Premonição 7: Clube da Morte escrita por Lerd


Capítulo 6
Doppelgänger


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo, gente! Na minha opinião, um dos capítulos mais desafiadores que já escrevi, Espero que tenha ficado bom e que vocês gostem :DGente, eu tinha postado "sem formatação" e o cap. ficou todo sem os itálicos. Se você leu antes de eu corrigir, desculpa. Agora já arrumei HAHAHAHA Enfim, enjoy!



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Dahlia dormia tranquilamente. Estava de costas e o lençol cobria seu corpo apenas da lombar para baixo, deixando o resto nu. Diego mexia em seu computador de maneira atenta e apreensiva. Acabara de receber um e-mail anônimo e, embora quisesse acreditar que se tratava de uma pegadinha, em seu íntimo sabia que não era. Bunny Face está de volta.

A carta eletrônica era sucinta. Apenas um link para o facebook de Themis Aghata Dellis. Antes de clicar, Diego já sabia o que encontraria: o avatar da garota fora substituído pela clássica máscara de coelho. Em seu mural, junto a centenas de mensagens de condolências pela sua morte, a própria Themis postara:

Hacked by Bunny Face.

Mas o que isso quer dizer? Diego acompanhara os noticiários, ele sabia que a tal Themis morrera em um acidente. Não fora assassinada, sua morte fora vista por milhares de testemunhas. Então por que o Cara de Coelho está querendo os créditos por essa morte?

A não ser que aquele fosse um aviso. Fazia parte do perfil dele, esse tipo de ameaça. Mas por mais que tentasse desvendar o que aquilo queria dizer, Diego não conseguia chegar a uma conclusão.

Passara as últimas semanas trabalhando em pequenos casos de fraudes corporativas, coisas irrelevantes e que podiam ser facilmente dispensadas caso Bunny Facevoltasse a agir. Durante esse meio tempo pensou seriamente em pedir para ser afastado do caso e poder se dedicar a outras tarefas, mas não queria ser visto como um desistente. Queria estar nas ruas, queria prender assassinos e estupradores. Queria trazer os canalhas a justiça. Ao invés disso, estava cuidando de um fantasma e de meia dúzia de corruptos. Era frustrante.

— Volta pra cama, gatito. É sábado. — Dahlia disse, quase miando.

O rapaz girou a cadeira e encarou a namorada por vários segundos. Amava aquela mulher com cada centímetro de seu ser. Seguiu de volta para a cama de maneira cambaleante. Ainda estava nu e, ao passar em frente ao espelho, percebeu que seu cabelo estava uma bagunça.

Dahlia o recebeu de braços abertos e com um beijo doce.

x-x-x-x-x

Cassiel saiu de dentro do prontuário médico e deu de cara com Crystal extremamente aflita.

— Ela está bem? — A cigana foi rápida em perguntar, se referindo a Tina.

O rapaz assentiu com a cabeça e sentou em um dos bancos azuis apoiados na parede do hospital. Crystal se sentou ao seu lado e tocou seu joelho.

— Foi só uma queda brusca de pressão por causa do choque. Ela vai sobreviver.

A garota não soube o que dizer.

— Eu não sei como ela vai aguentar esse baque. O meu irmão morreu há duas semanas...

— Oh, eu sinto muito. — Crystal apressou-se em dizer, segurando as mãos de Cassiel. Ele sorriu de maneira triste.

— E agora a Grace. As duas eram melhores amigas, sabe? Eu realmente não sei como ela vai conseguir suportar tudo isso. Eu acho que vou voltar pra casa.

Crystal fez uma cara de confusão, e então Cassiel lhe contou toda a história, desde a discussão até a sua saída de casa.

— Eu tenho certeza que ela disse isso da boca pra fora. A gente não sabe como é perder um filho. Poderíamos muito bem dizer a mesma coisa.

Cassiel teve que concordar com aquilo. Em seu íntimo sabia que a mãe não lhe desejava o mal, menos ainda desejava que ele estivesse morto. Mas o que ela dissera o ferira de maneira que nenhum rebelde sírio havia conseguido. Era diferente sentir hostilidade de um total estranho e de sua própria mãe, da pessoa que lhe deu a vida. Mas ela precisa da minha ajuda. Eu não posso deixá-la sozinha. Decidiu que iria engolir sua mágoa e tomar conta de Tina.

O rapaz então pegou o celular para ligar pedindo um táxi, mas antes que pudesse digitar o número, Crystal viu a foto na tela. Apesar de já ter ideia de quem se tratava, perguntou:

— Quem é essa?

Cassiel não conseguiu esconder o orgulho ao dizer:

— É a minha filha Julia.

— Oh, você é casado. Me desculpe! — Ela disse, soltando a mão dele.

O rapaz abriu um sorriso meio torto.

— Não, não, eu não sou casado. A mãe da Julia morreu faz algum tempo.

— Eu sinto muito. — Foi tudo o que ela conseguiu dizer, pela segunda vez.

A cada nova descoberta, a opinião de Crystal a respeito de Cassiel mudava um pouco. Ele perdeu muitas coisas, a cigana pensou. Ficou dois anos preso na Síria, perdeu a mãe de sua filha, o irmão. E agora isto que estamos vivendo. Era impossível não se apiedar daquele homem.

A garota abaixou a cabeça e observou as mãos dele. Quando as tocara, sentira que eram macias e quentes, mas ao vê-las sentiu uma dor profunda em seu peito.

Havia escuras cicatrizes em ambas. Pareciam marcas de queimadura de cigarro e cortes profundos. Ele fora torturado. Crystal não pôde evitar desejar ver que outras cicatrizes ele teria pelo corpo. Provavelmente havia cortes em suas costas, braços e pernas. Se eu apenas pudesse curá-lo... Só ele, mais ninguém. Ele não merece, Mãe.

Cassiel discou o número do táxi e pediu um carro. Foi informado de que o veículo chegaria em dez minutos. Crystal ouviu tudo.

— Nós ainda precisamos conversar muito a respeito de tudo isso. — Ela conseguiu dizer.

— Eu sei. A morte da Grace deixou tudo mais claro. Podemos nos encontrar amanhã?

A garota concordou com um aceno. Pegou o celular dele e digitou seu próprio número, salvando-o na memória. Levantou-se e disse:

— Na biblioteca do centro, às nove da manhã. Tudo bem pra você?

— Perfeito. — Cassiel murmurou.

Crystal sorriu, deu as costas e saiu.

Só quando ficou sozinho com seus pensamentos, foi que Cassiel teve tempo de organizar todos os eventos que acabaram de acontecer diante de seus olhos. Visualizou a doce e educada figura de Grace e sentiu uma dor profunda se formar dentro de si. Quando menos percebeu derrubou uma lágrima pela morte da amiga. Era a primeira que derrubava em muito tempo.

x-x-x-x-x

Erika acordou com o grito.

Marissa conseguiu segurar o ferro de passar roupa segundos antes de ele cair com força na cabeça de Jamal. O metal encostou levemente no braço do menino, que gritou com a queimadura. Ele instantaneamente começou a chorar.

— Oh, meu amor! — A loira choramingou, pegando o garoto no colo e correndo até a cozinha. Erika foi atrás, e observou enquanto Marissa ligava a torneira da pia e deixava a água correr pela queimadura no braço de Jamal.

A morena colocou a mão no peito, aliviada por não ter sido nada mais grave. Cody apareceu em seguida, perguntando:

— O que aconteceu? Eu ouvi gritos.

— Foi o ferro. — Marissa explicou, enquanto tentava acalmar Jamal. — Ele quase caiu em cima da cabeça do Jamal.

Cody ficou branco. Nenhuma das mulheres percebeu, pois não estavam com a atenção focada nele. Marissa já dava as coordenadas:

— Liga o carro, Erika, nós vamos levá-lo ao hospital.

A morena concordou e saiu. Marissa deixou Jamal sentado em cima da pia, ainda choramingando, e foi pegar uma sacola. Cody aproximou-se do menino e começou a fazer carinho em sua cabeça.

— Tá tudo bem, cara. Foi só um susto.

O menino ainda soluçava, com a cabeça a mil. Marissa voltou com o plástico cheio de gelo e pediu que Jamal o segurasse em cima da queimadura. Pra Cody disse apenas:

— A gente já volta.

O rapaz concordou e deu um beijo no topo da cabeça de Jamal antes de eles saírem. Em segundos o carro já seguia seu rumo, deixando Cody sozinho e reflexivo. Um acidente. Foi por pouco. Pra alguém do tamanho dele, um ferro daquele peso na cabeça seria fatal.

Os pensamentos de Cody trabalhavam a todo vapor. Alguma coisa estava definitivamente errada. Primeiro Themis, e então em seguida Jamal sofrera um acidente quase fatal. Não podia ser normal.

Correu até o quarto e ligou o computador. Não se surpreendeu nem um pouco com as respostas que encontrou no tópico que criara horas antes. A maioria eram comentários sarcásticos e debochados, mas um em especial lhe deixou bastante intrigado. Fora postado por alguém que se identificava como “Coelho da Morte”.Dizia:

Toma cuidado, loirinho.

Como ele sabe? O fórum era anônimo. Não havia fotos nem nada do gênero. Mesmo assim, o tal Coelho sabia a cor do cabelo de Cody. Poderia ser um simples palpite e não significar nada, mas também poderia significar muita coisa.

Eu preciso falar com o Cassiel, foi seu único pensamento racional. O que quer que estivesse acontecendo, ele não conseguiria resolver sozinho. O militar fora quem tivera a premonição e quem estava tendo os sonhos. As chances de os dois desvendarem, juntos, todo aquele enigma, eram muito maiores do que sozinhos.

x-x-x-x-x

A chamada chegou como um raio, atingindo Kitty em cheio. O recado era sucinto:

Nós encontramos dois corpos na Avenida Jennings. E um recado pra senhorita.

Maldito! Miserável, inútil, filho de uma puta!

Kitty ligou para Diego e em minutos os dois chegavam à cena do crime. Após alguns minutos de conversa com os peritos e com a testemunha que achou os corpos, a dupla descobriu algumas coisas.

Os nomes das vítimas eram Maura White e Luiz Rivera. Ambos eram universitários e moravam em uma república de estudantes. Maura era mexicana e Luiz era chileno. Algumas testemunhas diziam que os dois eram namorados, mas não havia certeza nisso. Para Kitty essa informação pouco importava. Maura e Luiz eram apenas uma desculpa para que o Cara de Coelho deixasse seu recado para a detetive. Ela estava escrita em sangue na parede acima da cama. Dizia:

Bem-vinda ao Clube da Morte, gatinha.

Aquela frase encheu Kitty de ódio. Seu celular então tocou:

O cara é burro. — Foi a primeira coisa que ela ouviu do outro lado da linha. Reconheceu a voz de Brandon, um dos policiais que trabalhava para a Homicídios. — Nós conseguimos rastrear de novo o celular que ele usou para hackear o perfil das vítimas. O nosso cara está lá pros lados das fábricas industriais abandonadas. Nós já mandamos duas viaturas para lá.

A inspetora agradeceu a informação e desligou. Por algum motivo, aquilo estava lhe cheirando a armação. Bunny Faceparecia esperto demais para cometer o mesmo erro duas vezes.

— Por que você ainda tá parada? — Diego resmungou, puxando-a pelo braço. Ele recebera a mesma chamada e parecia bastante impaciente.

Os dois entraram no carro e Diego deu a partida. Enquanto dirigia, foi dizendo:

— Eu recebi um e-mail dele hoje de manhã.

— Como? — Kitty se surpreendeu.

— Um e-mail. — Diego repetiu. — Era o link do perfil daquela garota que morreu durante a apresentação de teatro. Themis alguma coisa.

A detetive assentiu com a cabeça.

— Por algum motivo a foto do facebook dela estava com a máscara do filho da puta. Isso é bizarro.

Primeiro o infame Clube da Morte, e agora isto. Qual é a sua, Cara de Coelho?

— Ele só pode estar tentando nos confundir. — Kitty respondeu. — Eu não consigo ver outra hipótese.

Diego bufou e concordou.

x-x-x-x-x

Cody estava apreensivo, sentado no sofá, quando Marissa e Erika chegaram. Jamal dormia no colo da morena, que delicadamente subiu as escadas para colocá-lo na cama. Marissa caiu ao lado do irmão, cansada.

— Foi uma queimadura de segundo grau só, pra nossa sorte. Mas como eu pude ser tão irresponsável? Ele poderia ter se machucado de verdade!

— Não foi culpa sua, Marissa. — O rapaz respondeu. — Tem algo que eu preciso te contar.

Aquela frase assustou a loira. Ela rapidamente se sentou e começou a encarar o irmão.

— Você se lembra daquela coisa que me contou? Sobre os sonhos do Cassiel?

— Lembro. O que é que isso tem a ver com qualquer coisa?

O rapaz bufou. Pelo tom de voz da irmã, seria difícil convencê-la. Ela parecia estressada, o que era natural levando em conta o incidente de horas atrás. Você vai precisar usar seu charme, Cody.

— E se... For mais do que um sonho?

— Como assim?

— E se ele está é tendo... Uma espécie de mau agouro, sei lá. Hein? Aconteceu no dia do acidente. Ele previu aquela porcaria toda e salvou as nossas vidas. Pode estar acontecendo de novo.

Marissa encarou seriamente o irmão por vários segundos. Então meneou a cabeça negativamente. A face de Cody murchou.

— Não, Cody. Não! Eu não sei o que diabos aconteceu com o Cassiel naquele dia, mas os sonhos dele não tem nada a ver com o acidente do Jamal. Nada!

Antes que a mulher pudesse dizer mais alguma coisa, Erika desceu as escadas com o celular em mãos. Percebeu o clima tenso, mas disse mesmo assim:

— O Cassiel acabou de te ligar, Marissa. Uma amiga da mãe dele, aquela oriental que tem a ONG, sabe? Ela faleceu. Foi hoje a tarde. Seria bacana se nós fôssemos ao enterro pra dar uma força pra Tina. Há duas semanas ela perdeu um filho, agora perdeu uma amiga. Não deve estar sendo fácil.

A face de Marissa tornou-se um quadro em branco. Erika não percebeu e, sem se dar conta, completou todo o enigma:

— Esse ano está cheio de tragédias. Primeiro o Paul, no zoológico. Daí a noiva do Ulysses lá da Anubis, agora essa garota. E todas elas pessoas tão boas! E jovens! A vida é mesmo muito injusta.

Aquilo pareceu ter sido o suficiente para persuadir Marissa. Ela suspirou e então chamou a parceira para sentar-se ao seu lado. A morena não entendeu nada, mas fez o que a outra pedia. Sentou-se entre ela e Cody, como uma criança no meio dos pais. Assustada, ouviu a loira dizer:

— O Cody vai te contar uma coisa e eu preciso que você ouça com muita atenção e só julgue depois de ele ter contado a história completa.

x-x-x-x-x

Todas as viaturas cercavam a velha fábrica de bebidas. Havia dezenas de policiais ali, todos com a esperança de capturar o serial killer com cara de coelho. Junto a eles, vestida com um colete a prova de balas, estava a inspetora Ramona Cooper, a detetive que encabeçava o encalço pelo Cara de Coelho. Diego Valens, seu parceiro, estava dentro de uma das viaturas, fazendo contato com o responsável por rastrear o celular do assassino.

— Vocês não conseguem uma localização mais específica dele? — O homem perguntou.

Não. A nossa tecnologia não é tão avançada assim, Valens. Estamos nos Estados Unidos, não na China.

Diego involuntariamente riu. Agradeceu a informação e desligou. Por vários segundos ficou dentro do carro observando a foto de Dahlia que carregava presa ao espelho retrovisor. Beijou os dedos, colocou na face da garota e saiu.

— Nós vamos ter que entrar. Não tem como termos uma localização mais exata.

Kitty assentiu com a cabeça. Então reuniu todos os homens e começou a dar coordenadas de como eles deveriam agir. Diego afastou-se para atender o celular, mas a mulher não deu bola. Assim que todas as instruções foram passadas, a inspetora guiou seus homens na linha de frente para dentro da fábrica abandonada.

Eram duas da manhã. A área em que a fábrica se localizava era completamente afastada de qualquer habitação, e o chão era de terra seca. Ali havia diversos galpões e prédios em ruínas, construções que não eram visitadas há mais de quarenta anos. A inspetora e seus homens estavam entrando no prédio principal, de onde estava sendo emitida a localização do celular de Bunny Face.

Os homens vasculhavam cada centímetro do lugar, procurando pelo assassino. Eram três andares e o prédio era enorme. Em seu interior havia um extenso maquinário, com enormes objetos enferrujados que não eram usados há décadas. Era um lugar fácil para uma pessoa se esconder.

De repente, Kitty notou a ausência de seu parceiro.

— Mas que... Porra. — Ela não conseguiu evitar sussurrar.

Sem que seus homens notassem, saiu do prédio. Do lado de fora havia quatro policiais de prontidão caso o Cara de Coelho fugisse em disparada, mas nenhum deles era Diego. A mulher olhou através do vidro dentro do carro e não o descobriu. Então seu celular tocou. Era uma mensagem. Kitty sabia exatamente quem era o remetente, mas mesmo assim surpreendeu-se ao ler.

Estou com o bonitão. Prédio errado, gatinha.

Droga! Valens, seu estúpido!

Kitty estava contra a parede. A mensagem era clara. Nas entrelinhas, Bunny Face dizia: você tem que vir salvá-lo. Se trouxer reforços, ele morre. O assassino era alguém inteligente e sucinto, econômico nas palavras.

A detetive sabia que eles jamais deveriam ceder e fazer as vontades de um maníaco psicopata, fora uma das primeiras coisas que aprendera na academia de polícia. Aquela era uma armadilha clara, na qual ele esperava conseguir atacá-la sozinha. O racional seria pedir que seus homens vasculhassem a área até encontrar Diego. Mas havia uma forte possibilidade de ele ser assassinado no processo.

Por outro lado, ir sozinha era quase uma sentença de morte. O tempo estava correndo e Kitty precisava tomar uma decisão. Antes de fazer qualquer coisa, ela discou o número de Diego. Tocou, tocou e caiu na caixa postal. Assim que a detetive desligou, recebeu uma mensagem, vinda do celular do parceiro:

Eu não estou blefando.

Era aquilo que Kitty mais temia. Esperava que fosse tudo um blefe de Bunny Face, mas aparentemente não era. Ele realmente estava em posse de Diego.

x-x-x-x-x

O prédio por onde Diego caminhava era escuro e úmido. O detetive seguia com a arma empunhada, forçando-se a não tremer ou ter medo. Em sua cabeça só ouvia a voz sussurrante de Dahlia dizendo:

— Por favor. Yo no quiero morir...

Por dentro, Diego estava em chamas.

Como ele conseguiu?, era tudo em que o homem conseguia pensar. A voz do outro lado da linha quando ele atendera ao telefone era clara. Dahlia. De alguma maneira Bunny Faceconseguira capturá-la e agora o estava chantageando. Naquele momento, tendo alguém que amava tanto em perigo, não conseguira pensar claramente. Ignorara todos os procedimentos e padrões que lhe foram ensinados na academia de polícia. Chegara ao cúmulo de abandonar seu celular a pedido do assassino. Estava perdendo o controle.

Tudo o que conseguia pensar enquanto caminhava, era no fato de que Dahlia já poderia estar morta. Bunny Faceem geral não fazia ameaças, ele apenas matava. Talvez porque ele escolhe as suas vítimas ao acaso. Ou escolhia, pelo menos. Nós somos presas bem específicas...

De repente, o detetive ouviu um ruído. Olhou para cima e viu um vulto se mexendo na escuridão. Subiu as escadas o mais devagar que pôde, cuidando para não fazer muito barulho. É desnecessário, pensou logo em seguida. Ele sabe que eu estou aqui.

O vulto parecia ter entrado na primeira porta a esquerda. Diego encostou-se na parede e suspirou em silêncio. Então empunhou a arma e arrombou a porta.

Foi recebido com várias pancadas desferidas por uma barra de ferro. Dahlia batia nele com ferocidade, tentando realmente machucá-lo. A barra era pesada, de modo que cada golpe, mesmo com a pouca força física aplicada, doía bastante. Diego conseguiu manter a frieza e segurar o braço da namorada quando ela estava prestes a lhe bater na cabeça. Imobilizada, Dahlia deixou o objeto cair no chão.

— Sou eu, amor. Eu. Você está a salvo.

Ao contrário do que ele imaginou que aconteceria, aquela frase não deixou Dahlia nem um pouco mais calma. Ela continuava inutilmente se debatendo e tentando se livrar dos braços dele. Psicologicamente cansado, Diego a soltou. A mulher então correu até um canto da sala e encostou-se na parede como um bichinho acuado.

— Dahlia, sou eu, o Diego. Olha pra mim.

— Sai daqui! — A mulher berrou. — Me deixa em paz hijo de puta! Me deixa em paz... — E começou a chorar descontroladamente. — Não me mata, por favor... Eu não quero morrer...

Diego não conseguia entender absolutamente nada. Por que ela está com medo de mim? Por quê...?

E então, de súbito, compreendeu.

Foi como uma epifania, só que ao invés de em sua cabeça passarem trechos de sua vida, passaram informações que ele colhera a respeito do Cara de Coelho. Ele é um hacker. Ele pode descobrir qualquer tipo de informação e usar isso a seu favor.

O assassino se fizera passar por ele. Era fácil. Uma máscara, um tom de voz mais grosso, ameaças e diversas informações descobertas através de suas redes sociais. Ele podia acessar seu facebook, saber quais as comidas preferidas de Dahlia, seu apelido, a maneira como ela e Diego se tratavam. Podia marcar um encontro através do perfil. A garota jamais desconfiaria. Lá, ainda mascarado, ele a maltrataria. No terror do momento, Dahlia não conseguiria dizer que não era seu namorado.

Pelo menos temos uma pista. Ele é realmente um homem, foi o último pensamento de Diego.

E então ele ouviu o barulho da serra elétrica. Dahlia gritou de pavor.

Bunny Faceestava atrás de Diego, com a máscara no rosto, um moletom preto e calça jeans. Antes que o detetive pudesse se virar, o assassino ligou a serra elétrica e posicionou-a logo abaixo das pernas de Diego. Ele então serrou o homem da virilha até a barriga. O sangue jorrou de maneira abundante, com o detetive cuspindo uma enorme quantidade de líquido vermelho. Sentiu toda a dor, e ao olhar para baixo percebeu que diversas coisas caíam no chão, junto ao sangue. Diego supôs que eram seus órgãos, o que só aumentou seu horror. Deu um último olhar para Dahlia, a expressão de nojo em seu rosto, e então caiu morto.

O assassino desligou a serra elétrica e fez sinal de silêncio, para que a mulher não gritasse. Apavorada e confusa, a garota fez o que o assassino pedia e tapou a boca.

x-x-x-x-x

Kitty entrou de maneira acuada no prédio em que Diego acabara de ser assassinado. Ele era bastante afastado dos outros prédios, de modo que ninguém ouviria caso houvesse algum confronto. Alguns segundos mais cedo e ela teria ouvido o barulho da serra elétrica ligada. Bunny Facepercebeu a presença da detetive com rapidez. Esgueirou-se através das paredes e entrou em uma cozinha industrial abandonada.

Ele já havia trabalhado naquele cômodo no dia anterior. Trocara o gás e comprara os ingredientes necessários. Era a sua cartada de mestre. Sempre tivera a curiosidade, de modo que decidiu unir o útil ao agradável. Seria divertido.

A inspetora olhava para todos os lados com atenção. De repente, ouviu um barulho de alguma coisa caindo. Localizou-se através do som e seguiu calmamente até a cozinha. Ao entrar lá, deparou-se com um cômodo iluminado. A cozinha, apesar da sujeira e da poeira, funcionava. O fogão industrial estava ligado, e a enorme bacia de metal estava cheia de óleo fervente. Por alguns segundos, Kitty titubeou. Tocou o walkie-talkie no bolso e pensou em pedir reforços. Era o correto. O que estava fazendo era loucura.

Recuou alguns metros. Pegou o aparelho e estava prestes a pedir ajuda quando foi atingida por um soco nas costas. Bunny Facebateu nela e correu para subir as escadas. Kitty foi rápida em lançar a mão até seu coldre, mas surpreendeu-se ao não encontrar a pistola. Olhou para cima e viu o assassino encostado na grade segurando a arma. Por trás da máscara de coelho, Kitty teve a certeza de que ele sorria.

Ao contrário do que ela esperava, ele não usou a pistola. Fez o completo oposto: retirou o pente e o arremessou para longe. Então deixou a arma sem munição cair aos pés da inspetora. O Cara de Coelho deu uma risada infantil e diabólica e deu um pulinho de felicidade.

E então chamou a detetive com as duas mãos, convidando-a para uma briga.

Ele parece uma criança querendo brincar...

Kitty apressou-se em subir atrás dele. O assassino esperava no topo das escadas, e assim que a mulher subiu, recepcionou-a com um chute no peito que a fez rolar os degraus. Enquanto ela se levantava, o Cara de Coelho sentou-se no chão de pernas cruzadas e deitou a cabeça no ombro. Aguardou que a detetive se recompusesse e então correu em disparada.

A mulher o seguia através de todo o segundo andar. O local era composto por um “buraco” em que se podia ver todo o primeiro andar, e de onde se poderia cair. Ele era em forma de quadrado, e haviam grades de segurança enferrujadas que impediam a queda. Era, porém, um lugar imbecil para uma perseguição, já que Kitty podia vê-lo com facilidade o tempo todo, mesmo que ele estivesse do outro lado do andar.

Bunny Facecorria dando pulos e batendo nas grades de ferro. Aquilo fazia um barulho insuportável e que distraía Kitty. O assassino dava gritinhos de êxtase e movia-se como um ninja. Quando a detetive estava prestes a capturá-lo, ele se desvencilhava e ganhava terreno.

Kitty era uma ótima corredora, mas mesmo assim ela estava ficando cansada. O assassino subiu em uma das grades e ficou de cócoras. Então se despediu com um aceno de mão e pulou para o andar de baixo, por cima das grades. Apesar da altura, Bunny Faceaterrissou com um gato. Olhou para cima uma última vez e então entrou na cozinha.

— Filho da puta! — A policial resmungou.

Desceu as escadas de dois em dois degraus e entrou na cozinha com rapidez, tentando não perdê-lo de vista.

Ao entrar, se deparou com o nada. Silêncio absoluto.

— Cadê você, seu filho da puta? Aparece desgraçado!

Nada. Apenas o barulho do borbulhar do óleo.

Kitty andava de maneira lenta, atenta a qualquer barulho. Jamais imaginaria que Bunny Face estaria escondido ali.

Em cima da coifa, pendurado como um macaco. Assim que a detetive passou embaixo dele, o assassino pulou em suas costas, pisando com força em seu pescoço. Eles estavam em frente a panela de óleo fervente.

A cabeça de Kitty imergiu no líquido num único baque. A dor foi absurda. O líquido escaldante fritou seu rosto, criando bolhas que surgiam e explodiam em questão de segundos. A mulher teve tempo apenas de soltar seu grito de agonia mais profundo, e então desfaleceu. A panela caiu em cima dela, despejando o restante do óleo fervente em seu corpo. O Cara de Coelho pulou de volta para a coifa antes que acabasse se queimando junto.

Ali de cima ficou observando o corpo inerte de Kitty. Seu rosto estava num estado horrendo e com queimaduras grotescas. Estava irreconhecível. Bunny Faceinclinou a cabeça, pouco satisfeito. Esperava que fritar um rosto humano fosse um pouco mais divertido. A carne nem ao menos cheirava bem como as asinhas de frango.


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Notas finais do capítulo

Alguns esclarecimentos:A "Mãe", que Crystal menciona em um pensamento, é a Mãe Tríplice, uma sentidade da religião wicca.SIM, "Avenida Jennings" é uma homenagem *-*Por último... Alguém aí ainda duvida do sadismo de Bunny Face HAHAHAHA Ele é mau! XDAé, falei que a frase acima era a última, mas: eu sei que Ulysses está sumido. Mas isso é porque as cenas dele seriam todas relacionadas a perda de Themis, e achei desnecessário, cansativo. Acabei optando por deixá-lo de lado nesses dois últimos capítulos. Mas no próximo ele voltará com tudo, prometo :DÉ isso, abração o



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