Nós dois caminhávamos nas ruas chuvosas

Debaixo de uma pequeno guarda-chuva, meu ombro ficava molhado

Timidamente, ela me dizia:

“Se aproxime mais um pouco”

Suavemente, nossos ombros se tocavam

A chuva caia em Tomoeda já há alguns dias. Sakura tinha até mesmo checado o livro das cartas Clow para verificar se a The Rain ainda estava lá. Não que aquilo a estivesse preocupando realmente. Na verdade, ela via uma grande vantagem nos dias de chuva. Ficava vermelha como um pimentão quando admitia para si mesma, mas no fundo gostava de poder andar bem juntinho de Syaoran debaixo de um guarda-chuva.

Naquele dia, no entanto, estava bem difícil gostar de qualquer coisa. O frio tornava a dor no seu corpo quase insuportável e sua cabeça parecia prestes a explodir.

Syaoran, percebendo seu inabitual silêncio, lhe lançava olhares preocupados de esguelha.

- Sakura, você está bem? – ele perguntou.

Sakura se esforçou para lhe dar um sorriso.

- Sim, eu só estou ficando resfriada, acho.

- Você não devia vir para a escola se está se sentindo mal.

- Eu estou bem, é só o frio.

Ele então, quase impulsivamente, passou o braço ao redor do ombro dela, trazendo-a para ainda mais perto.

- Melhor, obrigada – Sakura disse, com as bochechas muito coradas, um largo e, agora verdadeiro, sorriso no rosto.

Na altura da hora do intervalo, no entanto, Sakura já não conseguia disfarçar o fato de que mal conseguia ficar em pé. Syaoran encostou a mão em sua testa, para constatar o óbvio. Ela estava ardendo de febre. Ele e Tomoyo foram com ela até a enfermaria.

A enfermeira disse que ela devia ir para casa descansar. No caminho até o sobrado amarelo, Syaoran quase teve que carregá-la.

- Tsc, eu avisei que ela não devia ir hoje – foi o que Kero disse, assim que viu os dois entrando, mas parou de jogar vídeo game para puxar a coberta da cama e depois colocá-la de volta por cima de Sakura, que se deitou e pareceu cair no sono instantaneamente. Temendo que Kero fosse voltar ao seu jogo barulhento, Syaoran agarrou o guardião e desceu com ele até a cozinha.

- Você vai preparar leite quente com mel? Eu também querooo!

- E quem perguntou o que você quer boneco?

- Tudo bem então, eu vou voltar para o quarto e terminar meu jogo...

- Você fique onde está.

Foi assim que quinze minutos depois, Syaoran subiu com remédio e uma xícara de leite numa badeja enquanto Kero continuou na cozinha com sua própria xícara e um saco de biscoitos que ele próprio pegara do armário.

- Syaoran, você tem que voltar para a escola... – Foi a fala sonolenta de Sakura quando Syaoran a chamou.

- Vou voltar assim que você tomar isso – disse ele colocando a bandeja no criado-mudo.

Vendo do que se tratava, Sakura abriu um leve sorriso.

- Você vai poder dormir melhor e quando acordar sua febre terá sumido, lembra?- Ele disse, sorrindo-lhe de volta.

- Isso mesmo. Sempre funciona. – Ela tomou o remédio e depois, provando um gole do leite quente, acrescentou: – Está uma delícia.

No final, ao devolver a xícara para a bandeja no criado-mudo, ela disse a ele:

- Obrigada, Syaoran.

E se inclinou um pouco mais para frente, para mais perto de onde ele estava sentado na beirada da cama. Num movimento rápido, depositou um beijo na bochecha dele, no canto da boca, recuando depois, num movimento ainda mais rápido, embaraçada.

Alguns minutos depois, ela já tinha voltado a dormir e Syaoran estava de volta à chuva, contemplando sonhador as intermináveis gotas de água que caíam a sua frente enquanto uma das mãos levantava de vez em quando para acariciar o canto esquerdo da boca.

O barulho no guarda-chuva, o barulho da chuva, o barulho do meu coração

A chuva de amor está caindo

Eu amo a chuva... Eu amo você.