POV Peeta

Após Katniss sair, fico congelado no lugar. Porque ela havia me defendido? Acho que ela não queria apenas arcar com as culpas da minha morte. O sangue do guarda ameaça alcançar-me então finalmente me coloco em pé e começo a correr quando me lembro que deixei Gale com dois guardas. Quando lá chego vejo três corpos no chão. O de Gale e o dos guardas. Entro em paranoia e viro o corpo de Gale para cima com dificuldade. Vejo dois ferimentos de bala. Um que atravessa o ombro e outro que se alojou em seu abdominal. Coloco meus dedos por cima do seu pulso e confirmo com alívio que ele ainda tem batimentos.

– Gale? Gale? – abano gentilmente meu amigo. Ele tanto tentou se afastar daqui e acaba sendo alvejado para salvar aquele que ele antes considerava sua melhor amiga. Ele dá um pequeno espasmo de dor e eu pego ele pelos ombros e o arrasto pelo meio dos escombros das explosões. As explosões! Mal que possa tenho que falar com meu pai sobre isso. Vejo Glimmer correr em nossa direção e atrás dela os nossos pais. Plutarch pega o filho dos meus braços e o leva de imediato para a enfermaria.

– Filho, me explica o que aconteceu. Você correu fora da sala e depois ouvimos três explosões, Katniss não está mais na sala e Gale está ferido. – Meu pai enumera os acontecimentos tentando dar uma sequência lógica a eles.

– Pai, enquanto Snow falava percebi que ele estava demasiado calmo para alguém cuja filha tinha sido raptada e torturada por informações. Isso significava que ele estava a tramar alguma coisa para resgatar ela e o que ele estava fazendo era apenas uma manobra de distração. Gale percebeu o mesmo e os dois fomos buscar Katniss. Chegámos a ela quando irrompeu a primeira explosão.

– Dentro da sala? – Deduziu Glimmer

– Sim, dentro da sala. E as outras duas no corredor esquerdo e direito respectivamente da sala – apontei vendo se eles percebiam a relação. Os olhos do meu pai brilharam com entendimento.

– Snow não queria resgatar a filha… - ele dispara

– Ele queria matar ela para que ela nunca pudesse abrir a boca. – Concluí.

– Meu Deus! Eu já sabia que ele era um homem asqueroso mas matar a sua própria filha já é crueldade pura. – Cashmere afirma.

– Nesse caso ela corre perigo. Peeta, onde está ela?

– Eu tentei fugir com ela mas um guarda de Snow nos impediu. – admito.

– Então ela foi com o guarda do pai? – Meu pai soa preocupado.

– Não, ela matou ele.

– Como assim ela matou ele? – Glimmer soa surpresa – Mas porque?

– Porque ele ia matar-me. Ela o desarmou e matou. Depois fugiu porta fora. – explico.

– Peeta, meu amor, estás bem? – Glimmer pergunta me abraçando com força. Eu assinto mas ela continua abraçada a mim.

– Essa garota acabou de salvar meu filho – murmura meu pai comovido – Claramente ela não é como o pai.

– Não. Ela definitivamente não é – asseguro com as lembranças dela me salvando e fugindo ainda na minha mente.

Meu pai me diz para ir descansar um pouco e eu assim faço. Vou para o meu quarto e tento dormir um pouco mas o sono não chega de maneira nenhuma. A Katniss sempre invade meus sonhos. Vejo-a transformar-se de garota indefesa aos prantos em uma mulher confiante de arma em punho. Ela baralha todo o meu sistema. Tanto acho que ela é inocente nesta historia toda e outras acho que ela só está a querer confundir-nos. Desisto de tentar dormir e resolvo ver como está Gale. Subo até ao andar da enfermaria e reparo que duas camas estão ocupadas. Gale está na cama ao lado da de Johanna. Meu pai ainda não tinha liberado ela. Ela estava acordada e com expressão entediada.

– Johanna, como você está? – pergunto quando ela repara na minha presença.

– Como eu estou? – Ela questiona – Eu estaria óptima senão fosse por vocês seus idiotas.

– Me desculpe por isso. Não sabíamos que era você. Não a vejo desde que éramos crianças. – Me desculpo.

– idiotas! – ela fala resignada – É verdade que Katniss é filha do Snow?

– Sim, como você conhecia ela já agora?

– Ela é minha nova companheira de quarto na residência da universidade. Ela me parecia uma garota tão delicada, tão boa pessoa… Como ela pode ser filha de Snow?

– Não sei… - Eu realmente não sabia responder a isso.

– E ele? Fazia parte do esquema de Snow? – ela aponta para Gale – É uma pena, achei ele tão gato…

– Johanna ele é o filho de Plutarch – respondo tentando conter as gargalhadas.

– O quê? O filho que saiu daqui da instituição? Não sabia que era ele. – Ela permanece pensativa – Eu nunca cheguei a vê-lo ou a saber seu nome.

– Agora já sabe – declaro – Como ele está?

– Estável, mas precisará de cuidados. Quem sabe eu posso tratar dele – ela sugere.

– Você não muda nunca? – eu exijo às gargalhadas.

– Nunca, meu irmão – Ela também se está a rir quando meu pai entra enfermaria. Ele me passa a mão no ombro e vai até Gale acariciando-lhe o rosto. Meu pai sempre amou como seu próprio filho e eu o amava como irmão. Se eu tivesse chegado antes a ele, talvez não estivesse neste estado.

– Pai, os guardas de Snow?

– Mortos! Deles não conseguiremos nada. – Meu pai suspira. – Johanna minha querida como está?

– Estou bem obrigada – Ela responde cordialmente – quando posso voltar?

– Seu pai está chegando. – assegura meu pai e ela assente. Nesse momento o telemóvel do meu pai toca. – Alô?

Não sei quem é do outro lado mas mal meu pai ouve a voz do outro lado ele fica branco.

– Espera, espera, quem está falando? – Se meu pai estava branco, ficou ainda mais branco – Katniss?

– KATNISS? – Eu e Johanna elevamos a voz atónitos. Meu pai faz sinal para nos calarmos. Ele a ouve do outro lado da linha e depois desliga dizendo que iria tratar do assunto. Mas que assunto?

– Peeta, eu quero que vá buscar Katniss – Meu pai afiança.

– Porque? Onde? – Nada faz sentido na minha cabeça. Ela fugiu e está pedindo para voltar?

– Ela precisa de nossa proteção. Você tinha razão, ele não queria protege-la. Ela parecia desolada ao telefone, desesperada. Ela disse que está numa floresta que vai dar numa costa.

– Eu sei onde é. Eu vou de imediato. – afirmo saindo já pela porta.

– Cuidado filho. Ela disse que pode estar lá alguém procurando ela. – Assinto e corro para a garagem. Opto por não ir na minha moto pois não sei o estado da morena. Pego então no Bmw preto do meu pai e dirijo feito louco até ao local. Meu coração aperta. Eu não sei porquê. Ela é apenas uma garota que foi na minha festa com o seu amigo e que até nos demos bem. Apenas isso. Nem a conheço direito. Chego à orla da floresta e nem vestígio de que alguém esteja ali atrás de Katniss. Apenas reparo em um pouco de óleo de um carro que claramente esteve ali por algum tempo mas que não está mais. Entro pela floresta dentro a correr numa procura desenfreada pela garota. Chego à costa e a vejo. Mas em vez de alívio sinto desespero. Ela adentra no mar sem se preocupar da bravosidade do mesmo. Vejo uma onda enorme bater no seu pequeno corpo e depois não vejo mais ela.

– KATNISS!! – Grito enquanto tiro o casaco e os ténis e mergulho na água gelada para evitar que ela faça uma loucura.