Razão para Viver escrita por By Mandora


Capítulo 3
Uma Noite Especial




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Chegaram em um trecho do rio que possuía uma pequena queda d’água desembocando em uma enorme área, quase uma lagoa. Kagome largou a orelha de Inu-yasha, pegou a sacola com Kirara e começou a remexer nela. A youkai, por sua vez, se destransformou e pulou no rio para limpar-se. Até aquele momento, o hanyou já havia esgotado seu vasto repertorio de blasfêmias e xingamentos durante o caminho. Limitou-se a agitar os braços no ar enquanto berrava.

– Você ficou maluca por acaso? – Foi quando ela lhe deu um lindo embrulho amarrado com um laço colorido. – Ah... O que é isso? – Perguntou ele desconfiado.

– É um presente. Comprei da última vez que estive em casa. – Sorriu como se nada houvesse acontecido até aquele momento.

E como ela sempre fazia, quebrou seu mau-humor com um gesto que o deixara completamente desconcertado. “Maldição! Como ela consegue?” Ficou observando aquele embrulho em suas mãos e o restante do aborrecimento que pairava em seu rosto foi trocado por um semblante mais gentil. “Ninguém nunca me deu um presente antes...”

– Um presente? Por que... por que você está me dando...

– Era para eu te dar isso só na semana que vem, mas eu não agüentei esperar.

– O que tem na semana que vem? – Perguntou ele confuso.

– É o nosso aniversário. – Ela sorriu.

– Ah? O quê? Que história é essa de aniversário? – Agora sim, não entendia mais nada.

– Inu-yasha, você se esqueceu? – Ela elevou as mãos na altura do peito e ficou dedilhando uma na outra. – Daqui a seis dias vai fazer um ano que a gente se conheceu. Eu não podia me esquecer, afinal é data do meu aniversário...

– Já faz um ano? – Ficou completamente sem graça. – Me desculpe, Kagome, eu me esqueci... Não trouxe nenhum presente...

– Tudo bem, Inu-yasha. Nós temos passado por tanta coisa ultimamente... Além do mais, você já me deu o melhor presente de todos.

Ele coçou a cabeça, meio confuso. Não se lembrava de ter dado a ela nenhum um presente.

– Que presente foi esse?

– Eu mesma... Minha alma de volta. Obrigada. Se não fosse por você, eu não teria conseguido. Eu sei que isso custou muito caro para você.

– Pare de ficar se desculpando, Kagome. Eu já te disse que não me arrependo da escolha que fiz. Perder a Kikyou foi muito difícil, mas quando eu parei para pensar, percebi que a Kikyou que eu amei... A minha Kikyou... Ela nunca existiu. Mas, você sempre esteve comigo, sem nunca pedir nada em troca e já me tirou do inferno tantas vezes que já perdi a conta... Sou eu quem tem que agradecer, Kagome.

Ela o abraçou com um sorriso encantador e tão de repente que ele quase derrubou o presente para recebê-la em seus braços.

– Inu-yasha... – Separou-se dele e o encarou. – Por falar em aniversário, quando é o seu?

– O quê? – Ele coçou a cabeça, com feição de dúvida. – Eu, eu não sei, ora.

– Como assim não sabe?

– Bem, eu não tenho nenhuma lembrança de aniversário de quando eu era pequeno e, depois que a minha mãe morreu, eu fiquei sozinho. Com o tempo, eu acabei esquecendo.

– Mas agora você não está mais sozinho.

Ele sorriu.

– Eu sei.

– Tive uma idéia. Você quer fazer aniversário junto comigo?

– Junto com você?

– É. Foi nesse dia que eu quebrei o lacre que te prendia, se lembra? É como se você tivesse nascido de novo.

– Até que nesse ponto você tem razão...

– Então está decidido. Nós fazemos aniversário no mesmo dia. Agora abre o seu presente.

Ele acenou com a cabeça e abriu o embrulho que, para sua confusão, era um short branco.

– O que é isso?

– É um short. Você pode usar por debaixo da roupa...

– Você quer que eu use essa coisinha?

– ...Ou para nadar. É para você não ficar pelado quando for nadar comigo.

– Usar esse tal de short, ficar pelado... Qual é a diferença, Kagome?

– Deixa de conversa, Inu-yasha, e veste o short. Eu vou ali atrás colocar o meu maiô. Na vai olhar, viu?

– Por acaso eu me chamo Miroku?

Ela foi para trás de uma árvore se trocar. Inu-yasha ficou observando aquela estranha peça de roupa. “Um presente...” Sorriu para si mesmo e começou a trocar de roupa. Depois se sentou e ficou esperando por Kagome. “Por que eu estou tão ansioso? Não tem nada de mais, a gente só vai nadar... juntos...” Procurou distrair-se enquanto aguardava e ficou observando a pequena Kirara sair do rio, sacudir-se para remover o excesso de água e deitar-se sossegadamente.

– Você já se vestiu? – Perguntou a jovem, ainda atrás da árvore.

– Já sim! “Se é que dá para dizer que eu esteja vestido.”

Quando Kagome finalmente saiu de detrás da árvore, ele levantou-se e ficou encantado olhando para ela. Não era o maiô colorido de sempre. Este era todo branco, sem alças, estilo tomara-que-caia. Ela ficou ruborizada, pois percebeu o olhar dele. Mas ela mesma não podia deixar de admirar o corpo bem definido que ele tinha.

– Tem alguma coisa errada, Inu-yasha? – Começou ela, tentando contornar a situação.

– Ah, nada. – Ele ruborizou e baixou o olhar. – Esse aí é diferente. Ficou melhor em você, o outro era muito colorido.

– Obrigada. Você também ficou muito bem. – Desviou o olhar e pegou as roupas. Foi até sua sacola, pegou uma barra de sabão e um carretel com corda de nylon que entregou a Inu-yasha. – Enquanto eu lavo essas roupas, você monta um varal para estendê-las.

– Ta bom.

Ela começou a lavar as roupas e ele montou o varal como ela pedira, cruzando a corda de nylon por algumas árvores. Enquanto Kagome estendia as roupas, ele, talvez pela falta do que fazer, começou a remexer na sacola que ela trouxera igual criança.

– Para que tantos potinhos, Kagome?

– Ora, Inu-yasha. São cremes para o corpo e shampoo e creme para o cabelo. – Explicou ela, sem sequer voltar os olhos para ele. Estava distraída pendurando as roupas.

– E precisa de tudo isso só para tomar um banho? – Abriu um dos potes e cheirou. – Pelo menos o cheiro é bom.

– São cuidados especiais para a pele e os cabelos. Você devia experimentar.

– Experimentar? – Ele já havia enfiado o dedo dentro do pote para testar a consistência do creme e ficou observando aquela substância pastosa em sua mão com uma sombra de dúvida no rosto. – Ta bom... Argh!

O grito dele chamou a atenção dela que se virou para saber o que havia acontecido.

– O que foi, Inu... – Ele estava esfregando a boca em um dos braços e segurando um dos potinhos com o outro. – ...Yasha?

– O cheiro pode até ser bom, mas o gosto é horrível!

Ela revirou os olhos e deu de ombros.

– Ai... Ai... – Sentou-se ao lado dele e pegou o potinho. – Isso não é para comer. Se comer pode até passar mal.

– E por que você não me disse isso antes? – Gritou ele, mal-humorado.

– Vem. Eu vou mostrar como se usam esses potinhos. Vamos tomar banho.

A noite foi passando, mas para eles, o tempo havia parado. Estavam envolvidos um com o outro. Faziam aquelas brincadeiras de jogar água um no outro. Kagome nunca o havia visto tão feliz como naquela noite. Só a brilhante lua cheia no céu era testemunha dos dois. No local onde estavam, o rio formava uma lagoa. Com algumas partes tão profundas que não se podia ver o fundo. De repente, ela escorregou em alguma coisa e caiu, porém Inu-yasha a segurou.

– Você está bem, Kagome?

– Sim... estou...

Seus olhares se encontraram. Ele a segurava firmemente e ela apoiava seus braços em seu peito. Então a jovem escorregou seus braços ao redor do pescoço dele e o abraçou docemente. No começo o hanyou ficou sem jeito, mas depois, retribuiu o abraço. “Sinto um calor tão forte em meu coração. E uma paz tão grande. Diferente de quando eu estava com a Kikyou.” Afastou os cabelos dela e ficaram de rosto colado um no outro por alguns instantes.

– Você é a razão que eu tenho para continuar a viver, Kagome. – Sussurrou ele.

Ela estremeceu um instante, surpresa. Só pôde passar a mão pela nuca dele enquanto falava, também aos sussurros.

– Eu te amo, Inu-yasha.

“Me ama?” Seus olhos encheram-se de lágrimas e seu corpo tremia. Apoiou seu rosto no ombro dela.

– Eu... também... Kagome...

Ela então levantou rosto dele para que pudesse olhá-lo nos olhos e sorriu. Era o mesmo sorriso que o tirou das garras da morte. Ele também sorriu e aproximou seu rosto do dela um pouco mais. Ela também fez o mesmo, mas antes que seus lábios se tocassem, Shippou surgiu do meio da floresta gritando.

– Kagome! Kagome!

Até a pequena Kirara deu um pulo do cantinho onde estava tirando um cochilo. Por causa do susto, Kagome acabou se enrolando com as palavras.

– Inu-yasha, senta! – Levou a mão à boca, mas era tarde demais. Tentou ajudá-lo a levantar a cabeça para que não se afogasse, mas ele a afastou rudemente.

– Você ficou maluca?! – Exclamou ele, sentando-se na margem.

– Desculpa! Desculpa! Foi sem querer! Eu queria dizer “se abaixa” e não “senta”.

E o colar de Inu-yasha mais uma vez brilhou, fazendo com que ele caísse de cara na lama do rio.

– Maldição! – Levantou-se furioso. – Você quer parar de dizer isso?!

– Ta bom, não precisa gritar comigo. Já disse que foi sem querer.

– Humph! – Cruzou os braços. – Você e suas desculpas! Desculpe isso, desculpe aquilo! Mas quem sempre acaba de cara no chão sou eu!

– Inu-yasha, deixa de ser chato! – Intercedeu o filhote de raposa. – Para começo de conversa, se você não fosse assim tão nervosinho, não tinha esse colar no seu pescoço. Em segundo lugar, o que você estava fazendo com a Kagome ali no rio, heim?

O hanyou ferveu, pegou o pequeno Shippou e deu-lhe meia dúzia de cascudos.

– Isso não é da sua conta, seu fofoqueiro! O que você está fazendo aqui?

– Ai, ai, ai, Inu-yasha! – Soltou-se. – É que vocês estavam demorando tanto que eu fiquei preocupado!

– Então agora que já viu que estamos bem... SE MANDA, PIRRALHO!

– Ta bom, ta bom! – Saiu correndo pela mata.

– Isso não foi nada gentil, Inu-yasha. – Disse ela, com uma feição emburrada. – Ele não fez por mal.

– É, assim como você... – Virou o rosto e deixou notório o tom de ironia que usara.

– Uhh! Seu cabeça-dura, eu já pedi desculpas! “É melhor eu me acalmar, não adianta nada eu me estourar agora...” Inu-yasha, anda vai, deixa disso... Vem nadar comigo...

Ele se limitou a mexeu a orelha e olhar a jovem de rabo de olho.

– Eu estou muito bem aqui. – Falou com descaso.

– Então é assim? Pode ficar aí com esse mau-humor que eu vou nadar sozinha!

– Bahh... Pode ir! Eu não estou nem aí!

– Grosso! – Se afastou para uma parte mais profunda e mergulhou.

Ele ficou observando a superfície da água e começou a se desarmar. Para falar a verdade, estava arrependido de ter brigado com ela. “Seu idiota! Tratá-la daquele jeito depois do que aconteceu... Idiota!” Ficou ali sentado esperando-a retornar para pedir desculpas. Kirara mexeu suas orelhinhas levantou a cabeça e depois foi até o hanyou e ficou lhe puxando o short.

– Ah, o que foi, Kirara?

A pequena youkai correu até a margem do rio guinchando em sua direção.

– Ela está demorando, não é? Ela nada bem, mas já faz tempo... – Observou algumas bolhas surgirem. Levantou-se rapidamente, tirou a Tessaiga da bainha e entrou no rio. – Kirara, fique de olho por aqui que eu vou buscar a Kagome!

As águas eram escuras e a luz da lua proporcionava pouca visibilidade. Localizou a jovem enrolada em algumas plantas no fundo. Quanto mais ela tentava se soltar, mais presa ficava. Ela já estava quase sem ar. Ele se aproximou e lhe deu um pouco de ar com um beijo. Depois, com precisão cirúrgica, cortou as plantas e a ajudou a subir. Sentaram-se na margem enquanto ela tentava recuperar o fôlego.

– Kagome...

– Eu sou... – Era visível sua dificuldade para falar e respirar. – ...mesmo uma idiota!... Devia ter prestado... mais atenção... – Levantou-se e foi em direção de sua mochila. Ficou meio tonta e caiu sobre os joelhos. – Que... droga...

– Não devia se esforçar assim. – Disse ele, amparando-a com extrema preocupação.

– Eu estou bem... Só preciso... descansar um pouco...

Ele pegou uma toalha e enrolou nela. Recostou-se em uma árvore e a manteve em seus braços para aquecê-la.

– Isso tudo é culpa minha. Se eu não fosse tão cabeça-dura... Me desculpe.

– Está tudo bem... Inu-yasha. – Normalmente ela se sentiria envergonhada por estar ali, deitada nos braços dele, mas agora era diferente. Estava nos braços de quem amava. Ele estava ali por ela.

Os dois acabaram adormecendo. No dia seguinte, ele acordou com os primeiros raios-de-sol em seu rosto. “Será que tudo não passou de um sonho?” Então percebeu que ela ainda repousava em seu peito, dormindo tranqüilamente. “Que bom que não foi um sonho.” Acariciou levemente os cabelos dela.

—x-x-x-x-x-


– Eu quero ver também, Miroku. – O filhote de raposa sussurrou.

– Shii! Shippou fica quieto, senão ele vai nos ouvir! Além do mais, isso é impróprio para crianças.

– O Inu-yasha está sem roupa? – Perguntou Sango.

– Não, ele está vestido. – O monge respondeu.

Ela forçou a vista e mesmo assim ainda não estava convencida.

– Com o quê, Houshi-sama?

– Boa pergunta... – Deu de ombros. – Deixa para lá. O importante é que as coisas estão indo bem.

– Deixa eu ver...– Insistia o pequeno Shippou.

Os três estavam escondidos atrás de uma moita. Como Inu-yasha e Kagome não tinham voltado durante a noite, resolveram procurá-los e os encontraram ali, nas margens do rio. Na tentativa de ver o que estava acontecendo, Shippou acabou empurrando Miroku para o lado, que caiu sobre Sango.

– Desculpe, Sango. – Disse ele, com aquele jeito meio sem graça.

– Está tudo bem, mas você se incomoda de sair de cima de mim?

– Tudo bem, eu só preciso me apoiar direito e... – Não resistiu e colocou a mão sobre o peito de Sango.

SLAPT!

– Seu tarado!

O grito da exterminadora fez um escândalo que chamou a atenção de Inu-yasha e acordou Kagome, porém nenhum dos dois saiu do lugar. Shippou foi o primeiro que saiu correndo.

– Ela está uma fera! – Gritava ele enquanto voltava correndo para o acampamento.

Em seguida, Sango saiu da moita furiosa. Lançou um olhar que fuzilou Inu-yasha.

– Qual é o problema, Sango-chan? – Perguntou a colegial, ainda com cara de sono.

– Vocês podiam pelo menos ter avisado que iam passar a noite fora! Mas deve ter sido esse irresponsável do Inu-yasha que te convenceu! Os homens são uns imbecis! Eu vou preparar o café... Vocês dois não demorem!

O casal sentado ao pé da árvore se entreolhou, tentando entender o que tinha acontecido. Só podia ter sido uma coisa...

– Monge depravado... – Os dois falaram em uníssono.

Então Miroku saiu da moita, apoiado em seu bastão somente com um braço, o outro parecia estar deslocado. Mancava de uma perna, tinha um olho roxo e um monte de galos na cabeça.

– E aí? – Começou ele, tentando disfarçar. – Tudo bem com vocês?

– Eu acho que não dá para dizer o mesmo de você... – Riu da situação do monge. – Até parece que foi atropelado...

– É, pois é... – Percebeu que os dois estavam muito íntimos. Kagome sentada no meio das pernas de Inu-yasha, com a mão sobre o peito dele e ele com as mãos ao redor da cintura dela. “Mas o que é aquilo que ele está vestindo?” Foi então que percebeu o olhar de Inu-yasha. Era do tipo “SE MANDA!”. – Bem, eu já vou indo... Até mais tarde.

– Mas que sujeitinho mais enxerido... – Percebeu que ela o olhava. – O que foi, Kagome? Você não está mais zangada comigo, está?

– Não, seu bobo. Está tudo bem... É melhor ir andando. – Tentou sair, mas ele não deixou. – O que foi?

– Quero terminar uma coisa que começamos.

– O quê?

– Isso...

Finalmente a beijou. Ela ficou surpresa no começo, mas retribuiu o beijo com todo seu coração. Segundos, minutos, não importava. Eles estavam juntos agora. Quando se deram por satisfeitos com o beijo, ficaram ali, de rosto colado, testa a testa, sorrindo um para o outro. Nada mais importava...


=> FIM <=


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