Olhos De Dante escrita por João Marcos Oliveira


Capítulo 12
Embarque




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Faltavam dez minutos para o embarque e todas as almas da estação estavam aguardando a chegada dos metrôs. Félix havia mandado uma mensagem ao meu celular dizendo não poder comparecer, mas garantiu-me do estado do corpo, que estava seguro. Dispensei-o de seu trabalho em seguida.

Assim que os metrôs chegassem da viagem de volta às devidas plataformas, o sinal da estação soaria alto e cada um partiria para sua direção. Naquele momento, Maria estava em pé com Beatrice ao seu lado, junta as milhares de almas em sua plataforma, esta separada de outras plataformas por um grande paredão de vidro, intercalado por obeliscos. O relógio de ponteiro no alto de cada obelisco evidenciava a proximidade do horário esperado e ela já havia sido informada de como as plataformas viravam um caos nesse momento. Deveria seguir as faixas unidirecionais brilhantes que só ela podia ver no chão, e assim, chegaria a sua cabine sem problemas.

Não muito distante, a sua frente, eu e Norman nos encontrávamos para a viagem em um rumo diferente das almas que ali estavam, mas o meio de transporte ainda se fazia necessário. Coincidência estarmos ambos ali ou não, o Destino sabia o que estava fazendo.

Ou talvez não.

No tão esperado toque de chegada que soou em toda a estação, o metrô da plataforma um começou a aparecer na primeira abertura das duas que eram dispostas. Pelo grande túnel escuro que se seguia a frente de todos, vários vagões negros se tornaram visíveis. Eram de algum material metálico e bem maior do que metrôs convencionais com seus quase 7 metros comprimento. Juntamente com este, podia-se ver claramente os outros metrôs chegando a suas devidas plataformas ao mesmo tempo sob o som do sinal estridente.

Assim que eles se encontraram preenchendo os trilhos visíveis com as centenas de vagões, pararam, abrindo todas as portas para a entrada dos passageiros. Todos começaram a seguir seus próprios caminhos, seguindo a direção que lhes era comandada pela visão.

Maria notou que naquele exato momento conseguia enxergar faixas luminescentes que a encarregariam de levá-la a seu exato posto. Deveria entrar pela única porta visível do metrô do lado oposto a cabine do condutor.

— Bom, acho que está na hora de partir — Maria disse um pouco sem graça, sem saber como se portar com Beatrice.

— Boa sorte — Beatrice disse, apertando a mão da moça — ficará tudo bem. Quando chegar lá haverá outras pessoas que lhe explicarão mais, talvez, um pouco diferentes de mim, mas, se um dia você atingir A Linha, estarei curiosa para lhe encontrar.

Maria sorriu, sussurrando “até mais” e virou-se para o trem, deixando Beatrice voltar para seu escritório, onde estaria pronta para o encaminhamento de outra alma.

Apressei-me com Norman para a cabine do condutor um tempo considerável depois que a porta do metrô se abriu. Algumas almas ainda estavam perdidas no meio caótico de se direcionar, andando de um lado pro outro, avulsas, mas boa parte já se encontrava no interior de todos os veículos. As que, ainda receosas, não tomaram coragem o bastante para que fossem de imediato, estavam sozinhas e relutantes em encontrar seu destino final, mas não havia como escapar.

Norman continuava calado. Não dissera nada desde que conversara sobre o sistema. No momento em que fitava, alguns metros longe do metrô, a porta da cabine inicial, ouvi um grande estrondo e fui jogado ao chão em seguida pela força do ar comprimido. Os vidros que separavam boa parte das plataformas se quebraram em milhões de pequenos estilhaços espalhando-se no chão, meio as almas desesperadas pelo barulho ensurdecedor.

— Droga! Félix, desgraçado. Não agora! — disse pra mim mesmo.

Explosão

Uma grande parte do metrô da plataforma dois se encontrava fora do trilho e em chamas, deslizando no chão devido ao poder impetuoso de algum dispositivo explosivo. Após bater na segunda coluna de sustentação daquele setor da plataforma, destruindo tudo a sua volta, ela havia parado. A correria nas outras nove plataformas não. A gritaria e o alvoroço do local só pioraram a situação. Muitas pessoas estavam indo para lados diferentes ou estáticas fitando o desastre com medo.

Em poucos minutos de desordem, milhares de homens vestidos de negro, com máscaras brancas de diferentes formas, apareceram materializando-se no ar, meio a uma fumaça disforme e escura. Cogeres, a força. Todos se distribuíram nas diferentes plataformas, responsáveis por suas funções, dançando no ar e tomando distintas formas enquanto se transportavam. Muitos levando as almas à força para dentro dos metrôs intactos, acalmando a histeria e reunindo as almas dispersas remanescentes para seu local de destino. O único sem chances de reparo ou de viagem era o da plataforma dois, que ainda estava um caos com vários focos de incêndio e almas feridas dentro e fora do mesmo. Grande parte dos cogeres se concentraram lá.

Almas, ainda que sem corpo físico, podem se ferir gravemente. Não morrer uma vez que são imortais. A dor física é diferente, mas o sentimento de desconforto e agonia é o mesmo a de um ferimento comum. A matéria das almas no mundo terreno é intangível, mas no espiritual, não. Apesar da extrema tortura em alguns casos, a recuperação das almas é imediata, o que não evita que elas sofram com isso.

A maioria dos cogeres naquele momento se encontravam na plataforma 2, retirando todas as almas dos escombros por meio de movimentos muito rápidos. Eles podiam praticamente se teletransportar por entre o recinto, levando todos daquela plataforma para o hangar de espera. A maioria das almas que haviam se ferido em poucos segundos se recuperaram. O trauma delas, no entanto, perduraria por um longo tempo. Ser vítima de uma explosão na sua primeira viagem para o Inferno não era algo muito receptivo e indiferente.

Assim que notei a chegada de cogeres próximo a mim, fui direto à porta de entrada mais próxima do metrô, evitando ser confundido com alguma daquelas almas corriqueiras. Os cogeres estavam empurrando todos para o interior do metrô usando de suas habilidades para dissipar o caos. Quando não por força, por terror. Eles conseguiam persuadir a mente das pessoas fazendo-as os obedecerem em pânico, chegando ao lugar almejado em segundos. Todos trabalhavam como uma organização preparada para esse tipo de situação e outras de proporções menores.

Naquele momento, eles não sabiam o que havia acontecido, a ideia de um atentado terrorista era inimaginável, e pela gravidade da situação, eu soube que deveria ser breve, por isso agi rapidamente de acordo com meus planos. Estava claro, era um aviso contundente a todos de que algo estava errado. Não fora mero acaso. Por isso, centenas de cogeres já estavam investigando todos os ambientes possíveis à procura de alguma prova ou de algum suspeito.

Meus planos estavam correndo um enorme risco de se perderem. Foi o que disse a mim mesmo quando notei a falta da alma que estava sob meu domínio.


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