O tempo frio sempre parecia combinar com um homem solitário e rude. Mas Dimitri MacNight sempre odiou o frio. Se alguém o conhecesse perguntaria o que diabos então ele fazia no Canadá, um país do norte e FRIO. Porém era esse o caso, nenhum de seus vizinhos ou colegas de pesca o conhecia.

E a explicação para isso era porque ele era assim. Pessoas nasciam tímidas, outras extrovertidas e cada uma com um jeito diferente de agir e pensar. Não havia motivos para questionar as barreiras que ele criou, por motivos pessoais e únicos. Dimitri não se importava de ser chamado de Titã pelos cantos da cidade de Lachine.

Estava dirigindo sua picape preta que ele mesmo reformou para usar naquele inverno indo para o centro da cidade. Era domingo de manhã, os cristãos deviam estar nas igrejas ou os preguiçosos enrolados na cama. Não os culpava, eram seis da manhã quando ele notou que não tinha mais café em casa.

_Mas...!

Dimitri freio bruscamente ao ver um corpo caído na entrada de uma rua deserta. Era a chance de um para um milhão ele, justo ele, ter encontrado um corpo caído no chão e logo depois marcas de pneus de carro. Fez a única coisa que se podia fazer, puxou o freio de mão e saiu do carro resmungando.

Quando se aproximou o suficiente finalmente reconheceu uma mulher de cabelos loiros e tão branca como a neve que estava no chão do asfalto. Agachou-se para analisá-la da forma mais indiferente que pode, se estava morta o que mais poderia fazer? Checou o pulso no pescoço e dessa vez permitiu suspirar. Ela estava viva e sim, ele podia fazer algo.

Era o lobo solitário da cidade, rude as vezes, porém nunca mau. Talvez mal interpretado. Dimitri não hesitou em pegar o celular e chamar a ambulância decretando um estado de vida ou morto. Chegaram em cinco minutos, afinal estava perto do centro.

_O que aconteceu? – um enfermeiro perguntou.

_Não sei, parece que foi atropelada – Dimitri respondeu com um rosto sem expressão – A achei caída no chão.

_O senhor poderia nos acompanhar? Para preencher a papelada e algumas perguntas.

_Sim, claro – OTIMO, agora ficaria sem café... e ajudaria alguém.

Dimitri seguiu a ambulância sem conseguir esquecer o rosto da mulher. Era jovem, com nariz um tanto fino demais, mais bonita, de lábios delicados e rosto elegante. Uma turista? Talvez, não fazia o gênero das garotas dali usando tão pouca roupa de frio. Chegando no hospital, preencheu os papeis e notou que era induzido a ser o responsável. Não se importou, foi ele que a achou.

Encontrar alguém assim era quase um golpe baixo. Lembrava-se da época em que fora militar, a cinco anos atrás. Chegara a ser um tenente de grande estima para o exercito americano, lutou contra o tráfico na Flórida e isso foi uma das piores experiências dele. Talvez o que ele era hoje fosse fruto de um passado que Dimitri queria esquecer.

_MacNight? – o médico apareceu duas horas depois – A garota se encontra a salvo, apenas com uma virose. E já acordou.

_Então posso partir? – Dimitri sentiu esperança.

_Peço que ainda não. A senhorita acordou, mas a batida na cabeça causou uma perda de memória. Não sabemos quanto tempo pode levar esse trauma.

Droga! Ainda mais essa! Dimitri teve vontade de resmungar, mas manteve a expressão impassível. Pensava em soluções rápidas, mas era um assunto complexo.

_Em que posso ajudar? – perguntou enfim já prevendo a resposta.

_Dando informações, achou algum documento, pistas?

_Nada. Ela vai ter onde ficar?

_Apenas alguns dias no hospital em observação, depois teremos de mandá-la para algum lugar e...

_Eu posso ajudá-la – Dimitri disse baixo, pois não gostava da própria idéia – Ficaria em minha casa enquanto se recupera e cuidarei dela. Até ficar boa o suficiente para se virar sozinha.