Olá. Sabe os deuses olimpianos? Eles existem. E tem filhos com os mortais, e estes são chamados de semideuses. Eles vivem em um lugar apropriado para eles, chamado Acampamento Meio-Sangue. O local é seguro. Bem, era. 

Eu estava encostada na sacada de meu quarto, ouvindo música no rádio, observando o céu. Ele estava escuro, com raios atravessando, fazendo um clarão aparecer. Eu tinha uma estranha sensação de que algo estava errado. 

Tome cuidado. Coisas ruins virão. As palavras de uma vidente me vieram à cabeça. Eu estava numa festa com uns amigos, e lá havia uma vidente. Meus amigos insistiram que eu me consultasse com ela e as palavras que ela me dissera ainda me perturbam. 

Meu telefone celular começou a tocar e eu fui atender, com grande lerdeza. O nome no visor dizia desconhecido mas, como sou teimosa, atendi do mesmo jeito. 

Por alguns segundos, eu não ouvira nada, apenas chiados. Logo, a voz de minha amiga, Claire, veio à tona. 

- Amélia! - Claire berrou do outro lado da linha. 

- Claire? O quê houve? - Raramente ela me ligava, afinal éramos vizinhas e nos víamos mais do que ligávamos. Isso era um caso sério, como perceberam. 

- Preciso que você venha até aquele beco, por onde nós passávamos quando éramos crianças e fazíamos balé. 

- Tudo bem. Logo estou ai. - Desliguei e fui trocar de roupa, a fim de tirar meu pijama. É, eu sei, vocês devem estar achando muito estranho isso. Sua amiga ligar no meio da noite, pedindo para você ir buscar ela em um beco escuro e esquisito, e você aceitar. Mas, é isso que a amizade faz. 

Terminei de calçar meus sapatos e desci correndo as escadas, numa tentativa falha de não fazer barulho, para não acordar minha mãe, meu pai e meu irmão. Peguei as chaves de meu carro e dei a partida, saindo com ele cantando pneus na madrugada escura, provavelmente acordando alguns vizinhos meus do condomínio. 

Alguns minutos depois, encostei no meio-fio, esperando que minha amiga visse meu carro e entrasse nele. Eu a vi e sai do carro, andando em sua direção. Por enquanto, eu só via seu rosto. Mas, quando a claridade do poste de luz atingiu o resto de seu corpo, parei rapidamente. 

Este, claramente, era o motivo pelo qual ela jamais mostrava suas pernas. Sua pele, estava mais branca que de costume e seus olhos estavam vermelhos. Sua boca, mostrava seus dentes afiados e pontiagudos. Ela usava um short curto, deixando à mostra, uma perna de bronze e outra peluda, com cascos de bodes. 

- Minha verdadeira aparência lhe incomoda, filhote de deus? - Ela bravejou com sua voz melodiosa. Eu recuei alguns passos. 

- Hã-hã. Eu estava apenas... - Garguejei. 

- Admirando minha beleza? Isso é o que todos os heróis dizem, antes... 

- Antes do quê? - Perguntei. 

- Antes, bem, de morrerem. - Ela respondeu.

Ela olhou para trás de mim, e recuou alguns passos. Eu segui seu olhar e encontrei os olhos de um garoto segurando uma espada. Eu não podia ver bem o seu rosto, que estava escondido por um capuz preto. 

- Você não irá matar ninguém, sua empousai maldita. - Empousai? O quê aquele garoto estava dizendo de minha amiga?

E então ele correu em direção à ela, pegando-a de surpresa e a esfaqueando na barriga. De repente, me vi coberta de pó dourado. Recuei alguns passos, com medo do quê aquele garoto poderia fazer comigo. 

- Quem é você? - Perguntei, calculando quanto tempo eu teria para correr até meu carro. 

- Eu sou um amigo. - Ele disse. 

- Por quê machucou Claire? 

- Você tá preocupada com ela? Ela quase matou você e está preocupada com ela? - Ele riu desdenhosamente. - Isso não é muito típico de um semideus, quando se refere à um monstro. 

- Semideus? Monstro? - Perguntei confusa - Do quê você está falando garoto?