Sem Julgamentos escrita por AnaMM


Capítulo 21
Esse Sentir É Romântico E Assustador O Suficiente Para Te Deixar Confusa


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI! Jesus! Gente, sem brincadeira, eu perdi esse arquivo umas 4 vezes! Foi frustrante, passei de tempos em tempos perdendo o ânimo de recomeçar,enrolei, enrolei, mas aqui está! Enfim! Espero que vocês gostem e que tenha valido a espera (ou um décimo dela).

Trilha:
https://www.youtube.com/watch?v=60_GhdsXk_w fallingforyou - the 1975
https://www.youtube.com/watch?v=5oacgmqK2bc Essa Música É Romântica E Assustadora O Suficiente Pra Te Deixar Confuso (a) - Tópaz



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Não sabia quando começara. De repente a mera possibilidade de ser afastada daquilo que estava vivendo desvelara o que jamais admitiria de outra forma. Amar, amor... Não gostava da palavra, em nenhuma variação. Sentia-se fraca, vulnerável. Sentia-se nua, nua e com frio. Arrepios alertavam-na. Cairia a qualquer momento, derrubada por qualquer vento. Estúpido fora pensar que estaria imune. Ben representava tudo aquilo que estava tentando afastar, de um estilo de vida a sentimentos. Por tanto tempo pensara não ser mais capaz de tê-los, muito menos por um pretenso bom moço sem ter onde cair morto, que jamais entenderia seus gostos ou aspirações. Por que sentira um vazio à menção de perdê-lo estava além de sua compreensão. O amor também estava. Era a única palavra que definia, para seu desespero. Estava se apaixonando por Ben. Estava se apaixonando e não sabia desde quando, nem há quantos quilômetros havia ultrapassado sua última chance de fuga. E o pior de tudo: havia confessado.

– Conta outra, Sofia, você não ama nem a própria família, vai amar o Ben? Você ama a Anita ser apaixonada por ele, isso sim! E você, hein, Benjamin? Eu esperava muito mais de você!Iludindo a Anita enquanto rola na cama com essa vagabunda...

E então se deu conta. Bernadete jamais acreditaria. Sentiu alívio lavar seu corpo como uma única onda, livrando-a por completo de um peso, do peso de se entregar tão facilmente à patética realidade de que estava apaixonada e justo por ele. Benjamin sabia, jamais o enganara, por mais que tentasse. Nada havia mudado em sua fachada. Pelo menos não em sua fachada.

– Falou a minha querida madrasta, que se casou por amor! – Sofia lhe lembrou, com um discreto sorriso ainda no rosto.

– Olha aqui, sua mimadinha...

– Alto lá! Olha o jeito que você fala com a Sofia! Eu já tenho idade suficiente pra saber o que eu faço ou deixo de fazer. A Sofia não fez nada sozinha. Ela não me seduziu, como você prefere acreditar. Eu insisti. E eu nunca prometi nada à Anita, pelo contrário, eu sempre gostei da Sofia, desde o primeiro dia, embora tenha tentado lutar contra isso. Acho até que a Anita já sabe, pelo que ela disse no hospital. Foi tudo muito confuso, na verdade...

É tudo confuso, Benjamin! Você espera que eu acredite que um menino bom como você vai se apaixonar por uma cobrinha feito a Sofia sem nenhuma influência? Sem nenhuma chantagem? Aposto que ela abriu as pernas pra te conquistar e a Anita não.

– Olha quem fala! Pelo amor de deus, Bernadete, você se acha muito íntegra, né? Até parece que não vai pra cama de um homem bem mais velho, como é o meu pai, porque ele paga esses vestidos! – Gesticulou apontando as roupas da madrasta. – Você que é a interesseira. Você adora descontar em mim, me chamar disso, daquilo, quando, na verdade, quem não passa de uma puta que transa por dinheiro é você!

Uma sensação ardente cobriu a região esquerda de seu rosto, calando-a. Sofia levou os dedos à maçã direita do rosto. Estava quente. Demorou a notar que Ben havia imediatamente corrido para entre a garota e a madrasta.

– Você não ouse encostar nela de novo! – Benjamin se interpôs.

– Me desculpem, eu me exaltei. – Bernadete respondeu igualmente abalada. – Se a sua namoradinha me respeitasse um pouco mais, isso não teria acontecido.

– Se você me respeitasse, eu poderia retribuir. – A voz trêmula de Sofia respondeu. – Quanto ao “namoradinha”...

– Você acabou de dizer que a gente tava junto. Só depende de você.

– Não é o termo mais confortável...

– Sofia, sinceramente, depois dessa declaração toda?

– Ben... – Murmurou, implorando-lhe que fosse ainda mais compreensivo que já demonstrara.

Ben segurou seu rosto, apontando o fino queixo em sua direção, aproximando-a de si. Considerou a reação inesperada de Sofia. Era difícil para ela. Podia ter se apaixonado por qualquer garota mais aberta à ideia de se entregar a uma relação, a alguém. Não queria. Era Sofia sua dinamite, com todas suas defesas. Não a trocaria por nenhuma opção fácil.

– É... Agora que o show acabou, vocês podem nos dar licença, por favor? – Perguntou às duas mulheres, visivelmente envergonhado.

– Eu faço questão. Não vou ser conivente desse absurdo.

Sofia mordeu a língua contra qualquer resposta que se formasse. Não era a hora.

– Podem se despedir. Chega por hoje, Benjamin. Você vai pra casa e não volta. – Bernadete anunciou.

– O QUE? – Exclamou o casal em uníssono.

– Isso é ridículo, você não decide quem entra e quem sai, a casa não é sua! – Sofia a protestou.

– Tenho mais direito a decidir que você, que nem maior de idade é ainda! Espera só até o Caetano ficar sabendo...

Benjamin tentou vencer a imposição de Bernadete, sem sucesso. A madrasta de Sofia estava impassível. Empurrava-o rumo à porta com surpreendente força para uma mulher tão pequena. Sofia deixou escapar um risinho debochado. Não a culpava, era uma cena realmente esquisita.

– Eu tô saindo, não precisa mais empurrar! Ó,saí! – Resmungou da porta.

Lançou um último olhar à loira. Sorriu. Ela ainda ria da situação. “Vai ter volta” gesticulou para que só ela entendesse. Esquecera seu beijo de despedida. Voltou-se para a entrada. Estava novamente fechada. Talvez fosse louco. Amava Sofia, era louco. Afastou-se rapidamente da porta, contornando os muros.

–$-

Sofia havia subido para seu quarto o mais rápido possível. Não estava com paciência para a madrasta e suas questões não resolvidas de mais cedo ainda a alarmavam. Mandou mensagem para que Flaviana a encontrasse e buscou respostas temporárias em suas revistas. Um som de bico de pássaro contra a janela interrompeu o seu folhear das primeiras páginas. Mirou a janela, nada novo. Uma pedra se chocava contra o vidro, provocando o mesmo som. Agitou-se em sua direção, sua vista dava para o jardim, que agora servia de palco para um certo garoto de olhos verdes.

– Ben? – Murmurou confusa.

Benjamin parecia estar com plano traçado, sabendo exatamente onde pisar até conseguir vencer a barreira do andar que a separava dele. Sofia levantou o vidro e o deixou entrar, sendo recebido com um beijo apaixonado. As mãos masculinas logo encontraram sua cintura, suas costas, seus cabelos. Afastou-se por fôlego, embora não fizesse questão de respirar se a tivesse consigo.

– Eu disse que ia ter volta. – Pronunciou sua voz ofegante.

– Você é maluco! – A garota se exasperou. – E sem “por você”, por favor, é brega.

– Sofia... – Balançou a cabeça, rindo. – Você não vai conseguir fugir disso por muito tempo. Hoje é declaração na frente da Bernadete, amanhã é ursinho de coração.

– Nunca! – Tentou conter o riso.

– Você vai ver... Você vai aprender a gostar e, quando isso acontecer, nem vai ter percebido. Você vai acabar gostando de nós dois.

– Eu posso até gostar de você, mas de coisa de casalzinho é um pouco demais.

– Você já gosta, só não percebeu ainda.

Beijou-a antes que a loira pudesse argumentar. Direcionou-a atrapalhadamente até a cama, demasiadamente embriagado pelo seu perfume favorito, mal conseguindo conduzir seus dois pés em algum ritmo que fosse. Não se passaram dez minutos antes que um som agudo os pusesse em alerta.

– Flaviana chegou. Hora de ir pra casa, Romeu. – Anunciou desanimada.

Com a mesma decepção estampando seu rosto, Benjamin se levantou aos poucos, incapaz de deixá-la mais cedo. Ajeitou sua camisa e seu cabelo desarrumado. Olhou-a por um momento, tentando guardar a imagem por tempo suficiente para que conseguisse passar um dia sem ela. Sofia o acompanhou até a janela, dando-lhe um último beijo.

– Até amanhã. – Murmuraram em uníssono antes que o garoto finalmente descesse.

Observou-o até que pisasse o gramado. As aulas de Le parkour nunca lhe foram tão úteis. Voltar à sua cama foi o suficiente para que Flaviana chegasse ao quarto.

– Que sorriso é esse? – A amiga perguntou desconfiada.

– Longa história. – Começou. Seu sorriso, inabalável.

Era a primeira vez que realmente contava a história a alguém, do começo ao presente, sem censuras. Era a primeira vez que se deixava contar. Flaviana, como sempre ótima ouvinte, devolveu-lhe a sonoplastia adequada, “uh”s e “ah”s com suas devidas entonações e durações. Devorava as informações como a seu filme favorito.

– Eu sabia! – Comemorou a amiga. – Eu sabia que você gostava dele! Eu sabia! Flaviana nunca erra, senhores! Eu conheço a minha amiga! Vamos ao que interessa: a Anita já sabe? Quando você contar, eu posso assistir?

– Flaviana! Não, ela não sabe, e nem vai saber. Esse é um assunto meu e do Ben, e nenhum de nós deve satisfações a ela.

– Isso é verdade, você viu o boy primeiro... Tô contigo, amiga! Anita tem mais é que continuar sendo trouxa, mesmo.

– Isso é sério, a Anita não pode saber. Por mais que a gente não deva nada a ela, eu conheço a minha irmã e não quero que ela sofra.

– Ah, Sofia, fala sério! Depois do tanto que ela fez a sua caveira pro Benjamin?

– A Anita tinha suas razões, eu aprontei, mesmo, e não escondo, mas eu me preocupo com ela. Quando eu descobri que ela gostava do Ben foi mais um motivo pra que eu esquecesse ele.

– E não funcionou. Você tentou, é isso que importa até onde diz respeito a ela. Agora, paciência, vocês estão juntos. Ou quase.

Sofia ponderou. Se fosse tão simples... Estava cansada de ser julgada pela família. Se Anita soubesse e interpretasse errado, e provavelmente iria, teria que aguentar ainda mais drama do Grajaú. Por enquanto estava na Barra, a salvo de qualquer novo tribunal, mas até quando? Não pretendia ficar. Amava a Barra, mas, com Bernadete dificultando... Tampouco queria vê-la todos os dias após o ocorrido de mais cedo. E, por mais que amasse seu pai, sentia falta de acordar todos os dias cercada pela parte da família que lhe importava, sua mãe e Pedro, e agora Ben. Sim, era obrigada a admitir que estava tendo dificuldade em encarar estar com ele por meras frações de dias. Talvez estivesse se tornando a romântica insuportável que Ben havia mencionado. Talvez estivesse começando a gostar de um “nós”, mais do que gostaria. Talvez, e só talvez, não se sentisse confortável com a forma como Flaviana dispensava sua história como uma aventura sexual com o irmão emprestado pobretão, um fetiche que logo passaria. Por mais que tivesse sido a primeira a notar que Sofia sentia algo por ele, ainda via esse algo, esse gostar, como mera atração. Era assim que ela mesma, Sofia, acreditava que o via, e saber que não era só isso ainda a assustava. Antes fosse... Talvez pudesse manter a ilusão da mera fantasia. Talvez com Flaviana não precisasse encarar o que, de fato, sentia. Não toda hora, não todo dia. Seria seu porto seguro, sua brincadeira de bonecas, seu faz de conta. Que o mundo pensasse que era uma mera aventura. Que Bernadete, Flaviana, Ronaldo, Giovana e qualquer um que descobrisse pensasse que era uma fixação inofensiva. Talvez não conseguisse mais negar a verdade, talvez, a essa altura, fosse impossível fugir daquilo que pulsava em suas veias, que o resto do mundo seguisse ignorante. Que ninguém mais soubesse, contanto que sentisse, que se deixasse livre para viver aquele a dois que tanto temia. Se tudo desse errado, sofreria em silêncio. Sempre vivera de fachada, não seria difícil. Ele sabia, era o suficiente.


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Notas finais do capítulo

À Lore e à Duda que não desistiram ;)