- Bom dia - a doce senhora que beirava os quarenta anos entra no quarto da filha que ainda dormi tranquilamente, porem com o semblante sofrido. O coração da mulher apertava cada vez que vi a filha daquele jeito. Uma menina tão nova e bonita já sofrera tanto por motivos tão fúteis que a sociedade ainda mantinha.

- Não mãe, só mais cinco minutos. – a garota reclamou se virando de lado sobre a cama, no momento que sua mãe abre as cortinas compridas e brancas que cobriam as duas vidraças enormes.

- vamos logo Gabriela, você não pode faltar à aula hoje. – enquanto sua mãe a encarava com uma cara feia a menina cogitava algum tipo de desculpa que ainda não tivesse usado nas ultimas semanas para convencer a mãe que ela não podia ir pra escola. Mesmo sabendo que nada faria sua mãe mudar de ideia.

- mesmo?- insistiu na ideia de continuar dormindo e esquecer o mundo lá fora.

-mesmo! E se eu voltar aqui e você ainda estiver na cama te levo de pijama pra escola, ouvi? – lançou um olhar desafiador para garota que agora encarava o teto como se procurasse forçar para levantar da cama. – cinco minutos – ouviu a mãe gritar do andar de baixo.

-droga – bufou pra si mesma tirando o edredom de cima de seu corpo e sentando na cama. Calçou suas pantufas e timidamente correu os olhos pelo quarto completamente branco. Tanto nas paredes quanto nos moveis dando um ar de limpeza no local, suspirou seguindo em direção ao banheiro.

Ir pra escola era algo que para ela era uma experiência dolorosa, ela não sabia ao certo o porquê, mas as pessoas não gostavam dela lá. Faziam tudo para machuca-la, feri-la de todas as formas possíveis. O pior de tudo é que ela não entendia o porquê. O que de tão errado ela havia feito para aquelas pessoas? e isso doía mais ainda.

Sua mãe já sabia de tudo e por isso havia aceitado a transferência do escritório onde trabalhava para Londres onde seu pai que era cirurgião já morava há quase dois anos.  Seria uma mudança grande na vida da menina, porem necessárias.  

- pronta? – a voz da mãe era doce e calma, o que causava um estado de conforto na garota que entrava na cozinha.

- quase, só vou tomar um suco antes de ir. – abriu a geladeira tirando seu suco de laranja favorito de lá.

A escola não era longe da sua casa, mas como sua mãe passava por lá para ir ao trabalho sempre lhe dava um carona. Os portões grandes e cinzas lhe davam leves calafrios pela espinha. Tinha vivido seus piores pesadelos ali, pelo menos era assim que ela os julgava. Ficou parada por um tempo sem muita vontade de entrar no pátio da escola, até que sentiu uma mão em seu ombro que a fez acordar de seus pensamentos, virou-se calmamente para ver quem era a pessoa que queria sua atenção.

- ta com medo de entrar senhorita? – ela não pode conter o sorriso quando seu amigo e professor de matemática surgiu em sua frente.

- claro que não Louis – mentiu.

- então o que esta fazendo ai parada? – arqueou a sobrancelha curioso  indo para o lado da menina.

- hum, que tal? Esperando você? – brincou fazendo o rapaz rir.

-muito boa, mas não cai nessa desculpa. – a garota curvou os ombros em derrota fazendo Louis rir mais alto. – vamos logo Gabriela, você vai se atrasar.

- claro – bufou enquanto caminhava do lado do professor.

Louis era o único amigo verdadeiro que Gabriela havia feito na escola, depois dele ter a defendido de um grupo de garotas que zombavam dela durante uma de suas aulas há quase dois anos, tornaram-se bons amigos.  Ele era recém-formado, completara recentemente seus vinte e cinco anos e vinham de uma família de classe média - alta.  Os dois nunca chegaram a se encontrar fora da escola por questões profissionais, pois tinham medo de surgir algum boato sobre os dois e Louis acaba-se perdendo seu emprego ou diploma, porem eles sempre davam um jeito de conversar em alguma sala desocupada na escola ou por redes sociais. Gabi confiava no amigo para tudo. Era ele para quem, ela sempre desabafava, foi ele que a encorajou a abrir o jogo para sua mãe e contar o que estava acontecendo. Ele tinha a menina como sua irmã mais nova que ele amava e queria proteger.

Conforme eles caminhavam não trocaram uma palavra, cada  um perdido em seus próprios pensamentos e conflitos internos, alguns alunos os observavam de canto, mas nenhum dos dois se pronuncio sobre os olhares que recebiam, simplesmente ignoravam.

- tem aula de que agora? – Louis para enfrente a sala dos professores e se vira para menina.

-química eu acho – deu de ombros

- bom, nós vemos no terceiro período, e boa sorte com o Cornélio. – a garota sorri tímida revirando os olhos com a observação do professor. Cornélio era seu professor de português, (matéria que ela odiava apesar de ir bem) e o professor mais carrancudo da escola, talvez ta cidade.

- já me acostumei com ele, fique tranquilo. Até mais. – se despediu do amigo e segui para sua sala de química que ficava no segundo prédio da escola, do outro lado do ginásio onde os alunos tinham aula de educação física. Gabi não era do tipo que atraia olhares quando passava apesar de ainda assim ser uma das meninas mais bonitas da escola, mas um garoto em especial sempre notava sua presença.