Neva Lá Fora escrita por Gwen Rosefield


Capítulo 2
Irmãos cheiram leite


Notas iniciais do capítulo

Escrevi com muito carinho este capítulo. Se vocês não gostarem, vou incorporar as suas mães de TPM! o



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         Eu acordei com meu irmão batendo a mamadeira cheia de leite no meu rosto. Eu tinha me esquecido como ele era irritante nos sete dias que passei no hospital.

— Manhaaaaa — Sim, ele me chama de “Manha”, isso desde que ele “aprendeu” a falar, sério... Chega a ser insuportável. — Acorda, mamãe chegou.

— Saia do meu quarto, Alexandre. São cinco da manhã, você não tem pena de sua irmã, não?

         Ele começou a chorar freneticamente, sério, parecia que tinha um autofalante dentro da garganta dele. Meu Deus, que agonia ouvir isso.

— Tá, tá. Vou levantar. — Quando falei isso ele se aquietou, que alívio. — Que cheiro de leite...

         Alexandre soltou uma risadinha, meio misturada com porco. Mas ok.

— Manha, tem leite na sua “cala” (cara).

— Mas é claro, você vem me bater com essa sua mamadeira dos infernos. Saí do meu quarto, peste ambulante! — Ele fez uma cara de cu e saiu correndo. Sempre funciona. (hehe)

         Eu levantei-me da cama, sem me lembrar do aparelho (ô aparelhinho filho da puta.) de oxigênio que estava habituado bem do lado da cama e bati meus pés naquele metal que quase queimava meus olhos por refletir a luz acesa a poucos minutos do quarto.

— MEU DEUS! AAAH FILHO DA PUUUTAAAAA!

— Filha, tudo b... (?)— Certo, minha mãe entrou no quarto bem na hora que eu estava xingando, mas que beleza. Imagina a cena maravilhosa e as palavras poéticas que a minha mãe estava ouvindo... Aliás, foi um rio de xingamentos. Não foi só “filho da puta”, não. Não, mesmo.

— Desgra... Oi, mãe! Já fez o café? Trabalhou muito? Como foi no trabalho? Conheceu alguém? Quem foi? É legal? — Tentei disfarçar, decepcionante.

— Ah. Venha tomar o café.

         Meu pé ainda estava inflamado de tanta dor, eu queria chorar. Mas na frente de minha mãe, imagina que beleza seria se ela perguntasse o que eu fiz. Categorizada como débil com sucesso!

— Sim, claro. — Me levantei puxando a alça do aparelho de oxigênio e levando até a cozinha, caminhava igual gato quando vai comer, comendo e miando. Só que no meu caso, andando e miando. — O que você fez para o café da manhã?

         Senti um frio na barriga quando olhei um pedaço de pudim de chocolate em cima da mesa... Trauma! Trauma! Trauma!

— Mãe... Só uma perguntinha básica e boba. Você não vai me dar remédio com gosto de ânus de camelo não, né?

— Claro que não, você já tomou todos os remédios necessários. Só mais tarde você vai tomar um remédio. Pílula para dormir. — Ela pegou um suco de morango na geladeira e colocou na mesa, para variar meu irmão meteu o olho de cara e já colocou um copo de um litro (exagerei) de suco.

— Ah, bom saber... — Coloquei o suco também.

— Filha, vá se arrumar para a escola.

— Es...cola? (??????????????????????????????????)— Pasmei. — Eu estou com câncer e você quer que eu vá para a escola?

— Sinto muito, filha. Se você não for vai repetir.

— Eu só quero te lembrar que quando eu for repetir de ano... EU VOU ESTAR MORTA! No túmulo!

— É bom para que você reveja os amigos.

— Você e suas ideias de aplaudir em pé. Que ótimo.

— Quando eu raspar minha cabeça eu tenho certeza que vão me confundir com Vin Diesel. Só recordando os momentos de vergonha que eu passei naquele inferno com quadros negros.

— Não seja boba, vamos contar para a classe na hora certa.

— E a hora certa vai ser quando? Quando eu morrer?

— Assim que você raspar sua cabeça contaremos o motivo e pronto, fim de papo.

— Pronto, fim de papo. Porque ninguém vai estranhar eu chegar na sala com uma careca brilhosa e dizer “Tenho câncer e eu só disse isso porque foi minha obrigação já que tive que deixar rasparem minha cabeça”.

— Você e essa sua necessidade de contar tudo no dia certo, na hora certa.

— Você e essa sua necessidade de deixar para a última hora.

         Acho que meu irmão estava adorando aquilo. Só faltava pegar uma pipoca e um óculos 3D.

— Só quero deixar claro que você é minha filha e tem que me respeitar.

— E eu só quero deixar claro que eu estou com câncer! PORRA!

— Vá logo se arrumar, Bicho do Mato.

         Eu subi para meu quarto com aquela máquina, já estava virando um fardo, só para lembrar. Vesti aquele uniforme infernal, escovei os dentes e penteei os cabelos. Que em breve seriam arrancados. Só para curtir um pouco com a minha mãe, fiquei uns trinta minutos dentro do quarto fazendo absolutamente nada.

— Desça logo, Marilyn! — Pelo tom de voz, acho que ela estava prestes a virar uma pimenta madura.

— Já vou, mãe. Estou me arrumando. — Arrumando? Há há! A única coisa que eu estava fazendo era colocando uma tiara vermelha no cabelo só para disfarçar a demora.

         Desci as escadas, minha mãe estava segurando minha mochila e me guiava até o carro. O caminho foi normal, as vezes eu torço para que apareça um mendigo vendendo rosquinhas e dançando “Ai se eu te pego” no meio da rua para alegrar meu dia. E sim, exagerar é o meu forte.

— Chegamos. Tenha um bom dia. — Ela só podia estar brincando. — Te amo.

— Dizer isso para mim é a mesma coisa que você entregar uma criança para um pedófilo e dizer “Divirta-se”.

— Desce logo. — Como sempre, mais simpática que tudo existente no mundo.

         Esqueci-me de mencionar que esta época na escola está cheia de vadias que se acham gostosas com roupas minúsculas, e só por usar um óculos se acham intelectuais. Quando desci daquele carro e entrei naquele lugar eu queria, e muito, que o demônio aparecesse na minha frente e me levasse para o inferno. Seria um local muito mais agradável para ficar. Pelo menos lá está quente!

— Bem-vinda novamente, Mari! — Que companhia agradável, uma pessoa que quase me matou na aula de natação!

— Ah. Oi, Larissa.

— Oi! Por onde você se meteu e... Que máquina é essa? — Agora uma pessoa que esfregou seu boletim com um “10” gigante em matemática falando que eu era “invejosa”. Só tem companhia agradável nessa escola.

— Oi, Rafael. Eu tive que ficar de repouso um pouco, para que eu evite que eu tenha um ataque aqui no meio desse inferno eu tenho que usar isso aqui. Se você quiser morrer, tenho a ferramenta ideal agora. Você quer?

— Como você é simpática. — A única pessoa que era realmente minha amiga, Mayara Folks, estuda a oito meses na escola. Descobri que ela era a pessoa ideal para me acompanhar na jornada do inferno quando ela me pediu ajuda para encontrar alguém interessante neste colégio.

— Mayara! Que saudades! — Claro, em meio a todos estes demônios, o primeiro que vê uma alma menos suja fica feliz.

— Fiquei de recuperação em matemática, preciso que você me ajude. Quero esclarecer umas dúvidas depois, também.

— Que novidade. Contando que nas últimos dois bimestres você tirou quarenta e cinco e no outro vinte e dois, isso não é uma surpresa para mim.

— Usaram sedativos em você no hospital?

— Sim, por quê?

— Vou pedir uns, para você parar de me menosprezar.

— Engraçadinha.

         O sinal bateu, todos os demônios se recolheram a toca. Inclusive eu, claro, uma das únicas que não tem mentalidade baixa naquela escola. E sim, sou muito humilde. Sinceramente, a única coisa que foi interessante na aula foi a briga dos dois viciados em animes na sala. O que era melhor, Naruto ou Death Note? Resumindo, se chegasse a tia da cantina com piadas do ano de 1978 seria mais interessante do que o que passei naquele dia. E foi uma rotina, que quase virou um fardo para mim, igual as outras. De todos os anos. De toda a eternidade. Eu iria embora a pé, e no caminho o boi sonso aqui, sim, eu mesma! Esbarrou novamente com um ser humano. E quem era? Se não bastasse o mesmo acontecimento, o mesmo cara. Acho que vou me acostumar com isso.


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