Viagem Ao Subterrâneo escrita por Robert Hunter


Capítulo 8
Rota de fuga




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 Não foi fácil despistar os servidores que vieram atrás deles, mas quando chegaram à rua principal eles se infiltraram entre os infectados, mesmo que não estivessem com as cicatrizes, as blusas que eles usavam tampavam um pouco da superfície do pescoço.

Os três não tinham lugar para ir. Os túneis abaixo da plataforma do metrô tinham sido invadidos. Jorge sugeriu que se escondessem na rede de esgoto novamente. Agora que tinham conseguido roubar as armas e ainda derrubar Karidade eles iam fazer de tudo para encontrá-los.

Entraram em um beco que ficava entre duas grandes construções e avistaram uma tampa no chão que dava para o esgoto. Jorge e Ana emburraram a tampa e em seguida desceram um de cada vez. Samuel que estava com a caixa com os armamentos desceu por último.

De volta à rede esgoto, os três sentaram-se no chão ignorando o cheiro ruim e a quantidade de insetos, e vasculharam a caixa. Havia dois fumaceiros, um equipamento que lembrava arco e flecha e parecia ter a mesma utilidade, apenas o formato era diferente, também tinha alguns explosivos e por último um disparador de bombas.

- Para que serve isso? – Perguntou Ana admirando o equipamento.

- Não sei, está escrito disparador de bombas – Respondeu Samuel lendo oque estava escrito na arma.

O tal equipamento era comprido e pesado, mal coube na caixa, era composto por uma espécie de cano metálico e uma chave que desencadeava a função dele.

- Temos que testar! – Sugeriu Jorge.

- Mas se for perigoso? Podemos expor onde estamos e aí estaríamos acabados! – Observou Ana com uma expressão “vai em frente, só estou sendo mandona”, pelo menos foi o que Jorge interpretou.

- Concordo com Jorge, se não testarmos como vamos agir depois? – Samuel olhou em seguida para o garoto e disse para que seguisse.

 Jorge notou que o equipamento já estava carregado e apontou para o lado oposto de onde estavam e disparou. Uma explosão enorme tomou conta da rede de esgoto que antes escura agora estava clara, o impacto causado foi tão grande que o garoto foi jogado para trás.

Ana e Samuel ficaram espantados com o efeito da arma. Jorge se levantou recolheu o disparador de bombas que na queda também foi parar longe e percebeu que ainda havia mais duas cargas.

- Pronto! Já temos a solução para destruirmos a árvore – Disse Jorge pulando de alegria.

Não era só o garoto que tinha ficado animado com o equipamento, pela primeira vez os outros dois jovens tinham esperanças de voltar à superfície. Samuel pensava no reencontro com irmã, mesmo que não tivessem lugar para ficar lá em cima, pelo menos estariam juntos.

- Mas ainda temos o campo de proteção para se preocupar – Falou Ana.

- Ao menos se tivéssemos uniformes de servidores, poderíamos passar pelo campo.

- Mesmo assim, eles devem ter bloqueados aqueles números – Agora era Samuel que punha empecilhos no plano de Jorge.

- Então temos que conseguir uniformes novos!

Ana ficou no esconderijo cuidando do disparador de bombas enquanto os dois garotos foram atrás de novos uniformes.

O fluxo de servidores na cidade tinha dobrado, com certeza achavam que estavam prestes a serem atacados por um complô de humanos que viviam escondidos no subterrâneo.

- Como vamos fazer três servidores ficarem inconscientes para roubarmos os uniformes deles? – Perguntou Samuel

- É simples, atraímos eles pro beco e quando chegarem lá usamos um dos fumaceiros para deixá-los perdidos e então os atingimos com algumas pedras na cabeça – Jorge respondeu.

- Tudo bem, eu vou para o beco e você atraí eles!

Jorge foi à direção de um trio de servidores que faziam a vigília pela cidade, quando eles o viu dispararam em sua direção, só não atiraram porque os tiros poderiam acertar os infectados.

O garoto correu para o beco e se escondeu entre os latões de lixo, assim que os homens entraram Samuel atirou o fumaceiro no chão, em fração de segundos uma nuvem negra tomou conta de todo o espaço. A escuridão não facilitou nem para os meninos, que tiveram dificuldades para acertar os servidores com o pedregulho que encontraram no chão.

O trio de servidores estava inconsciente, os garotos os arrastaram e tiraram os uniformes deles, em seguida correram para o esgoto, onde Ana estava com o equipamento.

- Conseguiram? – Perguntou a garota.

- Sim, os uniformes estão aqui – Disse Jorge mostrando os uniformes para ela.

Ana correu em direção dos dois e os abraçou.

- Estava tão preocupada, pensei que vocês tinham sido pegos!

- Não precisava se preocupar, somos espertos demais para sermos pego! – Samuel disse sorrindo, estava feliz pelo plano estar dando certo.

- Vocês são loucos, isso sim, aliás, nós todos somos.

 Os três se abraçaram e comemoraram o sucesso que o plano estava tendo.

O dia amanheceu novamente e como sempre a escuridão prevaleceu, as únicas frestas de luz viam de tampas mal postas, mesmo assim era aquela luz laranja da cidade subterrânea.

Jorge e seus amigos dormiram durante toda à tarde do dia anterior e mais a noite. Fazia tempo que os três não descansavam assim, mas quando acordaram os seus estômagos fez com que lembrassem de que também fazia tempo que tinham comido. Ana foi a primeira a reclamar:

- Vamos morrer de fome se continuarmos aqui!

- Mas se nós formos lá pra cima seremos capturados antes de comer qualquer coisa – disse Samuel.

- Já fomos lá em cima com esse pensamento e conseguimos escapar dos servidores, acho que podemos tentar de novo ou como Ana disse, vamos morrer de fome – O outro garoto comentou.

Samuel olhou para Jorge com expressão de revolta por ter sido contrariado, já Ana sorriu para o garoto de um modo que queria dizer “Obrigado por ficar a meu favor”.

- Tudo bem, vamos lá pra cima, afinal se não morrermos de fome podemos morrer com tiro – Samuel esbravejou.

- Nossa! – Disse Ana com sarcasmo e logo depois ignorou o amigo.

- O que aconteceu? Quem sempre discorda de tudo é a Ana e não você – Jorge disse para Samuel que retrucou:

- Diga logo como vamos conseguir a comida!

- Comprando! – exclamou a garota.

- Como vamos comprar, não temos dinheiro – Até Jorge ficou surpreso.

- Não sou eu quem discorda das coisas, inclusive não se usa dinheiro aqui, para conseguir alimentos é necessário apresentar cupons de racionamento.

- Nós não temos cupons! - Afirmou Samuel.

- Mas os servidores tinham.

Ana tirou um punhado de pedaços de papel dourado do bolço dos uniformes.

- Se veste de servidora e vai lá comprar, esperamos aqui para não chamar muita atenção – Samuel sugeriu.

- Não vou lá em cima, fui eu quem achou os cupons, agora um de vocês dois vai fazer o trabalho!

- Está com medo! – Disse zombando de Ana – Eu vou então!

- Não estou com medo é que...

- Parem com isso! – Interrompeu Jorge – Hoje é o dia que sairemos daqui, então temos que nos concentrar nisso.

Samuel passou pela tampa que dava da rede de esgoto para cidade e foi em busca dos alimentos. Jorge e Ana repassaram o plano. Quando o garoto voltou com a comida os três se empanturraram. Estavam prontos para enfrentar cara a cara o perigo.

Colocaram os uniformes e dividiram as armas, Jorge ficou com o disparador de bombas por ter a pontaria melhor que a dos outros dois. Ana pegou o arco e flecha, pelo menos era o que achava que era aquilo e Samuel ficou com o fumaceiro.

Seguiram pela cidade em direção à árvore vermelha, os outros servidores olhavam o trio de cima embaixo, pensavam que eram novatos. A roupa escondia todo o pescoço o que facilitava muito no disfarce.

Pararam os três há uns cem metros de distância do campo de força, admiraram a árvore com sua folhagem vermelha. Ela era perfeita, parecia uma daquelas fotos de cartão postal.

- Estão prontos? – Perguntou Jorge.

Ambos se olharam e responderam sim a com a cabeça, seguiram juntos até a árvore, mas foram parados por dois dos vários servidores.

- Vocês tem permissão para passar pelo campo de força?

- Sim, temos – Afirmou os três ao mesmo tempo.

- Preciso de vê-las então!

Nesse momento foi quando toda a confusão começou, Samuel jogou o fumaçeiro no chão e uma camada negra tampou toda a visão deles e dos servidores.

Jorge pegou o disparador de bombas que teve de ser desmontado para caber em seus bolsos. Uma chuva de tiros e explosão começou, Ana disparava flechas para todo o lado, quando acertava o alvo elas entravam em combustão. Algumas acertaram a árvore que começou a pegar fogo, mas não era o suficiente para queimar ela toda.

Finalmente o garoto conseguiu montar a arma, mas a fumaça o impedia de mirar na árvore, saiu caminhado e trombando em alguns servidores, ou até mesmo em seus amigos, pois não dava para identificar ninguém naquela escuridão, até que viu um vulto vermelho logo acima de onde estava, chegou mais perto e conseguiu tocar o tronco da árvore.

Uma força estranha tomou conta de cada célula do garoto que se deslizou até o chão, uma pontada de dor surgiu e parou do nada na sua cabeça, diversas imagens de guerras vieram em sua mente, inclusive as do seu livro de história.

Desde as invasões medievais aos feudos, as cruzadas, até a segunda guerra mundial, pessoas caindo mortas, em seguida vieram cenas de uma guerra que ainda não havia acontecido, um exército de servidores invadindo sua cidade.

Jorge recobrou a consciência e mirou a árvore com o disparador de bombas e disparou duas vezes. A árvore ficou em chamas e uma fumaça vermelha tomou conta de tudo superando a do fumaceiro.

- Corram! Corram! – O garoto saiu gritando para que seus amigos também saíssem.

Os três se encontraram fora do campo de força ao mesmo tempo, e também se depararam com vários servidores, que puseram a atirar, os garotos rolaram pelo gramado vermelho, e Ana foi abrindo caminho com seu arco e flecha.

Sujos e maltrapilhos atravessaram a rua principal. Jorge estava nas mesmas condições de quando chegou na cidade, parecendo um mendigo.

Olharam para traz e viram árvore fumegante. Os prédios começaram a tremer e Ana sentiu um punhadinho de terra caindo em sua cabeça, e foi aumentando. Estava “chovendo” terra.

- Vai ficar tudo soterrado! – Gritou Ana.

Dispararam pelas ruas em busca da saída que tinha sido a entrada de Jorge para aquele mundo estranho.

Assim que chegaram não encontraram nenhum servidor protegendo o túnel, deviam ter ido todos para árvore. Entraram na fresta que se abria entre as rochas e seguiram aos comandos de Jorge, mas o lugar tremia tanto que eles caíam duas vezes por minuto. O túnel era muito escuro o que não facilitava nem um pouco.

Escalaram uma parede rochosa e saíram em outro túnel, esse bem estreito, o que fez com que tivessem que ir de quatro, mas pelo menos não tremia tanto. No final encontraram uma fresta de luz, não aquela luz laranja, mas os raios de sol que Jorge não via há quase duas semanas, e os outros há muito tempo.

- Estamos de volta à superfície – Samuel gritou feliz, todos estavam felizes, rindo sem parar.

Quando passaram pelo buraco viram o céu azul e cheio de nuvens, tão diferente do escuro do subterrâneo, fecharam os olhos para sentir o ar da superfície.

 Abriram os olhos e encontraram uma escola toda queimada.


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