Eram dois dias antes das seletivas. Kurt e Blaine iam cantar um dueto naquele dia. Eles estavam se dirigindo para um ensaio do Glee club após a aula de inglês, quando Kurt, de repente, parou em frente à porta da sala do coral. Ele estava com um olhar assustado estampado em seu rosto.

"Kurt?" Blaine perguntou, parando ao seu lado. "Você está nervoso?"

"M-muito." Ele estava tremendo quando Blaine colocou uma mão em seu ombro.

"Vai dar tudo certo, Kurt." Blaine disse, comfortando-o. "Nós praticamos muito!" Era verdade. Eles haviam passado a maior parte do tempo praticando a música "How Long Will I love You" no campo deles. Um lugar onde podiam aproveitar a amizade e falar tudo o que sentiam sem  ninguém para os incomodar por isso. Algumas vezes, Blaine se encontrava admirando Kurt, quando ele estava muito ocupado apreciando o sol se pôr da vista de debaixo da árvore deles.

Como ele consegue não gostar de si mesmo? Blaine se perguntava.

Assim que eles entraram na sala, Mr. Schue pediu para começarem assim que estivessem prontos. Blaine se sentou atrás do piano da sala do coral, chamando Kurt para se sentar ao seu lado.

"Você toca piano??!" Kurt sussurrou. Às vezes, parecia que Blaine era capaz de fazer tudo. Ele assentiu, posicionou seus dedos nas teclas e começou a tocar a melodia do início da música.

Ai, meu Deus. É ainda mais bonita com Blaine tocando. Pensou Kurt, referindo-se à música.

Então, eles começaram a cantar juntos, fazendo das duas vozes, uma só. Quando terminaram, todos aplaudiram de pé. Tinha sido fantástico.

"Pelo jeito, a acústica da sala é melhor do que um campo vazio." Blaine disse, quando eles estavam saindo da sala do coral, assim que o sinal tocou. "Aquilo foi incrível! Você foi incrível, Kurt!" E pela primeira vez, Kurt acreditou naquele elogio. "O que acha de comemorarmos assistindo a RENT?" Blaine perguntou, encostando-se no armário ao lado do de Kurt.

Kurt riu. "Sério? Foi só um dueto!"

"Sim, mas toda hora é hora de RENT." Kurt riu ainda mais. "Vamos lá! Eu sei que você adora esse musical."

"Hum..." Kurt fingiu estar pensando por um momento. "Ok. Te vejo amanhã." Kurt ia se virar e ir embora, mas Blaine o abraçou e deu um longo suspiro.

"Obrigado, Blaine." Kurt sussurrou durante o longo abraço. "Por tudo."

Eles se soltaram. Blaine o encarou por um tempo antes de sorrir e o deixar sozinho.

Ai meu deus. Pensou Kurt. Como eles haviam se tornado tão amigos em tão pouco tempo?

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Blaine acabara de chegar à casa de Kurt, um dia antes das Seletivas e estava esperando o outro garoto se preparar para eles assistirem a RENT em seu quarto.

Ele começou a andar pelo corredor da casa, vendo várias fotografias de Kurt, seu pai e uma mulher que parecia ser sua mãe. Então, Blaine viu a porta do banheiro ao lado do quarto de Kurt fechada. Ele pensou em entrar, lembrando-se do que Kurt disse sobre geralmente se cortar lá.

Então, ele entrou. E as primeiras coisas que seus olhos acharam foram duas lâminas no balcão da pia; uma de gilete e outra, provavelmente de apontador. Ele passou o dedo por uma delas e percebeu como eram afiadas.

Como Kurt aguenta a dor disto? Ele se perguntou.

Foi aí que ele percebeu que Kurt era mais forte do que ele pensava.

"Blaine?" Blaine se assustou com a voz de Kurt vindo da porta, deixando a lâmina cair na pia. "O que você-"

"Como você consegue?" Blaine se virou, perguntando. "Digo, usar essa lâmina? Não dói demais?"

"Este tipo de dor faz eu me sentir vivo... Para compensar que já estou praticamente morrendo por dentro. Além do mais, eu acredito que mereço essa dor." Kurt percebeu que Blaine estava a ponto de começar a chorar; Seus olhos estavam vermelhos e aquilo era estranho. Geralmente era Kurt quem chorava.

"Kurt, eu quero que você tente algo." Ele disse, aproximando-se do outro garoto e o conduzindo até a sala, onde iriam assistir ao filme. Kurt sabia o que ele iria dizer. Eles se sentaram no sofá e Blaine começou:

"Olhe, eu sei que isso é muito díficil de fazer, mas..." Ele deu uma pequena pausa, olhando para os pulsos de Kurt. "Eu quero que você tente parar. S-só tente."

Kurt não respondeu, apenas continuou olhando para baixo fixamente.

"Se não for por você ou por qualquer outra pessoa ao seu redor, que seja por mim...Somos amigos, certo?" Blaine perguntou.

Kurt não sabia o que responder. Ele ainda achava que Blaine era bom demais para ser seu amigo. Ainda achava que não o merecia.

"Sim, nós somos." Kurt sorriu um pouco. "Mas, eu não sei se consigo, Blaine."

"Bem, eu sei que consegue!"

"E se eu falhar?" Kurt perguntou.

"Kurt, ouça, quando você sentir a vontade de fazer um corte, eu quero que você me ligue." Blaine dizia, olhando fixamente em seus olhos. "Não importa a hora, local, dia ou semana. Apenas me ligue. Eu vou estar lá para você."

Kurt queria muito fazer o que Blaine disse. Mas, ele sabia que não conseguiria. Porque todas as horas em que ele estava prestes a se cortar, a única coisa que ele conseguia pensar era no sangue que iria descer pelo seu braço em pouco tempo. Então, ele mentiu. Ele mentiu para agradar a Blaine.

"Eu posso tentar." Ele não podia.

Blaine sorriu e o abraçou. Kurt, então, soube que mentir valera a pena. Era sempre assim. Ele tentava agradar a todos a sua volta. Talvez, havia sido isso o que fez Kurt ser quem ele era.

Depois disso, Kurt e Blaine passaram o resto da tarde assistindo a RENT e comentando, a cada música que tocava. Eles nem percebiam como estavam se apaixonando um pelo outro tão rapidamente.

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Naquela noite, Kurt estava mais nervoso do que nunca. As seletivas seriam no dia seguinte e todo tipo de pensamento ruim que podia invadir sua mente, estava por perto. Ele estava entrando em pânico.

Se você falhar no palco amanhã, os únicos que são seus amigos vão passar a te odiar. Seus "monstros" lhe diziam. Quem não o odeia?

Kurt começou a andar de um lado para outro em seu quarto, procurando desesperadamente por uma lâmina. Ele pegou uma que achou em sua escrivaninha e se encostou na parede, deslizando até o chão.

Kurt levantou a manga de sua blusa e posicionou a lâmina num lugar onde havia cortes quase cicatrizados. Antes de fazer mais um para sua coleção, ele se lembrou das palavras de Blaine.

"Apenas me ligue" Ecoou a voz do moreno em sua cabeça.

Mas, antes que ele pudesse alcançar o telefone, seu braço já estava sangrando. Kurt esticou o braço com que segurava a lâmina e pegou seu celular, que estava na escrivaninha.  Ele digitou o número de Blaine o mais rápido possível, que atendeu no primeiro toque.

"Kurt?" Ele ouviu a voz de do garoto do outro lado, com um tom de preocupação. "O que aconteceu?" Era incrível como Blaine percebia que algo havia acontecido sem nem ver o rosto de Kurt.

Então, ele começou a chorar, e Blaine pôde ouvi-lo claramente.

"D-Desculpe." Ele disse, tremendo. "Eu me c-cortei de novo. Eu disse que não conseguia. E-eu sinto muito."

Blaine não disse nada por um tempo. Depois de alguns segundos -que pareciam, na realidade, minutos-, ele falou:

"Kurt, está tudo bem. A culpa não é sua e-"

"Mas, eu disse que iria tentar!" Ele quase gritou. Porém começou a chorar de novo logo em seguida, histericamente.

Blaine não respondeu, mas Kurt conseguia ouvir a sua respiração do outro lado da chamada.

"B-Blaine?" Ele disse, assim que se acalmou. "V-Você pode cantar a nossa música?"

Então, sem dizer nada, Blaine começou a cantar, com a voz mais doce e suave que Kurt já ouvira:

         How long will I love you

          As long as stars are above you

         And longer if I can

No meio da música, Kurt começou a cantar junto com ele, sua voz saindo quase em um sussurro.

          How long will I hold you

          As long as your father told you

         As long as you can

Aquilo o fazia bem. Ouvir a voz de Blaine, cantar com ele e perceber como suas vozes se sincronizavam perfeitamente, formando apenas uma.

Blaine o fazia bem.