(Narrador)

Há um costume entre homens que traem de serem o extremo do ciúmes. E há nas mulhered traídas um tanto quanto amor demais.

Laura sempre foi uma mulher forte, idependente e guerreira. Ser uma mulher traída nunca esteve em seus planos ou pensamentos, mas o amor falou mais alto pra ela. Não o amor por Rodrigo, mas o amor pelos filhos. Uma mãe pode sacrificar a própria personalidade por amor de suas crias. A própria felicidade. Mas o amor verdadeiro tem o poder de criar situações para que um casal que realmente se ame esteja junto.

Rodrigo chegou em casa naquela manhã, entre o desespero e a esperança. Sua vontade maior era proteger sua amada Laura do mundo, do perigo, de qualquer sofrimento. Mas havia feito uma promessa a ela, e como homem de palavra que era, resolvera contar o que acontecera com Flora e ele.

Laura estava se arrumando apressadamente para o trabalho, deixando o café pronto, para assim, acordar as crianças. Rodrigo a observou cuidar de tudo, um sorriso de orgulho e amor.

– Ei, minha prenda - ele a abraçou apaixonadamente pela cintura, e a beijou - Como vai tudo?

Ela ainda fazia tudo apressadamente, e ele ia atrás dela, ajudando a arrumar a mesa e preparar tudo.

– Edgar está.vindo pra cá, pra Porto Alegre, quero dizer - ela sorriu, engraçado como tinha um olgar diferente quando falava dele - Alugou um apartamento aqui perto, num condominio fechado e vem com Meli ainda hoje.

Rodrigo sentiu um medo de repente, um ciúme corrosivo. O medo de perder sua Laura era maior que qualquer coisa.

– Essa sua amizade com Edgar sempre foi estranha pra mim, o que tem entre vocês? - ele parou de secar um prato no meio do caminho, e falou grosso e irritado.

Laura o olhou como se ele fosse louco ou algo assim. Revirou os olhos e depois riu.

– Nada, Rodrigo, você nunca teve ciúmes de Edgar, o que deu em você?

Ele negou com a cabeça. O medo de perder Laura era maior que sua palavra.

Laura saiu meio indignada com a atitide do marido para acordar as crianças. Algo dentro dela ficou abalado, talvez só o fato de que lembrara do quase romance com Edgar na adolescência. Mas sentiu o coração palpitar, algo dentro de si remexer com força.

E de repente se tocou que sempre amou Edgar Vieira.

***

P.o.v. Edgar

Laura entrou correndo pela porta do apartamento, passando por cima de caixas e ventiladores e me abraçou.

– Me sinto tão segura sabendo que está perto de mim agora! - ela sorriu.

Minha surpresa não foi maior que minha alegria. Explodi por dentro.

– Fico feliz de estar perto de você, Laurinha.

Ela havia trazido um vinho. Abri então e enchi duas taças, sorrindo comigo mesmo.

– Não devia estar trabalhando? - brinquei.

– As crianças estão bem com Marina - ela sorriu de novo. Ela sempre sorria quando estava comigo sem o marido. Isso era maldade comigo.

Sentamos os dois, bebericando de vez em quando.

– Ed - ela ficou séria de repente - Por que um homem trai? - sua pergunta me fez pular.

– Nem todo o homem trai - respondi.

– O que leva um a fazer isso? - ela insistiu. Não parecia triste. Curiosa, apenas.

– Não posso ter certeza do que leva um homem a fazer isso, Laura. Catarina me traiu, a culpa foi minha. Nunca a amei como ela merecia, e sempre deixei isso claro pra ela.

– Eu fiz algo de errado? - ela perguntou, me lembrando uma criança com medo de receber uma advertência.

Fiz que não com a cabeça.

– Não, Laura. Não sei por que Rodrigo fez isso com você, mas ele faria com qualquer outra. É a natureza dele. É perceptivel que ele te ama. Mas nunca entendi o amor dele.

Ela fez que sim, pensando por alguns momentos.

– Como era fazer amor com Catarina? - ela não me olhou pra responder, mas eu pude ver um misto de curiosidade e... ciúmes?

– Nunca fiz amor com Catarina, Laura - suspirei - Com ela era só sexo, algo de pele mesmo. Acho que mais um desejo desenfreado. Fazer amor está além disso. É mais que corpo, é o encontro verdadeiro de duas pessoas e...

Laura me interroupeu com um beijo. Paralisei, vendo ela me olhar, surpresa pela própria atitude.

– Sinto muito - ela falou, encabulada.

Sorri com o vermelhão no rosto dele. Rodrigo que me desculpasse, mas ele fez por merecer. Toquei o queixo dela, carinhosamente e a beijei. Nos beijamos com uma paixão louca e saudosa, como se esperassemos a vida toda por aquilo. Laura tentava tirar minha camiseta. Dessa vez eu não a impedi.

Peguei-a no colo com todo cuidado e a coloquei no colchão do chão.

Finalmente, nos entregamos um ao outro.

***

P.o.v Laura

Saí da casa de Edgar prometendo falar con Rodrigo assim que ele chegasse em casa, mas não pretendia esperar tanto. Peguei um taxi até o hospital, e entrei com pressa na Neurologia, estacionando surpresa ao ver Flora e ele abraçados, aos prantos. Tremi.

Outras pessoas estavam ali, chorando como crianças.

Ninguém conseguia me responder o que acontecera.