Onde tínhamos parado mesmo?

Ah é.

Ferrou.

Olhou para Aline e ela tinha colocado os fones, o que significa que não acordaria mais. Pelo menos não por enquanto. E eu estava presa entre a raiva delas! Ai caramba! Cadê o Batman quando se precisa dele? A cidade esta correndo perigo com essas duas a solta! Bem... Não sei a cidade, mas eu estou!

Vi a Júlia correr em direção a Aria e derrubá-la no chão, enquanto a mais alta puxava o cabelo da raivosa como se sua vida dependesse disso.

– AIII! – berrou Júlia que estava mantendo Aria entre suas pernas e tentava morder a mão dela, para que soltasse seu cabelo. Vi que Aria estava começando a chorar e decidi fazer alguma coisa.

Peguei o telefone e liguei para Enny. O telefone ficou tocando uma eternidade, até que ela atendeu.

– O que foi? – ouvi a voz estridente do outro lado da linha me causando uma estranha sensação de alivio.

– AS MENINAS ESTAO DOIDAS E BRIGANDO, ACHO QUE ALGUÉM VAI MORRER SE VOCÊ NÃO VIER AQUI ENNY! – estava tão desesperada que acabei falando tudo rápido demais.

– Para de gritar, garota! E fala igual gente, que isso ai não foi inglês muito menos português.

Eu expliquei a situação tentando manter a calma e Enny respondeu simplesmente:

– Tente acalmar a Júlia com alguma coisa do Josh Hutcherson, isso sempre resolve.

E desligou o telefone. Simples assim.

– Quem diabos é esse ator, afinal? ­– perguntei para mim mesma.

– É o ator de Jogos Vorazes. – ouvi a voz da minha amiga.

Olhei surpresa para ela, pois quando colocava o fone era impossível acordá-la e lá estava ela me olhando de uma forma muito estranha. Parecia até...

– RED???

– Sim. Pare de me olhar com essa cara idiota e vamos parar essas duas. Pega alguma coisa do quarto dela.

– Que coisa? – falei confusa. Acho que eu realmente não esperava mais essa.

– DO JOSH! Oras. – ela perdeu a paciência e eu corri enquanto ela se aproximava das duas.

Entrei no quarto escuro com cuidado e ascendi a luz. Acho que ela tinha passado a noite inteira acordada, pois estava tudo decorado como se morasse ali faz tempo!

As roupas estavam jogadas no chão, empilhadas e completamente amassadas. As malas estavam jogadas sob a cama com lençóis estampados o tordo de jogos vorazes e as paredes estavam repletas de pôsteres e adesivos do Josh. Tinham uns 20 pôsteres, sem contar as fotos dele com uma montagem esquisita das fotos dela. Era muito sinistro. Tipo um serial killer obsessivo. Eu fiquei com medo de mexer nas coisas dela e levar umas também, mas eu precisava pegar algo!

Procurei entre as roupas, mas não havia nada ali. Sobre a cama também não. E nem a pau que eu ia pegar algo da parede. Estava perdendo as esperanças quando tive uma ideia. Fui para o meu quarto, peguei o primeiro livro da trilogia dos jogos vorazes e corri novamente para a sala. Lendo em voz alta um trecho sem olhar para o chão, o que quase me fez tropeças e cair:

“– Ela tem outro cara? – pergunta Caesar.

– Eu não sei, mas muitos outros garotos gostam dela - diz Peeta.

– Então, faça o seguinte. Ganhe, volte para casa. Ela não pode te recusar então, hein? – diz Caesar.

– Eu não acho que vai funcionar. Ganhar... não vai ajudar no meu caso – diz Peeta.

– Por que não? – diz Caesar, perplexo.

Peeta cora um tom de beterraba e gagueja.

– Porque... porque... ela veio aqui comigo.”

– O que você está fazendo? – Red me olhou com expressão superior, com ar de deboche.

– Eu fiz o que você falou! Fui pegar algo do Josh! – disse erguendo o livro com raiva do jeito que ela tinha falado comigo.

– Não é mais necessário.

Foi então que me dei conta que o apartamento estava silencioso. Olhei para os lados e vi Aria com os olhos inchados de choro e comendo sucrilhos, resmungando baixinho na cozinha. Do outro lado vi Júlia que fazia o mesmo, com seus cabelos num estado que só um cabeleireiro dos bons conseguiria arrumar.

– O... O que você fez?

– Conversei com elas.

– Conversou com elas?

– Sim.

– Mas...

– Eu vou voltar a dormir, sugiro que faça o mesmo.

Assim que Red foi para o quarto, Aria levantou e correu para o banheiro. Júlia veio até mim e disse:

– Por favor, não pare.

– Ahm?

– De ler. – disse com os olhos brilhando e abriu um pequeno, bem pequeno, sorriso.

Eu nem acreditei. No sorriso, nas duas briguentas que estavam calmas e nem na Red cheia dos poderes de controlar a população raivosa. Mas sentei para ler antes que ela ficasse brava comigo. Continuei lá por mais um capitulo e vi Aria saindo pela porta já bem vestida e maquiada.

Júlia levantou e foi até o quarto dela com passos lentos. Antes de entrar ela virou e disse “Obrigada.”

Ta. Agora estou definitivamente perplexa e muito confusa.

Olhei o relógio e tentei dormir mais um pouco, pois dali algumas horas eu teria uma entrevista de emprego.

Você leu o “tentei” né?! Bom... O dia foi cheio de surpresas.