Sem Julgamentos escrita por AnaMM


Capítulo 19
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Notas iniciais do capítulo

Deixa eu só deixar registrado o apego que eu tenho em Sofia/Pedro, antes de mais nada ;) Espero que gostem.



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– Pensei que você fosse disfarçar. – Uma voz conhecida lhe chamou durante o intervalo.

Sofia a encarou confusa. Podia ver Benjamin a questionando mais à frente, parado no caminho para onde haviam marcado de se encontrar.

– Não se faça de sonsa, Sofia! Eu estou falando de você mal sair de casa e já estar toda felizinha, enquanto a nossa mãe sente a sua falta.

– Olha, Anita, eu realmente não tenho tempo agora pro seu mimimi.

– Ah, não? Posso saber o que é mais importante que a nossa mãe?

– Anita, olha só, eu to sem tempo pra sermão de miss correta. Pode ser outra hora? Obrigada. – Encerrou impaciente, tentando desviar da irmã.

– Não, você fica! – Puxou a loira para encará-la. – Olha aqui, Sofia, você faz o que você quiser da sua vida, se você é tão fútil a ponto de sair de casa porque é “bairro de pobre”, o problema é seu, eu desisto de você, mas pelo menos vê se não abandona a mamãe, também, ela não tem culpa de nada.

– Anita eu estou morando na Barra, não estou exilada por lá. – Parou por um instante. Talvez estivesse... – Enfim, eu vou visitar a dona Vera muitas vezes, pode ficar tranquila. Agora será que eu posso seguir com a minha vida?

Enojada, Anita se afastou. Não podia acreditar no quão insensível era sua irmã. Vera não merecia este tratamento. Buscou seus amigos pelo pátio. Precisava desabafar. Não sem antes, no entanto, ficar de olho na irmã. Por que tinha tanta pressa? Viu Sofia olhar para os lados como quem se escondesse e correr até o prédio da escola. A caminho de seus amigos, sentiu-se empurrar.

– Desculpa, Anita, foi mal, eu não te vi. – Benjamin explicou atrapalhado.

– Tá tudo bem, imagina. – A garota sorriu desconsertada.

– Você deixou esse livro aqui. – Entregou-lhe o volume. – Até depois. – E se afastou, tão rápido quanto chegara.

– O que deu em todo mundo? Já é o segundo apressado nessa família hoje. – Anita reclamou com Serguei e Julia.

– Como assim todo mundo? – Julia questionou.

– Ah, a Sofia tava igual. Eu fui falar com ela e ela mal prestou atenção.

– Até aí, nenhuma novidade, né, a Sofia não te suporta. – Serguei apontou.

– É, mas ela saiu correndo de um jeito...

– Ignora, Anita, não deve valer a pena saber, afinal, é a Sofia.

A garota concordou com a cabeça, observando Ben se afastar na mesma direção que Sofia havia seguido. De certo também queria lhe dizer umas verdades.

–x-

O almoço foi silencioso como a janta anterior. A cadeira vazia ainda à mesa parecia ensurdecer qualquer tentativa de conversa, ao contrário do que ocorria na Barra. Caetano puxava assunto direto para arrancar alguma informação de Sofia. Bernadete, por outro lado, a julgava pelo que não respondia. Foram longas duas horas até que Ben e a loira, em suas respectivas residências, se vissem livres da presença de adultos. Ou, pelo menos, dos que os incomodavam.

– Você tá bem, Vera?

– Ô, querido... – Vera passou a mão pelo cabelo de Benjamin. – Bem eu não estou, mas se é o que a Sofia quer, o que eu posso fazer?

– Você pode vir comigo visitar a Sofia. Ela vai gostar de te ver.

– Será?

– Claro! Ela abandonou o bairro, Vera, não você.

– Ai, você tem razão... Sabe, Ben, eu jurava que você detestava a Sofia... Pelo visto, você é o único além de mim e do Pedrinho que não se esqueceu que ela é só uma menina.

– Uma menina que apronta muito! – O garoto riu. – Mas se a gente não consertar aquela cabecinha agora, quem vai?

Vera sorriu para o enteado. Era ainda mais sensato do que imaginara.

– Eu vou chamar o Pedro, também, o que você acha?

– Acho ótimo... – Tentou disfarçar o incômodo. Não ficaria a sós com Sofia tão cedo.

Antes que Ronaldo pudesse vê-lo saindo com Vera, Ben se apressou para fora da casa, estendendo a mão para um táxi que recém passava pela rua.

–$-

– Sofia, visita. – Soraia anunciou da porta do quarto.

O sorriso da loira logo se agigantou ao ver Benjamin. E Vera. E Pedro. Por mais que quisesse estar sozinha com Ben, também se alegrava em ver a mãe e seu irmão favorito. Abraçou-os contente, beijando o rosto de Ben tão logo os soltara.

– Obrigada. – Sussurrou.

Vera observou a troca nada convencional entre os adolescentes. Haviam mudado muito um com o outro. Talvez ate formassem um casal bonitinho se não fossem “irmãos”...

– Mãe. – Pedro chamou sua atenção.

– Ah, sim, desculpa, eu me distraí. Ai, minha filha, a mamãe estava com tanta saudade! – Abraçou a loira novamente. – Daqui você não sai! – Apertou o abraço.

– Não é pra tanto, mãe, eu saí de casa ontem. – Sofia sorriu constrangida.

– Eu sou mãe, eu posso sentir saudade até por vocês estarem no colégio! Que ideia foi essa, minha filha? Você liga tão pouco pra sua mãe que a trocou por um bairro? – Vera perguntou dramaticamente.

– Não foi só isso, mãe. – Sofia confessou, preocupada com as conclusões de Vera.

– Então foi o que, minha filha? Pra mim você pode falar. O Ben incomodando já sei que não foi, que ele mesmo deu a ideia de vir te visitar. Ai, eu fico tão feliz em finalmente ver vocês dois se entendendo...

Sofia e Ben a encararam com sorrisos constrangidos.

– Ah, mãe, eles sempre se gostaram, só não queriam admitir.

– Fica quieto, pirralho... – Sofia o repreendeu entre dentes.

– Pois eu faço muito gosto que vocês tenham vencido aquele orgulho bobo de dividir pai e mãe e tenham virado amigos. Antes tarde do que nunca!

– Aham, antes tarde do que nunca... – Ben respondeu inocentemente.

–x-

– A gente já vai indo, filha. Eu tenho que terminar os meus bolos.

– Ah, mãe! – Pedro reclamou.

– Pedro, eu tenho que trabalhar e não tem ninguém pra te levar em casa depois.

– Eu posso! – Ben ofereceu. – Eu fico, depois eu volto com ele.

– Você faria isso, mesmo, Ben?

– Claro! – Concordou sorridente, embora tentasse esconder o entusiasmo em conseguir uma desculpa para ficar com Sofia.

– Ok, então vocês ficam. – Vera concordou, despedindo-se de Sofia.

Tão logo a mãe partira, o menino correu para o banheiro, deixando seus irmãos a sós. Ben sorriu para a loira.

– Enfim sós.

– Por pouco tempo, melhor aproveitar enquanto o pirralho não volta. Tá vendo? Quis bancar o certinho, a gente ganhou dois empatas. – Sofia reclamou contra o ombro de Ben, já abraçada ao garoto.

– Você gostou, e a Vera queria muito te ver. O Pedro também.

– É, talvez tenha sido uma boa ideia... – Sorriu debochada.

– Tá vendo? Não consegue nem negar.

– O que tá acontecendo comigo? Era pra eu negar que quisesse te ver, e não o contrário...

– É o amor... – Sussurrou debochado.

– Cala a boca. – Tentou conter o riso.

Olharam-se aos risos. Um olhar que logo os levou a outro mundo. Beijaram-se como se não houvesse mais ninguém na casa, como se o pequeno Pedro não pudesse entrar a qualquer momento... E entrou. Ao abrir a porta, o menino fechou os olhos e os abriu novamente, para acreditar no que via. Sofia e Ben se beijavam apaixonados, cada joelho dela de um lado das pernas do garoto, que estava sentado na cama, sua mão já descendo pela saia da loira. Não o viram, apenas escutaram o som da porta batendo.

– O que foi isso? – Sofia perguntou sem fôlego.

– Será que...? Espera aqui, eu vou...

– Eu vou junto!

Atravessaram o corredor em busca do caçula. Estava sentado na escada, brincando com alguma estatueta da coleção de Caetano.

– Pedro! – Chamaram em uníssono.

– O que você viu? – Ben indagou o pequeno.

– O que ele poderia ter visto, Benjamin? – A loira perguntou sarcástica.

– Ele pode não ter visto nada. – Ben retrucou.

– Meio difícil, da distância que vocês estavam da porta e àquele ângulo de onde o observador se posiciona...

– Que seja, você quer dizer que abriu a porta do quarto?

– Eu quero dizer que vi o beijo, Sofia, que já era quase outra coisa.

Sofia deu um tapa de leve no ombro do caçula.

– Como assim outra coisa? Pra sua idade, foi só beijo, sim.

– Sofia, apesar da minha pouca estatura, eu sei ler e interpretar textos. Eu não acredito mais em cegonha, não.

– Desculpa, Pedro, eu sei. Eu fico te subestimando... É porque eu tô nervosa, só isso.

– Nervosa porque eu vi vocês juntos ou porque a mamãe veio visitar?

– Os dois. – Confessou. – Você sabe, né, você é um menino inteligente, deve saber... Eu não saí por causa da mamãe.

– Eu sei. – O menino lhe assegurou.

– E quanto ao outro assunto, você vai ter que me prometer que não vai contar nada a ninguém, nem a ela.

– Pois eu acho que ela ia apoiar, você não ouviu ela falando?

– É diferente, Pedro, entre nós sermos amigos e nós sermos... Bom...

– E vocês se beijarem.

– Isso. Entre um abraço e um beijo, ou vários, no caso, tem um abismo de diferença.

– E qual o problema? Vocês se gostam, tá na cara, e a mamãe sabe disso.

– Ela sabe? – Sofia perguntou desconsertada.

– Ele quis dizer que ela sabe que a gente gosta um do outro, o que é verdade. Só não sabe o quanto a gente realmente gosta um do outro.

– Ih, tá se achando...

– Qual é, Sofia, até o Pedro já percebeu! Você morre por mim!

– Você está me subestimando? – O menino cobrou ao ouvir o “até”.

– Não foi o que eu quis dizer. – Ben corrigiu.

Sofia riu da troca entre Ben e o irmão. É, não conseguiria ter passado um dia inteiro longe de seu caçula.

– Pedro, é sério, você promete guardar segredo? – Benjamin pediu em tom sério.

– Eu prometo não falar nada, mas por que vocês não me contaram? – Cobrou decepcionado.

– Ah, Pedro, você sabe como é... A sua irmã é sempre a última a aceitar o que sente...

A loira o encarou repreensora.

– Falei alguma mentira? Você já admitiu e continua tentando negar! – Benjamin se divertiu.

– Isso é verdade. – O pequeno concordou rindo.

Irritada, a loira voltou ao assunto.

– Bom, agora você sabe. Eu e o Bem estamos... É... A gente tá ficando. Caso você não saiba o que significa-

– Eu sei o que significa.

– Ok. Então é isso aí.

– Só?

– É, só, você queria o que? Que a gente estivesse noivo, por acaso? – Brincou.

– Não seria uma má ideia, caso vocês não fossem tão novos.

– Falou o maduro! – Benjamin debochou. – De qualquer forma, ainda dá tempo. – Piscou para Sofia.

– Ainda dá tempo de você aprender a não ouvir o seu irmão. – Sofia repetiu o gesto de Ben para o caçula, debochada.

– Eu gosto disso. – Pedro comentou após uns segundos de silêncio banhados por trocas de olhares entre seus irmãos. – Eles que saem perdendo por não saber.

– É por isso que eu gosto de você, maninho. – A loira respondeu, abraçando-o.

Pedro ainda lhes fez companhia por um tempo até, enfim, deixá-los realmente a sós. Diria que o irmão o deixara no Grajaú de táxi e seguira para alguma praça a fim de praticar Parkour.


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