A Última Primavera escrita por anac


Capítulo 1
Dançando


Notas iniciais do capítulo

Se o link não funcionar, aqui está: http://a.tumblr.com/tumblr_lvzvcolWMD1qi4x0so1.mp3
Escutem a música. Ajuda a entender a história.Boa leitura.



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Pitty - Dançando

Um dia especial. 20 de dezembro de 2012. Aniversário de dezoito anos de Miriam Coldani. A festa seria às nove da noite em uma boate conhecida na cidade. Seus pais pagaram tudo, eram ricos e afinal era os dezoito anos da moça. Belo Horizonte inteira sabia da comemoração e jovens se mataram por um lugar na lista de convidados.

Já eram oito e meia, e Miriam colocava os últimos adereços. Havia passado o dia no salão e voltou para casa apenas para se vestir e colocar as jóias.

Colocou o colar prata valioso no pescoço admirando-o em seguida. Era simples, lindo, e caro, muito caro. Presente de seu pai, além da festa que logo começaria. Ajeitou mais uma vez seu cabelo e com as mãos na cintura encarou o reflexo no espelho grande por longos segundos, atenta á cada detalhe.

O cabelo preto natural das raízes às pontas, dependendo do reflexo da luz assumia um tom azul revelando a tamanha escuridão dos fios. Tinha comprimento um pouco abaixo do queixo e um corte repicado moderno. A pele naturalmente bronzeada reluzia em contraste com o cabelo e olhos igualmente negros. Nas pálpebras, tons variados de azuis criavam uma espécie de monocromia. Os cílios normalmente pequenos com ajuda de rímel e curvex mostravam-se longos e volumosos. As bochechas carnudas eram levemente coradas com blush bronze. Por fim, a boca agora em um batom de cor discreta completava o rosto belo.

O vestido “tomara que caia” azul marinho era plissado e curto apesar do corpo acima do peso de Miriam. Por prazer e saúde, a garota praticava vôlei duas vezes na semana, mas como não abria mão dos doces e afins permanecia acima do peso. Não que isso fosse um problema, não para Miriam. Aceitava seu corpo como era, estando ou não dentro dos padrões, sua mãe gostando ou não. Se achava linda, mesmo com os quilos a mais que tanto incomodavam algumas pessoas.

Nos pés, saltos altos combinavam com o vestido azul, deixando a garota linda e elegante. Satisfeita com o visual caminhou até a porta de seu quarto, saindo do mesmo e entrando assim no comprido corredor do terceiro andar. Chegou à escadaria estreita e desceu vendo, quando estava nos últimos degraus, seu pai e irmão conversando na sala de estar.

– Que linda! – Eduardo comentou ao notar a presença da filha na sala. Ela abriu um largo sorriso e aceitou sua mão, dando uma voltinha para admiração dele e de seu irmão.

– Está menos feia que o normal – o menino de doze anos provocou. Era bem parecido com a irmã, os mesmos olhos e cabelos negros, a mesma pele bronzeada. A diferença nítida era o peso.

– Vou levar isso como um elogio. – Miriam sorriu amarelo para ele.

– A Limousine já está na porta, quando quiser ir é só avisar o motorista – Eduardo anunciou, ignorando a típica briga de irmãos.

– Acho que já vou, quero ser a primeira a chegar, vou ser a pessoa que mais vai aproveitar dessa festa.

– Espero que com juízo.

– Como se eu agisse de outra forma, papai. – ela sorriu travessa. – O motorista ainda tem que passar na casa da Yasmin e do Gabriel – seus melhores amigos, e que por um pedido dela estariam com ela durante toda a noite, inclusive na ida para a boate, compartilhando de toda a ansiedade e nervosismo pré-festa. – Minha mãe ainda está se arrumando, né? Vou indo, depois encontro com ela e com vocês na boate. – ela se despediu do pai e irmão. Iriam em um carro diferente.

Caminhou para fora da casa encontrando uma limusine preta em frente ao grande portão. Entrou no carro e sentou no banco confortável, vendo à sua frente um mini-bar servido de champanhe e uísque e pequenas telas de TV pela parede revestida do carro.

Olhou para a janelinha que dava para o motorista e pensou em lhe passar o endereço da casa de seus amigos, pois o motorista oficial da família que a levou tantas vezes antes até a casa deles iria com seus pais e irmão mais tarde, este fora contratado especialmente para a festa. Ainda sim, ele deve ter procurado saber antes.

Sua suspeita se confirmou quando o carro começou a se mover.

Despreocupada, se sentou mais ao fundo e ligou o rádio. Uma música eletrônica começou a tocar, animando-a ainda mais. Miriam pegou o champanhe no mini-bar e se serviu em uma taça. Bebericou aproveitando cada gota da bebida e suspirou percebendo que estava mais ansiosa pela festa que imaginava. Fechou os olhos e se deixou levar pela batida contagiante da música. Logo seus braços e cabeça começaram a se mover no ritmo da música, fazendo-a parecer louca pra quem via de longe. Ela continuou assim e em um breve momento seus olhos passaram pela janela interrompendo a dança. Ela olhou mais atentamente e percebeu que estava em uma estrada, sabendo que esse não era o caminho para a casa de nenhum de seus amigos se dirigiu ao motorista.

Ele deve ter se perdido, pensou.

– Este não é o caminho para a casa da Yasmin nem pra do Gabriel – disse amigavelmente.

– Estou passando por um caminho diferente, senhorita – respondeu sem tirar os olhos da estrada que com mais atenção Miriam logo reconheceu. Não sabia o nome, mas era uma estrada para sair da cidade. Não havia passado ali muitas vezes, pois viajava sempre de avião ou helicóptero, mas tinha certeza.

– Você já saiu do bairro onde moramos, essa estrada é pra sair da cidade – anunciou cautelosamente achando aquilo muito estranho.

– Você deve estar se confundindo...

– Não estou nada, não me faça de boba, para onde está me levando? – disse em tom agressivo sentindo o coração acelerar com as hipóteses que começavam a passar por sua cabeça.

– Para a casa de sua amiga, acalme-se, vamos chegar logo... – mais uma vez ela o interrompeu, dessa vez o assustando.

– Pare de mentir, para onde está me levando droga? Quem é você? Por que não está cumprindo seu trabalho? – Miriam sacudia seus ombros desesperada. Seu corpo estava debruçado no pequeno espaço da janela na tentativa de pará-lo.

– Pare com isso, eu vou bater – ele gritou ao perder o controle do volante por segundos. Ela estava perdida e continuou atrapalhando-o.

– Pare o carro – ordenou, mas ele não a obedeceu. Miriam tentou pegar o controle do volante fazendo com que a Limusine fosse para o outro lado da pista sem controle.

– Tá bem, eu paro – o motorista acabou cedendo visto que bateriam se a garota não parasse com aquilo.

Ela o soltou, ficando bem próxima vigiando-o e ele parou o carro no canto da pista.

– Agora me explique porque não estou na casa da Yasmin nesse momento – disse. O tom de voz era alto e autoritário, mas por dentro, a garota morria de medo.

– Precisa ir a um lugar, não é perigoso, não vou fazer nada contra você, juro, mas precisa ir comigo – ela olhou-o desconfiada. Não podia acreditar em um estranho que ou devia estar no lugar do motorista que seus pais haviam contratado ou havia mentido para eles.

Seu sexto sentido dizia que ele não era confiável e os seus instintos mandavam-na sair dali. Tomada pelo medo das possibilidades do que ele poderia fazer com ela, abriu a porta da Limusine e saiu correndo. O equilíbrio no salto era terrível e diminuía sua velocidade, Miriam corria em direção ao matagal ao lado da estrada sentindo o motorista logo atrás dela. À medida que corria, a resistência e ar faltava aos seus pulmões deixando-a cada vez mais lenta, seu coração batia rápido e as lágrimas de medo já se formavam em seus olhos. Desejou ter um preparo físico melhor. Olhou para trás por um segundo e viu o homem alto e de ombros largos próximo, amedrontada ainda mais, tropeçou e caiu. As cegas tateou o chão encontrando uma pedra e a jogou no motorista que estava há poucos passos dela. A pedra acertou sua testa o fazendo gritar de dor. Ela se levantou com duas pedras menores na mão e jogou nele que já havia se recuperado da primeira. O homem desviou de uma pedra e se protegeu de outra com o antebraço. Vendo que estava desarmada voltou a correr, mas ele a alcançou segundos depois, lhe imobilizando com uma chave de braço. Miriam começou a chorar.

– Não vou lhe machucar, fique quieta, por favor – ele pediu com a voz baixa.

Miriam analisou suas opções. Tinha sido pega, por mais que estivesse com medo sentia que era melhor fazer o que ele mandava.

Se obrigou a parar de chorar.

– Vamos voltar pro carro agora e infelizmente, vou ter que te trancar lá dentro pra não correr risco outra vez. Então, vou te levar até uma casa e lá você vai conversar com outras pessoas. Ninguém vai te machucar, ok? – ele explicou pacientemente. Ela assentiu e voltaram para o carro. Como combinado, ele a trancou lá dentro e deixou a janela entre o motorista e os passageiros aberta.

Miriam chorou copiosamente. Não achava justo isso estar acontecendo justo no dia do seu aniversário. Era pra ser um dos dias mais felizes de sua vida, mas ela estava sendo sequestrada. Queria acreditar que tudo ia ficar bem, que, como ele disse, ninguém iria machucá-la, mas não conseguia. Seu medo falava mais alto.

Quinze minutos depois, o motorista parou o carro.

– Chegamos – ele anunciou sem entusiasmo.

Miriam olhou pela janela. Ainda estavam na estrada deserta e consideravelmente longe de sua casa. Mas havia uma casa pequena ali, um barracão na verdade. Ela viu o motorista sair do carro e dar a volta. Abriu sua porta e com relutância a jovem saiu. Considerou a hipótese de tentar fugir, mas não daria alguns passos e ele a pegaria novamente. Tinha que pensar uma maneira inteligente de sair dali.

Observou o barracão. Mesmo a noite era possível ver que não tinha pintura, ainda estava no reboco. Havia apenas uma porta de madeira e lâmpada que iluminava a entrada. O motorista abriu a porta e encontrou três pessoas. Todas sentadas em volta de uma mesa velha de madeira. Um homem magro de pele branca, cabelo preto e com roupas próprias para um inverno rigoroso, apesar de não estar nem um pouco frio. Uma mulher loira de olhos azuis e que, mesmo com a idade avançada, era bonita. Ao seu lado, uma mulher de aparentemente trinta anos, cabelos castanhos lisos e olhos puxados e que Miriam concluiu ser asiática. Ela observou todos receosa e adentrou a casa. Instantaneamente sentiu um calafrio percorrer toda a espinha. Olhou para todos assustada. Por que sentia que conhecia aquelas pessoas?

O homem que estava no lugar do motorista entrou e fechou a porta. Dirigiu-se para uma das cadeiras que sobravam, ficando ao lado da asiática. Agora com luz o observou. Era negro e musculoso, praticamente careca e com cerca de quarenta anos de idade.

– Olá, Miriam – a mulher mais velha e loira disse. Mas não em português, ou em qualquer outra língua conhecida. Era uma linguagem estranha, que surpreendentemente fazia todo o sentido pra Miriam.

– Que língua é essa? Por que eu a entendo? – a jovem balbuciou correndo os olhos pelas pessoas ali sentadas.

– Sente-se. Temos muito que conversar – o homem exageradamente agasalhado pediu falando na língua desconhecida. Miriam balançou a cabeça negativamente e permaneceu de pé. Não obedeceria a ordens deles. – Tudo bem. Essa é a língua dos tempos antigos. Falada antes mesmo da criação deste mundo. Você a entende porque tem uma missão diferente, um papel especial aqui na Terra. – a garota ficou ainda mais confusa. Aquilo a estava lembrando filmes e livros de ficção que via e lia.

Diante da expressão de dúvida de Miriam, a mulher asiática se pronunciou.

– Vamos lhe explicar tudo. O que nós, terráqueos, chamamos de mundo existe há muito, muito tempo antes da existência da vida neste planeta. E diferentemente do que imaginam a vida não começou aqui, com vocês. Vocês são só mais uma parte da história. Existe sim um Deus, que não é um homem nem uma mulher nem um animal, e sim algo que nós jamais teremos capacidade de imaginar. E a primeira vez que ele deu vida a outros seres em um planeta aconteceu no que chamam hoje de Plutão. Ele escolheu um ser que seria responsável por cuidar daquele lugar. Resolver os conflitos, não deixar que eles se destruíssem com o tempo, como sempre acontece. Mas ele falhou, não sabemos como, mas sabemos que falhou. Eles se destruíram e a espécie deixou de existir. Então Deus deu a chance a outro planeta e a história se repetiu em todos os lugares. Algo sempre acontecia, ou eles falhavam ou traíam a confiança de Deus. Ele tentou de todas as maneiras, com muitos aliados, que eram os responsáveis pelo planeta, apenas um, sem aliados, desenvolvendo espécies mais complexas, mais simples...

– Por que ele mesmo não cuidava do planeta? – Miriam indagou surpresa por estar acreditando no que diziam. Mas ela sempre foi uma amante das histórias, sempre acreditou que havia algo mais por trás da existência, seja lá o que fosse.

– Porque um deus não pode se meter nas coisas do mundo. Não dá certo, ele já tentou. É um poder muito grande, os seres criados por ele não suportam. – o homem agasalhado respondeu.

– Mas isso não explica nada. Só quer dizer que tem alguém por trás dele que criou essas regras, que o criou – ela retrucou indignada. Odiava explicações vagas, por isso nunca gostou da religião ou ciência. Não importasse o quanto fundo fossem, o mínimo, o pequeno detalhe que fez tudo se originar dele era sem explicação. Como surgiu? O que o criou? Isso nunca sabiam explicar.

– Concordo. Mas a existência é um mistério, querida. Um mistério que nunca entenderemos, nem quando morrermos. Um mistério que nem o Deus que vive criando espécies em tantos planetas sabe explicar – a asiática respondeu docilmente. Miriam suspirou decepcionada. Por um instante, achou que finalmente teria a explicação que os seres humanos buscavam há tanto tempo.

Mas logo a decepção passou a ser preenchida pela curiosidade. Queria saber mais, saber onde entrava nessa história toda. A asiática parecendo que leu seus pensamentos e talvez realmente o tivesse feito, continuou.

– A Terra é o último planeta. A última tentativa. Se aqui não der certo, a vida acabou. Deus irá destruir tudo. Todos os planetas, galáxias. E nós somos os aliados da Terra. No inicio da vida aqui, quando não havia continentes separados, apenas a Pangeia, eu era a aliada, que cuidava de tudo. E como estava dando certo com as espécies que aqui viviam Deus resolveu me dar uma chance e criou uma espécie mais complexa, os seres humanos. Só que para isso eu pedi ajuda, mais aliados, de maneira que cada um cuidasse de uma parte. Assim foi feito. A Pangeia se separou e com o tempo se formaram os continentes. Deus escolheu mais quatro pessoas que até hoje me ajudam a administrar tudo. – Miriam se chocou. Olhou para eles perplexa. A mulher asiática deveria ser a responsável pela Ásia, o seu suposto motorista negro pela África, mas não conseguiu identificar os outros. Não havia características tão marcantes.

– Eu sou a Europa. E ele cuida dos pólos, Ártico e Antártico, além da Oceania – a loira disse apontando para o homem agasalhado. Instantaneamente Miriam associou o frio dos pólos com as vestimentas do homem. Sentiu as pernas doerem pelo tempo em que estava em pé no salto alto e se sentou na cadeira que sobrava.

– E a América? – questionou confusa. No momento em que citou o assunto percebeu que todos ficaram tensos.

– Ela nos traiu. Teve ganância, queria assumir todo o mundo. – o “motorista” respondeu. Miriam não conseguia chamá-lo, mesmo que mentalmente, de África.

– Mas não disseram que quando um aliadofalha, toda a espécie é extinta?

– Pedimos uma exceção a Deus. Que em consideração ao trabalho realizado com excelência por todos nós, nos autorizasse a matar América não prejudicando assim os humanos e nos desse uma nova aliada, uma nova pessoa pra cuidar da América – Europa respondeu. Imediatamente uma ideia considerada absurda por Miriam passou pela sua cabeça. Ela abriu a boca formando um O.

– Não vão me dizer...

– Sim. Iremos. Você é a escolhida para ser a nova aliadae essa é última chance do mundo, se não aceitar, tudo hoje acaba a meia noite. A esperamos por dezoito anos, pra que pudesse ter o direito de aproveitar a infância e juventude, mas sua missão neste mundo é diferente, Miriam. Você não veio para trabalhar, constituir família e dar continuação à espécie. Você veio para salvar o mundo. – com essa afirmação de Ásia, Miriam perdeu o controle.

– Vocês só podem estar brincando com a minha cara. Isso é um absurdo. É loucura! – ela gritou já de pé.

– Miriam, tem ouvido boatos sobre o fim do mundo? Algo como calendário Maia dizendo que o mundo acabaria no dia 21 de dezembro de 2012? Que dia é hoje? – era dia vinte, ela pensou. Havia feito brincadeiras sobre isso com seus amigos. Dizendo que cantaria o trecho da música da Pitty em sua festa. “O mundo acaba hoje e eu estarei dançando”. Brincou que se o mundo acabasse não se importaria, estaria comemorando. E agora quatro pessoas que se denominavam responsáveis pelos continentes a diziam que o mundo realmente acabaria e era ela quem podia salvá-lo.

Andou de um lado para o outro pelo cômodo com a mão na cabeça. Não sabia se acreditava no que ouvia.

– Me provem que o que falam é verdade – ela ordenou.

– Você entende o que falamos apesar de nunca ter aprendido esta língua. O tempo está parado nesta casa, se for buscar seus amigos verá que se atrasou apenas alguns minutos. Se eu quiser que fique um pouco mais calor no Ártico neste momento, apesar de ter limitações quanto à natureza do próprio lugar, consigo. E a maior de todas, se você se recusar a ser a nova aliada,hoje à meia noite verá o mundo acabar – o homem responsável pelos pólos disse.

Miriam ficou ainda mais perturbada. Ela sabia que era verdade, podia sentir, mas o que faria? Não queria ter o controle de um continente. Queria apenas aproveitar sua vida normalmente.

– O que tenho que fazer para me tornar aliada? – pronunciou a última palavra receosa.

– Abandonar sua vida comum. Morrer para o mundo. Faremos um pacto que deverá terminar no exato instante que der meia-noite. Então você se tornará América e não se lembrará de nada de sua vida antiga. Nós também não lembraremos. Ainda será a mesma fisicamente e com a mesma personalidade, saberá que escolheu ser quem é, apenas não se lembrará quem são as pessoas que viveram seus primeiros dezoito anos com você. É melhor, torna tudo menos doloroso. – Ásia explicou.

Miriam sentiu os olhos arderem, iria chorar. Não queria abandonar sua família, seus amigos. Não queria abandonar a sua vida que tanto amava e valorizava. Mas do que adiantava não aceitar? Não teria sua vida de volta de qualquer forma. Poderia ao menos salvar as outras pessoas.

– Vocês também tiveram de escolher? – ela perguntou tentando não chorar.

– Sim, e se recusássemos o mundo também teria acabado naquela época. Não há como retirar o poder que ganhamos depois da idade determinada, se recusamos e continuamos humanos podemos causar um estrago irreparável, é como adiar o fim. – o motorista respondeu. Estava óbvio, ela tinha que aceitar. Não podia ser tão egoísta. Mas será que os humanos mereciam ser salvos? Se destruindo, destruindo tudo a sua volta dia após dia. Qual a graça da existência?

– Também pensamos isso quando América nos traiu. Mas é legal acompanhar as evoluções e os regressos do mundo. Se as coisas já são sem sentido agora, sem vida no universo seria ainda pior – Europa leu os pensamentos dela e a respondeu. – Você continuará aproveitando as coisas do mundo, não será invisível nem nada assim. Só não terá uma vida fixa, com o tempo as pessoas esquecerão de sua existência. Será como alguém sempre a passeio fazendo o que deve ser feito pro mundo continuar a existir.

– Meus pais nem meus amigos se lembraram de mim, certo?

Todos assentiram. Ela respirou fundo e tomou sua decisão.

– Tudo bem. Eu aceito ser a “nova dona da América” – debochou. Eles a repreenderam com o olhar. Aquilo era coisa séria. Mas era impossível não rir. Se a dissessem que algo assim aconteceria, provavelmente chamaria a pessoa de louca e gargalharia dela. – Mas antes quero voltar para meu aniversário e aproveitar minhas últimas horas como humana. Quando for o horário me busquem e faremos o tal pacto.

– O.K. Mas lembre-se, Miriam, isso não é brincadeira. Uma parte do mundo estará em suas mãos – Ásia a advertiu.

– Eu sei. E levarei a sério. Sempre quis ser importante, meu desejo foi atendido. E em alto escalão – ela sorriu e os outros não conseguiram evitar sorrir também.

Eles combinaram tudo e antes dela sair, foi chamada uma última vez.

– Feliz Aniversário – Ásia disse, e Miriam sorriu triste, em agradecimento.

O “motorista” a levou de carro para a casa de sua amiga, como era planejado. Também buscaram Gabriel e seus amigos perceberam que Miriam estava... diferente.

– O que você tem? Está estranha – Yasmin observou.

– Não. Tá tudo bem. Só quero aproveitar ao máximo meu aniversário, aproveitar ao máximo esse momento com vocês. Eu amo vocês, ok? – Miriam falou fazendo seus amigos se entreolharem.

– Nós também te amamos – Yasmin a abraçou de lado.

– E quero agradecer nossa amizade. Foi incrível o que passei com vocês.

– Nós também te amamos, também amamos sua amizade, agora pare de falar como se o mundo fosse acabar hoje porque você mesma já nos disse que isso é besteira – Gabriel respondeu. Miriam riu sarcasticamente.

– Realmente. O mundo não vai acabar hoje – os amigos não entenderam sua reação, mas concluíram que deveria ser nervosismo pré-festa. O carro parou e eles desceram. Miriam encarou a boate. Estava na hora da festa começar. A sua última festa como humana, o seu último aniversário. Ela tinha razão quando brincava com os amigos sobre a música da Pitty. O seu mundo acabaria hoje e ela estaria dançando.


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Notas finais do capítulo

É a primeira one que postei. Espero que tenham gostado. Eu achei meio patético, mas resolvi postar mesmo assim. Se virem algum erro, por favor, me avisem, se tem alguma critica construtiva a fazer, por favor, façam, se não gostaram, por favor, me expliquem o porquê, e se gostaram, por favor, comentem, favoritem, até recomendem se quiserem
Obrigada por lerem (=
Beijos!!!!