Chega um momento em é possível rir de si própria antes dos Jogos, antes das tuas mãos serem manchadas de sangue. Da garotinha boba e inocente, dos teus sonhos e dos teus planos.

Tudo isso se consome no odor férreo do sangue, que tu insiste em sentir sempre que fechas os olhos. Lembranças, memórias de uma vida que nunca lhe pertencerá novamente. Nunca, nunca, nunca. E daria qualquer coisa por ela novamente.

Lembra-te do teu primeiro beijo. E lembra também da tua primeira morte. Lembra-te dos sorrisos de menina, e lembra-te das lágrimas salgadas que manchavam tuas bochechas. Costumava ser uma garota bonita do teu distrito. Agora é um retalho de lembranças e marcas. Das cicatrizes que desenham um mapa de dor em teus braços pálidos.

Porque os Jogos nada são além disto – uma máquina de crueldades infinitas, de crianças sob crianças, pálidas e desfalecidas pelo desejo da fama. Querias sobreviver. Mas às vezes pensas sobre como teria sido se tivesse sido morta naquela arena.

Mas continua a empurrar teu corpo para fora dos lençóis macios, a estampar um sorriso cálido nos lábios e, quando lhe entregam aquelas crianças, sabe que não sobreviveu. Sabe que a tua alma foi deixada quando teu nome foi pronunciado perante o teu distrito. Não há casa para voltar, apenas uma sucessão de provas do teu doce passado.

Mas deixa-o de lado, parte em busca de vitórias e glórias sob teus pupilos. Mas nenhum deles nunca retorna. Como tu também não retornaste.