Eu estava quase a dormir quando senti Gale parar o carro. Era inevitável, sempre que andava de carro o meu sono falava mais alto.

– Ah, não acredito! Katniss! Eu sei dessa tua mania de adormecer em viagens de carro mas pensei que comigo a teu lado a coisa ia ser diferente! – olhei para a cara dele. Estava com uma sobrancelha levantada e um sorriso malicioso – A sério que consegues dormir com um pedaço de mau caminho como eu?

Após isso eu caí na gargalhada. Ele bem tentou fazer cara de ofendido mas logo logo estava a gargalhar comigo.

– Desculpa, Gale. Prometo que para a próxima não adormeço- Fiz carinha de cachorro abandonado para ele.

– Ah, pequena, não faz essa carinha que eu não resisto – ele passou a mão pelos meus cabelos e me deu um sorrisinho leve – pronto, está perdoada. Era isso que queria ouvir?

Dei-lhe um abraço, ele retribuiu e saímos os dois do carro dele. Tirámos as malas para fora e nos dirigimos para as escadas que davam para as residências do campus. Não sei de onde, apareceu uma rapariga, com um bloco na mão e uma caneta na outra e voltou-se para nós.

– Bom dia. Vocês são caloiros? – ela perguntou, parecendo sem muita vontade de o saber realmente e com cara de poucos amigos. Ela tinha cabelos castanhos, não de um tom muito escuro, pele bastante clara e olhos castanhos bem escuros o que tornava o seu olhar ainda mais assustadores. Apesar disso, ela era uma jovem bastante bonita. – Muito bem! Seus nomes?

Gale deve ter respondido à pergunta anterior dela enquanto eu estava encarando ela, pois eu não ouvi ele pronunciar uma palavra sequer – Katniss Everdeen e Gale Hawthorne – respondi eu dessa vez.

– Bom! – ela respondeu com o que pareceu entusiasmo – Katniss Você fica no meu quarto, primeiro andar, número 54 – Nossa quantos quartos essa residência tem? Eu não posso adivinhar mas olhando bem para ela agora, ela realmente parecia grande.

– Hum. Então e eu? Onde fico, hem? Senhorita… - e lá começa ele a tentar seduzir a moça com aquela voz rouca que abala a qualquer uma, até a mim, minha nossa!

– Johanna, Johanna Mason! Terceiro andar, quarto número 128. Venham, vou mostrar-vos os vossos quartos, sigam-me.

Eu não sei quem ficou mais espantado. Se eu ou Gale. Ela pareceu nem reparar na voz sedutora de Gale, ou nos seus olhos cinzentos que brilhavam. Ela se virou e entrou na infraestrutura. Meu querido amigo olhou para mim com olhos arregalados e a única coisa que consegui fazer foi encolher os ombros como quem diz “não sei o que acabou de acontecer” e segui atrás de Johanna.

***

Após conhecermos nossos quartos e todos os cantos da residência, Gale decidiu ir para o seu quarto e me convidou a ir com ele

– Gale, lamento que não tenhas companheiro do quarto – eu disse olhando em volta para o espaço visivelmente inabitado. – Deve ser uma chatice..

– Chatice? Estás a brincar certo? – ele se aproximou e me abraçou pela cintura – prefiro mil vez estar sozinho do que com alguém como ela! – refere-se à Johanna – minha nossa ela não tem coração não? Nem cede às minhas investidas nem nada, que miúda séria! E para além do mais, sem parceiro é muito mais fácil trazer miúdas para cá.

Eu me soltei do seu abraço, afastei-me um pouco e olhei na sua cara. Estava com um sorriso divertido – Claro que tinhas de encontrar algo positivo disto! A sério esse teu optimismo crónico me irrita as vezes, sabes?

– Oh, Kat… Isso é tudo ciúmes das futuras raparigas que trarei para o quarto? – ele voltou a abraçar-me

– é sim! Não quero ver meu melhor amigo com qualquer uma – agora eu é que estava a gargalhar

– Agora partiste-me o coração… Bolas! Já viste as horas?- ele olhou para as horas no telemóvel e se levantou sobressaltado – São cinco da tarde!

– E então, qual o problema?

– Eu prometi a um amigo meu de longa data que nós iriamos á sua festa. Que começa às seis.

– Espera lá! Nós?

– Sim, meu anjo. Eu e tu. Achas mesmo que te vou deixar aqui nesse dormitório? Ainda mais agora que conheci sua companheira de quarto? Nunca! Eu prometi a sua mãe que faria com que te divertisses! Agora sai do meu quarto e vai vestir algo bonitinho, vai – ele disse me empurrando para fora e fechando logo a porta.

– Sabias que eu te amo? – disse no meu tom mais irónico.

– é eu sei, agora vai. – ele disse com uma risada.

Desci até ao meu quarto e me enfiei no chuveiro. Não estava ninguém no quarto. Saí para o quarto e comecei a olhar para as minhas malas sem saber o que vestir. Johanna entrou no quarto, e abriu um breve sorriso.

– vais sair? – ela preguntou de forma simpática. Simpática? Será que não era a sua gémea?

– é, eu vou mas não sei que vestir. Eu não sou muito de festas mas Gale praticamente me arrastou nessa.

– aquele seu amigo bonitinho? Oh, Vá lá, não deve ser um sacrifício assim tão grande ir com ele numa festa! – ela sorriu abertamente. Mas então, ela achou piada a ele? Essa não dava para adivinhar

– Ele é meu amigo desde criança – eu falei – e então ajudas-me a arranjar alguma coisa nessas malas que se digne de uma festinha de fim de tarde?

Ela tratou logo de revirar as minhas malas sem esperar por permissão. Logo eu estava pronta. Tinha um vestidinho branco muito fofo com um cinto castanho, muito fininho. Calçava uns saltos altos de tiras que eu nunca tinha usado, também eles castanhos. Coloquei um anel e um fio de cor coral e por fim um casaco que eu adorava verde. O cabelo estava simples, deixando as minhas ondas morenas caírem numa cascata pelas costas. É, eu não estava nada mal!

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– hum, Johanna? Senhorita? Por acaso não viram por aí a Katniss? – Gale entrou no quarto após ter batido na porta e ter ganho um “entre”.

– vá deixa de ser engraçado! Vamos rápido antes que eu me arrependa.

Estávamos já perto do seu carro quando me dei conta que não sabia sequer de quem era a festa – Lindinho? – eu chamei e ele olhou para mim e sorriu – Quém é esse teu amigo?

– ah nossos pais passavam suas férias de Verão sempre juntos e nós íamos junto, é claro. Ele é muito boa pessoa mas se afasta dele Katniss. Ele não pode ver uma carinha bonitinha, então, não entre na toca do lobo está bem? Eu prometi tomar conta de ti e é o que vou fazer.

– Tudo bem, pai! – me ri da cara dele e lhe mandei um beijinho – como se chama?

– Peeta Mellark!