Locked Out Of Heaven. escrita por Larissa S


Capítulo 1
Nowhere left to run.


Notas iniciais do capítulo

Bom, aqui começa mais uma das minhas idéias malucas... Sejam muito bem vindas ♥



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O toque estridente do alarme em seu celular fez com que o jovem soltasse um suspiro cansado, enquanto continuava sentado no carro, os olhos perdidos na imensidão do lugar onde crescera: sabia que dentro de poucos minutos precisaria armar-se com um sorriso entusiasmado e fazer com que os pais acreditassem que estava lidando bem com o caos dos acontecimentos recentes, ou aquelas reuniões familiares praticamente desnecessárias jamais teriam fim. Não havia outra alternativa.

-  Vamos lá, Edward. Apenas entre lá, fale um pouco sobre o seu dia, coma alguma coisa e dê o fora com a desculpa que precisa estudar pras provas finais. Você consegue, cara. - murmurou pra si mesmo, a voz soando estranha aos próprios ouvidos, antes de sair do carro e praticamente arrastar-se até a varanda pintada em cores neutras.

Esme abriu-lhe a porta antes mesmo que pudesse bater, um sorriso sereno estampando-lhe os lábios assim que pousou os olhos sobre o rosto do filho, e não hesitou nem por um segundo antes de puxá-lo para um abraço apertado.  Edward estava em casa. Finalmente.

- Pra que você tem um celular se nunca atende as ligações, querido? - perguntou, a  voz sendo abafada pelo tecido da camisa masculina sobre a qual apoiara o rosto á alguns segundos.

- Desculpe, mas eu estava estudando, e além disso, sabe o quanto eu detesto falar ao telefone, dona Esme. - rebateu, os olhos rondando a sala ricamente decorada enquanto falava- onde está o papai?

-No escritório, conversando com um velho amigo.

- Ele vai ficar pro jantar? - perguntou, pedindo aos céus pra que a resposta fosse negativa: se houvesse um convidado, ele seria obrigado a fingir por mais tempo do que acreditava ser capaz.

- Não tenho certeza, filho. Charlie passou por muita coisa nos últimos meses e já é quase um milagre que tenha vindo nos visitar

- Charlie? Como em Charlie Swan?- sua mente lembrava-se vagamente de ouvir o nome em algum noticiário da última semana, mas o jovem não prestara atenção á reportagem: o que teria acontecido?

- Sim ,filho. Seu pai o conheceu na faculdade e eles mantêm contato até hoje - enquanto falava, Esme entrelaçou seus dedos aos dele antes de se afastar para encará-lo.

- Posso perguntar o que houve com ele? Acho que ouvi alguma coisa na TV  mas não me lembro exatamente o que - confessou, para logo em seguida esfregar o rosto numa tentativa falha de espantar o sono: todas aquelas noites passadas praticamente insone tinham começado a cobrar seu preço, afinal.

- Em que mundo você vive,Edward? Sei que o que a mídia faz é horrível, mas como consegue ignorar? A internação de Isabella é o único assunto em que aqueles abutres parecem interessados nos últimos dias...

- Internação? Quem é essa garota,e porque o fato de ela estar doente é notícia? - o jovem ficava mais confuso a cada minuto que passava,as palavras se embolando em seus ouvidos.

- Bella é filha de Charlie,Edward. Ela tem 17 anos e bem....desde que perdeu a mãe em um acidente de carro, parece estar enlouquecendo.

Aquelas palavras atraíram sua atenção, e um arrepio gelado desceu-lhe pela espinha: apesar de ser completamente apaixonado pela profissão que escolhera, ainda não conseguia deixar de impressionar-se com o impacto que um distúrbio mental, por mais simples que fosse, podia causar na vida das pessoas. Era quase irreal.

Os passos ritmados e conhecidos  acompanhados pela voz serena de Carlisle fizeram-se ouvir antes que  o garoto tivesse tempo para fazer mais perguntas, e ele teve de lutar pra não demonstrar o choque e a surpresa que lhe acometeram no momento em que seus olhos pousaram sobre a figura ao lado do pai: altura mediana, roupas em desalinho, olhos tristes e semblante esgotado. O  luto transformara Charlie Swan num mero fantasma do homem seguro e altivo que costumava aparecer nos jornais.

O jantar foi uma das ocasiões mais estranhas que Edward já presenciara em 26 anos de vida: sentado ao lado da mãe, na ponta direita da elegante mesa que acomodaria sem esforço mais de 20 convidados, passou cerca de uma hora ouvindo o pai relembrar acontecimentos passados, tomando um cuidado quase exagerado com a escolha de cada palavra que pronunciara, enquanto Charlie o observava com os olhos baixos e mexia a comida de um lado pro outro, sem realmente se alimentar. A sobremesa acabara de  ser servida quando a conversa voltou-se pra ele num rompante inesperado:

- Olha, Charlie, Edward se formará daqui a dois meses, é um dos melhores alunos do curso de psicologia...talvez ele conheça alguém que possa ajudar...com o caso de Isabella.

- A menos que ele consiga enfiar na cabeça da garota que a mãe dela está morta e que entrar em crise por isso não vai resolver o problema, não vejo como ele pode ajudar - aquela foi a primeira e única vez em que a voz do senhor Swan foi  ouvida durante a refeição, e Edward estava prestes a dar-lhe uma resposta malcriada em contra partida a forma fria e quase cruel como se referira á filha quando percebeu as lágrimas escorrendo.

 A sala caiu num profundo silêncio,e o homem nem sequer deu-se ao trabalho de tentar esconder o choro: apenas ficou ali, parado,os olhos fitando um ponto específico da parede imaculadamente pintada a sua frente.  Três pares de olhos chocados o seguiram quando Charlie pareceu usar cada fibra de força em seu corpo para levantar-se e deixar a mesa, e quando o patriarca da família finalmente conseguiu se recuperar o bastante para segui-lo, era tarde demais : ele já havia partido.

Esme esforçou-se ao máximo para fazê-los esquecer  aquele acontecimento no mínimo incomum, mas acabou desistindo: nada que ela dissesse parecia ser capaz de capturar o interesse do filho, muito menos aliviar a expressão culpada do marido. As despedidas foram rápidas, e quando Edward partiu,ela percebeu que havia nele resquícios de  uma determinação desaparecida a dias. Mesmo que não pudesse entender o que causara o repentino brilho nos olhos intensamente verdes que conhecia  desde sempre, ela estava empolgada: as coisas finalmente estavam começando a se acalmar.

[.....]

Um suspiro frustrado escapou por entre os lábios de Edward no momento em que a voz educada e profissional soou do outro lado da linha: “Sinto muito senhor            , mas a paciente ainda não está autorizada a receber visitas e se recusa e atender aos seus telefonemas.”  Depois de quase três semanas tentando comunicar-se com Isabella Swan e ouvindo a mesma resposta, era de se esperar que ele já tivesse se habituado, e não que a sensação de impotência que lhe acometia ao fim de cada ligação piorasse.

Pra ser absolutamente sincero, o jovem nem mesmo entendia o que estava querendo fazer: não era como se apenas sua voz fosse ser suficiente pra acabar com os problemas que a garota estava enfrentando – se é que ela realmente tinha algum. Parte de sua mente ainda atormentava-o com a possibilidade de  tudo aquilo não passar de um estratagema para chamar atenção da mídia- e além do mais,  o que ele poderia dizer? Merda, eles nem ao menos se conheciam!

Mal aquele pensamento apareceu, foi sobrepujado pelo acontecimento que tinha  dado início a toda aquela loucura. Assim como em quase todos os outros dias, o Cullen tivera dificuldades pra dormir depois daquele  jantar na casa dos pais, e acabara sentado em frente ao computador  em busca de mais informações sobre a família Swan.

Quase todos os sites de notícia  exploravam a tragédia que  recaíra sobre eles, mas foi uma imagem antiga que chamou-lhe mais atenção: a foto fora tirada cerca de dois anos atrás, durante a luxuosa festa  de 15 anos de Isabella, e nela a garota aparecia de braços dados com uma mulher que só poderia ser descrita como uma versão mais madura de si  mesma, sorrindo como se o mundo fosse um lugar absurdamente perfeito.

Edward passou incontáveis minutos encarando a imagem, e quando finalmente se cansou, cada pequeno traço daquele rosto delicado parecia ter sido gravado á ferro em sua memória, e o rapaz estava decidido á encontrar uma forma de mostrar á Isabella que, embora o  mundo infelizmente não fosse uma máquina de realização de desejos, ainda era possível encontrar motivos pra continuar.

             Pelo menos era disso que ele vinha tentando se convencer no último ano.

[...]

O incômodo causado pela sensação de ter cada um de seus movimentos vigiados poderia ser facilmente comparado á de um bando de insetos rastejando sob sua pele, então foi uma agradável surpresa para a garota dar-se conta de que finalmente estava começando a ser capaz de ignorá-lo:  se ela se concentrasse o suficiente, podia até mesmo transformar o barulho quase ensurdecedor que os outros “pacientes” faziam em um tipo estranho de estática, um som quase amigável.

Isabella não tinha certeza de quanto tempo se passara desde a manhã em que chegara aquela clínica, mas aquilo na verdade não importava: se pudesse esquecer o maldito toque de recolher,o fato de que não tinha permissão nem mesmo para ir até a livraria que freqüentava desde os seis anos de idade,  e a completa perda de tempo que eram as sessões inúteis de terapia que todos diziam ser apenas parte de seu “tratamento”, estar ali não era de todo ruim.E, enquanto os médicos dissessem que ela não podia receber visitas, Charlie seria obrigado á deixá-la em paz.

- Senhorita Swan, tem certeza de que não quer atender ao telefone? – mesmo que seus pensamentos estivessem um tanto confusos graças á grande quantidade de medicamentos que tomava todos os dias, não foi difícil reconhecer o tom doce e reconfortante na voz de Ângela, e isso fez com que a garota desistisse da resposta malcriada que quase escapara por entre seus lábios.

- Tenho, Ang. Meu pai só está ligando pra cá porque é isso que esperam que ele faça, e além do mais, tenho certeza de que os médicos já lhe disseram que eu não apresentei nenhuma “melhora”,  e se nos falarmos, isso só vai piorar as coisas. Diga á ele que eu estou dormindo, sim?

- Não.... não é o seu pai quem está ligando, Bella – enquanto falava, a jovem enfermeira olhava de um lado para o outro incessantemente, quase como se estivesse com medo de ser pega fazendo algo errado – é ele de novo.- confidenciou.

- Ah, não. Quando é que esse idiota vai se cansar, afinal? – a garota nem mesmo tentou conter o suspiro exasperado que lhe escapou, e finalmente desistiu de continuar observando a chuva que parecia golpear as janelas com cada vez mais força.

- Não seria melhor se você falasse com ele, querida? Talvez assim o cara finalmente desista.- Ângela sugeriu, sorrindo de maneira conciliadora  numa tentativa de evitar que Isabella se aborrecesse. A maioria dos empregados da clínica evitava qualquer contato com a garota: estavam sempre temendo que ela entrasse em outra crise de repente, e talvez por isso a loira  tivesse se apegado tanto á ela, mesmo sabendo que as duas jamais poderiam ser amigas de verdade.

O único indicador de que a mais nova tinha ouvido suas palavras foi o fato de ela ter se virado na cadeira e voltado a observar a chuva cada vez mais forte que derramava- se sob  a cidade. Ângela ainda esperou por alguns segundos,  parada no mesmo lugar e desejando fervorosamente que algo fizesse Isabella mudar de idéia, porque até mesmo ela estava começando a ficar curiosa sobre as intenções do dono da voz calma e de tom profundo com quem conversara nas últimas semanas, mas, quando os segundos se arrastaram sem que nada mudasse, suspirou de maneira cansada e tentou soar normalmente quando anunciou:

- Não se esqueça de que amanhã precisa conversar com o doutor Carter, Bella. Ele não ficou exatamente animado por ter de esperar por mais de três horas da última vez.

- Pois pra mim, ele não tem do que reclamar: recebe uma pequena fortuna por cada uma dessas sessões idiotas, e nem ao menos tem que ouvir meus delírios como faz com os outros pacientes... – uma pequena risada escapou pelos lábios de Isabella antes que ela continuasse – mas não se preocupe, eu prometo não me atrasar, ao menos dessa vez.

A enfermeira demorou-se apenas o suficiente pra dar á garota mais uma dose de seus remédios, e deixou o aposento fingindo não ter sido capaz de ouvir quando Isabella sussurrou “Sinto sua falta, mãe” antes de voltar a recostar-se na cadeira e perder-se em seus próprios pensamentos, decidida a ignorar a dor que sentia a todo custo, mesmo que  tivesse de fazê-lo através daqueles malditos comprimidos.

(...)

O extenso corredor em que ficavam  os consultórios dos psicólogos e psiquiatras contratados pela clínica já estava completamente vazio quando Isabella despontou por ele, o que deu-lhe a certeza de que tinha perdido a hora mais uma vez. Sem nenhuma paciência pra ouvir outro dos sermões de Landon, ela apressou-se o quanto pode e atravessou a segunda porta a direita sem se preocupar em bater, algo de que  só mais tarde começaria a se arrepender.

- Desculpe atrapalhar.. –murmurou, assim que seus olhos pousaram no homem sentado casualmente em uma das poltronas. Mesmo sem ter idéia de quem se tratava , podia apostar como aquele era seu primeiro dia naquele inferno: o cara certamente não pareceria tão tranqüilo se fosse diferente, e apesar do olhar penetrante e das roupas perfeitamente alinhadas, ele era novo demais pra pertencer ao quadro de funcionários.- eu... devo ter entrado na sala errada.

- Você é Isabella Swan, certo? – o tom de voz era profundo e cadenciado, e ele tinha se aproximado antes mesmo que a garota  pudesse reagir corretamente- Sou Edward Cullen e é um prazer finalmente conhecê-la. Algum motivo especial pra que a senhorita tenha ignorado minhas tentativas de contactá-la nas últimas semanas?

- Como foi que entrou aqui, e o que quer? – a resposta ríspida  acabou com a sombra de sorriso que ameaçara  surgir nos lábios do homem, e Bella começou a se acalmar: precisava manter a cabeça fria e dar um jeito de tirá-lo dali o quanto antes.

- Sou um estudante de psicologia, e acabei descobrindo que seu terapeuta também trabalha no mesmo hospital que meu pai. Como parecia não haver outra maneira de conversarmos, acabei perguntando á ele se podia participar de uma de suas sessões, e bem... aqui estou. – respondeu, como se aquilo fosse a coisa mais natural de todas.

- E o que o faz pensar que eu queira conversar com alguém como você? Qual é, eu nem ao menos o conheço!- aquela conversa ficava um pouco mais esquisita a cada momento, e Bella já considerava a possibilidade de voltar correndo pelo mesmo caminho que viera. Apesar da beleza, aquele homem parecia ainda mais maluco que todos os outros naquele lugar, e sua mente entrara em estado de alerta a partir do momento em que ele dissera seu nome.

- Temos tempo pra mudar isso, muito embora eu não possa garantir que vá gostar de mim quando me conhecer. E antes que diga que não vem colaborando com nenhum de meus colegas de profissão, devo avisá-la de que já fui informado desse  detalhe e que sou alguém extremamente paciente. Não sei exatamente o porque, mas o fato é que estou disposto a  tentar tudo que estiver ao meu alcance pra ajudá-la, Isabella, e não pretendo desistir. Portanto, só me resta perguntar: de que maneira faremos isso?

- Se espera que eu diga que vou facilitar as coisas, é melhor pensar duas vezes, doutor. – ela nem mesmo tentou disfarçar o sarcasmo que escorria em suas palavras, e aquele momento foi o mais perto da felicidade que a garota chegou em meses, por isso continuou. – Quer perder seu tempo, comigo? Ótimo. Parece que a sua vida é uma merda ainda maior que a minha, isso pode ser interessante.

- Você se surpreenderia se eu contasse, pode apostar. -  o homem voltou ao lugar onde estava quando a morena entrara antes de declarar – sente-se pra que possamos conversar, ou o que quer que você esteja a fim de fazer, Isabella. E ah, caso esteja considerando a possibilidade de me ignorar, esqueça: seu pai permitiu que nos encontrássemos... não há nenhum lugar pra onde você possa fugir.




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Notas finais do capítulo

E ai, alguém disposto a saber onde é que isso vai dar?