Edyel escrita por Heitors


Capítulo 1
Capítulo Único




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Edyel

Você sabe que tudo tem um preço... Não?

Duel estava tenso e seu coração palpitava descompassado. Sua respiração estava ofegante, não pela pequena corrida que havia feito segundos atrás para estar junto a sua amada, mas pelo sentimento enorme de esperança que existia em seu peito. Havia dado certo? Implorava para que sim. Fitava a mulher em seus braços com aflição, ânsia, impaciência, temor, carinho, ternura, amor...

Você está disposto a pagar este preço?

Seus sentimentos misturaram-se num furacão e pareciam indecifráveis até mesmo para ele. Tudo que queria era ela, que ela estivesse bem, que ela estivesse a salvo, que ela estivesse viva. A mulher respirava, mas ela não abria os seus olhos. Por quê? Minutos que se assemelhavam mais a uma eternidade passaram naquele momento.

Por que ela não estava acordando?

Por Edna, eu faço qualquer coisa!

Ela então abriu suas pálpebras, seus olhos verdes esmeraldas que brilhavam com vida, imediatamente encontraram os olhos dele.

Não se esqueça de sua palavra, Duel Pon Zec...

Duel chorou.



-Eu aceito. - Edna respondeu com um largo sorriso no rosto, seus olhos cor esmeralda brilhavam como jóias polidas até o ponto de alcançarem a perfeição, e Duel, encantado, afundou-se neles, caindo no abismo preenchido pelo amor daquela mulher, um lugar da qual jamais queria ser resgatado.

O sacerdote escolhido para liderar aquela cerimônia - trajando um longo manto cor vinho com tiras em dourado, destacando-se bastante no altar em contraste com as roupas puramente brancas que o casal a sua frente usava – levantou com as mãos dois cálices prateados, e segurando-os diante de si, os noivos estenderam cada qual o braço direito sobre a boca dos objetos.

Um padrinho e uma madrinha aproximaram-se com adagas de laminas reluzentes e afiadas, e Herathor - o padrinho escolhido por Duel - postando a pequena arma contra a pele de tez azulada de seu líder e amigo, provocou-lhe um leve risco na base da mão que imediatamente brotou sangue. O liquido carmesim escorreu pela palma do asmodiano, caindo dentro do cálice na forma de largas e fartas gotas. Após três delas estarem acumuladas no interior do objeto, Duel trouxe a mão de volta para si e esta foi imediatamente envolvida por um pano suave por Herathor a fim de parar o sangramento.

O mesmo repetiu-se com Edna, cuja madrinha repetiu o ritual, que após de completado, o sacerdote então virou ambos os cálices prateados, depositando o conteúdo destes num terceiro cálice que descansava sobre um pedestal – dourado com diversas pedras em rubis e esmeraldas adornando-lhe as laterais – e o sangue de ambos mesclaram-se com o liquido escuro que previamente estava no terceiro cálice.

O sacerdote então entregou os cálices prateados para um assistente, e tomando o dourado em ambas as mãos, dirigiu-se aos noivos e a todos na cidade que os rodeava perto da fonte central.

-O sangue simboliza a vida, e a união feita dentro deste cálice representa a vida que ambos terão juntos a partir deste momento. Eu, assim como todos nossos amigos, companheiros, irmãos aqui presentes nesta cerimônia hoje, reconhecemos perante os deuses a aliança e o compromisso que Duel Pon Zec e Edna Pon Zec realizaram um para com o outro na forma de voto eterno, afirmando que de hoje em diante pertencem unicamente ao outro até o fim de seus dias e além, nós, os reconhecemos perante as tribos do submundo como marido e mulher.

O sacerdote então estendeu o cálice na direção do casal que com as mãos que foram cortadas ambos seguraram juntos o objeto, e sorrindo, o sacerdote acrescentou.

-O vinho contido neste cálice misturado ao sangue de vocês representa a fartura. Que suas vidas sejam abençoadas e repletas como merecem. – Edna e Duel sorriram e cada qual tomou parte do liquido que havia no interior do objeto.

O general asmodiano então como mandava a tradição, manteve seus olhos fixos em sua esposa enquanto tomava metade do conteúdo do cálice que sua amada ajudava a segurar.

Em seguida, Edna repetiu o gesto, finalizando o liquido. O povo então jubilou, explodindo em gritos e palmas que ecoavam a felicidade daquele momento naquela região do submundo. O casal sorriu, e unindo suas mãos após depositarem o cálice dourado de volta ao pedestal, uniram seus lábios num toque gentil e terno, dando inicio a grande celebração do casamento.




A celebração estava destinada a durar pelo resto da semana, porém, quando a noite dominou os céus do submundo e o forte – que naquela época apresentava-se como uma gigantesca cidade pacifica – iluminara-se com várias luzes, o casal recém unido em matrimonio retirou-se discretamente para o conforto de sua casa.

Duel, sentado sobre a cama ainda trajando as vestes brancas da cerimônia, fitava com admiração sua mão esquerda enquanto ouvia a musica provocada pelo despencar da água pelas pedras da queda d’ água. Edna se retirara para a suíte do quarto onde naquele exato momento banhava-se. O anel de ouro em seu dedo brilhava constantemente com a luz cintilante emitida pelas velas acesas sobre a cômoda, que iluminavam parte do leito do casal e permitia que todo o resto do aposento fosse abraçado pelas sombras.

Com sua mão direita, ele tocou gentilmente o objeto, seus lábios partiram-se num sorriso afetuoso e lagrimas preencheram-lhe o canto dos olhos. Ele casara-se com Edna, o amor de sua vida, e naquele momento não havia nenhum outro homem que poderia estar mais feliz que ele.

Seu amor revivera, e casara-se com ele! Havia tanta alegria em que coração que por um momento pensou que este explodiria dentro do peito.

O general então ergueu a sua face quando ouviu o som duma porta sendo aberta, e virando-se, deparou-se com a esposa trajando uma fina veste de seda vermelha que agraciava sua forma de forma harmoniosa e bela. A mulher o fitou com um terno olhar, seus olhos como esmeraldas brilhavam com aquele fogo intenso e árduo capaz de alcançar sua alma e aquecê-la pela eternidade, e verdadeiramente, Duel admitiu silenciosamente, Edna era capaz de fazê-lo.

Ele a amava tanto... Sentira tanta dor quando ela partiu de sua vida de forma inesperada, saudades de tocar-lhe o rosto, envolvê-la em seus braços, perder-se no infinito amor que ela também sentia por ele.

Lentamente a mulher aproximou-se do esposo, que levantou-se da cama para em seguida estender sua mão a ela, que com um jovial e provocante sorriso no rosto, uniu os dedos dele aos seus num enlace apaixonado.

Ambos fitaram-se longa e demoradamente, após instantes, Duel levantou sua outra mão e tocou a face da amada gentilmente, sentindo mais uma vez a suave textura da pele de Edna, as curvas familiares que lhe formavam a linha das maças do rosto. Tocou-lhe a testa, as sobrancelhas, deslizou em seguida os dedos pelo nariz e então descansou sobre os lábios fechados de sua esposa, observando-a intensamente como que para memorizá-la, tornar a volta dela, a sua presença ainda mais real na sua vida.

Edna entendeu o significado daquele momento e permaneceu imóvel, sorrindo enquanto fitava o amado, soltando a mão do general asmodiano para envolver-lhe a cintura e aproximar-se ainda mais dele.

Os olhos cor vinho de Duel suavizaram-se, sua mão então deslizou para baixo do queixo de Edna e erguendo-o gentilmente, ele inclinou-se para frente, então uniu seus lábios aos dela mais uma vez.

O abraço tornou-se mais intenso, a sede que ambos sentiam um para com o outro se tornou mais presente do que nunca após tantos anos de cruel separação. Buscaram juntos pela água que cessaria de vez a escassez do deserto que havia surgido entre eles, unindo-os para jamais afastá-los novamente.

E naquela noite eles concretizaram o juramento que fizeram um ao outro no altar de casamento.




-Por isso devemos manter esta rota para os suprimentos chegarem ao forte, por mais tentador que seja cortar o caminho pelo desfiladeiro e economizar tempo de viagem. – Herathor pronunciou-se a sala cujos oficiais presentes permaneceram em absoluto silencio escutando-o.

O General então dirigiu a atenção para seu líder, e curvando-se levemente, voltou a sentar em seu lugar a mesa, Edna em seguida se levantou e complementou.

-Herathor tem razão. De momento continuaremos o transporte de suprimentos pela rota atual até que uma melhor e segura via alternativa surja. Por mais que queiramos diminuir o tempo de viagem, devemos ter em mente que o mais importante é continuar a garantir o sustento de nosso povo e a segurança daqueles que trazem os mantimentos.

Os oficiais assentiram suas cabeças, concordando. Duel em seguida também se levantou, gesto que foi imediatamente copiado por todos os presentes.

-Desta forma finalizamos todos os assuntos que deveriam ser discutidos hoje. – Ele sorri, e segurando uma das mãos de sua esposa, anunciou. – Declaro esta reunião encerrada.

Alguns oficiais após um cumprimento geral deixaram o edifício, outros permaneceram e iniciaram conversas de assuntos variados com seus amigos e colegas que também permaneceram no Quartel General. Edna aproveitou este momento para inclinar-se para mais perto de seu esposo e lhe sussurrou discretamente no pé do ouvido.
-Preciso falar com você a sós, Duel.

O general asmodiano fitou por um momento a amada com curiosidade cintilando em seus olhos cor vinho, ele assentiu a cabeça e despediu-se rapidamente de Herathor, o casal então deixou rapidamente o edifício.

O homem e sua mulher caminharam com tranqüilidade nas ruas do forte, o sol estava se pondo no horizonte dos céus do submundo e ainda havia bastante movimento nas ruas. Freqüentemente ambos cumprimentavam conhecidos conforme voltavam para sua casa, porém, com exceção destes momentos, eles permaneceram completamente silenciosos durante o trajeto.

Quando entraram no familiar e confortável ambiente da sua residência, Edna não se deteve a sala de estar, continuou a caminhar na direção do quarto e seu esposo curioso a seguiu. A mulher de longos cabelos róseos e brilhantes olhos verdes esmeraldas parou frente ao guarda-roupa do casal e abrindo uma das portas, tirou do móvel uma pequena peça de vestimenta azul desbotada que lembrava muito a uma roupinha de um recém nascido.

Edna sorriu e entregou a peça para Duel, cujos olhos se arregalaram com surpresa e então fitaram a esposa com grande esperança, implorando pela confirmação que imediatamente manifestou-se dos lábios da amada.

-Duel, eu estou grávida.

O general piscou uma, duas, três vezes, lagrimas brotaram de seus olhos quando a mulher tomou uma de suas mãos para pousá-la sobre o próprio ventre, onde naquele instante uma criança começava a se formar.

O filho deles, o filho que ambos tanto desejavam e não puderam ter no passado.
Duel ajoelhou-se frente a mulher e seus lábios pousaram-lhe gentilmente sobre o ventre, num gesto afetuoso para com a criança que sem sombra de duvidas seria muito amada por seus futuros pais.

Edna enterrou os dedos no cabelo do amado, acariciando-lhe os fios prateados com carinho e afeto, e ele, erguendo a cabeça para poder fitá-la nos olhos, exibia um lindo sorriso que em meio a lágrimas de felicidade demonstrava o quão alegre estava com a noticia quando palavras lhe faltavam à boca.

A mulher sorriu-lhe de volta.




Uma das coisas que ocorria com mais freqüência no forte, devido à grande população que este abrigava dentro de suas altas e imponentes muralhas, eram festas de aniversário. Naquela noite era homenageado a data de nascimento de Herathor que extremamente ocupado em cuidar do grande numero de convidados, afastou-se de Duel para atender outros recém chegados.

O general asmodiano de curtos cabelos prateados e serenos olhos cor vinho vasculhou atento a multidão em busca de sua amada, porém, não a encontrando ali dentro do salão, silenciosamente com discrição ele saiu deste com intenção de procurá-la. Edna naquele momento encostava-se contra uma mureta perto do local onde a festa ocorria, admirava o céu asmodiano que se apresentava deslumbrante naquela noite.

Foi nesta posição que ele lhe encontrou alguns minutos depois.

-Querida, você está bem? Não a vi na festa. – A mulher fitou o amado com ternura e assentindo com afirmação a sua cabeça, disse.

-Apenas quis tomar um pouco de ar, Duel. - E voltando a fitar o céu, acrescentou. – Eu estava pensando...

-Pensando? – Ele inquiriu curioso, aproximando-se da amada e a envolvendo em seus braços. A mulher de longos cabelos róseos aninhou-se contra o peito dele e Duel a abraçou com mais força.

-No dia que nos conhecemos. – Sorrindo, ela falou com humor. – Aquela foi à única vez que ‘dançamos’ daquela forma.

-Dançamos? – Ele repetiu rindo, divertindo-se com a conversa. – Pensei que estivéssemos lutando! Não estava tentando me vencer naquele dia?

- Eu estava, na verdade, decidi perder de propósito. – Ela disse, com um sorriso provocante nos lábios, e as sobrancelhas dele arquearam-se com cômica incredulidade.

-Oh? E porque desta bondosa ação, Edna?

-Achei que ainda era muito cedo para dar uma surra em meu general diante de todo o exército e assumir o lugar dele no comando das tropas, queridinho. – Duel não agüentou e começou a rir, e ela também riu.

O mencionado general tomou as mãos da esposa e a guiou pelas ruas desertas do forte em direção a um dos centros de treinamento, enquanto dizia.
-Sinto que meu orgulho foi ofendido, senhora Pon Zec.

-E o que você irá fazer sobre isso? – Ela questionou com desinteresse fingido.

-Vou desafiá-la para um novo duelo, é claro!

Duel com um sorriso separou-se por um breve momento da amada e voltou no minuto seguinte carregando duas espadas de madeira, uma delas foi entregue a mulher e a outra permaneceu consigo. Eles seriam cuidadosos, não iriam fazer nada que prejudicaria a criança que se formava no ventre de Edna.

O casal então começou a andar lentamente em círculos na arena, afastado somente por três metros um do outro, não desviavam o olhar, existia ali somente eles. O primeiro golpe foi feito pelo general que verticalmente desceu sua arma sobre a cabeça da esposa que facilmente desviou do ataque dando um passo lateral, e esta num gesto provocador encostou o seu corpo contra as costas dele por um breve segundo, e então se afastou completamente.

Edna desta vez o atacou, seu golpe encontrou o ar vazio quando seu esposo executou o mesmo movimento de esquiva feito por ela, que prevendo que este tentaria segurá-la por trás, foi rápida em executar um giro com sua espada, fazendo o atento asmodiano pular para trás para não ser atingido.

-Nada de tentar me imitar, queridinho. – A mulher avisou.

Duel com um sorriso novamente investiu contra ela, desta vez Edna encontrou a espada dele com a sua e ele, aproveitando-se do momentâneo encontro, forçou ambas as armas sobre sua cabeça e com sua mão livre enlaçou a cintura dela e a puxou para perto de si novamente.

-Não a imitei agora, ‘queridinha’. – Ele disse com humor, e rolando os olhos e rindo levemente, ela questionou.

-Não deveríamos estar duelando?

-Uhum... Deveríamos...

Ele concordou, ignorando completamente o que havia feito nos últimos minutos para jogar sua arma no chão, prendê-la em seu abraço e unir os seus lábios aos dela num beijo apaixonado. Edna entregou-se, sua espada de madeira caiu abandonada e esquecida no solo junto a sua outra companheira, o sentimento de amor, de companheirismo e afeto envolveu a ambos num momento que pertencia somente a eles.

E quando o beijo terminou e ambos descansavam nos braços um do outro, Duel começou lentamente a dançar com a amada que se aninhou ainda mais contra ele, e naquele centro de treinamento eles dançaram ao som da musica que entoava em perfeita harmonia uníssona em seus corações apaixonados.




Foi com grande prazer e contentamento em seu coração que a bela mulher de brilhantes olhos cor esmeralda parou de tricotar para admirar o seu trabalho.

Seus dedos acariciaram o pano levemente azulado com delicadeza, um sorriso brotou-lhe no rosto conforme sua alma preencheu-se de amor pelo pequeno e inocente ser que carregava dentro de si, e era em momentos como este que ela não podia evitar imaginar como a criança seria.

Erguendo o seu olhar para fitar a encantadora vista da queda d’ água que existia a sua frente, a mulher ajustou o seu corpo sentado sobre a pedra e pousou uma mão no ventre que mostrava sinais claros de estado avançado de gestação, que, graças aos deuses, se desenvolvia com tranqüilidade, algo que a fazia agradecer todos os dias.

Quando receberam a confirmação de que ela realmente estava grávida mais uma vez, a mulher e seu esposo haviam ficado tão felizes que festejaram a noticia junto do povo que vivia pacificamente sob a liderança de Duel, porém, existiu sempre aquele medo entre o casal de que algo inesperado pudesse ocorrer como da primeira vez, e assim resultando na perda da criança novamente.

Seu coração apertou-se com angustia e tristeza ao lembrar-se do infeliz acontecimento, aquela perda era uma profunda cicatriz que estaria sempre presente na vida dela e de seu amado, uma marca perpétua que tornava aquele medo algo constante.

Num súbito impulso ela abraçou a si mesma como que para proteger o pequeno ser crescendo dentro de si, e fechando os olhos, respirou profundamente tentando afastar aquele sentimento ruim de perto dela.

De repente o medo e as duvidas desapareceram completamente, e confusa pela repentina paz que sentia no profundo da alma, ela olhou pelo decorrer das águas que desciam pelo rio e ficou imóvel, hipnotizada pelo que havia encontrado. Não muitos metros adiante havia uma criança asmodiana brincando serenamente nas margens da calma correnteza, como ela havia conseguido entrar no espaço exclusivo pertencente a sua casa Edna não soube explicar.

Vestia roupas que o identificava como um menino, mas o fato mais curioso era que o garoto trajava vestimentas muito elegantes para uma simples criança, que com panos de cores nobres e de tons vivos com aparência macia rodando-lhe a cintura e esvoaçando ocasionalmente com a brisa, cobrindo o fim da blusa azul marinho e o inicio da calça prateada, sendo ambos preenchidos com detalhes cuidadosamente feitos em dourado que harmoniosamente combinavam com algumas jóias que a criança usava o menino mais aparentava ser um príncipe, filho de alguém de muito poder e importância.

Com tez azulada e rosto angelical, pequeninos chifres salientando-lhe a testa, dando inicio ao curto cabelo prateado cujos fios bailavam com o vento, a criança lhe parecia familiar, porém, Edna podia confirmar que nunca antes havia visto aquela criança em sua vida, nem mesmo no passado entre seu povo enquanto o submundo estava em guerra.

O menino então ergueu sua cabeça, desviando sua atenção do rio para olhar diretamente para ela. A criança sorriu e os olhos da mulher arregalaram-se com surpresa ao fitar olhos tão verdes e vivazes como esmeraldas idênticos aos seus. O coração saltou-lhe no peito em reconhecimento.

-Edna?

A mulher piscou, virando o rosto imediatamente na direção da voz familiar. Duel estava ali do seu lado, fitando-a com preocupação e curiosidade.

-Você está bem? Está olhando para o rio há minutos, como se tivesse visto algum tipo de assombração.

-Não... Não era uma assombração... – Edna voltou a olhar para o rio, mas o menino havia desaparecido tão misteriosamente como quando havia surgido. Ela sorriu com afeição, e voltando a fitar o esposo, o tranqüilizou. – Eu estou bem, querido, não se preocupe. Trouxe o que lhe pedi?

-Certamente, jamais esqueceria. – Ele sorriu, entregando-lhe cuidadosamente uma tigela preenchida com vários cachos duma pequena fruta oval e azulada.

A mulher então tomou uma das frutas em sua mão e a depositou na boca. Duel naquele momento já havia se sentado ao lado dela na pedra, e envolvendo a amada nos braços, beijou-lhe a testa e ambos fitaram as águas tranqüilas do rio naquela tarde serena. Edna não mais tinha medo, pois sabia que logo havia de encontrar aquele menino novamente, era uma certeza que aquecia e alegrava-lhe a alma.




Os olhos cor vinho do asmodiano de cabelos prateados arregalaram-se e ele fitou seu subordinado, Herathor, com surpresa e certo estupor. Já o outro homem apenas sorria para o general e amigo, aguardando pela reação deste á noticia que trouxera ao QG poucos minutos atrás.

A minoria de oficiais presentes na sala de reunião do pequeno edifício também observava com atenção o seu líder, cada um deles exibia um sorriso diante da falta de reação por parte de Duel que, mesmo após minutos, continuava personificando a perfeita imitação duma estátua. Um dos comandantes levantou-se da mesa, e tossindo forçadamente para quebrar o silencio, teve sucesso em trazer para si os olhos de todos, inclusive os do General Pon Zec.

-Senhor, com todo respeito... Não deveria já ter tirado o seu traseiro da cadeira e ido ver sua esposa? – Uma musica formada por variados tons de risos percorreu o local e um leve rubor instalou-se no rosto do pai de primeira viagem.

Duel assentiu um pouco sem jeito, sua expressão facial revelava que não havia se encolerizado com a ousadia de seu subordinado. O general pousou mais uma vez os seus olhos em Herathor, e levantando-se do assento, aproximou-se do Calnatiano e o abraçou forte, gesto que foi de imediato correspondido pelo general.

-Obrigado, meu amigo... – O homem de cabelos prateados disse, afastando-se para olhar com gratidão o oficial.

-Vá meu senhor, hoje é um dia de alegria para a sua casa e para todos nós. - Herathor pronunciou-se com uma reverencia, e após ver um sorriso formar-se na face de tez azulada de Duel, o jovem oficial o assistiu sair às pressas da sala de reuniões com uma leve risada.

Geralmente quando passava pelas ruas do forte cujos anos transformara o local numa cidade próspera para si e para seu povo, o asmodiano de olhos cor vinho tomaria tempo para si, caminhando tranquilamente com passos lentos enquanto admirava as construções ou ia conversando serenamente com um conhecido. Há milhares de anos teve este hábito como uma forma encontrar um pouco de paz em meio à terrível guerra que assolara o submundo, e algumas vezes quando o fazia, era agraciado com os sons das trombetas que entoavam belas musicas junto dos risos e sorrisos de crianças que se aproximavam dele e o acompanhavam durante parte do trajeto escolhido para aquele dia.

Naquela manhã, porém, ele não tinha tempo e nem vontade para apreciar todas estas coisas, seu coração disparado dentro do peito exclamava urgência conforme insistia para que ele se apressasse. A fortaleza a sua volta assim como os habitantes dela tornaram-se apenas imagens distorcidas e sem foco, sua atenção residia totalmente sobre a mais imponente e altiva casa que existia na cidade localizada dezenas de metros adiante com o intuito de alcançá-la o mais rápido possível.

Os adultos, os velhos, os jovens e as crianças que naquele momento se encontravam fora de suas habitações, acabaram por ver o seu líder correndo pelas ruas movimentadas, algo que lhes trouxe sentimentos de confusão e curiosidade, pois era demasiado raro presenciar o General com tamanha pressa. Duel não se importou em parar para explicar o motivo, nem desviou seus olhos cor vinho de seu objetivo que a cada segundo tornava-se mais próximo.

Ele era um dos melhores guerreiros que havia no forte, era o líder de todo aquele povo, seu físico era excelente, capaz de cruzar longas distancias a pé sem cansar-se, porém, naquele momento com o corpo pesado e respiração ofegante, perguntava-se porque seu organismo parecia querer traí-lo agora, quando mais precisava dele naqueles tempos de paz? O sangue que corria em suas veias fervia com o peso da ansiedade, seus pulmões ardiam com preocupação pela amada.

De certo o tempo que existia dentre o momento em que abandonara o QG até o ponto onde finalmente adentrara na área pertencente a sua casa era somente formado por alguns rápidos minutos, mas para Duel, cujo alivio momentâneo fez-se presente ao sentir a brisa fria e agradável que percorria os cômodos de seu lar, aqueles míseros minutos assemelhavam-se mais com a eternidade que tentara solidificar-se entre ele e a amada nos anos mais negros de sua vida.

-Edna! – O asmodiano gritou, seus olhos vasculharam furiosamente o primeiro cômodo da construção. Ouviu em seguida um grito de agonia que ecoou pelos corredores, causando um aperto no coração do General que imediatamente reconheceu a voz da esposa.

Antes que sequer pudesse ter noção do que estava fazendo, seu corpo já havia disparado em busca da mulher, pois a alma que abrigava dentro de si tinha grande ânsia de estar ao lado da sua outra metade. Conforme avançava ainda mais no interior da própria casa, Duel começou a ouvir diversas vozes femininas presentes na construção, e intrigado, finalmente encontrou a quem pertenciam segundos depois, quando entrara na sala que antecedia o quarto do casal.

-Edna! Onde está ela? – Ele imediatamente questionou, as três mulheres voltaram-se a ele e o fitaram com grande calma, o que deixou o General um pouco irritado, pois a preocupação que sentia estava prestes a explodir todo os nervos que tinha no corpo.

Uma delas, asmodiana de tez pálida com cabelos escuros e olhos da mesma cor, possuindo dois chifres salientando-lhe a face, trajando um simples vestido de serviçal, se tratava de uma das mulheres que havia designado para que auxiliasse sua esposa nos avançados meses de gravidez quando ele mesmo não pudesse estar presente.

Ela aproximou-se de seu líder, e reverenciando-o, respondeu-lhe:

-A senhora está em seus aposentos em trabalho de parto.

Naquele mesmo momento um grito manifestou-se no interior da construção, e extremamente preocupado, o general avançou na direção do quarto onde tinha certeza que sua esposa estava naquele exato momento, porém sua passagem foi barrada pela criada que não o permitiu entrar no aposento do casal.

Sem poder fazer nada, Duel viu a porta fechar-se, e o asmodiano foi obrigado a esperar solitário no corredor de sua casa, milhares de pensamentos cruzando em sua mente. Podia ver um futuro brilhante ao lado de Edna e de seu filho, onde sua família e seu povo pudessem viver com a paz que tanto lutou no passado para conquistar... Mas por outro lado, imagens da mulher em sua primeira gravidez também passavam por sua cabeça, o sangue... A dor estampada no rosto da amada... O sofrimento por terem perdido a criança...

O homem fechou os olhos cor vinho e descansou a cabeça nas mãos. Com ansiedade e temor, ele aguardou sozinho por noticias do parto.




Com passos lentos, porém seguros, o general asmodiano adentrou no cômodo. Apesar de já ser noite quando o trabalho de parto finalmente finalizou-se, o aposento apresentava-se bem iluminado com o auxilio de diversas velas espalhadas de forma cautelosa e segura sobre criados mudos próximos a cama, onde repousava sua esposa e seu filho recém nascido. As parteiras e servas já haviam deixado o local alguns minutos atrás, eles eram os únicos ali agora.

A mulher de longos cabelos róseos e lindos olhos cor verde esmeralda ergueu a cabeça para fitar o amado com um cansado sorriso presente em sua face. As feições exaustas de Edna não eram capazes de apagar ou esconder o brilho de felicidade que havia em seu rosto e em sua alma. Se possível, estava ainda mais radiante e bela.

-Venha Duel, venha conhecer nosso filho! – Ela o chamou, e sentando-se na beirada da cama, Duel afastou o manto que envolvia o bebe no colo de sua esposa para poder ver o seu pequeno rostinho.

O menino era bem pequenino, com pele de tez azulada como a dos pais, bochechas fartas, pequenos tufos de cabelo cor prata surgiam aqui e ali em sua cabecinha. Assemelhava-se como um anjinho adormecido, e encantado, o general tocou a face de seu filho que não acordo com o gesto, mas mexeu-se levemente no colo da mãe, o que fez Duel sorrir com admiração pelo pequenino ser.

Edna então fez menção de passar o bebe para o esposo, que um pouco desajeitado pegou a criança no colo. Era uma sensação estranha de inicio, que após momentos tornou-se natural como se durante toda sua vida ele tivesse esperando por aquele momento, fosse destinado a aquele momento. Qualquer medo que tinha antes sobre perder aquela criança em seus braços desapareceu completamente, sendo substituído pelo grande amor que sentia por ela.

Duel virou a cabeça para conversar com a esposa, e então notou que esta descansava em meio aos travesseiros de olhos fechados, exausta do parto. O homem sorriu, e inclinando-se para beijar a testa da amada, sussurrou.

-Obrigado, Edna. Descanse agora, vou cuidar de nosso filho, vamos nós dois esperá-la despertar. – E olhando para Edyel com um sorriso afetuoso, também beijou a face do pequeno.

O general levantou em seguida e com a criança saiu dos aposentos do casal. Duel dirigiu-se para a entrada de sua casa, e saindo dela, viu uma grande multidão de seu povo aguardando silenciosamente do lado de fora por noticias do nascimento do pequeno príncipe. Todos imediatamente perceberam quando o homem saiu carregando cuidadosamente a criança nos braços, e sorrindo para o seu povo, ele disse num tom moderado para não acordar o menino.

-Olhem! Meu filho, Edyel Pon Zec , nasceu!


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