Eyvrill escrita por Hadrian Marius


Capítulo 1
Capítulo 1




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                Fazia um bom tempo que a chuva caia. Parn e Deedlit tentavam se proteger da melhor maneira debaixo de suas capas, no lombo do cavalo. O certo seria procurar um abrigo mas estavan cruzando uma area descampada e parecia que não haver nenhuma vila por aquelas bandas. O guerreiro sentia sua companheira tremer na garupa do cavalo e se preocupava. Não sabia se elfos podiam ficar doentes e, nem queria descobrir.

                "Tudo bem Deed?".

                A alta-elfa iria responder quando um grito, entrecortado pelo choro, tapou-lhe a boca. Imediatamente Parn puxou as rédeas, ordenando que o cavalo trotasse até o local do grito.

                Pouco tempo passou até que pudessem vislumbrar silhuetas em meio a chuva: Tres homens espancavam um quarto caído enquanto um quinto segurava uma menina que gritava desesperadamente. Os dois aventureiros chegaram a tempo de verem o homem que segurava a menina aplicar-lhe um tapa, com um intuito de que ela parasse de gritar, que jogou a criança ao chão.

                "O que vocês pensam que estão fazendo?", Parn gritou ao desmontar.

                "Não se metam. Ou terão o mesmo destino deste velho e sua filha", o que acabara de agredir a menina esbravejou, sacando uma espada. Seus comparsas seguiram seu exemplo e sacaram suas armas, esquecendo-se do homem caído.

                "Porque vocês não deixam esta gente em paz e se vão sem problemas", Parn voltou a falar. Sua mão crispava o cabo da espada.

                "Acho que você não entendeu garoto. Quem tem um problema aqui é você!!!!", aquele que parecia ser o lider do bando avançou, na direção de Parn, ameaçadoramente.

                O cavaleiro de Valis bloqueia o ataque e empurra o inimigo com a sola da bota, fazendo-o se desequilibrar e cair na lama. Vendo seu lider caido todos os homens avançam contra o rapaz. Cientes de que sua superioridade seria suficiente mas, ao avançarem dois passos percebem um vulto pousando ao lado do jovem.

                Deedlit que até então tinha se mantido fora da disputa, porque havia sido ignorada pelos homens que certamente pensaram se tratar de uma simples garota humana, encharcada e com frio, decidira intervir ao ver que a vantagem numerica poderia ser desfavoravel para seu companheiro.

                Com este intuito ela saltou do animal e pousou graciosamente ao lado de Parn revelando sua cabeleira dourada e suas faces elficas. A surpresa abalou os atacantes por uns instantes mas, instigados por seu chefe, voltaram a avançar.

                Aqueles salteadores não eram pareos para os jovens veteranos. Quando o primeiro deles tombou ante o fio da espada de Parn os outros se precipitaram, em debandada, pelo meio da chuva até desaparecerem. O cavaleiro suspirou voltando-se para as vítimas dos bandidos. Deedlit já procurava reanimar a menina.

                "Oi??!", chamou, retirando a lama da face dela, "Você está bem?".

                A garota gemeu e abriu os olhos que cairam sobre o corpo, desfalecido de seu pai. Num ato, que consumiu o restante de suas forças, ela se desvencilhou dos braços da elfa e se atirou na direção do homem. Balbuciou palavras, que se misturavam com os soluços de seu choro, durante os segundos que lhe restavam de consciência.

                ****************

                O fogo crepitava, consumindo a pouca madeira seca que encontraram. Seu brilho, preguiçoso, subia pelas paredes da caverna, junto com a fumaça. O calor banhava o corpo da menina que se encontrava deitada próxima a fogueira. Parecia dormir tranqüilamente.

                Parn estava próximo a entrada, olhando a chuva que continuava caindo com toda sua furia enquanto que a Alta-elfa permanecia proxima ao fogo. Seus olhos passeando entre o pai e a filha, demorando-se mais nesta do que naquele. De fato algo, na menina, a incomodava; era uma sensação que não saberia explicar mas que sentira a muito tempo na Floresta do Esquecimento. Infelizmente, suspirou, não conseguia se lembrar por mais que se esforçasse.

                "Parn!!?", ela chamou assim que a menina se mexeu, anunciando que acordara. A  garota gemeu ao tentar se sentar. Deedlit apoio-a oferecendo o cantil com água. Ela aceitou, bebendo com ávidez.

                "Ele esta bem, agora. Só precisa repousar", a elfa tranqüilizou garota quando ela olhou, aflita para seu pai, "Qual é seu nome?"

                 "Eyvrill!", balbuciou, "Eyvrill, filha de Dhionasz, o moleiro".

                "Eu sou Deedlit e aquele rapaz ali é o Parn", a menina esforçou-se para sorrir.

                "O que vocês estavam fazendo por estas bandas?", Parn perguntou, se aproximando. Lá fora a chuva dava sinais de que pararia.

                "Meu pai foi até o templo de Marfa", ela parou para mordeu um naco do pão que Deedlit lhe estendeu, "Como o tempo fechou, meu pai decidiu voltar o mais rápido possivel. Ele não queria deixar minha mãe sozinha e então apareceram aqueles hom...", foi o máximo que ela conseguiu dizer pois as lágrimas ameaçaram aflorar, sendo acalentada pela elfa.

                "Tente dormir mais um pouco".

                A menina obedeceu e deixou-se cair sobre a manta que usava como cama. Seus olhos se fecharam e apenas sua respiração pode ser ouvida na caverna.

                *****************

                A chuva já havia partido para outra região de Lodoss e os dois jovens atravessavam o bosque. Deedlit e Parn caminhavam a pé enquanto que o cavalo arrastava uma maca, feita de galhos e folhagens, onde Eyvrill e seu pai repousavam. O velho moleiro ainda não havia acordado, apenas ouvia seu gemido baixo, o que preocupava Deedlit. Esta tinha enpregado todo seu conhecimento em ervas para aliviar os traumas mas tudo indicava que o pobre homem havia sido espancado mais que o tolerável. Ela expos sua preocupações para o cavaleiro.

                "Não se preocupe. Ele já é um homem velho e por isso precisa de mais descanso que nós. Logo estaremos chegando na casa deles e ai ele poderá se recuperar com mais facilidade".

                A elfa aceitou a explicação de seu companheiro, afinal não entendia muito de pessoas idosas; tal coisa não existia entre os elfos.

                "O que me preocupa é Eyvrill...", olhou para a menina, que permanecia debruçada sobre seu pai. Não dormia, apenas parecia sussurrar uma prece ou uma canção para o mesmo.

                Parn compartilhava da mesma preocupação mas estava convencido de que a menina se recuperaria, e expos isso a elfa tentando tranquiliza-la, e que o destino dela teria sido muito pior se não tivessem aparecido.

                Caminharam por mais algumas horas até que vislumbraram o fim do bosque. De onde estavam podiam ver todo o vale que se estendia após o mesmo, no seu centro se via os contornos de uma vila. Deedlit chamou a atenção de Parn apontando uma edificação que ficava mais afastada; ela era cônica e em seu todo se via nitidamente as pás que formavam as hélices.

                "Eyvrill?", Parn chamou despertando a atenção da menina que se aproximou deles. Seus olhos luziram ao verem o vale, sua boca esboçou um sorriso ao mesmo tempo alegre e melancólico.

                "Minha casa é aquela lá", apontou o moinho, "Ali passa o rio e meu pai achou melhor construi-lo daquele jeito para que quando não tivesse vento ele ainda pudesse trabalhar".

                "Seu pai é um homem engenhoso", o cavaleiro de Valis sorriu.

                *******************

                               

                O caminho, que a principio, se mostrava fácil, revelou-se acidentado. Fazendo com que o avanço fosse lento. Eyvril, como conhecedora do terreno, ia a frente enquanto Parn guiava, e acalmava, o cavalo. Deedlit acompanhava a maca, atenta. Não foram raras as vezes em que teve de segurar o idoso, que ameaçava cair, por causa de um solavanco.

                "Devemos parar um pouco, Parn!", ela pede, a certa altura, e é atendida. Assim que o rapaz acalma o cavalo ela passa a acomodar o homem, restituindo-o a posição que estava antes de iniciarem aquela descida.

                "Vou aproveitar e trocar os emplastos", ela pousa a mão sobre a testa dele, "Apesar da febre, ele vai ficar bem. Só precisa descansar sobre uma cama de verdade...".

                "Onde está Eyvrill?", Parn pergunta, ao notar que a menina não está perto deles. A elfa responde-lhe apontando para um tronco caido no descampado; a menina estava sobre ele, seus olhos fixos no moinho, com o cabelo a balançar por causa do vento.

                "Deve estar ansiosa para chegar em casa, coitada".

                Ambos chamam-na e ela se vira; seus olhos exprimem uma tristeza que parece vir da profundeza de seu ser. As lágrimas escorrem pela face e ela procura enxuga-las com a manga do vestido enquanto engole o choro. Eles se veem trocando um olhar de dúvida e pena.

                "Vamos!?", Deedlit segura em sua mão, sorrindo para tranquiliza-la.

                Os ultimos obstaculos foram vencidos e agora estavam na pequena estrada que levava ao moinho, Este surgia imponente na frente deles.

                "Porque você não vai na frente e avisa sua mãe que estamos chegando", a alta elfa sorri para a menina, "Assim quando chegarmos tudo estara pronto".

                Eyvrill dá alguns passos para frente mas para, como se hesitasse.

                "Eu queria tanto rever minha mãe", diz a meia voz, como num lamento, "Mas..."

                Não completa a frase e sai em disparada na direção de seu lar. Seu trajeto é acompanhado pelos olhos de ambos, até que desapareceu por detras de um arbusto. Suas mentes se perguntando o porque daquela menina ter começado a se entristecer a medida que se aproximavam de sua casa.

               

                *****************

                Um pequeno jardim enfeitava a entrada da casa simples que ficava ao lado da estrutura cônica do moinho, cujas pas, quase tocavam o chão, estavam inertes. O grupo, formado pela elfa, seu companheiro e o cavalo que arrastava a maca com o doente estavam a poucos metros da porta da mesma quando a porta se abre, revelando uma mulher.

                "Dhionasz!!!", a soltou um grito angustiado ao ver a maca. Abandonou a porta e se atirou sobre o corpo do homem, em soluços, "O que fizeram com você meu querido?".

                "Ele esta bem", Parn afasta-a, "Só precisa descansar, numa cama, por alguns dias. Podemos leva-lo para dentro?".

                "Mas é claro", a mulher se recompõe, indicando a porta.

                O cavaleiro levanta o homem da maca, improvisada, e seguindo a mulher, leva-o para dentro da casa.

                ****************

                O moleiro já havia sido alojado em sua cama e ambos os jovens estavam sentados em uma mesa enquanto a mulher, que se chamava Sylvia, depositava sobre a mesma dois pães, um naco de carne, um jarro de vinho e varias frutas.

                "Por favor sirvam-se", disse sorridente, "Sinto não poder recompensa-los adequadamente por tamanha generosidade"

                "Não há o que agradecer, senhora. Fizemos apenas o que era correto", Deedlit, que pegava uma maçã, sorriu.

                Sylvia volta-se para o cavaleiro que parecia irrequieto. Seus olhos vagueavam por todos os cantos da morada, "Alguma coisa o incomoda Sir Parn?"

                "Onde está Eyvrill?".

                A pergunta, simples, foi recebida pela mulher como uma bofetada. Ela sente seu corpo estremecer e as forças se esvaírem. Se não fosse a rápida reação da elfa, que a acudiu, ela teria desabado. Deedlit sustenta-a até que Parn arrasta uma cadeira para que ela se sente.

                "A senhora está bem?", a alta-elfa pergunta aflita.

                "Porque fazes isto comigo, jovem cavaleiro?", ela olha para Parn, seus olhos trazem tristeza e angustia misturados, "Já não basta o sofrimento que sinto pelo estado em que se encontra meu marido e tu me lembras de um sofrimento ainda maior?"

                "Porque lhe causamos um sofrimento maior? Nâo compreendo", Deedlit se agacha próximo a ela, acariciando-lhe as mãos, na tentativa de acalma-la, "Nós apenas queremos saber onde esta a menina que veio na nossa frente para avisa-la...".

                "Ela disse que se chamava Eyvrill e que era sua filha", Parn complementa.

                Sylvia balança a cabeça negativamente. Lutava contra os soluços que ameaçavam romper-lhe a garganta.

                "Não pode ser....minha pequena Eyvrill voltou ao seio de Marfa a um ano... foi por isso que meu marido foi até o templo... para prestar homenagem a sua alma de criança...", não conseguiu segurar mais e o pranto rompeu-lhe o seio.

                Os dois jovens olharam-se por um longo tempo. Suas faces refletiam o turbilhão que se apossava de suas mentes.

                "Mas então? Quem era a menina que veio avisa-la sobre...".

                "Ninguém veio me avisar; Eu estava fiando quanto senti que alguem se aproximava então fui até a porta e...os vi chegar...", Mais uma vez ela foi envolvida por sua dor e suas lágrimas molhavam-lhe o colo, e as mãos da elfa.

                Parn olhou para sua companheira, que tentava acalmar a mãe sofredora, e sentindo-se incapaz de fazer algo disse-lhe que sairia para cuidar do cavalo. Era uma boa desculpa. A única que tinha para deixar aquela casa e tentar compreender as palavras da mulher sobre o destino de sua filha. A mesma filha que tinha caminhado ao lado deles...

                *****************

                O dia raios belíssimo. Os raios solares eram recebidos por alegres girassóis. Do lado de fora da casa um cavalo relinchava, impaciente.

                "Logo ele estará bem", Deedlit reconfortava sua anfitriã, "Mais alguns dias de descanso e ele estará em plena forma".

                "Sinto-me constrangida por não poder lhes oferecer alguma recompensa pelo que fizeram por nós".

                "Você não nos deve nada, Sylvia", Parn saltou sobre o cavalo, "Fizemos o que tinha de ser feito".

                "Tchau!!", a elfa toma posição na garupa do animal, "Se cuida, hein!!".

                Sob o comando de seu cavaleiro, o animal inicia seu trajeto, enquanto ambas as mulheres trocam acenos, até desaparecer atrás de um arbusto.

                "Creio que nunca compreenderei o que ocorreu aqui", o cavaleiro de Parn pronuncia, mais para si mesmo do que para sua companheira.

                Deedlit limitou-se a acenar com a cabeça. Um ato que foi interrompido por um leve tremor que se apossou de seu corpo. Um tremor seguido de uma sensação; alguém parecia lhe chamar. Lançou os olhos sobre o vale e deteve-se sobre uma arvore caída em meio ao descampado. Assustou-se.

                Uma menina lhe acenava. Pensou em avisar seu companheiro mas desistiu. Acenou de volta e a menina sorriu antes de desaparecer como se tivesse sido apenas um sonho.

                "Tudo bem, Deed?", Parn perguntou assim que sentia a pressão da cabeça da elfa em suas costas.

                "Estou, Parn. Estou!", sorriu.

               

              ENDE...


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