Children Of The Three escrita por victoriamartell


Capítulo 1
O início




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Ela sabia que não devia estar ali, e cada fibra de seu corpo gritava para que ela fosse embora, mas ela não tinha medo - ficaria até o fim. Ignorou os pensamentos sombrios e recolheu toda a coragem que conseguiu achar, e entrou nas fronteiras do acampamento com passos fortes.

– Bem vinda. - Disse Bryan, o sátiro que a acompanhara até ali. Ele tinha um sorriso acolhedor nos lábios, mas seus olhos amarelados demonstravam medo quando ele encarava os dela. Victoria sabia como os filhos de Hades eram vistos por ali.

Ela não se deu o trabalho de sorrir de volta. Só enfiou as mãos nos bolsos do casaco e continuou andando. Ela conseguia escutar os gritos animados de campistas que corriam á sua frente, tentando escapar de um garoto imenso com os cabelos em chamas.

– Hum... - O sátiro começou, tentando quebrar o silêncio enquanto caminhavam para a Casa Grande. - Quíron vai ficar feliz em vê-la! - Sua animação pareceu tão falsa que Victoria contraiu um olhar de nojo. Mas tinha que dar um pouco de crédito ao sátiro; ela podia imaginar o quão assustado ele estava, provavelmente imaginando que se ele a aborrecesse, ela abriria uma cratera no chão e o daria uma passagem só de ida para o Mundo Inferior.

– Claro. - Respondeu, tentando soar um pouco mais alegre. Bryan sorriu, aliviado.

– De onde você é mesmo? - Ele perguntou, puxando um assunto desnecessário para o curto caminho.

– Nova Orleans. - Ela disse curtamente enquanto subia os três pequenos degraus brancos, se deparando com uma imensa porta que já estava aberta. Assim que ela entrou no primeiro cômodo, seus olhos bateram na vista da maré de Long Island. O sol penetrava na água, lhe dando um brilho sem igual quando o vento soprava e pequenas ondas se formavam.

Ela olhou ao seu redor, ainda um tanto impressionada com a beleza do local, quando um barulho que mais parecia com saltos altos sobre mármore a puxou de seus pensamentos. Ela se virou lentamente para ver a origem do som, que fez seus olhos arregalarem. Era um homem sobre corpo de cavalo, - ou um cavalo sob um homem, depende do modo que você vê - usando uma camiseta marrom, que se misturava com o tom castanho escuro de seus longos cabelos e a incrivelmente espessa barba negra.

Ele lhe lançou um sorriso afetuoso, um que ela não via já fazia muito tempo, e se virou para o sátiro.

– Obrigado por seus serviços, Bryan, mas por hoje é só. - Sua voz era suave, e mandou um arrepio para sua espinha. Quando Bryan saíra do cômodo, ele se virou para ela. - Bem, querida, você fez uma longa jornada até aqui. - Ele fez um movimento para que ela o seguisse para a varanda de trás, assim, eles estavam de frente para a água. - Como Bryan já deve ter lhe informado, me nome é Quíron, e eu sou o diretor de atividades do acampamento.

– Sim, ele mencionou seu nome, - Seus olhos desceram até as patas do... homem? - mas acho que esqueceu de dizer que você tem quatro patas.

Ele soltou uma risada curta, e olhou para o próprio corpo.

– Os campistas e funcionários já se acostumaram tanto, que acham que é irrelevante avisar aos novatos, que ganham essa surpresa. - Victoria sorriu. O centauro olhou para água, e então para o chão, como se estivesse evitando um assunto importante. O repentino silêncio a deixou desconfortável. - Victoria, creio que você sabe a origem de sua família, e que sabe quem seu pai é. - Ele afirmou, mas havia um ar de dúvida em sua voz.

Ela afirmou com a cabeça, tirando uma mecha encaracolada que o vento soprara em seu rosto.

– Deus do Mundo Inferior. - Ela disse firmemente.

Fora a vez dele de confirmar com um gesto. - Sim. E também creio que você sabe dos riscos que existem para uma semideusa. Ainda mais uma semideusa filha de um dos Três. - Ela sentiu seu estômago se contrair, mas ignorou o enjoo. - Você sabe que o local mais seguro para você é o Acampamento. - Ele encarou seus olhos castanhos, e pôde ver que ela estava lutando em sua mente. - Nenhum monstro pode penetrar nossas barreiras, e todos nós trabalhamos em grupo para manter todos os salvo. - O modo que ele mencionou "monstros" a fez pensar se ele sabia o que acontecera com ela anos atrás.

Ela suspirou. - Sim, eu sei.

– Sei que está em dúvida se deve ou não depositar sua confiança em nós, - Ele tomou sua mão na dele, o que a fez hesitar. - então, fique aqui por alguns dias. Irá gostar, é uma promessa. - Ele disse, e o seu tom pareceu tirar um peso dos ombros dela, um peso que ela carregava a tanto tempo que quase não o sentia mais.

– Tudo bem. - Ela disse suavemente depois de alguns segundos. - Ficarei por alguns dias, e te darei uma resposta depois. - Ele sorriu.

– Muito bem. Você vai precisar conhecer seu lar temporário então. - Quíron disse, e deu uma olhada na praia, procurando algo. Ele arqueou as sobrancelhas grossas, e sorriu quando achou o que procurava. - Bruna! - Ele gritou, e Victoria virou a cabeça. Ele sorria para uma garota que parecia uma campista já antiga; seus cabelos pretos estavam presos em um coque bagunçado que voava com o vento, e sua pele pálida estava vermelha pelo sol. Ela correu até eles, com curiosos olhos azuis.

– Me chamou? - Ela abriu um sorriso quando olhou para Victoria, e voltou seus olhos para Quíron. Ela parecia uma anã comparada ao centauro.

– Temos uma campista temporária, - Ele disse, dando um olhar de cúmplice para a garota. - Será que você poderia mostrar o local para ela?

– É claro! - Ela falou. Ela estava tão animada que Victoria se perguntou se ela havia bebido algumas latas de Red Bull.

– Victoria, essa é Bruna, uma das campistas mais frequentes, ela irá te mostrar tudo. - Ele repousou o braço sobre o ombro da garota, que sorriu. - Meninas, se vocês me dão licença, eu preciso resolver alguns assuntos importantes. - Ele disse, e ele pôde perceber o olhar nervoso nos seus olhos castanhos. - Não se preocupe, - sua voz era calma e suave, - você está em boas mãos.

.

Elas caminharam por todo o perímetro do acampamento. Começaram pela praia, uma caminhada pela areia enquanto Bruna explicava alguns detalhes e curiosidades sobre o acampamento - algumas eram muito interessantes, outras, ridiculamente entediantes. Havia momentos em que a conversa, ou o silêncio deixava Victoria um tanto desconfortável, mas o sorriso acolhedor de Bruna a confortou e a deixou mais calma. Parecia que ela sabia o que ela estava passando. Andaram primeiro pelas quadras de vôlei, depois seguindo para a Arena e os estábulos. O lugar era lindo, mas o calor era insuportável.

Mas o clima só ficou pior quando elas chegaram aos chalés.

– Cada chalé representa um deus grego. - Ela explicava detalhadamente, tentando fazer a experiência o mínimo dolorosa possível. - Quando seu pai ou mãe te reclamar como filho dele ou dela, você vai para o seu chalé. Por exemplo, eu sou filha de Poseidon, então eu vivo no chalé 3, que é o do meu pai. E se seu pai não te reclama, bem, você fica no chalé de Hermes, que é o mais lotado. - Ela a encarou por alguns segundos, como se tentasse descobrir pela sua aparência quem era o seu pai. - Você já tem alguma ideia de quem é seu pai ou mãe?

– Eu já sei. - Victoria disse, quase que já preparada para o pior. - Sou filha de Hades. - Ela disse, e a expressão de Bruna ficou ilegível, mas um sorriso cresceu em seus lábios avermelhados.

– Outra filha dos Três! - Ela disse, como se fosse a melhor coisa do mundo. Quando viu o olhar questionador no rosto da novata, se acalmou e explicou: - Você é filha de um dos Três Grandes. Hades, Zeus e Poseidon. Já tem um filho de Zeus aqui, um amigo meu. Você completa o triângulo: três filhos para os Três Grandes.

– E... Isso é uma coisa boa? - Ela perguntou.

– Bem, sim e não. O lado bom, é que somos mais poderosos, e geralmente, mais respeitados. E o lado ruim é que os monstros conseguem nos... "sentir" com mais facilidade. Fora que cada um de nós é um alvo para o pai do outro. Veja, depois da Segunda Guerra Mundial, os Três Grandes juraram nunca mais ter filhos, e ás vezes eles quebram esses votos, gerando nós, meios-sangues.

– Então, por exemplo se eu voar de avião ou nadar, meu avião vai cair e eu vou me afogar?

– Exatamente. - Bruna disse.

– Mas que merda.

Ela riu. - Mas você sabe, fora isso, o lugar mais seguro para nós é aqui, no acampamento - Ela ia dizer mais alguma coisa, quando viu um garoto de pele morena e cabelos castanhos correndo, e gritou: - Ei, Cabeça de Vento! - Imediatamente, o garoto se virou, e correu até elas.

– Fale, pequena. - Ele disse com um sorriso malicioso nos lábios, olhando para Bruna que suspirou, irritada.

– Não abuse. - A garota disse, cruzando os braços. - Essa é Victoria, uma campista nova.

– Temporária. - Victoria disse rapidamente, e se virou para olhar para Luiz. Quando o garoto a olhou nos olhos, Victoria sentiu uma facada no estômago. Ela reparou que ele sentiu o mesmo desconforto, porque seu rosto se tornou pálido. Ela o conhecia. em uma época distante, de volta em sua cidade natal.

Aconteceu três ou quatro anos após o furacão Katrina - que destruiu tudo que ela tinha como lar. Victoria tinha fugido de casa, e morava nas ruas recém-reconstruídas sozinhas já faziam quatro meses. Ela se virava sozinha bem, mendigando e conseguindo bons trocados para uma garota de nove anos - porém, na maior parte do tempo, tinha que roubar bolsas ou carteiras para não passar fome. Ela havia conseguido um colchão improvisado no parque de diversões abandonado, o Six Flags. Pelo período que morara ali, havia presenciado as cenas mais hilárias com crianças da sua idade com medo de entrar, dizendo que era assombrado. Mas ela não tinha medo. Deus do Mundo Inferior, ela dizia para si mesma. Senhor das Almas. Eu não posso ter medo de fantasmas.

Durante uma noite chuvosa e quente, ela acordara com o barulho do portão enferrujado sendo aberto - o sono leve a salvava toda a vez que policiais entravam no parque. Ela se levantou do colchão que guardava sob o teto da cabine da montanha russa, e pegou seu canivete. O barulho ecoou novamente, surpreendentemente pelo parque inteiro, apesar do forte som da chuva, como se alguém estivesse fechando a porta. Victoria andou até a beira do compartimento, até onde o teto a protegia te tomar um banho, e estreitou os olhos para tentar identificar algo ou alguém pelas cortinas de água.

Então, viu uma sombra. Uma sombra rápida. Uma sombra rápida que estava correndo em sua direção. Uma onda de pânico percorreu seu corpo á medida que a pessoa se aproximava. Ela segurava o canivete com tanta força que seu punho estava mais pálido que o normal, e ergueu o canivete quando a pessoa se aproximou. Um peso foi tirado de suas costas quando ela viu que era só um garoto. Um garoto da sua idade, um pouco mais baixo que ela, completamente encharcado dos pés a cabeça. Ele tremia um pouco, e seu lábio estava um adquirindo um tom de roxo, mas ele parecia ser teimoso, e não mostrava medo ou fraqueza em suas expressões.

– Quem é você? - Victoria perguntou, levantando o canivete ainda mais, o deixando na altura do pescoço moreno do garoto. Ele levantou as mãos em um sinal de paz, mas ela não abaixou a arma.

– Luiz. - Ele disse, contendo um tremor em seu lábio inferior. Ele virou a cabeça para trás, preocupado desesperadamente com alguma coisa, e ela encostou o canivete em seu pescoço, temendo o pior, mas, quando ele se virou para olhar para ela, havia uma nova leveza em seu rosto. - Calma, eu não vou fazer nada, só quero um lugar pra fugir, sério.

– Fugir de que? - Ela perguntou, pressionando a lâmina com mais força contra o pescoço dele, que estava ficando pálido na área que o canivete estava pressionado.

– Quem é você? - Ele respondeu arqueando uma sobrancelha, e ela estreitou os olhos, transformando os lábios em uma linha fina. - Não deposito informações em garotas estranhas que apontam canivetes pra mim sem nem dar um oi.

– Oi. - Ela disse sarcasticamente, pressionando o canivete com mais força com uma expressão esnobe em seu rosto, com um pequeno sorriso quando ele comprimiu seu rosto com dor. Victoria soltou o canivete e abaixou a pequena alavanca que abaixava a lâmina.

O suposto 'Luiz' exalou pesadamente, como se estivesse prendendo a respiração por todo esse tempo. Ele sorriu maliciosamente para ela, e sacudiu os cabelos encharcados, a molhando um pouco.

– Porra! - A garota xingou, secando a blusa que estava cheia de gotas.

– Que coisa feia para uma garota. - Ele disse, como se fosse anos mais velho. - Qual é o seu nome, menina? - Ele perguntou.

Ela lhe lançou um olhar de nojo. - Nunca, nunca me chame de menina.– Ela disse repulsivamente, e suspirou pesadamente quando viu os grandes e sorridentes olhos castanhos a encarando, esperando uma resposta. - Victoria.

O modo que ela disse o próprio nome fez Luiz se perguntar se ela tinha certeza de quem ela era.

– De quem você estava fugindo? - Ela perguntou novamente enquanto se sentava no colchão furado. Ele mudou de posição desconfortavelmente, o que não passou despercebido para ela.

– Coisas ruins. - Ele disse simplesmente, sacudindo os ombros levemente.

– Que coisas? - Ela insistiu, colocando o queixo entre o indicador, o encarando com uma curiosidade falsa.

– Você não acreditaria se eu te contasse. - Ele se sentou no chão, à poucos metros de distância dela.

– Ah, você não faz ideia. - Victoria insistiu novamente, e Luiz a encarou com um tom brincalhão nos olhos.

– Monstros. - Ele disse, e ela sentiu um arrepio na espinha.

– Monstros?

Ele confirmou com a cabeça, sorrindo, como se achasse que ela não acreditava.

– Que tipo de monstros? - Ela tentou fingir um tom sarcástico.

– O que parecia uma hidra, da mitologia -

– Grega. - Ela o cortou. Não era uma expert em mitologia grega, mas havia lido um ou dois livros sobre o assunto, por curiosidade sobre o outro lado de sua família.

– Isso. - Ele falou, franzindo o cenho. - Me seguiram quando fugi de casa, e me deram isso como presente de boas vindas ás ruas. - Ele levantou a camisa molhada, mostrando uma grossa linha branca na lateral de sua barriga. Victoria franziu o rosto, só imaginando a dor. - Exatamente. - Ele disse, percebendo sua expressão.

– Mas... Outras pessoas não viram a, - ela hesitou por um breve momento - a hidra?

– Acho que não. - Ele franziu o cenho novamente, a observando. - Por quê a pergunta?

– Porque eu acho que já vi uma dessas. - Ela disse, sem rodeios. - Quando eu fugi de casa, eu... sentia algo me observando, não importava aonde eu estava. - Ela se sentia insegura em confiar tanto em um estranho ao ponto de lhe contar a história de quando ela foi atacada, mas ela sentia que ele falava a verdade.

– Eu tinha acabado de fugir de um orfanato, e uma noite, ela me atacou. Não consegui matar, e não sou burro para cortar as cabeças, então eu corri em um estilo "pernas pra que te quero". - Ele disse, rindo de si próprio. - Mas o que eu realmente queria saber, é porque elas nos seguem.

– Será que tem algo haver com meu pai? - Ela disse ironicamente, olhando fixamente para um ponto insignificante no chão.

– Peraí, como você sabe disso? - Ele perguntou rapidamente, e Victoria pode ver a tensão nos ombros dele, e o pânico crescendo em seus olhos.

– Sei do que? - Ela fingiu uma confusão improvisada. Não devia ter o deixado entrar em primeiro lugar. Suas mãos começaram a suar frio, e sentia o calor em seu rosto.

– Como você sabe quem é o meu pai? - Ele insistiu, se levantando em um pulo.

– Moleque, eu acabei de que conhecer, eu nem sei quem é você de verdade!

– Eu sou Luiz, filho de Zeus.


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Notas finais do capítulo

Argh! Nervosismo de primeira fic é realmente uma merda!



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