Casa de Bento (manhã)

Assim que Giane e Bento passam pela porta, Amora se volta desesperada para o marido.

Amora: Bento, pelo amor de Deus, Bento! Você tem que acreditar em mim! Eu não tenho nada a ver com essa troca de exames. Foi a Socorro, foi tudo a Socorro! Eu também não toquei fogo na toca do Saci. Tá na cara que o Fabinho arranjou uma testemunha falsa pra me incriminar!

Ele finalmente sai do estupor em que se encontrava.

Bento: Você pensa que eu sou um idiota, Amora? Eu lembro como se fosse ontem, você aqui na rua me dizendo que a Zezé podia ter trocado os bebês. Foi você, Amora, que levantou essa possibilidade e que convenceu todo mundo de que eu poderia ser filho do Plínio. De uma hora pra outra você virou um anjo e ficou tão interessada na minha vida familiar que passou a me acompanhar em todas as idas ao laboratório; ficava me ligando e me pressionando a fazer o exame. Era pra garantir que o seu plano ia dar certo, né, Amora?! Você queria ter certeza que a Socorro ia fazer tudo de acordo com as suas ordens!

Amora: Não, Bento, claro que não! – ela continua chorando.

Bento segura a esposa pelos braços.

Bento: Olha nos meu olhos, Amora. Você mandou a Socorro trocar o meu exame de DNA pro Plínio pensar que eu era filho dele?

Amora fica em silêncio apenas soluçando.

Bento: Foi você, não foi? Numa tacada só você me afastou da Malu e me transformou num milhonário! Porque você até queria se casar comigo… contanto que eu comprasse uma casa nos Jardins e continuasse bancando essa tua vida de princesa! Fora aquela história toda de querer mudar, né?! Você veio aqui e viu o quanto eu sofri por pensar que eu era irmão da Malu, como eu estava dilacerado por dentro. E mesmo assim você continuou com o seu plano sórdido pra me conquistar e me dar um golpe! Como é que você pode ser tão baixa, tão mau-caráter com alguém que você dizia amar?

Bento larga Amora.

Amora: Não, não! Eu não sou baixa, não sou mau-caráter. Não acredita, é mentira isso que as pessoas estão falando. É mentira, Bento!

Bento: Se você tivesse o mínimo de caráter, você parava de mentir e assumia as coisas que você fez, agora! Até porque eu não caio mais nesse teu joguinho nojento!

Amora: Bento, eu fiz tudo isso por amor… Porque eu queria que você fosse um homem rico e poderoso. Tudo bem que eu estava pensando em mim também, mas, o meu foco era você! Era o nosso amor! Os filhos que a gente quer ter!

Bento: Eu não quero ter nenhum filho com uma pessoa como você… Eu sou vou perguntar uma vez Amora. E o incêndio? Aquele incêndio na Toca do Saci foi você também?

Amora respire fundo e responde.

Amora: Você teria se casado comigo se eu não tivesse salvado a sua vida?

Ele se desespera e também começa a chorar.

Bento: Meu Deus, meu Deus! Então a Malu e a Giane estavam certas. Meu Deus, então o Fabinho era inocente. A grande bandida dessa história sempre foi você, Amora! E é nisso que o nosso cadamento se baseou: em mentiras, em crimes!

Amora: Não, Bento! A gente se amava, a gente se ama, Bento!

Bento: A Amora que eu amei nunca existiu. E o Bento que você amou, esse cara que ia te dar um vidão, ele também é uma fantasia da tua cabeça. Eu nunca fui esse cara, não quero ser.

Amora: Eu te amo! Rico ou pobre, tanto faz…

Bento: É mentira, é mentira!

Ele se senta na cama desesperado e enfia a cabeça entre as mãos.

Bento: Tudo que você fez foi calculado. Quando você abriu mão da sua carreira de it-girl, quando você veio aqui podar aquela amoreira, quando você deu todas aquelas entrevistas dizendo que ia mudar de vida… Você calculou tudo, você sabia que eu ia ficar rico!

Amora: Foi tudo por amor, Bento.

Bento: Você calculou cada passo! Meu Deus, você calculou cada sorriso. Cada lágrima! Com a frieza de uma psicopata e vem me dizer que foi por amor?

Amora: É que uma mentira foi puxando a outra e foi virando uma bola de neve! E eu sempre fui adiante com medo de ter perder! Porque eu estou cada vez mais apaixonada por você, Bento. Calma, não toma nenhuma decisão agora. Vamos dar mais uma chance para o nosso amor…

Bento: Não existe mais amor… Eu devia ter desistido de casar com você quando a Giane entrou no meio da cerimônia gritando que você era uma ordinária. Porque é exatamente isso que você é. O nosso casamento acabou, Amora. Eu vou sair, esfriar a cabeça, mas quando eu voltar eu não quero ver você mais aqui. Pode pegar as suas coisas e sair desse buraco.

Amora: Bento, calma, Bento! Vamos dar um tempo, não toma nenhuma decisão precipitada. Pra onde eu vou? Eu não tenho nem pra onde ir…

Bento: Você vai pra casa da Simone, pra casa da Bárbara, pra debaixo da ponte. Não me interessa! Eu quero você longe da minha casa e fora da minha vida! Leva com você as coisas essenciais e depois pede pra Simone passar aqui amanhã pra pegar o resto das suas coisas. Eu não quero nem mais ter que olhar pra você, Amora!

Bento vai caminhando em direção à porta. Amora grita.

Amora: Eu vou mais eu volto! A sua raiva vai passar e você vai ver que me ama de verdade.

Bento volta.

Bento: Ah, eu quase esqueci. – ele tira a aliança e dá pra Amora. – Eu não quero mais nada de você.

Bento deixa Amora chorando e sai da casa.

                                               ***

Casa de Fabinho (manhã)

Dona Margot está na cozinha cuidando dos seus docinhos. Ela ouve batidas na porta e vai attender. É Malu.

Margot: Oi, minha filha! Tudo bem com você?

Malu: Está tudo bem comigo, sim, Dona Margot. Mas eu vim pra saber como está o Fabinho, eu posso entrar?

Margot: Ô, minha filha, claro! Pode sentar, a casa é sua… Mas o Fabinho e a Giane sairam pra falar com o Bento e ainda não voltaram.

Malu: Ah que pena! – diz levantando do sofa – Então é melhor eu voltar uma outra hora, né?!

Margot: Não, Malu! Espera um pouquinho que eles devem estar passando por aqui daqui a pouco. Não aceita um pedaço de bolo?

Malu: Huuuuuuummmmmmmm! Esse seu bolo é divino, hein, dona Margot?! Eu sonho com ele desde aquele dia que o Fabinho me ofereceu um pedaço. Assim é covardia, eu fico!– diz sorrindo.

Margot: Que bom! Você espera um minutinho que eu tenho que pegar umas forminhas de doce lá dentro? Eu já volto e te sirvo o pedaço, pode ser?

Malu: Claro, vou esperar ansiosamente.

Margot entra em um dos quartos e logo depois alguém bate da porta. Malu se levanta para ver quem é.

Malu: Opa! Fabinho e Giane já devem estar de volta…

Malu abre a porta e se assusta.

Bento: Malu, me desculpa, mas eu preciso muito falar com você.