Crónicas Do Céu Ao Inferno: O Último Carrasco escrita por Joaquim Almeida


Capítulo 6
Pistas no escuro


Notas iniciais do capítulo

A policia investiga o aparecimento de um novo corpo decapitado no Pátio do Limoeiro, mas Estêvão sabe que se tratam de duas vitimas, uma ainda permanece desaparecida. A policia continua sem suspeitos e Estêvão esbarra com o aparecimento de uma inesperada prova.



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Já ouço as sirenes da polícia em alvoroço a aproximarem-se. O pequeno Pátio que ainda á pouco estava vazio e sossegado a servir de palco a dois ardentes amantes está agora num imenso frenesim. A grande velocidade chegam dois carros da polícia, travam violentamente e deixam no ar um odor a pneu queimado. Quatros agentes saíram de cada carro e de um outro que afrouxava agora com detectives da polícia. Um homem alto de cabelos curtos e encaracolados, todos emaranhados e óculos da moda do século passado sai do carro rapidamente e rompe, de nariz empinado, a passos largos por entre a multidão de polícias acabados de chegar e os habitantes curiosos que já ali se juntavam. Atrás do homem, já com o bloco de notas em punho segue-o a agente ruiva. Mesmo na noite o seu brilho natural permanece irradiando luz em toda a sua volta. Perante os seus olhos brilhantes e amendoados até as estrelas no Céu limpo perdem o protagonismo.

                Com o grande ajuntamento que já está ali presente agora posso aproximar-me e camuflar-me entre os comuns curiosos. Sai do carro e avancei por entre a multidão, muitos deles estavam de pijama. Acordaram provavelmente com o barulho e, mesquinhos como são, saíram mesmo sem trocar a vestimenta. Consegui chegar á frente até á fita azul e branca da polícia que delimitava a zona. O corpo da loira já estava a ser levado pelos paramédicos, todo envolvido num papel que lembrava alumínio. Parecia um ovo da Páscoa mas o brinde é que não era o melhor.

                Há sangue por todo o lado como no caso da menina Maria. Ao que parece o Espírito do Carrasco gosta de fazer espalhafato. O detective convencido recolhe amostras da marca da mão de sangue na parece. Mal ele sabe o que se tinha passado antes da chacina. Se investigasse bem poderia vir a encontrar vestígios da descendência do homem desaparecido. Um polícia, ou um turista disfarçado de um, captava imagens do local com uma máquina fotográfica. O corpo da mulher já tinha sido levado mas ainda se sentia no ar o cheiro a queimado. Desta vez o Espírito não tinha apenas decapitado o corpo mas também deitara-lhe fogo. Não são características normais de um Espírito comum que pode dizer muitas coisas.

                Mesmo ao meu lado está a deslumbrante detective a recolher depoimentos á idosa e ao seu filho com quem eu tivera no dia seguinte ao anterior crime.

                - Quer dizer Sr.ª Benvinda que poucos minutos antes de sair de casa e se deparar com o corpo mutilado ouviu suspiros e outros barulhos estranhos? – questionou a agente Pinho.

                 - É como lhe digo menina detective. Á três dias que não durmo com medo que aconteçam mais crimes e na esperança de ouvir sons estranhos e hoje ouvi-os.

                - E Sr. Nicolau foi o primeiro a sair e ver esta cena?                                                      

                - Sim senhora. Já da outra vez fui eu e a minha mãe os primeiros a encontrar o corpo da menina Maria. – respondeu-lhe o homem.

                - E quando chegou não viu ninguém?

                - Não.

                - Nem viu um vulto ou algo suspeito que lhe chamasse a atenção?

                - Bem na verdade… - pensou Nicolau melhor. – quando estava a sair á porta ouvi um barulho e deu-me a impressão de ser um corpo a embater no chão. Deve ter sido arremessado ali de cima ou perto. – aponta para o cimo das casa á sua frente.

                - Então o que me está a crer dizer é que o assassino andava por cima dos telhados com o corpo e atirou-o aqui para o Pátio?

                Ao ouvir a sua resposta o homem focou a acha-la absurda.

                - Bem, não posso afirmar que assim o tenha sido, foram frações de segundo, mas foi o que me pareceu quando vinha a chegar aqui.

                Também perto de mim estava um polícia e pode ouvir o seu intercomunicador a emitir som: “ Daqui cabeça azul nº2 está a ouvir-me cabeça azul nº7?”. O polícia rapidamente retira o objecto que pendia á sua cintura e responde:

                - Afirmativo. Estou a ouvi-lo.

                A voz do outro lado volta a falar-lhe: “ Preciso que me envie um detective. Foi encontrado um corpo masculino também ele decapitado no Centro de Estudo Judiciários.”

                Pelo que pode entender da conversa do outro policia que estava do outro lado tinham encontrado um outro corpo. Podia tratar-se do corpo do homem que tinha estado com a loira.

                - Recebido. Vou destacar um dos investigadores que aqui estão e envia-lo para ai.

                O policia deixa o seu posto e dirige-se á detective ruiva á minha beira. Chama-a com um toque no ombros para que esta se afaste e lhe dê privacidade para ou outros ali presentes não o ouçam.

                - Detective Pinho foi encontrado um outro corpo no Centro de Estudos Judiciários. Preciso que vá cobrir o local.

                - Entendido agente Pereira. Parece-me que temos um assassino em série á solta e continuamos às aranhas com o caso. Irei já para o local.

                O outro corpo estava num outro local, porque teria ido para ali, presenciei os crimes e não dei por os corpos desaparecerem mas o corpo que perdi de vista parece não ter ido longe, se se tratar do corpo que procuro. Vou abandonar também o local e investigar o Centro de Estudos Judiciários.

                Volto atrás por entre a gente curiosa de olhos posto no festival montado pela polícia. Subo a rua até um local recatado e escondido dos civis que passam nas ruas abaixo e acima. Perco a minha forma humana aos poucos, nascem-me penas pretas no corpo que encolhe e dá lugar á fisionomia de um corvo. Os ossos estalam com a transformação dos braços em asas escuras e compridas assim como o bico que me nasce no meu rosto agora com olhos brilhantes e pretos. Estou ainda atrofiada ainda com a mudança mas alongo as negras asas preparando o voo. O vento bate-me nas penas e começo a ganhar altitude dirigindo-me acima dos prédios que me rodeiam para visionar todo o perímetro. Com um breve bater de asas e em voo picado desço dos Céus até um fio eléctrico que atravessa a rua. De patas aterro sobre ele de onde tenho toda uma visão da rua.

                O Centro de Estudos Judiciários está visivelmente mais calmo que o Largo do Limoeiro. Talvez os moradores aqui não tenham dado pelo aparato policial e dos bombeiros já ali presente. Um bombeiro descia as escadas encostadas ao edifício e trazia em braços um corpo decapitado. Identifiquei-o rapidamente. É o amante da loira que tinha sido retirado pelas forças presentes de uma corda que o pendia numa das janelas. Este corpo não está queimado como o outro mas pelo que consigo observar não foi encontrada a cabeça deste também.

                A detective chega agora ao local chefiada por dois polícias barrigudos.

                - O que temos aqui Sr. Agente? Mais um corpo sem cabeça como os que temos encontrado no Pátio do Limoeiro?

                - Exactamente. Está a tornar-se muito repetitivo. Este assassino é perito em cortar cabeças. Ainda nada de suspeitos?

                Instintivamente a detective Pinho procurava evidências por todo o perímetro.

                - Nada. Este caso é difícil. As provas que encontramos são quase nenhumas. Apenas corpos decapitados, sangue só da vitima e embora pareça estranho não encontramos qualquer impressão digital para alem das dos próprios. – do chão a mulher, agachando-se, recolhe uma prova qualquer. – é um assassino muito cauteloso, não se descuida em nada. Não deixa rasto nenhum para que o possamos seguir. Também tentamos arranjar uma justificação para a sua morte, um namorado rancoroso, um pai furioso, mas nada. Nem as analises clínicas nos esclarecem em mais nada.

                - A vítima não possuía drogas que possam ligar a sua morte a um ajuste de contas de dealers?

                - Também nos ocorreu isso, mas nada. O corpo foi para analise mas nem uma substancia suspeita apresentava no organismo.

                - Minimamente estranho não?

                 - Bastante. Estamos a lidar com um profissional ou um maníaco que mata apenas por prazer mas é bastante cauteloso. Tenho esperanças que se encontrarmos ligação entre estas duas novas vitimas e a anterior possamos ter um caminho a seguir.

                Estavam a levar o corpo para o interior de uma ambulância como anteriormente fizeram ao da loira. Dois paramédicos encarregavam-se do trabalho mas são parados pela detective Pinho.

                - Deixem-me dar uma olhada no defunto.

                - Com certeza.

                Um dos homens abre o fecho do saco que cobria o corpo. A ruiva olha-o por alto tapando o nariz com uma das mãos e com a outra onde empunhava a caneta, afastava as vestes do morto procurando por algo.

                - Que se destaque nada. Tenho de esperar pelos relatórios dos médicos e da polícia.

                A detective afastou-se e os paramédicos voltaram a selar o corpo no saco e transporta-lo para a ambulância.

                Deslumbrante a detective desfila pela cena do crime com um olhar profundo sondando e assimilando tudo em seu redor. O seu cabelo ruivo brilha na noite quente e ondula com o vento. Rebelde, mas esta luta para o prender por detrás das orelhas para que não lhe tape a visão. Esta a ser assistida por os dois policias que a acompanhavam quando chegou. Nenhum deles se preocupa realmente com o que se passa em sua volta. O mais novo, mas com a barriga igualmente grande á do companheiro, olha o corpo da mulher seguindo cada movimento que o rabo desta faça. Esta enfeitiçado com o deslumbrante traseiro da detective. O Espírito do Carrasco podia estar agora mesmo atrás dele preste a decapita-lo que não se moveria Sá para acompanhar as curvas da Sr.ª Pinho. O seu parceiro não tão pasmado com o corpo de deusa da mulher mas sempre que a oportunidade surgia deitava um olhar ao decote desta espreitando-lhe os redondos seios. A detective Pinho parecia não reparar nos energúmenos que desejavam o seu corpo mesmo colados a ela.

                Afincadamente procurava por todo o perímetro por algo que a pudesse levar ao assassino que acreditava existir. No chão junto á valeta mesmo por baixo da janela onde o corpo decapitado esteve pendurado ela encontra um colar. De onde estava não percebi bem do que se tratava mas pareceu-me um medalhão. Deixei o pouso no fio eléctrico e voei até o parapeito de uma janela mais próxima.

                Em mãos tinha um pingente muito similar a uma moeda. Era um pingente Wicca. Uma estrela de cinco pontas prateada e brilhante. A mulher ruiva pareceu não dar tanta importância ao achado como eu dou. Apenas o pôs num pequeno saco transparente e o guardou no bolso interior do casaco como qualquer outra prova. Mas eu sei o seu significado.

                O pentagrama Wicca é como o crucifico no cristianismo. É usado como objecto de protecção e fé. Cada ponta da estrela significa um elemento da Natureza: o Fogo, o Ar, a Terra e a Água e o quinto elemento é representado como a Alma. Não se trata de um elemento Satã como muitos dos comuns mortais pensa. É figurativo de uma religião.

                O pingente pode significar muito no local onde foi encontrado. Não deve pertencer ao Espírito do Carrasco Luís Alves dos Santos e não me lembro de reparar que o homem o usasse quando aninhava com a mulher. Um pentagrama Wicca pode ser usado por Bruxos ou Xamãs nos seus feitiços. Com esta nova prova surge-me a ideia de poder estar perante um desses seres mágicos que evocam Demónios ou Espíritos vindos do Inferno. O Espírito de Luís Alves pode não ter encontrado sozinho a fuga pelos Portões do Inferno mas ter sido evocado por outro alguém que usa a raiva de um ser maligno aprisionado á quase cem anos nas chamas escuras.  

                Aguardei ainda umas horas que os polícias e toda a multidão deixassem o local para ter a oportunidade de roubar o pentagrama á detective Pinho. Como agente empenhada foi uma das últimas a abandonar a cena do crime.  


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Notas finais do capítulo

As mortes continuam e Estêvão precisa de conseguir o amuleto encontrado pela detective para seguir a sua busca pelo Espírito. Terá de enfrentar a bela agente Pinho para o conseguir porque ela não lhe entregará uma prova de livre vontade. Deixem comentários sobre a história, preciso de opiniões.



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