A chuva batia com força na janela, eu podia sentir o forte hematoma que havia se formado novamente em meu pescoço, que assim como todos, aparecia do nada. É sempre assim, um sonho estranho, um forte puxão, acordo e lá está. Mais um hematoma. Tento esconder mas está cada vez mais difícil.

   Viro-me na cama e fico de frente para a porta do banheiro onde no chão ainda se encontravam as velas e o quadro ouija usado na noite passada enquanto eu e minhas amigas zoávamos.

  “Lá estávamos nós. Eu, a Beatriz, a Giulia e a Lissa. Todas reunidas em uma “mini festa do pijama”. O tédio predominava no ar e às 2h da madrugada eu propus esse jogo. Afinal, quer coisa melhor para se fazer em uma noite de haloween? Fui eu quem organizei tudo, há alguns anos atrás encontrei no quarto de meu avô um quadro ouija, então tudo o que fiz foi organizar as velas e depois foi apenas começar o jogo. Giulia sempre foi a mais centrada e a mais nova do grupo, foi a primeira negar a jogar pois sempre sentiu medo desse tipo de coisa. Foi a beatriz quem acendeu as velas, um segredinho só nosso ao qual mais ninguém além do grupo sabe. A Beatriz possui o domínio dos quatro elementos, ela pode criar fogo, mover a água, é capaz de causar um tornado com apenas um sopro, possui o domínio da terra e pode até mudar o tempo. Eu possuo o dom do espirito, algo que gostaria muito não ter. Vejo almas, interajo com elas, e sou capaz de “ser” uma delas. A Giulia vem de uma geração de bruxos e a Lissa é como a chamamos “Uma sugadora de vidas” mais conhecida como vampira.

    O jogo começou. A peça se moveu. Um arrepio correu por toda a minha espinha algo sussurrava em meu ouvido ‘Eu preciso... De você’. A peça corria pelo quadro escrevendo silenciosamente ‘Alice, preciso de você’ não aguentei e chutei o quadro. Rapidamente as velas também caíram e o fogo se espalhou pela cortina. A Bea correu para apagar o fogo. A cortina ainda chamuscada foi trocada por outra idêntica em apenas um piscar de olhos ao ser materializada pela Giu. Lissa ainda de olhos fechados, sentada no canto, não se moveu.

   - Porra Alice! O que houve aqui?? – Gritou zangada Beatriz.”

Mas estranhamente elas estavam organizadas. O quadro no centro. As velas em volta e acesas. Beatriz e a Giu dormiam profundamente. Mas Lissa havia sumido. Aquela mesma voz continuava no pé do meu ouvido e sim eu sabia quem era. Sempre a mesma frase “Alice, preciso... De você”. Ele aparecia todas as vezes em que dormia. Não importava onde, mas sempre lá estava ele. Seu nome era Tristan e em todos os sonhos, segundo ele, tudo o que queria era apenas ter minha companhia e viver comigo. Senti-me preocupada e saí pela casa a procura da Lissa. O chão estava frio e ao descer as escadas, a madeira rangia. Eu me sentia como em um filme sombrio. Apesar de nossas vidas não serem normais ainda gostava dela. Ser diferente. Não ter aquela mesmice de vida normal como os outros. Sentia-me especial. Nada na casa. Olhei pela janela onde estava molhada por conta da chuva e vi uma sombra do lado de fora duas na verdade. Uma delas foi reconhecível pela baixa estatura e os longos cabelos. Lissa estava de pé e parecia conversar normalmente com alguém bem mais alto até que seu pé fosse parar no rosto daquele cara. Ela segurou seu pescoço e o quebrou, segurando o corpo mole ela encostou a cabeça sobre o pescoço daquele homem. E foi assim que presenciei pela primeira vez como era a vida por trás das sombras de Lissa Conelly.

   Um forte puxão no meu braço me faz dar um passo para trás e quase cair. Ele me prende na parede e me beija com intensidade. Agarra meus cabelos e me segura forte na cintura, uma de suas mãos anda por minha coxa. Abro meus olhos e o encaro. Seus olhos azuis também estavam abertos e me encaravam intensivamente. Tristan. Soltei-me dele e forcei-me a acordar. Ele aperta meu braço com tanta força, como se quisesse me prender ali para sempre.

   - Não vai só dessa vez!

   - Não.

Acordei no chão com um forte hematoma, agora em meu braço. No meu quarto a luz do sol entrava pela janela e as meninas gritavam do banheiro. Corri para ver o que era. No espelho encontrava-se escrito “Alice, preciso... de você”

  - Poxa Alice, queria ter alguém que me quisesse assim como esse cara te quer. – Lissa disse isso e sorriu mostrando suas presas, limpou o espelho com a mão e continuou a se maquiar.

  Fomos juntas para o colégio no meu carro. A St. Angelis High School ficava à uma hora e meia da minha casa, um lugar bem afastado do centro de Chicago. As aulas estavam de volta, ao chegar em frente aquela imensa estrutura laranjada estacionou. Aquele lugar era lindo, mas não era onde gostaria de estar naquele momento, principalmente ao visualizar as duas “anoréxicas altas” que se aproximavam. Victoria Skolaud e Samantha Borguignon gritaram meu nome e ao longe vinham calçadas em seus pares de all-star como sempre. As férias haviam terminado e infelizmente meu sossego também.