajeto dos chalés até o refeitório, Bruna lhe explicava como funcionavam as mesas. Assim como os chalés, as cabines ficavam divididas; uma mesa para os filhos de Apolo, uma mesa para os filhos de Atena, e assim vai.

– E quando só tem uma pessoa em cada chalé? - Victoria perguntou.

– É o nosso caso. O meu, o seu e o de Luiz. - Ela respondeu, fazendo curtos gestos com a cabeça. - Ás vezes, Quíron deixa a gente sentar junto com alguns amigos, ou só a gente mesmo. - Bruna sacodiu os ombros. - É melhor assim. Comer sozinho é muito ruim, você vai sentar com a gente.

– E se eu não quiser? - Victoria respondeu sarcasticamente, com um pequeno sorriso nos lábios. Bruna parecia positivamente homicida.

– Acontece que você não tem querer. - Ela disse, fingindo estar séria, o que não durou muito tempo. - Enfim, você vai sentar com a gente, e provavelmente nossa Bola de Cristal também vai. - Ela continuou, dizendo uns "ali é tal coisa", "ali é a mesa de tal fulano" quando chegaram nas mesas. Era um local simples ao ar livre, com mesas de madeira e uma fogueira imensa no limite do refeitório. Ali, encontraram várias pessoas que Victoria vira correndo pelo acampamento, acenando para elas mandando sorrisos.

– Victoria, essa é a nossa Bola de Cristal, - Bruna disse, puxando um garoto de cabelos castanhos e olhos verdes da mesa onde os filhos de Atena estavam. Victoria tinha uma expressão confusa no rosto, mas deixou que Bruna continuasse, além do mais, ela estava ali por mais de quatro anos. Devia saber o que estava falando. - Heron, essa Victoria.

Ele sorriu e estendeu a mão. - Oi.

– Oi. - Victoria respondeu, apertando sua mão, - Ham... Por que você é uma Bola de Cristal? - ela perguntou, e viu Heron lançar um olhar de raiva falso para Bruna, que sorriu timidamente, abaixando a cabeça, como se estivesse tentando se esconder com o próprio cabelo.

– Bom, - Ele começou, entrelaçando suas mãos nas costas e erguendo as sobrancelhas. - Eu sou o Oráculo do acampamento, então, essa peste me chama de Bola de Cristal.

Bruna riu.

– Então, você consegue ver o futuro? - Victoria perguntou, não acreditando em metade do que eles diziam.

– Tecnicamente... - Ele hesitou, batendo o dedo indicador no queixo. - Sim e não. Não vejo nada claramente, só profecias mesmo.

– Que tipo de profecias? - Ela perguntou. Havia algo naquele assunto que fazia com que ela continuasse.

– Sobre meios-sangues. Coisas relacionadas aos deuses, por exemplo. - Ele continuou, - Mas, então, de quem você filha, mesmo? - Ele perguntou com um pequeno sorriso nos lábios.

– Hades. - Victoria disse. Heron ficou pálido.

– H-Hades? - Ele gaguejou, e Bruna arqueou uma sobrancelha, colocando as mãos na cintura.

– Você tá bem? - Ela perguntou em um tom de "qual é o seu problema". Ele ficava abrindo e fechando a boca, olhando e apontando para trás freneticamente. Bruna o encarava com a mesma expressão de antes, realmente confusa, enquanto Victoria só sacudiu os ombros.

– E-eu preciso - Ele continuou gaguejando, procurando alguém desesperadamente. - Mesa... Eu v-vou... hã? Vou sentar, isso. Sentar. - Heron disse, correndo para mesa que seus irmão estavam sentados, alguns ainda chegando.

As duas ficaram encarando um ponto insignificante na mesa de Atena por um bom tempo, tentando processar o que tinha acabado de acontecer.

– O que... O que foi aquilo? - Victoria perguntou, sem olhar para a outra.

– Eu não faço a menor ideia. - Bruna disse, ainda com os olhos azuis meio arregalados, mas quando olhou para a garota ao seu lado, suas bochechas estavam com um tom ridiculamente avermelhado.

– Desculpa! Sério, ele nunca fez isso antes. - Seus olhos estavam arregalados, mas Victoria só sorriu de volta, o que claramente a acalmou.

– Não foi culpa sua. - Ela sacudiu os ombros. - Então, sentamos aonde?

O almoço ocorrera bem. Fora o estranho silêncio que ás vezes ocorria na mesa. Estavam sentados na mesa de Poseidon, Victoria, Bruna e Luiz. Os dois campistas ainda estavam em choque com o comportamento estranho de um amigo que conheciam há anos, um amigo que eles sabiam que nunca diria algo assim. Bruna pedira desculpas mais de três vezes.

Ela notara que a maioria dos campistas jogava comida na fogueira, e murmuravam o nome de um deus grego. Perguntou para Bruna o que significava, e quando Bruna lhe disse que eram oferendas para os deuses, não conseguiu conter uma expressão de dúvida. Mas mesmo assim, jogou os restos de sua pizza no fogo, dizendo o nome "Ares", um dos únicos deuses o Olimpo que ela sentia afinidade.

Sempre que olhava para a mesa de Atena - mesmo que acidentalmente - sentia os olhos de Heron nela, como se ele não acreditasse em algo, ou só não gostasse dela. O ignorou. Não estava ali para fazer com que gostassem dela. Tinha preocupações maiores. Mas Heron não era o único. Muitas vezes naquele mesmo dia, tinha a leve impressão que Quíron a observava, junto á Bruna e Luiz. Sabia que estavam escondendo alguma coisa dos três.

Mas fora afastada de seus pensamentos quando gritos animados ecoaram em várias mesas, incluindo a deles, quando Luiz começou a gritar "uhuul", batendo palmas e sussurrando palavras de encorajamento para si mesmo.

– O que está acontecendo? - Perguntou em um tom baixo enquanto se aproximava levemente de Bruna, como se estivesse sussurrando em seu ouvido.

– Captura da bandeira. - Ela explicou. - É um jogo que fazemos. Dividimos o acampamento em dois grupos, e bem... Tentamos capturar a bandeira. Quem a pegar primeiro, vence. Mas temos que enfrentar o outro time com espadas, lanças, escudos, etc. - Victoria confirmou com a cabeça, agradecendo aos deuses que teria algum jogo em que ela poderia usar força e violência. Era um jeito de descontar sua raiva e esfriar a cabeça.

Os três se levantaram da mesa; ela tentava evitar ao máximo qualquer coisa relacionada ao filho de Zeus, mas agradeceu mentalmente pelo fato de ele ter se esquecido dela - ou, simplesmente, a ignorar. Bruna estava começando a explicar as regras do jogo, quando Quíron apareceu, ao lado de Heron, que tinha um olhar desesperado em seus olhos verdes. Ela ainda não conseguia entender, mas não podia se importar menos.

– Ah! - Bruna disse, como se tivesse lembrado de algo que poderia salvar a vida de uma pessoa. - Precisamos ir até o Arsenal escolher uma arma para você! - Ela disse em um tom alegre. Finalmente, Victoria pensou amargamente, algo que eu realmente gosto. O pensamento podia ser ruim, ela sabia. Estavam a tratando bem, e ninguém havia olhado para ela como faziam em sua antiga casa, com sua antiga família. Mas havia algo nessas pessoas que a fazia pensar duas vezes. Respirou fundo, mas abandonou os pensamentos de desconfiança, e as duas começaram a caminhar até o Arsenal.

– Nossa, que coisa mais linda. - Victoria sussurrou para si mesma, mas não passou despercebido pelos outros dois campistas que insistiam em acompanhá-la para todos os lugares. Luiz sorriu.

– Aqui temos todos os tipos de armas gregas que já existiram. - Ele disse, apoiando o dedo na ponta dourada de uma flecha. - Você é livre para escolher qualquer uma que quiser. - Isso a animou um pouco. O lugar era perfeito; tinha todas as armas que um ser humano pudesse imaginar, e mais um pouco. Lanças, escudos, espadas, adagas, arcos e flechas. A diversidade era incrível, e o brilho em seus olhos era único.

Ela tinha uma noção de que não podiam demorar muito, então tentou se apressar, o que parecia falhar ás vezes. Bruna e Luiz não se importaram - estavam entretidos demais em uma conversa sobre algo que ela não havia prestado muita atenção. Ela estava a ponto de desistir e pegar uma espada de bronze celestial simples, quando seus olhos encontraram um embrulho de ouro escondido acidentalmente atrás de um escudo inclinado. Ela caminhou até ele, o brilho hipnotizando todo o seu corpo. Levantou o escudo e o colocou com cuidado no chão, sem tirar os olhos do objeto, que havia percebido que era uma capa, como um estojo de ouro. Tomou-o em suas mãos. Ele era coberto de detalhes completamente negros em linhas e traços grossos com pontas, e seu formato era um pouco curvado nas duas pontas.

Passou os dedos por todo o comprimento da capa, percebendo que havia uma abertura bem no meio. Separou as partes de cima e de baixo, se deparando com uma adaga de ouro que refletia seu reflexo perfeitamente, sem nenhum arranhão. A lâmina era triangular, grossa e um pouco longa, e parecia ter cerca d quarenta e cinco centímetros com a capa, de ponta a ponta. Correu os dedos pelo metal, maravilhada com a beleza mortal da arma. Ela ficava perfeita em sua mão.

– É linda não é? - Luiz disse sorridente por trás dela, tentando dar uma espiada melhor por cima do ombro de Victoria, que saiu de perto rapidamente.

– É. - Ela disse, afirmando com a cabeça, unindo a tampa do case da adaga. Ele a observou por alguns segundos, tentando perceber algum traço de memória em seu rosto.

– Se chama κοράκι. - Ele disse em grego, pronunciando a palavra com um certo sotaque. - Ou Corvo, se você preferir. É banhada em ferro estígio. - Ele continuou. Victoria olhou para a parte do Arsenal que Bruna estava. Vazio. Xingou a garota em grego antigo, não percebendo como sabia falar tal idioma, e nem como reconhecia como grego. Luiz sorriu, orgulhoso de si mesmo.

– Você se lembra de mim. - Ele disse, - Se lembra de mim perfeitamente.

Ela arqueou uma sobrancelha, sentindo o peso do ego dele em seus ombros.

– Bem que eu sabia. Apesar de que éramos muito novos na época, você parecia uma daquelas pessoas que nunca esquecia nada, que guardava as memórias e o rancor lá dentro. - Ele disse solenemente, cutucando o próprio peito.

– Garoto, quem você pensa que é? - Ela perguntou, perdendo a curta paciência que tinha.

– Um amigo, - Luiz insistiu irritantemente. - Alguém que você pode confiar. - Então, ele piscou um olho, virando as costas e saindo do local assobiando uma música que ela havia ouvido nas rádios um milhão de vezes. Sua mão coçava com a vontade de lhe dar um tapa bem dado da cara.


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Notas finais do capítulo

Ah, finalmente! Tentei fazer esse capítulo um pouco mais curto, mas a tentação foi demais.



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