Viagem Ao Subterrâneo escrita por Robert Hunter


Capítulo 3
A garota desaparecida




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O Túnel pelo qual Jorge foi conduzido era largo e de estrutura metálica, os ruídos que viam de cima produzia uma sensação desagradável no garoto, era como se alguma coisa rangesse a estrutura. Eles estavam embaixo da plataforma do metrô.

As paredes eram todas grafitadas e a baixa iluminação escondia corpos, aparentemente sem vida.

- Que lugar é esse? – Perguntou para garota que permaneceu calada durante o trajeto.

- É aqui onde os rejeitados ficam.

- Rejeitados?

- Sim, alguns corpos quando são infectados pelo vírus continuam com o comportamento humano, então são rejeitados. Desde quando está aqui?

- Há poucas horas!

A garota fitou o rosto de Jorge, e ele percebeu que já a conhecia de algum lugar, era como se já tivesse visto seu rosto há pouco tempo.

- Temos que conversar sobre o que acontece aqui, mas para isso precisamos ir pra minha casa.

Não era bem uma casa, parecia mais uma espécie de caverna, as únicas coisas que se viam eram pedaços de panos jogados pelo chão, uma cortina tampando a entrada, alguns alimentos no canto, e um coxão velho e rasgado, a garota se sentou sobre ele e encarou Jorge.

- Então, de onde veio?

- Da superfície...

- É claro que foi da superfície, quero saber como veio parar aqui!

- Certo... Estava fugindo por ter posto fogo na escola, cai num buraco e vim parar aqui.

- Você pôs fogo numa escola? – Disse a garota espantada - Acho que pode sobreviver aqui!

- O que é essa história de infectado – Jorge continuava analisando o rosto da garota tentando lembrar-se dela.

- É uma história bem longa...

A garota começou a contar tudo sobre o mundo escondido no subterrâneo.

- Há bom tempo, um vírus parasita se desenvolveu aqui em baixo, quando chegou à superfície tomou conta de diversos corpos e os trouxeram para cá, formando toda essa metrópole organizada e perfeita.

- Quer dizer que estamos sendo atacados por um parasita?

- Não, eles nunca planejaram nenhum ataque à superfície, pelo menos é o que eu acho!

- Como que os humanos nunca suspeitaram disso?

- Diversas pessoas somem, se perdem todos os dias, é isso que eles pensam que acontece, mas qual é mesmo o seu nome?

- Jorge Bordelon, e o seu?

- Ana, Ana Morales – Foi então que o garoto lembrou-se de onde a conhecia, ela era a jovem desaparecida da escola, ele havia visto o seu rosto em vários slides e campanhas.

- Eu te conheço, você é a garota desaparecida.

- Eu sou o que? – Ana olhava desentendida para o menino.

Um estralar de palmas veio de fora da caverna e em seguida um rapaz alto e magrelo, fumando um cigarro abriu a cortina. Jorge ficou uns instantes encarando com medo o rapaz que fazia o mesmo.

- Quem é esse? – Dirigiu-se para a garota.

- É um rejeitado que acabou de chegar.

- Hum... Ele também vai à busca de comida?

- Sim, ele vai, me espere lá fora que já vamos.

O rapaz foi passou novamente pela cortina e ficou esperando do lado de fora.

- Não se preocupe esse aí e o Kevin, um dos rejeitados, ele é gente boa, mas um pouco estranho.

- Por que disse que eu era um rejeitado?

- Ele e nenhum outro sabem que não estou infectada, também não devem saber que você não está. Por sorte o Kevin não é lá muito esperto e não reparou que não estávamos com a cicatriz.

- Mas não temos essa cicatriz.

- É, mas podemos improvisar uma.

A garota foi até no canto onde estava uma latinha de tinta com um pincel e virou-se para Jorge. Logo os dois estavam com as cicatrizes no pescoço.

- Tem mais algum não infectado por aqui?

- Só conheço o Samuel, ele também vai estar na procura de alimentos.

- O que é essa procura?

- Não podemos produzir nada aqui nessas barragens, então temos que ir lá em cima furtar nossa comida.

Os dois saíram da caverna de Ana, onde Kevin, um garoto loiro com algumas cicatrizes no rosto, e uma garota ruiva com sardas.

- Esse é Jorge, um recém-chegado! – Disse Ane apresentando-o para os outros.

- O que você fez para ser rejeitado? – A garota ruiva fitava sua cicatriz falsa, como se desconfiasse de algo.

- Ele pôs fogo numa escola! – Ana se pôs a frente de Jorge, fazendo a garota desviar o olhar para ela.

- Meu nome é Brenda e esse é o Samuel – O garoto se aproximou e trocou um aperto de mão com Jorge.

Todos subiram à superfície, Ana sempre ao lado do recém-chegado.

- Acho que sua amiga desconfia da minha cicatriz! – Sussurrou Jorge para garota desaparecida.

- Ela é assim mesmo! Com o tempo melhora.

- Onde conseguimos os alimentos.

- É só você ficar sempre do meu lado que te conduzo, mas lembre de nada de dar na vista, pois eles pensam que somos rejeitados, por isso qualquer passo em falso podemos ser pegos.

- Como eles fazem para distinguir os rejeitados?

- Só de olhar para as nossas roupas que já conseguem fazer isso.

Realmente as vestes de Jorge estavam em condições precárias, as da garota mesmo limpas ainda estavam rasgadas e desgastadas.

Os cinco subiram até a plataforma do metrô, onde se misturaram com os outros.

Samuel se aproximou dos dois e afastou-se uma pouco dos outros.

- Você não está infectado, não é?

Jorge ficou com medo de dizer a verdade, mas sabia que o garoto não iria acreditar que era um infectado. Ana deu um sinal para que confiassem em Samuel.

- Não! Eu vim parar aqui por acaso.

- Todos nós que não estamos infectados viemos por acaso! – e olhou para Ane – Eu estava andando pela periferia da cidade, quando cai em um buraco e encontrei um túnel que veio parar aqui.

- E você Ana? Também caiu no buraco da escola?

- Sim... Eu estava tentando me esconder quando cai... Como você sabe que cai na escola?

- Éramos da mesma escola, só que não te conhecia, mas depois que você desapareceu todos começaram a falar sem parar de você, seus pais até queriam processar a escola.

- Bem típico deles, estarem mais preocupados em conseguir dinheiro do que achar a filha desaparecida – Após dizer isso saiu em disparada na frente.

- Eu disse alguma coisa errada? – Perguntou a Jorge.

- Não, é que ela tinha uma relação digamos difícil com a família.

- faz tempo que está aqui?

- Um ano! – E desviou o olhar para o chão e seguiu de cabeça baixa.

Os cinco pararam em frente a um armazém fechado. Kevin se aproximou de costas e com um alfinete abriu a porta.

- Entrem um de cada vez para não chamar atenção.

Logo todos estavam lá dentro. O lugar parecia pequeno do lado de fora, mas por dentro era do tamanho de um supermercado com fileiras de prateleiras.

- Lembrem que tem alarmes por toda a parte, podem pegar o máximo que puder desde que consigam sair sem chamar atenção.

- Kevin! Acho que todos sabem dessas instruções – Disse Brenda com ar de deboche.

- Temos um novato aqui!

A garota ruiva olhou para Jorge com uma expressão que dizia: Não precisamos mais de ninguém para atrapalhar.

- Acho melhor nos separarmos para que tudo ande mais rápido, Ane com Samuel, Brenda com seu egocentrismo, e por fim eu e o novato.

- Rá-rá muito engraçado Kevin, nossa podia trabalhar em um circo – Brenda sorriu de forma sarcástica.

Após se separarem cada um foi para alas diferentes, Jorge e o parceiro foram para parte dos produtos enlatados.

- Pegue uma dessas sacolas Biodegradáveis e encha dessas latas.

Logo parte dos produtos da prateleira estava nas sacolas, que já pesavam para o garoto.

- Como que é lá em cima?

 -Como? – Jorge olhou para o rapaz e sua cicatriz.

- Não sou muito inteligente, não é isso que a Ana fala?

- É sim.

- Pois bem, já tinha visto ela sem a cicatriz e te vi hoje na caverna.

- Por que não disse nada para ela?

- É difícil um humano que conhece nosso mundo e não foi infectado confiar na gente, mas não faria mal a vocês, minha linhagem me abandonou, só porque adquiri a característica de grafitar do meu corpo, eles diziam que eu fazia mal para a cidade com minha arte.

- Parece ser bem difícil!

- E realmente é! Você não sabe o que é ser julgado pelos outros por ser que você é.

- Sei sim, também não era muito aceito pelos outros.

Um alarme disparou e uma porção luzes vermelhas apareceram do teto, e todas as saídas se fecharam.

- Alguém disparou o alarme!

Kevin puxou Jorge pelo braço e saíram correndo entre os corredores do armazém em busca dos outros. Ane e Samuel esbararam nos dois.

- Precisamos sair daqui! – gritou Samuel na tentativa de soar mais alto que as sirenes.

- Não podemos, temos que achar a Brenda primeiro – Kevin estava assustado, como todos estavam, inclusive Jorge.

Uma das portas se abriu e diversos homens uniformizados entraram no local. Os quatro saíram correndo e se esconderam entre os freezers de congelados. O homem baixo e gordo apareceu entre os outros.

- Conheço aquele homem – Disse Jorge para os outros.

- Aragão? – Perguntou Samuel

- Sim, é esse o nome dele!

- Ele é o supervisor do palácio e da cidade.

- Palácio? Existe um palácio aqui?

- É onde se localiza o poder central da cidade.

Um dos homens de uniforme avistou Ana e a pegou pelo cabelo, mas Jorge o atingiu com um frango congelado e ele caiu no chão. Saíram todos correndo e Aragão berrou para seus homens:

- Peguem esses rejeitados e os esquartejem!

A perseguição continuou em entre as prateleiras. Jorge e os outros atacavam os homens com os alimentos, mas não era o suficiente. Um dos uniformizados agarrou Brenda, que estava escondida debaixo da bancada de legumes. A cena mais horrível que podia ter acontecido ocorreu. Com uma arma apontada para cicatriz da garota o homem disparou.

Os outros saíram correndo e lágrimas escorriam pelos seus rostos, Kevin avistou uma passagem que era usada para jogar o lixo e gritou para que os outros saíssem por ali.

Deram de cara com uma caçamba de lixo e antes que pudessem recordar os sentidos direito, saíram em disparada e acabaram se separando. Jorge ficou ao lado de Samuel.

- Vamos pela rua principal, não vão nos caçar por lá.

Ambos seguiram pelo centro da cidade, cheio de construções rochosas, Jorge avistou uma que parecia uma catedral de mármore, cheia de torres e ao lado uma árvore com folhagem vermelha.

- Esse é o palácio, e essa é a árvore vermelha o centro do poder da cidade – Disse Samuel vendo que Jorge observava fascinado. 


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