Já se passavam alguns meses desde que o jovem humano se encontrava todos os sábados, ás nove e meia da noite no centro da floresta com Marceline. Tudo começou com o tédio repentino de Marceline. A vampira em seus mil e sete anos andava totalmente insegura e solitária, a grande Rainha dos Vampiros, a herdeira da Noitosfera não poderia se sentir assim, tão... Triste?! Era sexta feira no dia em que a Princesa Jujuba anunciara uma grande festa. Marceline, por estar tão só, foi de penetra. Jujuba e Marceline não tinham uma relação muito boa, eram só xingamentos e implicâncias da parte da vampira e ordens da princesa feita de doce. Foi neste dia, lento e entediante, na festa de Jujuba que aquele menino apareceu. Para ser mais exata, não era bem um menino. Agora, era um homem. “Oh meu Glob, quanto tempo eu dormi?” Marceline avistou o menino alto que se apressava em cumprimentar á todos. Como dito antes, Marceline estava andando solitária e estava mais madura conforme sua idade na imortalidade avançava, por isso não queria nem saber de suas velhas aventuras com os amigos, Finn e Jake, havia anos que não os via. Ela o encarou por alguns segundos, e esperou pacientemente ele falar com ela. Passou a mãos pelos cabelos, descontraída, enquanto observava o menino ficar meio sem graça.

– Marceline. – Ele deixou escapar um pequeno sorriso. – Quanto tempo.

– É. Você não mudou nada. – Ela o analisou. – Bem, só cresceu, está mais bonito e...

Tampou as mãos com a boca. Seu rosto estava tão vermelho que outro vampiro poderia ir ali, e chupar-lhe a cor.

– Você também está muito bonita. – Deu um sorriso perverso.

Sentaram os dois juntos, numa mesa. Conversaram sobre coisas fúteis, lembraram-se do passado, Marceline raramente permitia-se divertir.

– E Jake? – Ela perguntou curiosa. Não podia esquecer-se do cachorro chato que os acompanhava fazendo diversas piadas sobre morcegos.

– Jake casou com a Lady íris... – Ele abaixou a cabeça. – Teve filhos e... Saiu de casa. Não o vejo muito desde então.

Assentiu, dando-lhe um sorriso de força.

– E a jujuba, ainda está nessa furada? – Riu a vampira abertamente.

– Que nada. Aos 14 anos comecei a namorar a Flame, mas... Ela não se controlava muito e eu sempre acabava com a cara queimada. Não deu muito certo. Tenho estado sozinho desde então.

– Ah. – Marceline ficou sem graça.

– E você, probleminha. – Ele deu um sorriso malicioso, usando o apelido que Marceline ganhara de Jujuba. – Como está sua vida?

– Entediante. Para provar, até tenho ido a Noitosfera em busca de diversão. Sem resultado.

Ela parou olhando os músculos que Finn deixava á mostra, tirando o casaco preto.

Conversaram por mais algumas horas.

– Bem, eu já vou indo. – Disse o garoto.

– Porque não passa lá na floresta amanhã, nove e meia? Vamos improvisar! – Ela se referia aos momentos antigos em que ela e Finn improvisavam músicas, com ela no baixo e ele fazendo diferentes sons.

Ele gargalhou.

– É claro, Srta Abadeer. – Deixou escapar uma risadinha.

– Nos vemos amanhã, então. – A vampira olhou pra trás mais uma vez, enquanto flutuava, vendo ele a olhar intrigado.

No dia seguinte, Marceline acordou cedo, tomou um banho, vestiu seu casaco listrado, pôs um short, e calçou um tênis. Jogou os cabelos para trás. E começou a escrever. Escrevia, cantava, tocava. Escrevia de novo, apagava, jogava a folha fora, tocava mais alto, gritava. Quando olhou pro relógio faltavam apenas alguns minutos para nove e meia. Saiu correndo, desajeitada, levando o baixo, seu melhor amigo, e flutuou até o centro daquela floresta; esperando seu velho amigo.

Finn estava próximo à floresta, pensando na beleza da Marcy, Marcinha, Probleminha. Como ela mudou.

– Oi Finn. – Sentou num tronco de árvore caído, enquanto afinava o baixo. Ele não respondeu apenas continuou encarando sua amiga.

Ela começou a cantar:

Quando eu era feliz, eu tinha você.

Porque eu era feliz, só com você.

Muitos anos se passaram e,

Cadê você?

Sumiu de vista

Deixou-me aqui sozinha,

Cadê você?

A voz de Marceline continuava doce, quando cantava. Tinha até melhorado, se aperfeiçoado. Finn a olhou intrigado com a música e continuou ele mesmo, no improviso, sua canção.

Você que me abandonou, sim foi você.

Eu não queria te estressar por isso deixei pra lá.

Não me importo á onde for, agora que eu te achei

Não vou te perder

Eu vou com você

Marceline sorriu triste para a continuação de Finn. Era verdade, no fundo ela sabia que os havia abandonado. Ela voltou a cantar:

Perdoe-me por tudo o que fiz, com você.

Obrigada por estar aqui comigo, me fazendo viver.

Prometa que não vai me abandonar

Prometa, por favor, e não se vá.

Um clima diferente circundava o ar em que estavam, Marceline constantemente ficava vermelha, e Finn até suava de ansiedade. Aonde e quando ia acabar a música? Finn aceitou a brincadeira e continuou cantando.

Eu prometo, prometo por você.

Me abrace, o tempo não vamos mais perder.

Por favor, diga que não estou sonhando.

Quero continuar aqui, te olhando.

Seus olhos, sua pele, seu lindo rosto,

Você.

Silêncio.

– Você não gostou? – Ele perguntou aflito.

– Mas é claro que gostei Finn. É... Linda. – O abraçou.

– Por favor, não se vá de novo. Eu não vou suportar estar no mesmo lugar com você, e você me evitando. – Ele retribuiu o abraço e Marceline ficou envolta em seus braços, e antes que era a maior que o engolia com o corpo, agora se sentia novamente aquela garotinha. Seus olhos brilharam, outra vez e seu corpo esquentou com o calor de Finn. O nome da música? Você. Ou nós. Eles não decidiam.

Passaram seis meses se encontrando ás escuras. Não tinha motivo de esconder de ninguém, mas eles gostavam de fazer um som, sozinhos, com privacidade. Podiam ali, falar o que sentiam, o que queriam, a hora que sentiam vontade.

Certa noite de encontro, começaram á cantar assim que se viram. Finn, não havia esperado Marceline afinar o baixo, fazer aquele ritual todo, e não conversaram. A vida deles era movida pela música.

Ainda cantando, Finn aproximou seu rosto do rosto de seu probleminha favorito, e a beijou. Um beijo calmo, porém insaciável. Agarravam-se loucamente, pondo em dia todos os meses que ficaram sem se tocar desde o primeiro dia.

– Marcy... – Ele sussurrou no ouvido dela. – Foge comigo.

Ela congelou.

– Ma-mas e o Jake?

– O Jake também me abandonou... Eu encontrei minha vida de novo... Em você.

Sem pensar duas vezes, Marceline o beijou novamente, um beijo cheio de desejo e paixão.

– Tudo bem. – Aceitou seu pedido dando um lindo sorriso iluminado pela lua.

E dali foram andando no meio da floresta, por um caminho qualquer, por um mundo desconhecido. Não se preocuparam com roupa, comida, casa. Nada, mais importava naquele momento.

Apenas o amor, que estava só começando.

Vagaram por ai, e Finn realmente descobriu, O Outro Lado da Escuridão.

Deram as mãos e caminharam sem rumo, sem destino. Queriam apenas estar juntos, e que se danasse o futuro. Atenta aos batimentos cardíacos de Finn, a vampira sussurrou no ouvido dele um pedaço da canção que ele criara á alguns meses pra ela.

“Me abrace, o tempo não vamos mais perder.

Por favor, diga que não estou sonhando.

Quero continuar aqui, te olhando.”

The other side of Darkness