Narrador pela Mili

Pensei no que as meninas haviam me dito, mas pra falar a verdade, não acredito que o Mosca esteja me trocando pela Clarissa... Eles são apenas bons amigos, nada mais que isso. Mesmo assim, até que as meninas tinham razão, eu precisava mesmo me aproximar mais dele. Porém o que eu faço com a minha timidez? Calma Mili, respira, só fazer como a Pata disse, me aproximar aos poucos como uma amiga... E aí:

– Catchau! - disse eu pouco alto e comecei a rir.

As meninas tinham ido ao pátio para criar um plano para "desmascararem Clara"... Tadinha da menina, espero que ela não fique muito brava com as armações dessas doidas... Como estava sozinha, decidi subir para o quarto pra ler um pouco e escrever também, no livro que o Mosca me deu... Ai, ai Mosca... Subi as escadas catarolando uma música qualquer, até que cheguei na porta do quarto e dei de cara com Clarissa abraçada em Mosca. Fiquei estática observando a cena, será que eram mesmo mais do que amigos?

– Não Mili, é só um abraço de amigo... Como de uma menina com uma menina. Mas por via das dúvidas, talvez seja melhor dizer alguma coisa inteligente para separar os dois. - disse para mim mesma em minha cabeça, então apenas eu ouvi.

– Desculpa atrapalhar... - disse por fim. Boa Mili, cadê a frase inteligente? Revirei os olhos irritada comigo mesma, e os dois me encararam e eu fiquei ali estática com cara de boba.

– Ah, oi Mili. - disse Clarissa soltando Mosca e me abraçando em seguida.

– Oi Clara. - disse meio sem graça.

– Você não atrapalhou nada... - disse Mosca que parecia estar... envergonhado?

– Hm... - e ficamos ali os três naquele silêncio absoluto do quarto, nos encarando... As palavras pareciam não existir e os segundos levavam horas para passar.

– Acho que você veio aqui com algum propósito Mili, estou certa? - disse Clara por fim me despertando dos meus pensamentos.

– Si-sim. - gaguejei por fim. Mili, hoje não é seu dia, primeiro uma frase brilhante, agora gaguejando? Revirei os olhos irritada de novo comigo mesma, e os dois me encaram como se eu fosse maluca. - Ah, nada contra você Clara.... É que... Eu esqueci o que vim fazer aqui... - strike 3 e você está fora. Hoje definitivamente não era o meu dia.

– Falar com o Mosca talvez? - Clarissa agora lê mentes? Estranho... Mas eu apenas concordei com um meio sorriso e senti minhas bochechas começarem a queimar. - Beleza, vou deixar os dois a sós... - ela disse por fim nos encarando séria. - Mas não façam nada que possam se arrepender depois. - e saiu rindo do quarto. O que ela pensava que eu ia fazer?

– Então Mili? - perguntou Mosca, me tirando daquele transe.

– Então o que? - disse sem rumo ou ideia alguma.

– O que você queria me dizer?

– Ah... É que... Quer ir tomar sorvete? - Mili, eu só não te mato, porque eu sou você... Será que existe algum buraco, pra eu esconder minha cabeça, de preferencia, bem fundo?

– Agora? Mas a gente nem jantou...

– Depois da janta?

– Não vai estar muito tarde?

– Amanhã talvez? - sutileza com certeza não é meu forte.

– Hm... É que amanhã eu vou ajudar Clara com química... - e aquelas palavras cortaram meu coração de uma tal maneira que nem eu sei explicar como... Apenas o encarei triste e cabisbaixa e ele disse: - Mas se quiser podemos marcar outro dia.

– Deixa... Está tudo bem.

– Tudo bem mesmo?

– Claro... - e ele se aproximou e me deu um abraço, de amigo. Me deu um beijo no topo da testa e logo saiu pela porta, sem dizer mais nenhuma palavra...

Fiquei ali parada pensando no que havia acontecido, me coração doía e eu não sabia o que fazer para cessar a dor. Mosca não tinha culpa de ter aceitado ajudar Clarissa em química, mas... talvez ele pudesse deixar para outro dia. Minha cabeça estava confusa e meu coração apertado, sufocado, partido. Deitei na minha cama e deixei que as lagrimas escorressem...

– Mosca... Por que não pode ser meu? - sussurrei em meio as lagrimas. Ali fiquei, ali chorei, ali sonhei...

Narrado por Clarissa

Deixei os dois pombinhos a sós lá no quarto e fui até a sala.

– Estranho, não tem ninguém ninguém aqui. - disse para o nada.

Fui até a cozinha e só encontrei o Rafa e o Binho comendo algum doce que Chico havia preparado. Mas nada das meninas. Saí de lá e fui até o pátio. E puxa, todas estavam reunidas ali. Pareciam discutir sobre algo, então deixei elas ali e voltei para a sala. Decidi ir mexer no computador e fiquei ali até sentir uma mão em meu ombro...

– Que susto! - disse me virando e dando de cara com Mosca

– Hahahaha, te peguei. - ele disse rindo

– Ai, seu chato. - disse lhe dando um leve tapa no ombro. - O que está fazendo aqui?

– Como assim?

– Não era pra você estar falando com a Mili?

– A gente já conversou...

– Tão rápido? - perguntei desconfiada, erguendo uma das sobrancelhas.

– É...

– E o que ela queria?

– Me chamar pra tomar um sorvete... - ele disse dando de ombros.

– E por que não foi?

– A gente ainda nem jantou...

– Isso não é desculpa.

– Eu não estava muito afim.

– Ai Mosca que droga! - disse e sai andando. Subi e encontrei Mili adormecida entre lágrimas. Ai Mosca como você é burro. Desci novamente e o mesmo me encarava com uma expressão assustada no rosto.

– Não fala comigo! Mosca você é burro? - eu disse e sai do orfanato.