Uma névoa densa e branca se espalhava pelo lago, a água era gelada e mesmo eu estando fora dela podia sentir minhas roupas molhadas. Logo não era mais um rio, era o internato que eu estudava em Londres. Estava naquele longo e sombrio corredor, as luzes falhavam sob minha cabeça, um vento gelado entrava pelas janelas fazendo eu bater os dentes de frio.

Sapatos de salto batiam atrás de mim, virei-me lentamente porque eu não queria saber quem era mas, meu corpo queria. Logo eu a vi, a mulher que me levara, seu rosto estava coberto pelo seu cabelo negro. Ela tinha um sorriso triste nos lábios quase que perverso.

-Vai com ela querida – escutei a voz do meu pai vinda de um lado – Ela saberá o que fazer com você Clarisse.

De trás da mulher sem rosto saíram dois homens grandes, eles vinham em minha direção e eu vagarosamente começava a me afastar.

-Peguem-na – disse a mulher.

Os homens vieram em minha direção e me agarraram eu fazia de tudo para me soltar mas, não conseguia. De repente eu tinha dez anos novamente e chorava feito uma pessoa dessa idade.

-Papai – eu gritava chorando – Por favor, papai não deixe ela me levar.

Eles continuavam a me arrastar para longe.

-Por favor, papai eu vou em comportar vou parar de gritar, não deixe que eles me machuquem.

-Ás vezes o amor machuca docinho – escutei a voz do meu pai – Amar é destruir.

-Papai – chorei novamente – Não papai.

Eles injetaram algo em mim e meus sentidos foram se esvaindo. Eu estava tão sozinha no escuro que conseguia ver sombras negras se arrastando no meio deles. Eu não queria mais ficar sozinha.

POV Jace

Eu não estava conseguindo dormir. Clary ocupava cada perímetro da minha mente a fazendo tão inútil e fazia quanto uma sacola. Me virava na cama, mas mesmo assim o sono não vinha. Até que comecei a escutar murmúrios e gritos de agonia vindos do quarto da Clary que era do lado do meu. Rapidamente me levantei e fui até o seu quarto.

Com passos curtos fui até ela, a porta não estava trancada então vagarosamente a abri. Tive a visão de Clary quase caindo da cama, gritando desesperada agarrando-se aos lençóis.

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Fui até onde ela estava me aproximei de sua cama e sentei na beirada, Clary continuava a se mexer. Gentilmente coloquei minhas mãos nela tentando acordá-la.

-Clary – chamei – É só um sonho, acorde.

Mas, ela continuava a gritar como se o que estivesse acontecendo dentro de sua cabeça fosse real. Então a abracei, levantei-a e a puxei para os meus braços.

-É só um sonho – disse novamente apertando-a ainda mais contra o meu corpo.

Clary abriu os olhos, eles estavam cheios de lágrimas. Ao me ver, aconteceu o contrário do que eu esperava, Clary me abraçou ainda mais afundando sua cabeça em meu peito forçando nós dois a nos deitarmos na cama.

Não consigo dormir esta noite

Acordada e tão confusa

Tudo está em ordem

Mas estou ferida

Passei as mãos nos seus cabelos ruivos e beijei sua testa. Ficamos abraçados, ela se acomodou perto de mim e deixou nossos corpos juntos.

-Está tudo bem Clary, foi apenas um sonho – sussurrei.

-Promete nunca me deixar, Jace? – pediu com um tom desesperado quase me amassando – Promete?

-Prometo – abri um sorriso tranqüilizador – Pelo anjo, eu Jace Herondale prometo nunca deixar você Clarisse Wayland.

Aos poucos, só aos poucos, o coração de Clary foi desacelerando e ganhando o ritmo normal de um coração humano. Ela não tinha cara de quem se assustava fácil, mesmo tendo a vida que teve Clary era forte e eu sabia disso.

-Por que... Por que veio até aqui? – perguntou tranquilamente.

-Ouvi você gritando – esclarecer – Achei que precisava da minha ajuda, eu não me perdoaria se algo de ruim lhe acontecesse.

Preciso de uma voz para ecoar

Preciso de uma luz para me levar para casa

Eu meio que preciso de um herói

É você?

-Pensei que estivesse com raiva de mim – disse Clary.

-Já teve tanto medo de perder alguém que simplesmente não suportou a ideia de vê-la com outra pessoa? De imaginar que ela consegue ser feliz longe de você e com outro alguém? – perguntei – Pois bem Dona Clarissa, eu não suporto essa ideia quando se trata das coisas que eu amo. Só de pensar que ele está por aí querendo o que é meu eu sinto raiva, porque eu não quero dividir meus irmãos com mais ninguém e muito menos você.

Clary abriu um sorriso singelo que mesmo no escuro eu podia vê-lo.

-Quanto a mim nunca vai precisar me dividir com ninguém – disse em um murmúrio agradável.

-Isso foi como música para os meus ouvidos – sorri beijando-a na bochecha.

Você pode ser meu rouxinol?

Cante pra mim, eu sei que você está aí

Você poderia ser minha sanidade

Me traga paz

-Sinceramente Jace, não vejo a graça que você viu em mim – comentou ela sem me olhar – Eu sou tão, sem graça.

-Você não é uma palhaça, por isso não tenho que achar graça em você – disse fazendo-a rir – Talvez eu nunca consiga explicar o que eu vejo em você Clary, porque para mim você é indescritível.

Clary se acomodou ainda mais ao meu lado, nossos corpos estavam grudados e aquilo era o suficiente para eu não querer mais sair do seu lado. Era bom sentir o corpo quente dela junto do meu, nossas mãos estavam entrelaçadas e eu, com a mão livre, passava em seu cabelo.

Cante para eu dormir

Diga que você vai ser o meu rouxinol

Alguém fale comigo

Porque estou me sentindo péssima

Preciso de você para me responder

-Com o que você estava sonhando? – perguntei.

-Era como no dia em que ela me levou de Londres, eu não me lembro mais do rosto da mulher agora ele é só um borrão na minha cabeça – disse Clary – Era tudo tão escuro. Meu pai era quem tinha mandado ela me levar, ele não me amava.

-Foi só um sonho, pequena – disse tranqüilizando-a.

Estou sobrecarregada

Preciso de uma voz para ecoar

De uma luz para me levar para casa

Preciso de uma estrela para seguir

Eu não sei

Clary olhou para mim e eu podia ver seus olhos brilhando, lágrimas nasciam deles. Caçadores de sombras sempre tinham uma história trágica em sua família, até mesmo os Lightwood, Maryse pode não imaginar mas, nós sabemos o porque Robert não fica em casa e sim em Idris.

-Parecia real de mais. Talvez, ele não goste mesmo Jace – disse – Porque mesmo morto, não é possível que ele tenha ordenado me colocar em um hospital. Eu não sou louca.

-Já pensou que essa mulher pode ser a sua mãe?

-Mas, porque ela me odeia tanto? Pais devem amar seus filhos não devem?

-Devemos amar a nós mesmos sempre para que não precisemos depender do amor dos outros – falei sorrindo.

Nunca vi o bosque ao invés do mato

Eu poderia realmente usar sua melodia

Sou um pouco cega

Acho que é hora de você me encontrar

Peguei gentilmente o rosto de Clary e encostei sua boca na minha, seus lábios eram macios e carnudos. Poderia continuar beijando Clary durante a noite inteira.

-Acho que estou me apaixonando por você Jace Herondale – sussurrou Clary.

-É impossível não se apaixonar por mim – sussurrei de volta – Mas, tenho que admitir que não se apaixonar por você também está se tornando impossível.

Você pode ser meu rouxinol?

Cante pra mim, eu sei que você está aí

Você poderia ser minha sanidade

Passava das duas da manhã, Clary ainda não conseguia dormir.

-Quer eu cante para você? – perguntei.

-Agora você canta?

-Tenho muitas habilidades – sussurrei em seu ouvido.

Clary sorriu. Recordei em minha mente uma cantiga que nós caçadores cantávamos quanto éramos menores.

- Preto para a caça durante a noite. Branco é a cor de luto e morte. Ouro para a noiva em seu vestido de casamento. E vermelho para invocar um encantamento. Seda branca para quando nossos corpos queimam. Bandeiras azuis aos perdidos que retornam. Para o nascimento, cor de chamas é usado.
E também para lavar nossos pecados. Cinza é a cor de conhecimento sem fim. Para aqueles que não envelhecem a cor é o marfim. Para a marcha da vitória, Luzes cor de açafrão – minha voz era serena, eu realmente cantava muito bem eu fazia tudo muito bem – Cores verdes de corações quebrados remendarão. Para as Torres de Demônio a cor é o prata, A Cor de bronze poderes perversos invoca.

Clary finalmente conseguiu fechar os olhos e dormir. Nós dois então dormimos ali abraçados como se fossemos velhos amantes.