O Conto De Zero Zephyrum escrita por Marjyh


Capítulo 5
Capítulo 5: Eu sou um Boneco? Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Demorei um tequin, mas ta aqui. ~u~
Espero que curtem. o/



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Vaguei indefinidamente. Para onde eu estava indo ou onde eu estava passando, eu realmente não sabia e tão pouco me importava. Eu só queria encontrar ele. Duel, o Vingador. Eu não sou fraco... Eu não quero ser fraco. Lutar é apenas um jeito de se mostrar mais forte e por isso que eu luto.

O vento açoitou meu rosto, senti a areia fina passar pelo meu rosto conforme eu caminhava por entre as dunas do deserto de Áton. O que eu estava fazendo em um lugar como aquele? Só por que era caminho para me encontrar com meu nêmesis? Não, meu trabalho não é pensar, é simplesmente empunhar Grandark.

A espada jazia calada em minhas costas. Me pergunto em que tipo de mundo ele ficava preso nessas horas. Não tínhamos o que conversar, aliás, nem conversávamos. Até sinto falta da Holy e da Lin... As duas conversavam comigo. Engoli seco.

– E-Ei, Grandark.

A ausência de resposta me fez sentir inseguro. Claro que ele não iria me responder, o que eu estava pensando?

– O que você quer, Zero? – Me surpreendi ao ouvir suas palavras.

– Bem... Sabe, me pergunto como a Holy está...

– Pff, aquela baixinha chata? Provavelmente deve estar já no fundo de alguma cova, eu espero.

Pressionei meus lábios. Por que imaginar aquilo me deixava incomodado?

– Bem que podíamos vê-la...

– Depois de tudo isso você ainda tá pensando em voltar? Bem, eu não esperava menos de você.

– Uhm, po-podemos continuar, sem problemas. Realmente, já chegamos muito longe para voltar agora.

– É o que eu acho também.

Suspirei. Qual era o ponto de tudo aquilo? Eu estou me sentindo mais cansado a cada dia que passa, mais fraco, mais incapaz, e não importa o quanto eu destrua meus inimigos, sempre sinto... Não é o bastante. Que sou eu o fraco. Eu não quero mais aquilo... Mas, eu podia realmente querer isso? Lutar contra o meu próprio propósito de vida? Era para aquilo que fui criado, lutar, nada mais do que isso. Todavia, eu... Sinto. Eu não deveria sentir, certo? Eu sinto medo, raiva... No entanto, eu não entendo nada do que eu sinto. Eu quero ver a Holy, eu quero conversar com ela... Eu sinto como se a cada dia que passo longe dela, me afasto um pouco mais das minhas respostas.

Eu quero ficar do lado dela.

Quem eu quero bancar? Eu não posso. Aliás, nem deveria estar desejando esse tipo de coisa. Não faz sentido.

– Estou cansado... – Falei pensando alto.

– Continue. – Impeliu Grandark.

– Eu não quero mais.

– “Quero”? Seu trabalho não é querer, é lutar.

–... Grandark, eu... Eu não quero lutar.

–... O que?

– Eu não consigo mais. Eu não consegui proteger a Holy, não consigo fazer nada direito. Eu sou apenas um desastre ambulante e me pergunto se é exatamente por isso que fui criado.

– É claro que foi criado para lutar, seu imbecil.

–... Então por que eu sinto?

Grandark ficou quieto. Suspirei e parei de andar, vendo uma cidade ao longe. Eu... Não aguento mais.

– Tem uma cidade cerca de 5km daqui. – Comentei. – O que eu faço?

– Vamos parar por lá por essa noite para você esfriar a cabeça.

–x-

Paguei por um quarto em uma pousada. Apenas uma noite, nada mais.

A cama é macia. O banho, quente.

Eu acho que isso deveria me acalmar, todavia... Não é o que acontece. Continua tudo vago, sem sentido. Por que isso? Por que eu queria insistentemente saber por que eu sinto? Tenho vontades? Eu não deveria sentir isso... Deveria?

O peso da minha armadura já não me incomoda mais, Grandark repousa encostado na parede a minha frente. Seu olho está fechado, provavelmente dormindo. Até retirei minha... Máscara.

É estranho... Toco meu rosto, a pele que parece ser delicada demais para um campo de batalha. Sinto-me nú sem minha máscara. Por que isso?

– Sabe que vai acabar morrendo em um campo de batalha se continuar desse jeito, não é?

Levantei meu olhar para Grandark. Ele havia aberto o olho enquanto eu não o olhava e me encarava agora. Pressionei meus lábios.

– Eu...

– Você nada. Você é apenas meu boneco. Nada mais. Você não deve e nem pode sentir ou ter vontade.

–... Eu... Não quero perder.

– Mas você já está perdendo, seu imbecil.

– De-Desculpe...

Grandark bufou. Eu sabia que ele estava irritado, mas o que eu posso fazer?

– Durma. Em breve, tudo vai acabar.

– Sim.

Abaixei a cabeça e fechei os olhos. Dormir...

Será que eu a veria de volta?

–x-

Eu estava na escuridão, porém podia sentir o chão firme sob meus pés. Olhei ao redor. Ela não estava ali... Seria um sonho também?

– Você está sendo um problema, Zero. – Escutei a voz de Grandark soando por todo o lugar, ecoando. – Vai me forçar a tomar atitudes... Mais forçadas.

– O-O que?

Antes de sequer receber uma resposta, senti um peso extra nos meus pulsos, canelas e pescoço. Ao olhar, vi pedaços de ferro os envolvendo firmemente, com correntes que saindo dele e subindo na escuridão, até desaparecer.

– O que é isso, Grandark?!

– Você está ficando fraco...

Ao olhar para frente, vi um par de olhos esmeraldas flutuando á poucos metros. Apertei meus pulsos.

– O que é isso?!

– Cuidarei das coisas, Zero. Você não me é mais útil.

– Seu... Desgraçado!

Tentei me movimentar, correr na direção daquelas luzes esverdeadas, mas as correntes em meus pés me puxaram, tirando meu equilíbrio e cai para frente, atingindo meu rosto com toda a força contra o chão.

– Zero, você sabe para que servem os bonecos? – As luzes começaram a se aproximar, junto com sons de passos. – Eles são brinquedos, peças que as crianças usam para se distrair, e quando ficam cansadas dos seus bonecos ou eles ficam inúteis, simplesmente jogam fora. É isso o que você é: um boneco.

Levantei-me devagar, ficando de joelhos no chão enquanto levantava meu olhar. Já conseguia ver o brilho dos seus olhos iluminavam precariamente seu rosto, mas eu sabia que ele me olhava. Que Grandark me olhava.

– Não... Não é verdade.

– Ah, se é! Haha... – Aquela pessoa começou a me rodear, as luzes dos seus olhos desapareceram por um momento. – É bem engraçado, sabe. Ver você se debatendo, se perguntando a razão da sua existência, sentindo sentimentos. Foi divertido, de fato! Até mesmo brincar com a Lin foi divertido. Mas, admito que aquela Holy... Ela foi um pé no saco.

Apertei meus punhos, enquanto tentava olhar ao redor e ficava de pé. Onde ele estava ele? Eu escutava-o andar, mas não via sua presença mais.

– Se quer ajudar uma pessoa, faça isso por que quer vê-la melhor, não para tê-la para si. Sabia disso? Essa era a diferença das duas. Holy queria te ajudar a... Sentir e ter vontade, por que sentiu os meus verdadeiros motivos. Ela era instintiva, admito que até me deu vontade de brincar com ela também, mas... Era um brinquedo irritante demais para isso. Já a Lin... Aaahh... Ela sim. Eu vou adorar brincar com ela, fingir ser você depois que eu terminar com o meu trabalho. Vai ser hilariante! Ela se acha toda poderosa por ser a “reencarnação da deusa Agnécia”. Mal ela sabe que... Existem criaturas mais poderosas do que essas deusas de Ernas inúteis. Ou talvez apenas queira se negar a aceitar essa verdade. Heheh...

– Seu... – Apertei meus punhos.

A corrente em meu pescoço me puxou para cima, me deixando pendurado. Minha garganta estava sendo apertada, a dor era maior do que eu esperava e não conseguia respirar. Tentei me agarrar naquela corrente, mas meus braços foram puxados para trás. Estava imobilizado.

– Uhm, o que? Eu não escutei, pode dizer mais alto, Zero? – Grandark ficou em silêncio por alguns segundos. – É o que imaginei.

A corrente imediatamente afrouxou ao ponto de que eu cair com tudo contra o chão. Perdi o que restou de ar em meus pulmões com o impacto. Comecei a tossir, tentando desesperadamente respirar, minha garganta queimava e era doloroso tanto tentar respirar quanto não.

– Bem, fique ai de castigo. Pense no que fez. Quem sabe... Um dia eu te liberto.

– Não! Pare, Grandark!

Seus olhos desapareceram da escuridão, eu não escutava nenhum outro som novamente, apenas minha voz ecoava no vazio.

– Me liberte! Agora! Grandark!

Tentei me levantar, puxar as correntes, parti-las com minha força, mas parecia ser impossível. Na realidade, quando eu tentava rompe-las, elas queimavam em minhas mãos como se eu tocasse em fogo quente. Gemi de dor, soltando imediatamente aquelas coisas e cai no chão.

Se sou realmente um boneco... Por que eu quero tanto ver a Holy? Por que eu não queria aquilo? Apertei os punhos e agarrei a corrente do meu pescoço com ambas as mãos, tentando arranca-la, imediatamente meu pescoço e mãos começaram a queimar. Era doloroso. Era horrível. Gritei de dor, mas...

Eu não quero ficar preso aqui.

Por favor, eu não quero...


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