Its Just a Tragedy escrita por yunhotothejae
- É a peste! – exclamou o médico, tentando demonstrar calmaria, ainda que a peste fosse algo que lhe assustasse realmente, por não ter uma cura que pudesse realizar. Guardou alguns de seus pertences de volta na maleta branca que carregava cuidadosamente por onde quer que andasse. – A praga está se espalhando cada vez mais depressa.
- Mas ele vai ficar bom, não vai, doutor? – a jovem camponesa que trabalhava para aquela família se ajoelhou no chão, ao lado da cadeira na qual o médico estava sentado. Usava um lenço branco nos cabelos loiros e compridos, feitos em tranças. A face delicada, estava levemente ruborizada por conta da temperatura alta do cômodo naquele fim de tarde.
A moça escondia um amor incondicional – e totalmente platônico - pelo patrão, e estar ali, assistindo-o morrer, era a pior coisa que poderia lhe acontecer. Ia muito além da sua capacidade de aceitação. Porém, não havia nada que podia fazer. Podia sequer demonstrar seus sentimentos.
Mas Charlotte não era a única que mantinha um amor secreto por Iero. O homem encostado na parede em um dos cantos do recinto, mantinha a expressão firme e séria no rosto, mas por dentro, estava gritando. Era isso que tinha vontade de fazer no momento. Sentia vontade de gritar até não ter mais forças nem voz para tal ato. Amava Frank mais do que amava a si próprio, e presenciar aquela cena sem ao menos poder demonstrar o que estava sentindo, o estava matando aos poucos, consumindo todos os seus pensamentos.
Eram dois homens. Dois amantes perdidamente apaixonados um pelo outro.
- Infelizmente, creio que não haja mais nada que eu possa fazer. – desviou seu olhar para o chão por um segundo, voltando a guardar seus objetos na maleta branca com uma cruz vermelha em seu centro. – Agora, só lhes resta esperar. – o médico puxou um relógio do bolso e arqueou as sobrancelhas, deixando claro que se espantara com o tempo, que havia passado tão depressa. Guardou o objeto de volta no bolso de sua calça e tirou do outro bolso, um lenço branco, que lhe serviu para limpar algumas gotas de suor que escorriam por sua testa. Passou a mãos rapidamente pelos cabelos grisalhos e acenou levemente com a cabeça, deixando aquele cômodo da casa.
Recebeu como resposta apenas o choro desesperado da moça, que escondeu o rosto nas mãos em uma tentativa frustrada de abafar seus soluços, e em seguida, correu delicadamente para fora do quarto, provavelmente para acompanhar o doutor até a porta e tentar conseguir mais algumas respostas sobre o estado de Frank. Gerard e o outro ficaram a sós.
Entretanto, antes que Way pudesse sequer se aproximar da cama onde repousava o amado, ouviu o ranger da escada velha, denunciando que alguém estava prestes a entrar no quarto abafado.
Passados alguns poucos segundos, a mãe do doente entrou no quarto. Usava roupas compridas e pesadas, características da época, e tinha os cabelos acinzentados presos em um coque bem feito. Na mão esquerda, um lenço que usava constantemente para enxugar as lágrimas, e na direita, um terço que vinha sendo rezado fervorosamente há horas, mas suas preces não pareciam serem ouvidas.
-Oh! Meu filho... Meu bebê. – Frank, obviamente deixara de ser criança há tempos, mas ainda era carinhosamente chamado de bebê pela mãe. A mulher andou até o rapaz que tinha os olhos fortemente cerrados e balançava a cabeça de um lado para o outro repetidas vezes, murmurando algumas palavras que não faziam sentido algum aos ouvidos dos presentes, nem mesmo aos seus. Estava tendo alucinações.
Linda não agüentou ver a figura sofredora do filho, cujos punhos estavam fortemente agarrados aos lençóis, como se precisasse desesperadamente apertar algo. Assim como Charlotte, a mãe de Frank precisou deixar o quarto o mais rápido possível, por não querer presenciar algo tão forte como aquela imagem, e logo Gerard se viu a sós com Frank novamente, podendo assim, chegar mais próximo de seu pequeno.
- Não me deixe, pequeno. Por favor, não me abandone. – implorou em uma prece baixa, quase silenciosa, sentindo a visão embargar.
- Shhh. Não fale nada. – Pediu, tomando uma das mãos extremamente gélidas de Frank entre as suas, em uma tentativa falha de aquecê-las. – Eu estou aqui. – disse em um sussurro.
Gerard levantou da cadeira, sentando-se na cama. Delicadamente, levantou a cabeça leve do amante, repousando-a em seu colo e segurando-a em seus braços, inclinando-se na direção do menor – uma mecha do cabelo minimamente comprido caindo-lhe aos olhos, mas não se importou de fato -, entreabrindo os lábios e deixando um beijo demorado em sua testa.
- Não, Frank. Não pode ir. Eu te amo. – afagou os cabelos úmidos de Frank, sentindo o cheiro extremamente agradável de lavanda que os fios exalavam. Ao ouvir as últimas três palavras de Gerard, o menor pôde desfazer o punho e soltar o lençol que antes segurava firmemente, deixando o mesmo amarrotado.
Ouviu-se um ofego baixo da parte de Iero, que finalmente conseguiu semiabrir os olhos. Não totalmente, mas o suficiente para enxergar a figura perfeita – mas desesperada – do homem que era dono de todo o seu amor. Way se curvou mais ainda, para que então, pudesse alcançar os lábios doces e bem desenhados do outro, e assim que os alcançou, um beijo cheio de desejo, carinho, sofreguidão e amor iniciou.
A fraqueza que Frank sentia não o deixou corresponder o beijo com a mesma intensidade do maior, mas ainda assim, ambos se sentiram próximos ao paraíso. Queriam aproveitar cada segundo. Queriam que fosse eterno. O mais novo levou com dificuldade a mão trêmula até o rosto do maior e acariciou levemente a pele macia do mesmo.
- Prometa... Pro-prometa que vai... cuidar bem dela. – disse com ainda mais dificuldade do que antes, referindo-se a sua irmã e mulher de Gerard. Frank buscou algum tipo de conforto na mão do amante, entrelaçando-a na sua e apertando sem força.
Aquele pedido era algo que não tinha certeza se poderia realizar, mas ainda assim, Gerard meneou a cabeça, assentindo. Estava tomado em desespero. Não queria que aquele momento chegasse. Como poderia assistir o seu grande amor morrer assim? Como ele poderia estar sendo tirado de si, assim, tão de repente?
-Frank, me escute. Você não vai morrer. – disse com a voz firme mais para si mesmo do que para o outro, porque era no que queria acreditar. Não era como se tivesse algum controle sobre o que iria acontecer, mas Gerard não queria enxergar a realidade. Simplesmente não podia aceitar. Gerard engoliu. A visão completamente turva por causa das lágrimas que logo começariam a cair, não o deixando enxergar o outro com clareza.
E foi com essa ultima frase de Gerard, que Iero deu o último suspiro. O maior sentiu que a mão de Frank já não apertava a sua e os olhos do corpo extremamente pálido e sem vida, permaneciam incrivelmente abertos, como se as pálpebras houvessem sido pregadas à parte exterior dos olhos.
Gerard tentou gritar. Tentou com todas as forças, mas nenhum som foi emitido, ainda que sua boca permanecesse aberta e a garganta sendo forçada. Um grito silencioso e interno, mas ensurdecedor ao mesmo tempo. A primeira lágrima caíra do olho direito de Way, escorrendo por sua bochecha em seguida, caindo entre os lábios rachados e sem cor de Frank.
O mais velho levou uma mão até o rosto do outro e as pontas de seus dedos fecharam delicadamente os olhos de Frank. Novamente, ele levantou a cabeça do pequeno, dessa vez, para que pudesse sair da cama. Andou até a porta antiga de madeira e passou o grande ferrolho por sua fechadura, trancando-a. Só assim poderia ter privacidade e tempo com o amado, agora sem vida.
- Isso não é um adeus. – Arthur murmurou entre soluços, acariciando levemente o rosto do corpo ao seu lado. – Eu prometo, Frankie. Meu Frankie. Logo iremos nos encontrar novamente.
Gerard nunca sentira tanta dor. Acabara de perder a única pessoa que realmente amou em toda sua vida. Sentia-se completamente vazio, e sabia que só lhe restava uma coisa a fazer. Uma coisa que lhe requeria muita coragem. Não, o elo tão forte que tinham não podia ser desfeito somente pelo fato de um ter morrido. Gerard o faria por seu amado. Tiraria a própria vida por Frank.
FIM
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Obrigada a quem ler. :3
*Poetic Tragedy - The Used. A música serviu de inspiração pro título do ficition e pro final.
Se quiserem ler ouvindo, seria melhor ainda.