Oceano Flamejante escrita por Aloistitch


Capítulo 1
Capítulo único.




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Inglaterra, 7 de setembro de 1888.

Demônio dos orbes graçapé,

   Sugerisse a mim para que treinasse a caligrafia, e o faço por meio desta carta. Todavia, aviso de antemão que mostrá-la a ti está fora de cogitação. Achar-me-ás mais ridículo do que já achas. Sim, sei que o acha.

Quiçá, é tua rouquidão – muitas vezes proposital, andei percebendo que a forjas – que me intimida. Soas tão grandioso e apático que faz-me acanhar, e todo o proclamar que escapa por entre a trêmula fissura de meus lábios soa demasiadamente enternecedor e vulgar.

Simultaneamente, é tua figura sempre tão impérvia que me tenta a atiçá-lo com meus disparates infantis, e que tanto me apraza ao ver que enfim consegui irritá-lo.

Teus cabelos também me levantam suspeitas, sempre tão bem penteados e negros como breu do mártir que lhe deu a luz. Confesso perder-me na observação do contraste que a infinidade de fios dá a sua pele sobrenaturalmente alva e na maneira harmoniosa com a qual as madeixas debruam-lhe a face.

E de que belíssima esculpida face és provido. Todas as linhas e contornos delineadas em primoroso consenso, qual pintura renascentista.

Ainda assim, devo confessar-lhe que minha perdição está nos teus olhos, par de orbes por jus assemelhados a um oceano flamejante, cujas chamas me consomem a cada olhar que me lanças. Parecem devorar-me sempre que calado me repreendes, e sempre que te calas pareces repreender-me.

Aliás, suponho que já lhe conste, árdua tarefa me é lidar com tuas repreensões. Divide-me o dilema entre atirar-me aos teus pés em prantos, implorando entre soluços pela fórmula do teu contentamento e estapear-lhe a face, cuspindo-lhe um insulto do mais baixo calão. No fim, conformo-me com o silêncio complacente, no aguardo do teu próximo ataque.

É toda esta tua feitiçaria, filhote de Lúcifer, que perante a ti me faz parecer tão patético. Agora, não vejo-me n’outro lugar que não trançado em tua teia de aranha até o fim dos tempos, eternamente tua presa, teu amo, tua borboleta azul.

                                                                                             Amarga e apaixonadamente, Vossa Alteza.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu só achei importante ressaltar que eu só consegui escrever essa fanfic com a seguinte trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=1Er8wXuqdEY